A empresa Trem do Corcovado entrou nesta sexta-feira, 31, com mandado de segurança no plantão judiciário para tentar evitar o fechamento do trenzinho do Corcovado, uma das principais atrações turísticas do Rio. A concessionária foi notificada pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU) a encerrar as atividades a partir deste sábado, 1º, em mais um capítulo da novela em torno da concessão da linha férrea. O governo decidiu licitar a concessão para o trenzinho no fim do ano passado. Dois editais foram embargados na Justiça. A Trem do Corcovado, que opera a linha há 25 anos, também questionou o terceiro edital - alega que ferrovias costumam pagar 25% do faturamento bruto, e não um valor mensal estipulado, e que o edital não exigia qualificação técnica das empresas concorrentes. Sem a resposta da Justiça, a Trem do Corcovado fez a oferta de pagamento de R$ 1,16 milhão mensal. Saiu vencedora do processo licitatório, mas o diretor Sávio Neves não quer assinar o contrato sem a revisão dos valores. "O edital exige o valor mínimo de R$ 700 mil, um valor arbitrário. Ora, como esta empresa tem o faturamento bruto mensal, médio, de R$ 1 milhão, esta quantia fixa equivale a 70% do nosso faturamento. O que resta é para todas as outras despesas", afirmou Neves. Atualmente, a Trem do Corcovado paga R$ 380 mil mensais à União, num contrato provisório, que já expirou. Diante da negativa de Neves em assinar o novo contrato, a secretária do Patrimônio da União, Alexandra Reschke, determinou o fechamento do trenzinho e vai convocar a segunda colocada na licitação, a Galésia Participações. "Lamentamos o fechamento do trenzinho e o desconforto que vai causar à população. Para nós foi uma surpresa quando o senhor Sávio avisou que não assinaria o contrato. Foi ele que fez o lance. Melhor do que ninguém sabe qual é a receita e os custos da operação do trem", afirmou Alexandra. Segundo ela, não há justificativa para a assinatura de um novo contrato emergencial, se já há licitação concluída e homologada. Duas décadas e meia Sávio Neves disse que se a decisão da SPU se confirmar, será a primeira vez que o trem deixará de funcionar em 25 anos, desde que a empresa assumiu a concessão. O trenzinho foi inaugurado em 1884 pelo imperador d. Pedro II. Ao longo dos anos, foi freqüentado por ilustres como o Papa João Paulo II, o cientista Albert Einstein, o rei Alberto da Bélgica e a princesa Diana. Diariamente, cerca de 1.500 pessoas pagam R$ 36 para chegar ao Cristo Redentor pelo trenzinho - o caminho mais charmoso. A outra forma de acesso, feito por vans que cobram R$ 13, será mantida. "Fizemos contato com as operadoras de vans e o serviço será reforçado", disse Alexandra No Rio, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, criticou a concessionária. "O SPU alega que tinha um contrato antigo que se pagavam R$ 300 mil e foi feita uma nova licitação no valor de R$ 1 milhão. Quem operava antes ganhou, mas logo depois entrou na Justiça pra derrubar o leilão e perdeu. Agora, não quer assinar o contrato com o novo valor sob a alegação que o contrato não é razoável" disse Minc. O ministro disse que é um "caso de 171 (crime de estelionato) de uma pessoa que prefere pagar R$ 300 mil a R$ 1 milhão" e alegou que o valor anterior correspondia ao faturamento da concessionária "em um final de semana". (Com Pedro Dantas, de O Estado de S.Paulo)