'Se Estado continuar fazendo vista grossa, muitas outras tragédias virão', diz procurador do MPF


Coordenador da Força-Tarefa Rio Doce, que investiga tragédia em Mariana, José Adércio Leite Sampaio critica autorregulamentação das empresas e destaca que não existe fiscalização independente das barragens

Por Roberta Jansen

RIO - Procurador regional e coordenador da Força-Tarefa Rio Doce (que apura a tragédia de Mariana) do Ministério Público Federal em Minas, José Adércio Leite Sampaio afirma, em entrevista ao Estado, que já alertava desde 2016 que uma nova tragédia iria, inevitavelmente, acontecer no setor, uma vez que não existe fiscalização independente nas barragens de rejeitos de minério. 

A leidelega às próprias empresas o monitoramento da estabilidade das barragens de rejeitos. E a fiscalizaçãoé praticamente nula. Foi apenas por isso, afirma, que tanto a barragem de Fundão, em Mariana, quanto a de Córrego do Feijão, em Brumadinho, foram consideradas de risco baixo quando, na verdade, estavam perto do colapso.

José Adércio Leite Sampaio, coordenador da Força-Tarefa Rio Doce do Ministério Público Federal em Minas Foto: LUCAS PRATES/HOJE EM DIA
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"No caso da Samarco, sabemos que nem todos os dados foram repassados aos auditores", contou. "A barragem apresentava um histórico de problemas que não foi captado pelos órgãos responsáveis." O problema foi apontado pela força-tarefa do MPF em 2016, mas nada foi feito, disse ele. "Tenho batido muito nas empresas, mas resolvi botar o dedo na ferida: se o Estado continuar fazendo vista grossa, muitas outras tragédias virão." O rompimento da barragem da mineradora Vale, na sexta-feira passada, 25, em Brumadinho deixou, até a manhã desta quinta-feira, 31, 99 mortos e 259 desaparecidos.

A seguir, a entrevista:

A força-tarefa do MPF organizada depois da tragédia de Mariana já havia apontado o risco de outras tragédias. Por que vocês tinham essa avaliação?

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Vínhamos alertando que se nada fosse feito teríamos outras tragédias. Evidentemente, não desejávamos que isso acontecesse, mas eram favas contadas.

Por quê?

Porque os parâmetros são muito abertos. Tanto que a barragem do Fundão, em Mariana, e do Córrego do Feijão, em Brumadinho, eram consideradas barragens seguras.

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Bombeiros buscam vítimas após rompimento de lama Foto: Washington Alves/Reuters

Como funcionam esses parâmetros?

Pela lei, a empresa descreve a barragem, identificando dois problemas. O primeiro é o vício estrutural, se há chance de romper ou não. No caso das barragens de rejeitos de minério, esse é um cálculo que não te dá muita segurança. Porque o maciço da barragem é feito da própria lama, do próprio rejeito. Então, se não houver um monitoramento super-rigoroso pode haver problema. 

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E o segundo parâmetro?

O empreendedor, ao descrever a barragem, deve apontar o dano potencial. Mesmo se a barragem tem uma estrutura sólida, se acontecer uma tragédia é preciso identificar os danos potenciais. Ou seja, se tem muita gente morando na região, o nível de contaminação dos rios, dos solos. O impacto socioambiental. Tanto no caso do Fundão quanto do Córrego do Feijão, o risco estrutural era baixo, mas o dano potencial alto.

Moradores de Brumadinho observam a lama que atingiu a cidade. Foto: Washington Alves/Reuters
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Quem monitora isso?

São as próprias mineradoras que monitoram. A lei de segurança exige que a própria mineradora, ou um auditor contratado pela mineradora, faça uma análise e declare aos órgãos ambientais que a barragem está estável. Em geral, as empresas contratam um auditor externo para fazer isso.

Mas esses auditores externos não são confiáveis?

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Sim, mas, em geral, eles fazem os cálculos com base em dados de monitoramento fornecidos pela própria empresa. Qual a falha desse processo? Pode ter dados que são filtrados. Nem todos os dados foram repassados aos auditores no caso da Samarco, por exemplo. Um outro aspecto é o histórico de problema da barragem. No caso da barragem do Fundão, quando conversamos com os técnicos, com os geotécnicos, a conclusão é que ela nunca poderia ter sido declarada segura, todo ano ela apresentava algum problema. Em 2014, por exemplo, houve uma pré-ruptura que não foi comunicada aos auditores.

