Diversidade e Inclusão

Acessibilidade digital é um tema urgente que as empresas ignoram


Jaques Haber (EqualWeb/iigual), Luiz Pedroza (Audima) e Ronaldo Tenório (Hand Talk) avaliam a importância do anúncio do Google sobre novos recursos acessíveis do Android. Especialistas destacam negligência e desconhecimento nas corporações, mesmo com o forte aumento do acesso à internet na pandemia.

Por Luiz Alexandre Souza Ventura
Menos de 1% dos websites brasileiros são realmente acessíveis. Crédito: blog Vencer Limites. Foto: Estadão

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O anúncio do Google sobre a ampliação dos recursos acessíveis no sistema operacional Android, feito nesta quinta-feira, 23, e publicado com exclusividade pelo blog Vencer Limites, chamou a atenção de especialistas em acessibilidade digital e gerou boas expectativas para um aumento da visibilidade do setor, ainda negligenciado e desconhecido para a maioria das empresas no Brasil.

De acordo com a terceira edição da pesquisa sobre a experiência de pessoas com deficiência na internet, organizada pela BigDataCorp e o Movimento Web para Todos, com análise de 16 milhões de websites e 2 mil aplicativos brasileiros, entre abril e maio de 2021, menos de 1% das páginas são realmente acessíveis no País.

"O anúncio é muito positivo. Qualquer esforço para ampliar a acessibilidade digital é válido. E quando é uma iniciativa do Google, é mais positivo ainda porque lança luz sobre um tema que ainda está invisível, apesar de ser urgente", afirma o empreendedor social Jaques Haber, fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb.

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"Estamos vivenciando, há quase dois anos, uma transformação digital acelerada pela pandemia, mas não há visibilidade para a acessibilidade digital", diz Haber. "E quando um gigante com o poder do Google lança recursos tão avançados, com o uso do celular pelo movimento dos olhos e por expressões do rosto, isso influencia outras corporações a olharem para essa questão", avalia o empreendedor.

"Muitas empresas sequer perceberam que não ter acessibilidade digital é um problema. Não se trata do desinteresse em enfrentar a situação, mas de realmente não compreender que é uma barreira. E muitas já sabem que é um problema, mas não têm ideia de como resolver", comenta Haber.

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Jaques Haber é fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

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Na avaliação do co-fundador da Audima, Luiz Eduardo Pedroza, o mercado já sabe que recursos de acessibilidade e inclusão são necessários, mas as empresas se movem mais rápido quando uma grande referência ou a concorrência se movimentam antes delas.

"Todo movimento em prol da inclusão de pessoas com deficiência é válido, mas quando uma empresa como o Google reforça seu posicionamento e desenvolve seus produtos pensando nesse público, acontece um efeito cascata poderoso em diversas indústrias", ressalta Pedroza.

"Desde o início da pandemia, os aspectos ESG foram fortalecidos. As empresas passaram a ser cobradas a colocar em prática, e mostrar, suas ações positivas ambientais, sociais e de governança", diz o executivo.

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"O 'S', de Social na sigla ESG, ganhou força e muitas iniciativas que antes estavam na gaveta tiveram de ser executadas. Vimos muitos projetos de inclusão e diversidade saindo do papel em plena pandemia, fruto da cobrança da sociedade, que se refletiram na valorização de marcas que são reconhecidas por suas boas práticas", afirma.

"É um efeito dominó. A sociedade valoriza, acionistas e investidores passam a cobrar das empresas e as empresas adotam boas práticas a fim de se manterem sustentáveis", diz. "Aqueles que saíram na frente já colhem os frutos da cultura de diversidade. A inclusão é um caminho sem volta e as empresas que ainda não perceberam essa urgência vão ter dificuldade para correr atrás do prejuízo", alerta Luiz Eduardo Pedroza.

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Luiz Eduardo Pedroza é co-fundador da Audima. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

Para Ronaldo Tenório, CEO da Hand Talk, o anúncio do Google gera expectativa para uma evolução na acessibilidade digital. "O Google percebeu claramente o poder de ser mais acessível. São milhões de pessoas que necessitam desses recursos para ter mais autonomia", diz o especialista.

"Espero que iniciativas como essas sejam cada vez mais referência para organizações que ainda não estão criando ferramentas mais inclusivas", diz Tenório.

Ronaldo Tenório é CEO da Hand Talk, startup brasileira especializada na tradução automática de línguas de sinais. Clique na imagem para saber mais. Foto: Divulgação.

Jaques Haber alerta para o problema da invisibilidade da pessoa com deficiência como consumidor, trabalhador e profissional. E para a falta de representatividade na liderança das empresas, nos espaços de decisão.

