SUSTO -
Com novo tremor, Evo, Lugo e Correa olham para o teto do Congresso chileno, onde ocorreu ontem a cerimônia de posse de Piñera
Uma nova onda de tremores voltou a atingir o Chile momentos antes de o presidente eleito, Sebastián Piñera, tomar posse ontem diante do Congresso, na cidade portuária de Valparaíso. O terremoto espalhou pânico novamente no país, 12 dias após um sismo de 8,8 graus na escala Richter matar cerca de 500 pessoas. Nervosas, autoridades que assistiam à discreta cerimônia de posse de Piñera - que contou com apenas sete chefes de Estado - olhavam para o teto do Congresso temendo o pior.
O tremor mais intenso registrado na onda de ontem teria alcançado 6,9 graus na escala Richter. Moradores da costa chilena abandonaram suas casas em busca de regiões mais altas, temendo um tsunami - como ocorreu logo após o terremoto do dia 27. A Marinha chegou a emitir um alerta contra a tragédia iminente, mas o revogou em seguida.
Em Santiago, moradores abandonaram escritórios e permaneceram nas ruas. Empresas de exploração de cobre e refino de petróleo - dois principais setores da economia chilena - escaparam ilesas, segundo comunicados do governo.
"É hora de começar o trabalho", disse Piñera no fim de seu discurso de posse. O novo presidente deu ontem início ao primeiro governo democrático de direita dos últimos 50 anos no Chile, rompendo pela primeira vez a hegemonia que a coalização de esquerda, Concertação, manteve desde a volta da democracia, em 1990. Piñera recebeu o cargo das mãos da primeira mulher a presidir o Chile, Michelle Bachelet, que concluiu seu mandato com 84% de aprovação, mas não conseguiu reeleger seu sucessor, Eduardo Frei.
Após a posse, Piñera desfilou em um Ford Galaxie preto e conversível por Valparaíso. Moradores tentavam abandonar a cidade litorânea pelas mesmas vias por onde passava o comboio presidencial. O novo presidente viajou depois a Constitución, uma das cidades mais afetadas pelo terremoto seguido de tsunami, ocorrido há 12 dias.
AUSÊNCIAS
Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quanto seu colega venezuelano, Hugo Chávez, faltaram à cerimônia, em Santiago. Lula havia sido o primeiro líder estrangeiro a visitar o Chile após o terremoto. Na ocasião, o presidente brasileiro reuniu-se com Bachelet e com Piñera, e considerou que a visita dispensava sua presença na cerimônia de ontem. Chávez - com quem Piñera já teve divergências públicas, antes mesmo de assumir - não deu explicações.
Na semana passada, o senador de direita Sergio Romero, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, minimizou, em entrevista ao Estado, a ausência de Lula. "Não acredito que o presidente brasileiro se aproveitaria de uma situação como essas para enviar mensagens políticas ocultas a Piñera", disse.
Para Andrés Palma, que foi ministro do Planejamento do ex-presidente chileno Ricardo Lagos, "Chile e Brasil terão papel fundamental para controlar os dois extremos políticos da região: de um lado, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, que pode ser contido por Piñera, e de outro o presidente Chávez, que ouve Lula nas horas mais tensas".