Por isso o senhor usou a metáfora da raposa tomando conta do galinheiro....

Sim, não é uma metáfora muito original, mas é muito pertinente. Quando indagamos ao auditor, no caso da Samarco, se ele teria liberado a barragem caso tivesse acesso a todo o histórico, ele respondeu que nunca teria atestado baixo risco. Mas ele não teve acesso simplesmente porque não faz parte do protocolo.

Imóvel foi atingido após o rompimento de barragem de rejeitos em Brumadinho, em Minas Gerais Foto: Washington Alves/Reuters

E o que vocês fizeram? 

Apontamos o problema em 2016, mas nada foi feito para mudar o protocolo.

O que poderia ser feito?

É como o Imposto de Renda. Você entrega a sua declaração, mas a Receita Federal analisa se tem algum erro, se tem uma omissão. O Estado brasileiro tinha que fazer isso. Um fiscal tinha que ir até a barragem, analisar o histórico da barragem, olhar o local, identificar os problemas em potencial. Isso era assim na tragédia de Mariana e nada mudou. Eram apenas dois técnicos em Minas Gerais com a função, não exclusiva, de fiscalizar as barragens. São mais de 300 barragens em Minas (são 324, de acordo com a Agência Nacional de Mineração). Então eles faziam uma fiscalização por amostragem, uma vistoria superficial e confiavam na informação que a empresa repassava.

Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho

1 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
2 | 37

Moradores

Foto: Mauro Pimentel/AFP
3 | 37

Catástrofe ambiental e humana

Foto: Adriano Machado/Reuters
4 | 37

Animais

Foto: Wilton Junior/Estadão
5 | 37

Dificuldade no resgate

Foto: Douglas Magno/AFP
6 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Douglas Magno/AFP
7 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
8 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
9 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
10 | 37

Catástrofe ambiental e humana

Foto: Adriano Machado/Reuters
11 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
12 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Douglas Magno/AFP
13 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
14 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
15 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
16 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
18 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
19 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
20 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
21 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
22 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão
23 | 37

Presidente Bolsonaro

Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República
24 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Paulo Fonseca/EFE
25 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
26 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Wilton Junior/Estadão
27 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Wilton Junior/Estadão
28 | 37

Batalha pela Vida

29 | 37

Estrada

Foto: Wilton Junior/Estadão
30 | 37

Carro atolado

Foto: Wilton Junior/Estadão
31 | 37

Helicoptero

Foto: Wilton Junior/Estadão
32 | 37

Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho

Foto: Washington Alves/Reuters
33 | 37

Corpo encontrado

Foto: Wilton Júnior/Estadão
34 | 37

Ponte

Foto: Antonio Lacerta/EFE
35 | 37

Área devastada

Foto: Wilton Júnior/Estadão
36 | 37

Equipe de resgate

Foto: Antonio Lacerda/EFE
37 | 37

Resgate aéreo

Foto: Giazi Cavalcante/Código 19

E essa estrutura se manteve igual a despeito da tragédia de Mariana?

Sim. Erramos em 2015, certo, mas podíamos ter modificado os protocolos, os procedimentos, fazer alguma coisa. Mas nada foi feito, não houve nenhuma modificação. Esses dois engenheiros, que nem têm uma formação específica em segurança de barragens, continuam lá. Ah, tem uma secretária também. Isso é tudo que eles têm, três pessoas. (Segundo a Agência Nacional de Mineração, atualmente existem cinco funcionários em Minas).

Todas as propostas de leis mais rígidas também foram barradas....

Sim, tenho batido muito nas empresas. Mas resolvi botar o dedo na ferida. Se o Estado continuar fazendo vista grossa, vamos ter outros casos. Assim que aconteceu o rompimento (de Fundão), a Câmara dos Deputados criou uma comissão parlamentar de barragens. Estive lá várias vezes. A comissão apresentou uma série de projetos de lei para assegurar a segurança das barragens. Foram todos arquivados.Em Minas aconteceu a mesma coisa. Todas as propostas que visavam dar garantias às barragens também foram arquivadas.

Qual a explicação para isso?

Provavelmente um lobby muito forte das empresas. E essa inércia do Estado.