"Sabemos que todo esse movimento de transformação digital forçou as empresas a investirem alguns milhões na internet, para manter e melhorar o relacionamento com seus consumidores, que estão na web atualmente, mas como não há pessoas com deficiência nas equipes que fazem esse trabalho, as empresas não enxergam a dor dos consumidores com deficiência", explica Haber.

O head da EqualWeb chama atenção para o mito de que acessibilidade digital tem alto custo porque o caminho mais conhecido é o by design, na concepção do projeto. "É um caminho muito válido, mas temos hoje muitas ferramentas de tecnologia que tornam esse processo muito mais simples e rápido, com preço acessível", defende o executivo.

"Falta as empresas perceberem a importância do consumidor com deficiência, que é um influenciador para outros consumidores", afirma Haber, que não é uma pessoa com deficiência, mas é casado com Andrea Schwarz, mulher com deficiência, palestrante, empresária, CEO na iigual, um das Top Voices no LinkedIn e TEDx Speaker.

"Minhas escolhas são muito guiadas pelas necessidades específicas de acessibilidade da minha esposa, que influenciam toda a família, tanto eu quanto os nossos dois filhos. E isso é feito da mesma forma no mundo digital. Se você uma empresa atende aos requisitos de algum familiar com deficiência, toda a família vai prestigiar essa empresa", esclarece o empreendedor.

Discurso e prática - Jaques Haber afirma que há avanços na prática da inclusão, com mais espaço para palestras sobre o tema, mais interesse na contratação de profissionais com deficiência e outros representantes da diversidade e discussões sobre o ESG, mas ainda sem atingir a acessibilidade digital.

"É um tema específico, que exige maior consciência sobre a sua importância, porque a acessibilidade digital atende o 'S', do Social, e também o 'G', de Governança, porque há uma legislação que regula esse setor. A Lei Brasileira de Inclusão, no artigo 73, destaca a obrigatoriedade de todo website oferecer acessibilidade digital", diz o fundador da iigual.

"No final das contas, como faltam lideranças representativas de pessoas com deficiência dentro das empresas, a visão dessas corporações ainda é muito limitada, não enxergam a oportunidade que é ser digitalmente acessível, além de não valorizar a diversidade a inclusão como negócio. São temas muito vinculados ao RH ou à área de D&I, mas não é transversal, não é uma estratégia de negócio", analisa o especialista.

"Algumas empresas já têm a inclusão como um pilar de negócio porque entendem que isso é bom para a empresa, não apenas para a sociedade. Então, enquanto não houver mais vozes potentes falando sobre esse tema, enquanto não houver mais líderes com deficiência nas empresas, não haverá mudanças em um curto prazo", completa Jaques Haber.

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Menos de 1% dos websites brasileiros são realmente acessíveis. Crédito: blog Vencer Limites. Foto: Estadão

O anúncio do Google sobre a ampliação dos recursos acessíveis no sistema operacional Android, feito nesta quinta-feira, 23, e publicado com exclusividade pelo blog Vencer Limites, chamou a atenção de especialistas em acessibilidade digital e gerou boas expectativas para um aumento da visibilidade do setor, ainda negligenciado e desconhecido para a maioria das empresas no Brasil.

De acordo com a terceira edição da pesquisa sobre a experiência de pessoas com deficiência na internet, organizada pela BigDataCorp e o Movimento Web para Todos, com análise de 16 milhões de websites e 2 mil aplicativos brasileiros, entre abril e maio de 2021, menos de 1% das páginas são realmente acessíveis no País.

"O anúncio é muito positivo. Qualquer esforço para ampliar a acessibilidade digital é válido. E quando é uma iniciativa do Google, é mais positivo ainda porque lança luz sobre um tema que ainda está invisível, apesar de ser urgente", afirma o empreendedor social Jaques Haber, fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb.

"Estamos vivenciando, há quase dois anos, uma transformação digital acelerada pela pandemia, mas não há visibilidade para a acessibilidade digital", diz Haber. "E quando um gigante com o poder do Google lança recursos tão avançados, com o uso do celular pelo movimento dos olhos e por expressões do rosto, isso influencia outras corporações a olharem para essa questão", avalia o empreendedor.

"Muitas empresas sequer perceberam que não ter acessibilidade digital é um problema. Não se trata do desinteresse em enfrentar a situação, mas de realmente não compreender que é uma barreira. E muitas já sabem que é um problema, mas não têm ideia de como resolver", comenta Haber.

