Triste amadurecer bem perto de um coração selvagem A História de Edgar Sawtelle apóia-se em Hamlet para questionar linguagem


A História de Edgar Sawtelle apóia-se em Hamlet para questionar linguagem

Por Ubiratan Brasil

A comparação com Hamlet é inevitável - apesar de mudo desde o nascimento, o que o obriga a se comunicar por sinais e bilhetes, o menino Edgar Sawtelle leva uma vida sossegada na fazenda da família até a chegada de um tio, Claude, que, com a morte do pai do garoto, conquista a simpatia da mãe. Em meio a tudo isso, um fantasma surge para iluminar os fatos. "Como gosto mais dos dramas do que das comédias de Shakespeare, é verdade que existem muitas coincidências nas histórias", comenta o americano David Wroblewski, que conversa com o Estado sobre seu romance A História de Edgar Sawtelle (Intrínseca, tradução José Rubens Siqueira, 528 páginas, R$ 39,90). "Mas é possível identificar também traços de Romeu e Julieta, Iago, até de Macbeth. São momentos intrinsecamente unidos, mas sempre representando um segundo plano."Wroblewski cresceu há 50 anos na área rural de Wisconsin, nos Estados Unidos, próximo do cenário da história dos Sawtelles. Portanto, trata do assunto com intimidade, como os frequentadores da Bienal do Livro do Rio conferiram no sábado, quando ele participou do Café Literário ao lado do australiano Tim Winton, na palestra Tornando-se Adulto em Páginas de Romance. Apesar do título, A História de Edgar Sawtelle não é propriamente um romance de formação - na verdade, sua originalidade está em apontar os limites da selvageria que qualquer ser humano, mesmo o mais civilizado, carrega dentro do peito. "O fato de Edgar ser mudo permite ter uma descoberta muito pessoal dos lugares e das pessoas que o rodeiam", observa Wroblewski que, anos antes de iniciar a escrita, passou por semelhante situação, quando uma infecção o obrigou a ficar mudo por alguns dias. A partir dessa experiência, ele notou a importância da comunicação sem palavras, o que o convenceu também a acrescentar fatos novos à trama.Assim, frustrado com a ascensão do tio sem que possa fazer algo, Edgar foge para a área florestal próxima da fazenda, onde amadurece em contato com a vida selvagem, acompanhado apenas por três cães - surge, aqui, outra comparação literária: Mogli, o Menino Lobo, de Rudyard Kipling. "No contato com esses animais, Edgar desenvolveu uma linguagem própria para o treinamento. E é esse conflito entre o uso genuíno e o fraudulento da linguagem que se tornou o ponto dramático principal do romance."Ainda insatisfeito com a situação, Edgar, depois de algum tempo, resolve voltar à fazenda, decidido a enfrentar o assassino do pai. Segundo o escritor, trata-se de uma qualidade do personagem, profundamente apegado à realidade que o cerca. O trabalho da construção da história levou dez anos, período em que Wroblewski dividia seu tempo trabalhando como engenheiro de computação, uma de suas paixões. "Eu precisava entender bem as estruturas da literatura", conta. "Adotei como lema uma bela frase de Thomas Mann: "Escritor é aquele para quem a escrita é mais difícil que para qualquer outro.""Para isso, decidiu não criar barreiras morais tampouco frear a liberdade para contar a história que julgava necessária. "Minha preocupação sempre foi com a coerência e com a estrutura do romance. Mas, exceto isso, diante de uma página em branco, percebi que tudo é possível." U.B.