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País vive o mesmo drama pouco mais de três anos após tragédia que deixou 19 mortos, comenta o repórter de Meio Ambiente do Estadão

Falta dinheiro para ter uma estrutura melhor?

Pois é. Não falta dinheiro. Os royalties da mineração, que deveriam ser usados para estruturar a Agência Nacional de Mineração ,têm sido sempre contingenciados. Não são usados para a finalidade que a lei determina. E é uma parcela significativa de recursos, que ajudaria muito. Não poderia ser usado para contratação, mas para criar uma estrutura, para compra de equipamentos mais sofisticados. Mas esses royalties têm sido usados para reduzir o déficit das contas do governo. Todo ano é contingenciado. E isso não é de hoje, tem uns 15 anos já.

Até hoje ninguém foi punido pelo desastre de Mariana, essa lentidão da Justiça também não é um problema?

Sim. A ação penal continua tramitando, mas o sistema de Justiça tem de se aperfeiçoar, tem de ser capaz de dar uma resposta mais pronta. Ajuizamos essa ação penal há dois anos, ela tramita numa velocidade incompreensível. Eu diria que o Judiciário ainda não tem o costume de lidar com danos ambientais de magnitude como essa. A resposta é muito lenta. 

Como assim? 

A Justiça está acostumada a lidar com pequenos crimes ambientais, mas para grandes crimes, em que há complexidade nas provas, na identificação das responsabilidades, não avançamos. Por exemplo, avançamos na questão da lavagem de dinheiro, nos crimes do colarinho branco. Antigamente, não conseguíamos dar uma resposta adequada a esses crimes. Hoje, temos uma agilidade maior. Mesma coisa acontece na área ambiental.

O Greenpeace propôs que todas as barragens de rejeitos de minérios tivessem sua operação suspensa até que sua segurança fosse atestada. Isso é viável?

Essa hipótese não está descartada, o problema é como conseguir fazer isso. A medida mais pura, sem dúvida, seria paralisar todas as barragens. Mas quem iria cuidar disso? Porque não bastaria suspender a operação, seria preciso descomissionar as barragens (ou seja, desmontá-la, retirando todos os resíduos). Isso tudo tem um custo alto, que pode impactar a economia. Mas o ideal seria isso, suspender as operações, descomissionar as barragens e adotar outros métodos de lidar com os rejeitos.

Já existem vários outros métodos, não?

Sim. Essa barragem a montante é a mais insegura que existe. E também a mais barata. Mas há outros métodos mais seguros. A própria Vale já usa no Pará, uma técnica de empilhamento a seco de resíduos. Essa técnica tem danos ambientais? Tem. Mas os riscos associados são muito menores. E, claro, é uma operação muito mais onerosa.

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O presidente Jair Bolsonaro viajou para Minas Gerais neste sábado para acompanhar os trabalhos de resgate em Brumadinho, após o rompimento de uma barragem de rejeitos.

Qual a saída mais factível nesse momento?

Uma força-tarefa, entre o sistema de Justiça, as universidades, para fazer uma grande inspeção das barragens de rejeitos que utilizam esse sistema. 

RIO - Procurador regional e coordenador da Força-Tarefa Rio Doce (que apura a tragédia de Mariana) do Ministério Público Federal em Minas, José Adércio Leite Sampaio afirma, em entrevista ao Estado, que já alertava desde 2016 que uma nova tragédia iria, inevitavelmente, acontecer no setor, uma vez que não existe fiscalização independente nas barragens de rejeitos de minério. 

A leidelega às próprias empresas o monitoramento da estabilidade das barragens de rejeitos. E a fiscalizaçãoé praticamente nula. Foi apenas por isso, afirma, que tanto a barragem de Fundão, em Mariana, quanto a de Córrego do Feijão, em Brumadinho, foram consideradas de risco baixo quando, na verdade, estavam perto do colapso.

José Adércio Leite Sampaio, coordenador da Força-Tarefa Rio Doce do Ministério Público Federal em Minas Foto: LUCAS PRATES/HOJE EM DIA

"No caso da Samarco, sabemos que nem todos os dados foram repassados aos auditores", contou. "A barragem apresentava um histórico de problemas que não foi captado pelos órgãos responsáveis." O problema foi apontado pela força-tarefa do MPF em 2016, mas nada foi feito, disse ele. "Tenho batido muito nas empresas, mas resolvi botar o dedo na ferida: se o Estado continuar fazendo vista grossa, muitas outras tragédias virão." O rompimento da barragem da mineradora Vale, na sexta-feira passada, 25, em Brumadinho deixou, até a manhã desta quinta-feira, 31, 99 mortos e 259 desaparecidos.

