file://imagem/93/uruguaia.jpg:1.93.12.2010-02-05.15 Uma audiência ontem no Foro Central de Porto Alegre colocou frente a frente a militante de esquerda uruguaia Lilian Celiberti e João Augusto Rosa, um ex-policial civil que ela identifica como integrante da equipe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) gaúcho que a sequestrou, em novembro de 1978, e entregou para o Exército do Uruguai. Esse foi um dos episódios mais conhecidos acerca da Operação Condor - aliança político-militar entre as ditaduras latino-americanas que teria coordenado a repressão aos opositores dos regimes. Cercado pela imprensa, o ex-agente negou que a tivesse encontrado alguma vez na vida: "Só a conhecia por fotos."O motivo da audiência é uma ação por danos morais que o ex-policial, que pertenceu à equipe do delegado Pedro Seelig - principal nome da repressão no Sul do País durante a ditadura -, move contra o jornalista Luiz Cláudio Cunha. Autor do livro Operação Condor: O Sequestro dos Uruguaios, lançado em 2008 pela editora L&PM, Cunha relatou a história do sequestro de Lilian, seus dois filhos e Universindo Diaz, ocorrido na capital gaúcha.Na obra, Cunha relata o momento em que, a partir de uma denúncia anônima, descobriu o primeiro caso relatado da Operação Condor. Na ocasião, o ex-policial teria apontado uma arma para a cabeça do jornalista, da sucursal da revista Veja no Rio Grande do Sul, na porta do apartamento onde Lilian era mantida refém dos militares.O ex-agente, juntamente com o escrivão Orandir Portassi Lucas, o ex-jogador de futebol Didi Pedalada, foi reconhecido por Cunha e pelo fotógrafo J.B. Scalco ao longo de 1979, em uma busca pela identificação dos homens que mantinham a uruguaia em cárcere. Em 1980, os policiais foram condenados pela Justiça por abuso de autoridade, mas recorreram e acabaram inocentados em 1983, por falta de provas.TORTURAApós olhá-lo por cinco segundos, Lilian reconheceu o ex-policial como um dos integrantes da equipe que a manteve presa por uma semana no apartamento da Rua Botafogo, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. "Conheço ele do sequestro, não da tortura que sofri. Ele estava no traslado na noite de 12 de novembro de 1978 em que, junto com o Didi Pedalada, levou eu e meus dois filhos à fronteira para sermos entregues ao Exército uruguaio", disse."Fizemos uma ação não para receber dinheiro, mas porque ele me chamou de medíocre no livro, disse que tenho focinho. Quem tem focinho é animal", reagiu o ex-policial.O seu advogado, Newton Jancowsky, disse que a militante de esquerda teria mentido para aproveitar a presença maciça da imprensa na audiência. "Ela recebeu uma indenização muito boa do Estado, obviamente jamais iria se posicionar de maneira contrária." "Queria que ele visse que eu não vou calar a boca. Não calei durante a ditadura, imagina agora que estou protegida", rebateu Lilian, ao explicar a demora de cinco segundos para dizer se o conhecia. Em março, o juiz titular pela 18ª Vara Cível de Porto Alegre dará a sentença no caso, contra a qual caberá recurso. "Queremos que o autor esqueça o meu cliente nas próximas edições ou coloque uma linha que seja dizendo que ele foi absolvido na época", insistiu o advogado.
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