Jaques Haber é fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

Na avaliação do co-fundador da Audima, Luiz Eduardo Pedroza, o mercado já sabe que recursos de acessibilidade e inclusão são necessários, mas as empresas se movem mais rápido quando uma grande referência ou a concorrência se movimentam antes delas.

"Todo movimento em prol da inclusão de pessoas com deficiência é válido, mas quando uma empresa como o Google reforça seu posicionamento e desenvolve seus produtos pensando nesse público, acontece um efeito cascata poderoso em diversas indústrias", ressalta Pedroza.

"Desde o início da pandemia, os aspectos ESG foram fortalecidos. As empresas passaram a ser cobradas a colocar em prática, e mostrar, suas ações positivas ambientais, sociais e de governança", diz o executivo.

"O 'S', de Social na sigla ESG, ganhou força e muitas iniciativas que antes estavam na gaveta tiveram de ser executadas. Vimos muitos projetos de inclusão e diversidade saindo do papel em plena pandemia, fruto da cobrança da sociedade, que se refletiram na valorização de marcas que são reconhecidas por suas boas práticas", afirma.

"É um efeito dominó. A sociedade valoriza, acionistas e investidores passam a cobrar das empresas e as empresas adotam boas práticas a fim de se manterem sustentáveis", diz. "Aqueles que saíram na frente já colhem os frutos da cultura de diversidade. A inclusão é um caminho sem volta e as empresas que ainda não perceberam essa urgência vão ter dificuldade para correr atrás do prejuízo", alerta Luiz Eduardo Pedroza.

Luiz Eduardo Pedroza é co-fundador da Audima. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

Para Ronaldo Tenório, CEO da Hand Talk, o anúncio do Google gera expectativa para uma evolução na acessibilidade digital. "O Google percebeu claramente o poder de ser mais acessível. São milhões de pessoas que necessitam desses recursos para ter mais autonomia", diz o especialista.

"Espero que iniciativas como essas sejam cada vez mais referência para organizações que ainda não estão criando ferramentas mais inclusivas", diz Tenório.

Ronaldo Tenório é CEO da Hand Talk, startup brasileira especializada na tradução automática de línguas de sinais. Clique na imagem para saber mais. Foto: Divulgação.

Jaques Haber alerta para o problema da invisibilidade da pessoa com deficiência como consumidor, trabalhador e profissional. E para a falta de representatividade na liderança das empresas, nos espaços de decisão.

"Sabemos que todo esse movimento de transformação digital forçou as empresas a investirem alguns milhões na internet, para manter e melhorar o relacionamento com seus consumidores, que estão na web atualmente, mas como não há pessoas com deficiência nas equipes que fazem esse trabalho, as empresas não enxergam a dor dos consumidores com deficiência", explica Haber.

O head da EqualWeb chama atenção para o mito de que acessibilidade digital tem alto custo porque o caminho mais conhecido é o by design, na concepção do projeto. "É um caminho muito válido, mas temos hoje muitas ferramentas de tecnologia que tornam esse processo muito mais simples e rápido, com preço acessível", defende o executivo.

"Falta as empresas perceberem a importância do consumidor com deficiência, que é um influenciador para outros consumidores", afirma Haber, que não é uma pessoa com deficiência, mas é casado com Andrea Schwarz, mulher com deficiência, palestrante, empresária, CEO na iigual, um das Top Voices no LinkedIn e TEDx Speaker.

"Minhas escolhas são muito guiadas pelas necessidades específicas de acessibilidade da minha esposa, que influenciam toda a família, tanto eu quanto os nossos dois filhos. E isso é feito da mesma forma no mundo digital. Se você uma empresa atende aos requisitos de algum familiar com deficiência, toda a família vai prestigiar essa empresa", esclarece o empreendedor.

Discurso e prática - Jaques Haber afirma que há avanços na prática da inclusão, com mais espaço para palestras sobre o tema, mais interesse na contratação de profissionais com deficiência e outros representantes da diversidade e discussões sobre o ESG, mas ainda sem atingir a acessibilidade digital.

"É um tema específico, que exige maior consciência sobre a sua importância, porque a acessibilidade digital atende o 'S', do Social, e também o 'G', de Governança, porque há uma legislação que regula esse setor. A Lei Brasileira de Inclusão, no artigo 73, destaca a obrigatoriedade de todo website oferecer acessibilidade digital", diz o fundador da iigual.

"No final das contas, como faltam lideranças representativas de pessoas com deficiência dentro das empresas, a visão dessas corporações ainda é muito limitada, não enxergam a oportunidade que é ser digitalmente acessível, além de não valorizar a diversidade a inclusão como negócio. São temas muito vinculados ao RH ou à área de D&I, mas não é transversal, não é uma estratégia de negócio", analisa o especialista.