A seguir, a entrevista:

A força-tarefa do MPF organizada depois da tragédia de Mariana já havia apontado o risco de outras tragédias. Por que vocês tinham essa avaliação?

Vínhamos alertando que se nada fosse feito teríamos outras tragédias. Evidentemente, não desejávamos que isso acontecesse, mas eram favas contadas.

Por quê?

Porque os parâmetros são muito abertos. Tanto que a barragem do Fundão, em Mariana, e do Córrego do Feijão, em Brumadinho, eram consideradas barragens seguras.

Bombeiros buscam vítimas após rompimento de lama Foto: Washington Alves/Reuters

Como funcionam esses parâmetros?

Pela lei, a empresa descreve a barragem, identificando dois problemas. O primeiro é o vício estrutural, se há chance de romper ou não. No caso das barragens de rejeitos de minério, esse é um cálculo que não te dá muita segurança. Porque o maciço da barragem é feito da própria lama, do próprio rejeito. Então, se não houver um monitoramento super-rigoroso pode haver problema. 

E o segundo parâmetro?

O empreendedor, ao descrever a barragem, deve apontar o dano potencial. Mesmo se a barragem tem uma estrutura sólida, se acontecer uma tragédia é preciso identificar os danos potenciais. Ou seja, se tem muita gente morando na região, o nível de contaminação dos rios, dos solos. O impacto socioambiental. Tanto no caso do Fundão quanto do Córrego do Feijão, o risco estrutural era baixo, mas o dano potencial alto.

Moradores de Brumadinho observam a lama que atingiu a cidade. Foto: Washington Alves/Reuters

Quem monitora isso?

São as próprias mineradoras que monitoram. A lei de segurança exige que a própria mineradora, ou um auditor contratado pela mineradora, faça uma análise e declare aos órgãos ambientais que a barragem está estável. Em geral, as empresas contratam um auditor externo para fazer isso.

Mas esses auditores externos não são confiáveis?

Sim, mas, em geral, eles fazem os cálculos com base em dados de monitoramento fornecidos pela própria empresa. Qual a falha desse processo? Pode ter dados que são filtrados. Nem todos os dados foram repassados aos auditores no caso da Samarco, por exemplo. Um outro aspecto é o histórico de problema da barragem. No caso da barragem do Fundão, quando conversamos com os técnicos, com os geotécnicos, a conclusão é que ela nunca poderia ter sido declarada segura, todo ano ela apresentava algum problema. Em 2014, por exemplo, houve uma pré-ruptura que não foi comunicada aos auditores.

Por isso o senhor usou a metáfora da raposa tomando conta do galinheiro....

Sim, não é uma metáfora muito original, mas é muito pertinente. Quando indagamos ao auditor, no caso da Samarco, se ele teria liberado a barragem caso tivesse acesso a todo o histórico, ele respondeu que nunca teria atestado baixo risco. Mas ele não teve acesso simplesmente porque não faz parte do protocolo.

Imóvel foi atingido após o rompimento de barragem de rejeitos em Brumadinho, em Minas Gerais Foto: Washington Alves/Reuters

E o que vocês fizeram? 

Apontamos o problema em 2016, mas nada foi feito para mudar o protocolo.

O que poderia ser feito?

É como o Imposto de Renda. Você entrega a sua declaração, mas a Receita Federal analisa se tem algum erro, se tem uma omissão. O Estado brasileiro tinha que fazer isso. Um fiscal tinha que ir até a barragem, analisar o histórico da barragem, olhar o local, identificar os problemas em potencial. Isso era assim na tragédia de Mariana e nada mudou. Eram apenas dois técnicos em Minas Gerais com a função, não exclusiva, de fiscalizar as barragens. São mais de 300 barragens em Minas (são 324, de acordo com a Agência Nacional de Mineração). Então eles faziam uma fiscalização por amostragem, uma vistoria superficial e confiavam na informação que a empresa repassava.

Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho

1 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
2 | 37

Moradores

Foto: Mauro Pimentel/AFP
3 | 37

Catástrofe ambiental e humana

Foto: Adriano Machado/Reuters
4 | 37

Animais

Foto: Wilton Junior/Estadão
5 | 37

Dificuldade no resgate

Foto: Douglas Magno/AFP
6 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Douglas Magno/AFP
7 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
8 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
9 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
10 | 37

Catástrofe ambiental e humana

Foto: Adriano Machado/Reuters
11 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
12 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Douglas Magno/AFP
13 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
14 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
15 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
16 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
17 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
18 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
19 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
20 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
21 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
22 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão
23 | 37

Presidente Bolsonaro

Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República
24 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Paulo Fonseca/EFE
25 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
26 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Wilton Junior/Estadão
27 | 37

Tragédia em Minas Gerais

Foto: Wilton Junior/Estadão
28 | 37

Batalha pela Vida

29 | 37

Estrada

Foto: Wilton Junior/Estadão
30 | 37

Carro atolado

Foto: Wilton Junior/Estadão
31 | 37

Helicoptero

Foto: Wilton Junior/Estadão
32 | 37

Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho

Foto: Washington Alves/Reuters
33 | 37

Corpo encontrado

Foto: Wilton Júnior/Estadão
34 | 37

Ponte

Foto: Antonio Lacerta/EFE
35 | 37

Área devastada

Foto: Wilton Júnior/Estadão
36 | 37

Equipe de resgate

Foto: Antonio Lacerda/EFE
37 | 37

Resgate aéreo

Foto: Giazi Cavalcante/Código 19

E essa estrutura se manteve igual a despeito da tragédia de Mariana?

Sim. Erramos em 2015, certo, mas podíamos ter modificado os protocolos, os procedimentos, fazer alguma coisa. Mas nada foi feito, não houve nenhuma modificação. Esses dois engenheiros, que nem têm uma formação específica em segurança de barragens, continuam lá. Ah, tem uma secretária também. Isso é tudo que eles têm, três pessoas. (Segundo a Agência Nacional de Mineração, atualmente existem cinco funcionários em Minas).

Todas as propostas de leis mais rígidas também foram barradas....

Sim, tenho batido muito nas empresas. Mas resolvi botar o dedo na ferida. Se o Estado continuar fazendo vista grossa, vamos ter outros casos. Assim que aconteceu o rompimento (de Fundão), a Câmara dos Deputados criou uma comissão parlamentar de barragens. Estive lá várias vezes. A comissão apresentou uma série de projetos de lei para assegurar a segurança das barragens. Foram todos arquivados.Em Minas aconteceu a mesma coisa. Todas as propostas que visavam dar garantias às barragens também foram arquivadas.

Qual a explicação para isso?

Provavelmente um lobby muito forte das empresas. E essa inércia do Estado.

Seu navegador não suporta esse video.

País vive o mesmo drama pouco mais de três anos após tragédia que deixou 19 mortos, comenta o repórter de Meio Ambiente do Estadão

Falta dinheiro para ter uma estrutura melhor?

Pois é. Não falta dinheiro. Os royalties da mineração, que deveriam ser usados para estruturar a Agência Nacional de Mineração ,têm sido sempre contingenciados. Não são usados para a finalidade que a lei determina. E é uma parcela significativa de recursos, que ajudaria muito. Não poderia ser usado para contratação, mas para criar uma estrutura, para compra de equipamentos mais sofisticados. Mas esses royalties têm sido usados para reduzir o déficit das contas do governo. Todo ano é contingenciado. E isso não é de hoje, tem uns 15 anos já.

Até hoje ninguém foi punido pelo desastre de Mariana, essa lentidão da Justiça também não é um problema?

Sim. A ação penal continua tramitando, mas o sistema de Justiça tem de se aperfeiçoar, tem de ser capaz de dar uma resposta mais pronta. Ajuizamos essa ação penal há dois anos, ela tramita numa velocidade incompreensível. Eu diria que o Judiciário ainda não tem o costume de lidar com danos ambientais de magnitude como essa. A resposta é muito lenta. 

Como assim? 

