Um cientista sul-coreano, famoso por pesquisar células-tronco e por ter clonado um cão pela primeira vez em 2005, foi condenado ontem a dois anos de prisão por desvio de dinheiro para pesquisa e por comprar óvulos humanos, desrespeitando leis bioéticas do país. Mas a Corte do Distrito Central de Seul suspendeu a pena, permitindo que ele fique em liberdade condicional, desde que não cometa crimes pelos próximos três anos. Promotores pediram que Hwang Woo-suk, de 56 anos, recebesse pena de quatro anos de prisão, mas o juiz Bae Ki-yeol afirmou que o cientista demonstrou remorso e que sua experiência com a clonagem de cachorros era digna de nota. "Seus brilhantes resultados na pesquisa com animais, seu sincero arrependimento e o fato de já ter sido aprovado por seus colegas devem ser levados em consideração", diz a sentença.O juiz desconsiderou a principal acusação contra o cientista, a de ter mentido para patrocinadores particulares que doaram cerca de US$ 2 milhões (R$ 3,4 milhões). O julgamento durou mais de três anos e mais de 60 testemunhas foram ouvidas.Hwang, que aparentava confiança quando entrou no tribunal, ficou impassível ao ouvir a sentença e não deu declarações ao sair, sob aplauso de cerca de uma centena de admiradores. Seu advogado, Yoo Chul-min, disse a uma rede de televisão local que seu cliente não entraria com recurso, porque o julgamento o estaria distraindo de suas pesquisas.ASCENSÃO E QUEDAHwang se tornou mundialmente famoso entre a comunidade científica quando, em 2004, publicou na revista Science, com ex-colegas da Universidade Nacional de Seul, artigo que descrevia a criação dos primeiros embriões humanos clonados e a extração de células-tronco desses embriões. Um ano após, a equipe de Hwang publicou outro artigo na revista, afirmando a criação de células-tronco embrionárias geneticamente compatíveis com pacientes específicos, um feito revolucionário que prometia evitar a rejeição do sistema imunológico dos pacientes.Pesquisas com células-tronco são bastante controversas e Hwang foi o único cientista sul-coreano com autorização para estudar essas células, que poderiam levar à cura de doenças difíceis de tratar, como o mal de Alzheimer. O governo do país o designou como o seu principal cientista, dando a ele financiamentos generosos. Mas a reputação de Hwang rapidamente se desfez após os resultados de suas pesquisas passarem por uma investigação de um comitê universitário que concluiu que o artigo de 2005 baseou-se em dados falsos. A Science renegou ambos os artigos e o governo retirou os privilégios de Hwang, inclusive o direito de seguir pesquisando células-tronco. Entretanto, ele não foi acusado criminalmente por ter falseado pesquisas. Desde então, ele se dedica à clonagem de animais. Em 2006, Hwang foi acusado de fraude porque teria aceitado cerca de US$ 2 milhões em doações de particulares sob falsos pretextos. Ele também foi acusado de desviar cerca de U$ 800 mil para comprar óvulos humanos para pesquisa, em desrespeito às leis bioéticas do país. Hwang admitiu que usou dados falsos, mas, sobre a compra de óvulos, disse que foi enganado por um assistente.CRONOLOGIA Novembro de 2005: Surgem as primeiras acusações contra o cientista Hwang Woo-suk. No mês seguinte, um comitê universitário confirma as fraudes Janeiro de 2006: A "Science" renega os artigos de Hwang Março de 2006: Hwang é demitido da Universidade Nacional de Seul. No mês seguinte, seu centro de pesquisa é desativado Maio de 2006: O cientista é formalmente acusado de mau uso do dinheiro público. No mês seguinte começa o seu julgamento Agosto de 2006: Hwang abre um laboratório para voltar a trabalhar, mas apenas com animais Março de 2007: O Comitê de Ética na Genética da Coreia do Sul suspende o veto à pesquisa com células-tronco, com a condição de que sejam utilizados apenas óvulos descartados de inseminações artificiais Agosto de 2008: O governo da Coreia do Sul impede Hwang de retomar pesquisas em clonagem de células-tronco embrionárias humanas