"Algumas empresas já têm a inclusão como um pilar de negócio porque entendem que isso é bom para a empresa, não apenas para a sociedade. Então, enquanto não houver mais vozes potentes falando sobre esse tema, enquanto não houver mais líderes com deficiência nas empresas, não haverá mudanças em um curto prazo", completa Jaques Haber.

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Menos de 1% dos websites brasileiros são realmente acessíveis. Crédito: blog Vencer Limites. Foto: Estadão

O anúncio do Google sobre a ampliação dos recursos acessíveis no sistema operacional Android, feito nesta quinta-feira, 23, e publicado com exclusividade pelo blog Vencer Limites, chamou a atenção de especialistas em acessibilidade digital e gerou boas expectativas para um aumento da visibilidade do setor, ainda negligenciado e desconhecido para a maioria das empresas no Brasil.

De acordo com a terceira edição da pesquisa sobre a experiência de pessoas com deficiência na internet, organizada pela BigDataCorp e o Movimento Web para Todos, com análise de 16 milhões de websites e 2 mil aplicativos brasileiros, entre abril e maio de 2021, menos de 1% das páginas são realmente acessíveis no País.

"O anúncio é muito positivo. Qualquer esforço para ampliar a acessibilidade digital é válido. E quando é uma iniciativa do Google, é mais positivo ainda porque lança luz sobre um tema que ainda está invisível, apesar de ser urgente", afirma o empreendedor social Jaques Haber, fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb.

"Estamos vivenciando, há quase dois anos, uma transformação digital acelerada pela pandemia, mas não há visibilidade para a acessibilidade digital", diz Haber. "E quando um gigante com o poder do Google lança recursos tão avançados, com o uso do celular pelo movimento dos olhos e por expressões do rosto, isso influencia outras corporações a olharem para essa questão", avalia o empreendedor.

"Muitas empresas sequer perceberam que não ter acessibilidade digital é um problema. Não se trata do desinteresse em enfrentar a situação, mas de realmente não compreender que é uma barreira. E muitas já sabem que é um problema, mas não têm ideia de como resolver", comenta Haber.

Jaques Haber é fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

Na avaliação do co-fundador da Audima, Luiz Eduardo Pedroza, o mercado já sabe que recursos de acessibilidade e inclusão são necessários, mas as empresas se movem mais rápido quando uma grande referência ou a concorrência se movimentam antes delas.

"Todo movimento em prol da inclusão de pessoas com deficiência é válido, mas quando uma empresa como o Google reforça seu posicionamento e desenvolve seus produtos pensando nesse público, acontece um efeito cascata poderoso em diversas indústrias", ressalta Pedroza.

"Desde o início da pandemia, os aspectos ESG foram fortalecidos. As empresas passaram a ser cobradas a colocar em prática, e mostrar, suas ações positivas ambientais, sociais e de governança", diz o executivo.

"O 'S', de Social na sigla ESG, ganhou força e muitas iniciativas que antes estavam na gaveta tiveram de ser executadas. Vimos muitos projetos de inclusão e diversidade saindo do papel em plena pandemia, fruto da cobrança da sociedade, que se refletiram na valorização de marcas que são reconhecidas por suas boas práticas", afirma.

"É um efeito dominó. A sociedade valoriza, acionistas e investidores passam a cobrar das empresas e as empresas adotam boas práticas a fim de se manterem sustentáveis", diz. "Aqueles que saíram na frente já colhem os frutos da cultura de diversidade. A inclusão é um caminho sem volta e as empresas que ainda não perceberam essa urgência vão ter dificuldade para correr atrás do prejuízo", alerta Luiz Eduardo Pedroza.

Luiz Eduardo Pedroza é co-fundador da Audima. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

Para Ronaldo Tenório, CEO da Hand Talk, o anúncio do Google gera expectativa para uma evolução na acessibilidade digital. "O Google percebeu claramente o poder de ser mais acessível. São milhões de pessoas que necessitam desses recursos para ter mais autonomia", diz o especialista.

"Espero que iniciativas como essas sejam cada vez mais referência para organizações que ainda não estão criando ferramentas mais inclusivas", diz Tenório.

Ronaldo Tenório é CEO da Hand Talk, startup brasileira especializada na tradução automática de línguas de sinais. Clique na imagem para saber mais. Foto: Divulgação.

Jaques Haber alerta para o problema da invisibilidade da pessoa com deficiência como consumidor, trabalhador e profissional. E para a falta de representatividade na liderança das empresas, nos espaços de decisão.