A Justiça está acostumada a lidar com pequenos crimes ambientais, mas para grandes crimes, em que há complexidade nas provas, na identificação das responsabilidades, não avançamos. Por exemplo, avançamos na questão da lavagem de dinheiro, nos crimes do colarinho branco. Antigamente, não conseguíamos dar uma resposta adequada a esses crimes. Hoje, temos uma agilidade maior. Mesma coisa acontece na área ambiental.

O Greenpeace propôs que todas as barragens de rejeitos de minérios tivessem sua operação suspensa até que sua segurança fosse atestada. Isso é viável?

Essa hipótese não está descartada, o problema é como conseguir fazer isso. A medida mais pura, sem dúvida, seria paralisar todas as barragens. Mas quem iria cuidar disso? Porque não bastaria suspender a operação, seria preciso descomissionar as barragens (ou seja, desmontá-la, retirando todos os resíduos). Isso tudo tem um custo alto, que pode impactar a economia. Mas o ideal seria isso, suspender as operações, descomissionar as barragens e adotar outros métodos de lidar com os rejeitos.

Já existem vários outros métodos, não?

Sim. Essa barragem a montante é a mais insegura que existe. E também a mais barata. Mas há outros métodos mais seguros. A própria Vale já usa no Pará, uma técnica de empilhamento a seco de resíduos. Essa técnica tem danos ambientais? Tem. Mas os riscos associados são muito menores. E, claro, é uma operação muito mais onerosa.

Seu navegador não suporta esse video.

O presidente Jair Bolsonaro viajou para Minas Gerais neste sábado para acompanhar os trabalhos de resgate em Brumadinho, após o rompimento de uma barragem de rejeitos.

Qual a saída mais factível nesse momento?

Uma força-tarefa, entre o sistema de Justiça, as universidades, para fazer uma grande inspeção das barragens de rejeitos que utilizam esse sistema. 

RIO - Procurador regional e coordenador da Força-Tarefa Rio Doce (que apura a tragédia de Mariana) do Ministério Público Federal em Minas, José Adércio Leite Sampaio afirma, em entrevista ao Estado, que já alertava desde 2016 que uma nova tragédia iria, inevitavelmente, acontecer no setor, uma vez que não existe fiscalização independente nas barragens de rejeitos de minério. 

A leidelega às próprias empresas o monitoramento da estabilidade das barragens de rejeitos. E a fiscalizaçãoé praticamente nula. Foi apenas por isso, afirma, que tanto a barragem de Fundão, em Mariana, quanto a de Córrego do Feijão, em Brumadinho, foram consideradas de risco baixo quando, na verdade, estavam perto do colapso.

José Adércio Leite Sampaio, coordenador da Força-Tarefa Rio Doce do Ministério Público Federal em Minas Foto: LUCAS PRATES/HOJE EM DIA

"No caso da Samarco, sabemos que nem todos os dados foram repassados aos auditores", contou. "A barragem apresentava um histórico de problemas que não foi captado pelos órgãos responsáveis." O problema foi apontado pela força-tarefa do MPF em 2016, mas nada foi feito, disse ele. "Tenho batido muito nas empresas, mas resolvi botar o dedo na ferida: se o Estado continuar fazendo vista grossa, muitas outras tragédias virão." O rompimento da barragem da mineradora Vale, na sexta-feira passada, 25, em Brumadinho deixou, até a manhã desta quinta-feira, 31, 99 mortos e 259 desaparecidos.

A seguir, a entrevista:

A força-tarefa do MPF organizada depois da tragédia de Mariana já havia apontado o risco de outras tragédias. Por que vocês tinham essa avaliação?

Vínhamos alertando que se nada fosse feito teríamos outras tragédias. Evidentemente, não desejávamos que isso acontecesse, mas eram favas contadas.

Por quê?

Porque os parâmetros são muito abertos. Tanto que a barragem do Fundão, em Mariana, e do Córrego do Feijão, em Brumadinho, eram consideradas barragens seguras.

Bombeiros buscam vítimas após rompimento de lama Foto: Washington Alves/Reuters

Como funcionam esses parâmetros?

Pela lei, a empresa descreve a barragem, identificando dois problemas. O primeiro é o vício estrutural, se há chance de romper ou não. No caso das barragens de rejeitos de minério, esse é um cálculo que não te dá muita segurança. Porque o maciço da barragem é feito da própria lama, do próprio rejeito. Então, se não houver um monitoramento super-rigoroso pode haver problema. 

