RIO - Além de grandes e ferozes, os tiranossauros também eram muito inteligentes – e não estúpidos como se imaginava. A conclusão é da neurocientista e bióloga brasileira Suzana Herculano-Houzel, da Universidade de Vanderbilt (EUA), em estudo publicado na publicação científica Journal of Applied Neurology. Conforme o trabalho, os répteis gigantes tinham o mesmo número de neurônios no cérebro do que modernos primatas, como os babuínos. Eram capazes de resolver problemas, usar ferramentas e, até mesmo, estabelecer uma cultura.
Tecidos moles muito raramente são preservados, sobretudo no caso de fósseis pré-históricos. Para conseguir estimar o número de neurônios dos terópodes – um grupo de dinossauros que corre sobre duas patas, casos do T-Rex e do velociraptor –, Suzana se voltou para seus parentes mais próximos ainda vivos: as aves. A especialista comparou inicialmente o crânio dos dinossauros ao crânio de aves modernas, como emas e avestruzes.
Extrapolando o número de neurônios presentes nessas aves às dimensões do crânio dos animais extintos, a pesquisadora concluiu que o T-Rex teria cerca de três bilhões de neurônios – número similar ao presente no cérebro de babuínos. Se o dinossauro tivesse a mesma capacidade cognitiva do macaco, eles seriam capazes de agir em grupo, usar ferramentas e passar conhecimento para as novas gerações. Na análise de Suzana, os dinossauros eram “os primatas da sua época”.
“Se você não acha isso muito impressionante, pense nos macaquinhos que conseguem te enganar e roubar comida da sua mão”, disse a neurocientista. “Agora imagine uma criatura com essa inteligência maior do que um elefante, com garras enormes e dentes gigantescos capazes de te destroçar. Isso, para mim, é um pesadelo.”
Com esse número de neurônios, é possível estimar que os dinossauros levavam cerca de cinco anos para alcançar sua maturidade sexual e viviam até os 40 anos, como os babuínos. Esse tempo é suficiente para aprender a confeccionar e usar ferramentas, e transmitir uma cultura.
Mas não só isso.
“Pior: um dinossauro capaz de descobrir como fazer a pré-digestão de sua comida antes de colocá-la na boca poderia, em tese, ter evoluído para chegar a ter tantos neurônios quanto os humanos, em um período de dois a três milhões de anos, desde que começamos a processar os alimentos, inicialmente com ferramentas e, posteriormente com fogo”, explicou Suzana.
“Nunca mais vou olhar para os dinossauros da mesma forma. Obrigada, asteroide”, brinca a pesquisadora, em referência à rocha que atingiu a Terra há 65 milhões de anos, uma das causas mais prováveis para a extinção dos dinossauros.
Estudos compararam cérebros
Em estudos anteriores, o grupo de Suzana já havia detalhado as diferenças entre o cérebro humano e o de outros primatas. Ao começar a comer alimentos cozidos, o homem passou a ingerir uma quantidade maior de calorias, o que nos permitiu ter um número maior de neurônios que os demais.
Quando ainda trabalhava na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2005, Suzana criou junto com Roberto Lent um método para contar os neurônios – fazendo uma espécie de sopa de cérebro – e chegou à conclusão que os homens têm 86 bilhões de neurônios, não 100 bilhões como se acreditava até então. A partir desse método, foi possível estimar o número de neurônios de vários animais.
Se o asteroide não tivesse exterminado os dinossauros, avalia Suzana, eles poderiam ter evoluído como aconteceu com os seres humanos. “O mundo hoje poderia ser presidido por tiranossauros que aprenderam a cozinhar”, disse. “Está aí um filme que eu gostaria de ver.”