A comparação com Hamlet é inevitável - apesar de mudo desde o nascimento, o que o obriga a se comunicar por sinais e bilhetes, o menino Edgar Sawtelle leva uma vida sossegada na fazenda da família até a chegada de um tio, Claude, que, com a morte do pai do garoto, conquista a simpatia da mãe. Em meio a tudo isso, um fantasma surge para iluminar os fatos. "Como gosto mais dos dramas do que das comédias de Shakespeare, é verdade que existem muitas coincidências nas histórias", comenta o americano David Wroblewski, que conversa com o Estado sobre seu romance A História de Edgar Sawtelle (Intrínseca, tradução José Rubens Siqueira, 528 páginas, R$ 39,90). "Mas é possível identificar também traços de Romeu e Julieta, Iago, até de Macbeth. São momentos intrinsecamente unidos, mas sempre representando um segundo plano."Wroblewski cresceu há 50 anos na área rural de Wisconsin, nos Estados Unidos, próximo do cenário da história dos Sawtelles. Portanto, trata do assunto com intimidade, como os frequentadores da Bienal do Livro do Rio conferiram no sábado, quando ele participou do Café Literário ao lado do australiano Tim Winton, na palestra Tornando-se Adulto em Páginas de Romance. Apesar do título, A História de Edgar Sawtelle não é propriamente um romance de formação - na verdade, sua originalidade está em apontar os limites da selvageria que qualquer ser humano, mesmo o mais civilizado, carrega dentro do peito. "O fato de Edgar ser mudo permite ter uma descoberta muito pessoal dos lugares e das pessoas que o rodeiam", observa Wroblewski que, anos antes de iniciar a escrita, passou por semelhante situação, quando uma infecção o obrigou a ficar mudo por alguns dias. A partir dessa experiência, ele notou a importância da comunicação sem palavras, o que o convenceu também a acrescentar fatos novos à trama.Assim, frustrado com a ascensão do tio sem que possa fazer algo, Edgar foge para a área florestal próxima da fazenda, onde amadurece em contato com a vida selvagem, acompanhado apenas por três cães - surge, aqui, outra comparação literária: Mogli, o Menino Lobo, de Rudyard Kipling. "No contato com esses animais, Edgar desenvolveu uma linguagem própria para o treinamento. E é esse conflito entre o uso genuíno e o fraudulento da linguagem que se tornou o ponto dramático principal do romance."Ainda insatisfeito com a situação, Edgar, depois de algum tempo, resolve voltar à fazenda, decidido a enfrentar o assassino do pai. Segundo o escritor, trata-se de uma qualidade do personagem, profundamente apegado à realidade que o cerca. O trabalho da construção da história levou dez anos, período em que Wroblewski dividia seu tempo trabalhando como engenheiro de computação, uma de suas paixões. "Eu precisava entender bem as estruturas da literatura", conta. "Adotei como lema uma bela frase de Thomas Mann: "Escritor é aquele para quem a escrita é mais difícil que para qualquer outro.""Para isso, decidiu não criar barreiras morais tampouco frear a liberdade para contar a história que julgava necessária. "Minha preocupação sempre foi com a coerência e com a estrutura do romance. Mas, exceto isso, diante de uma página em branco, percebi que tudo é possível." U.B.

A comparação com Hamlet é inevitável - apesar de mudo desde o nascimento, o que o obriga a se comunicar por sinais e bilhetes, o menino Edgar Sawtelle leva uma vida sossegada na fazenda da família até a chegada de um tio, Claude, que, com a morte do pai do garoto, conquista a simpatia da mãe. Em meio a tudo isso, um fantasma surge para iluminar os fatos. "Como gosto mais dos dramas do que das comédias de Shakespeare, é verdade que existem muitas coincidências nas histórias", comenta o americano David Wroblewski, que conversa com o Estado sobre seu romance A História de Edgar Sawtelle (Intrínseca, tradução José Rubens Siqueira, 528 páginas, R$ 39,90). "Mas é possível identificar também traços de Romeu e Julieta, Iago, até de Macbeth. São momentos intrinsecamente unidos, mas sempre representando um segundo plano."Wroblewski cresceu há 50 anos na área rural de Wisconsin, nos Estados Unidos, próximo do cenário da história dos Sawtelles. Portanto, trata do assunto com intimidade, como os frequentadores da Bienal do Livro do Rio conferiram no sábado, quando ele participou do Café Literário ao lado do australiano Tim Winton, na palestra Tornando-se Adulto em Páginas de Romance. Apesar do título, A História de Edgar Sawtelle não é propriamente um romance de formação - na verdade, sua originalidade está em apontar os limites da selvageria que qualquer ser humano, mesmo o mais civilizado, carrega dentro do peito. "O fato de Edgar ser mudo permite ter uma descoberta muito pessoal dos lugares e das pessoas que o rodeiam", observa Wroblewski que, anos antes de iniciar a escrita, passou por semelhante situação, quando uma infecção o obrigou a ficar mudo por alguns dias. A partir dessa experiência, ele notou a importância da comunicação sem palavras, o que o convenceu também a acrescentar fatos novos à trama.Assim, frustrado com a ascensão do tio sem que possa fazer algo, Edgar foge para a área florestal próxima da fazenda, onde amadurece em contato com a vida selvagem, acompanhado apenas por três cães - surge, aqui, outra comparação literária: Mogli, o Menino Lobo, de Rudyard Kipling. "No contato com esses animais, Edgar desenvolveu uma linguagem própria para o treinamento. E é esse conflito entre o uso genuíno e o fraudulento da linguagem que se tornou o ponto dramático principal do romance."Ainda insatisfeito com a situação, Edgar, depois de algum tempo, resolve voltar à fazenda, decidido a enfrentar o assassino do pai. Segundo o escritor, trata-se de uma qualidade do personagem, profundamente apegado à realidade que o cerca. O trabalho da construção da história levou dez anos, período em que Wroblewski dividia seu tempo trabalhando como engenheiro de computação, uma de suas paixões. "Eu precisava entender bem as estruturas da literatura", conta. "Adotei como lema uma bela frase de Thomas Mann: "Escritor é aquele para quem a escrita é mais difícil que para qualquer outro.""Para isso, decidiu não criar barreiras morais tampouco frear a liberdade para contar a história que julgava necessária. "Minha preocupação sempre foi com a coerência e com a estrutura do romance. Mas, exceto isso, diante de uma página em branco, percebi que tudo é possível." U.B.

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