E o segundo parâmetro?

O empreendedor, ao descrever a barragem, deve apontar o dano potencial. Mesmo se a barragem tem uma estrutura sólida, se acontecer uma tragédia é preciso identificar os danos potenciais. Ou seja, se tem muita gente morando na região, o nível de contaminação dos rios, dos solos. O impacto socioambiental. Tanto no caso do Fundão quanto do Córrego do Feijão, o risco estrutural era baixo, mas o dano potencial alto.

Moradores de Brumadinho observam a lama que atingiu a cidade. Foto: Washington Alves/Reuters

Quem monitora isso?

São as próprias mineradoras que monitoram. A lei de segurança exige que a própria mineradora, ou um auditor contratado pela mineradora, faça uma análise e declare aos órgãos ambientais que a barragem está estável. Em geral, as empresas contratam um auditor externo para fazer isso.

Mas esses auditores externos não são confiáveis?

Sim, mas, em geral, eles fazem os cálculos com base em dados de monitoramento fornecidos pela própria empresa. Qual a falha desse processo? Pode ter dados que são filtrados. Nem todos os dados foram repassados aos auditores no caso da Samarco, por exemplo. Um outro aspecto é o histórico de problema da barragem. No caso da barragem do Fundão, quando conversamos com os técnicos, com os geotécnicos, a conclusão é que ela nunca poderia ter sido declarada segura, todo ano ela apresentava algum problema. Em 2014, por exemplo, houve uma pré-ruptura que não foi comunicada aos auditores.

Por isso o senhor usou a metáfora da raposa tomando conta do galinheiro....

Sim, não é uma metáfora muito original, mas é muito pertinente. Quando indagamos ao auditor, no caso da Samarco, se ele teria liberado a barragem caso tivesse acesso a todo o histórico, ele respondeu que nunca teria atestado baixo risco. Mas ele não teve acesso simplesmente porque não faz parte do protocolo.

Imóvel foi atingido após o rompimento de barragem de rejeitos em Brumadinho, em Minas Gerais Foto: Washington Alves/Reuters

E o que vocês fizeram? 

Apontamos o problema em 2016, mas nada foi feito para mudar o protocolo.

O que poderia ser feito?

É como o Imposto de Renda. Você entrega a sua declaração, mas a Receita Federal analisa se tem algum erro, se tem uma omissão. O Estado brasileiro tinha que fazer isso. Um fiscal tinha que ir até a barragem, analisar o histórico da barragem, olhar o local, identificar os problemas em potencial. Isso era assim na tragédia de Mariana e nada mudou. Eram apenas dois técnicos em Minas Gerais com a função, não exclusiva, de fiscalizar as barragens. São mais de 300 barragens em Minas (são 324, de acordo com a Agência Nacional de Mineração). Então eles faziam uma fiscalização por amostragem, uma vistoria superficial e confiavam na informação que a empresa repassava.

Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho

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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
2 | 37

Moradores

Foto: Mauro Pimentel/AFP
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Catástrofe ambiental e humana

Foto: Adriano Machado/Reuters
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Animais

Foto: Wilton Junior/Estadão
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Dificuldade no resgate

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Tragédia em Minas Gerais

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Tragédia em Minas Gerais

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Tragédia em Minas Gerais

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9 | 37

Tragédia em Minas Gerais

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10 | 37

Catástrofe ambiental e humana

Foto: Adriano Machado/Reuters
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Douglas Magno/AFP
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Washington Alves/Reuters
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão
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Presidente Bolsonaro

Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Paulo Fonseca/EFE
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Wilton Junior/Estadão
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Tragédia em Minas Gerais

Foto: Wilton Junior/Estadão
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Batalha pela Vida

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Estrada

Foto: Wilton Junior/Estadão
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Carro atolado

Foto: Wilton Junior/Estadão
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Helicoptero

Foto: Wilton Junior/Estadão
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Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho

Foto: Washington Alves/Reuters
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Corpo encontrado

Foto: Wilton Júnior/Estadão
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Ponte

Foto: Antonio Lacerta/EFE
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Área devastada

Foto: Wilton Júnior/Estadão
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Equipe de resgate

Foto: Antonio Lacerda/EFE
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Resgate aéreo

Foto: Giazi Cavalcante/Código 19

E essa estrutura se manteve igual a despeito da tragédia de Mariana?

Sim. Erramos em 2015, certo, mas podíamos ter modificado os protocolos, os procedimentos, fazer alguma coisa. Mas nada foi feito, não houve nenhuma modificação. Esses dois engenheiros, que nem têm uma formação específica em segurança de barragens, continuam lá. Ah, tem uma secretária também. Isso é tudo que eles têm, três pessoas. (Segundo a Agência Nacional de Mineração, atualmente existem cinco funcionários em Minas).

Todas as propostas de leis mais rígidas também foram barradas....

Sim, tenho batido muito nas empresas. Mas resolvi botar o dedo na ferida. Se o Estado continuar fazendo vista grossa, vamos ter outros casos. Assim que aconteceu o rompimento (de Fundão), a Câmara dos Deputados criou uma comissão parlamentar de barragens. Estive lá várias vezes. A comissão apresentou uma série de projetos de lei para assegurar a segurança das barragens. Foram todos arquivados.Em Minas aconteceu a mesma coisa. Todas as propostas que visavam dar garantias às barragens também foram arquivadas.

Qual a explicação para isso?

Provavelmente um lobby muito forte das empresas. E essa inércia do Estado.

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País vive o mesmo drama pouco mais de três anos após tragédia que deixou 19 mortos, comenta o repórter de Meio Ambiente do Estadão

Falta dinheiro para ter uma estrutura melhor?

Pois é. Não falta dinheiro. Os royalties da mineração, que deveriam ser usados para estruturar a Agência Nacional de Mineração ,têm sido sempre contingenciados. Não são usados para a finalidade que a lei determina. E é uma parcela significativa de recursos, que ajudaria muito. Não poderia ser usado para contratação, mas para criar uma estrutura, para compra de equipamentos mais sofisticados. Mas esses royalties têm sido usados para reduzir o déficit das contas do governo. Todo ano é contingenciado. E isso não é de hoje, tem uns 15 anos já.

Até hoje ninguém foi punido pelo desastre de Mariana, essa lentidão da Justiça também não é um problema?

Sim. A ação penal continua tramitando, mas o sistema de Justiça tem de se aperfeiçoar, tem de ser capaz de dar uma resposta mais pronta. Ajuizamos essa ação penal há dois anos, ela tramita numa velocidade incompreensível. Eu diria que o Judiciário ainda não tem o costume de lidar com danos ambientais de magnitude como essa. A resposta é muito lenta. 

Como assim? 

A Justiça está acostumada a lidar com pequenos crimes ambientais, mas para grandes crimes, em que há complexidade nas provas, na identificação das responsabilidades, não avançamos. Por exemplo, avançamos na questão da lavagem de dinheiro, nos crimes do colarinho branco. Antigamente, não conseguíamos dar uma resposta adequada a esses crimes. Hoje, temos uma agilidade maior. Mesma coisa acontece na área ambiental.

O Greenpeace propôs que todas as barragens de rejeitos de minérios tivessem sua operação suspensa até que sua segurança fosse atestada. Isso é viável?

Essa hipótese não está descartada, o problema é como conseguir fazer isso. A medida mais pura, sem dúvida, seria paralisar todas as barragens. Mas quem iria cuidar disso? Porque não bastaria suspender a operação, seria preciso descomissionar as barragens (ou seja, desmontá-la, retirando todos os resíduos). Isso tudo tem um custo alto, que pode impactar a economia. Mas o ideal seria isso, suspender as operações, descomissionar as barragens e adotar outros métodos de lidar com os rejeitos.

Já existem vários outros métodos, não?

Sim. Essa barragem a montante é a mais insegura que existe. E também a mais barata. Mas há outros métodos mais seguros. A própria Vale já usa no Pará, uma técnica de empilhamento a seco de resíduos. Essa técnica tem danos ambientais? Tem. Mas os riscos associados são muito menores. E, claro, é uma operação muito mais onerosa.

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O presidente Jair Bolsonaro viajou para Minas Gerais neste sábado para acompanhar os trabalhos de resgate em Brumadinho, após o rompimento de uma barragem de rejeitos.

Qual a saída mais factível nesse momento?

Uma força-tarefa, entre o sistema de Justiça, as universidades, para fazer uma grande inspeção das barragens de rejeitos que utilizam esse sistema. 

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