"Sabemos que todo esse movimento de transformação digital forçou as empresas a investirem alguns milhões na internet, para manter e melhorar o relacionamento com seus consumidores, que estão na web atualmente, mas como não há pessoas com deficiência nas equipes que fazem esse trabalho, as empresas não enxergam a dor dos consumidores com deficiência", explica Haber.

O head da EqualWeb chama atenção para o mito de que acessibilidade digital tem alto custo porque o caminho mais conhecido é o by design, na concepção do projeto. "É um caminho muito válido, mas temos hoje muitas ferramentas de tecnologia que tornam esse processo muito mais simples e rápido, com preço acessível", defende o executivo.

"Falta as empresas perceberem a importância do consumidor com deficiência, que é um influenciador para outros consumidores", afirma Haber, que não é uma pessoa com deficiência, mas é casado com Andrea Schwarz, mulher com deficiência, palestrante, empresária, CEO na iigual, um das Top Voices no LinkedIn e TEDx Speaker.

"Minhas escolhas são muito guiadas pelas necessidades específicas de acessibilidade da minha esposa, que influenciam toda a família, tanto eu quanto os nossos dois filhos. E isso é feito da mesma forma no mundo digital. Se você uma empresa atende aos requisitos de algum familiar com deficiência, toda a família vai prestigiar essa empresa", esclarece o empreendedor.

Discurso e prática - Jaques Haber afirma que há avanços na prática da inclusão, com mais espaço para palestras sobre o tema, mais interesse na contratação de profissionais com deficiência e outros representantes da diversidade e discussões sobre o ESG, mas ainda sem atingir a acessibilidade digital.

"É um tema específico, que exige maior consciência sobre a sua importância, porque a acessibilidade digital atende o 'S', do Social, e também o 'G', de Governança, porque há uma legislação que regula esse setor. A Lei Brasileira de Inclusão, no artigo 73, destaca a obrigatoriedade de todo website oferecer acessibilidade digital", diz o fundador da iigual.

"No final das contas, como faltam lideranças representativas de pessoas com deficiência dentro das empresas, a visão dessas corporações ainda é muito limitada, não enxergam a oportunidade que é ser digitalmente acessível, além de não valorizar a diversidade a inclusão como negócio. São temas muito vinculados ao RH ou à área de D&I, mas não é transversal, não é uma estratégia de negócio", analisa o especialista.

"Algumas empresas já têm a inclusão como um pilar de negócio porque entendem que isso é bom para a empresa, não apenas para a sociedade. Então, enquanto não houver mais vozes potentes falando sobre esse tema, enquanto não houver mais líderes com deficiência nas empresas, não haverá mudanças em um curto prazo", completa Jaques Haber.

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Menos de 1% dos websites brasileiros são realmente acessíveis. Crédito: blog Vencer Limites. Foto: Estadão

O anúncio do Google sobre a ampliação dos recursos acessíveis no sistema operacional Android, feito nesta quinta-feira, 23, e publicado com exclusividade pelo blog Vencer Limites, chamou a atenção de especialistas em acessibilidade digital e gerou boas expectativas para um aumento da visibilidade do setor, ainda negligenciado e desconhecido para a maioria das empresas no Brasil.

De acordo com a terceira edição da pesquisa sobre a experiência de pessoas com deficiência na internet, organizada pela BigDataCorp e o Movimento Web para Todos, com análise de 16 milhões de websites e 2 mil aplicativos brasileiros, entre abril e maio de 2021, menos de 1% das páginas são realmente acessíveis no País.

"O anúncio é muito positivo. Qualquer esforço para ampliar a acessibilidade digital é válido. E quando é uma iniciativa do Google, é mais positivo ainda porque lança luz sobre um tema que ainda está invisível, apesar de ser urgente", afirma o empreendedor social Jaques Haber, fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb.

"Estamos vivenciando, há quase dois anos, uma transformação digital acelerada pela pandemia, mas não há visibilidade para a acessibilidade digital", diz Haber. "E quando um gigante com o poder do Google lança recursos tão avançados, com o uso do celular pelo movimento dos olhos e por expressões do rosto, isso influencia outras corporações a olharem para essa questão", avalia o empreendedor.

"Muitas empresas sequer perceberam que não ter acessibilidade digital é um problema. Não se trata do desinteresse em enfrentar a situação, mas de realmente não compreender que é uma barreira. E muitas já sabem que é um problema, mas não têm ideia de como resolver", comenta Haber.

Jaques Haber é fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

Na avaliação do co-fundador da Audima, Luiz Eduardo Pedroza, o mercado já sabe que recursos de acessibilidade e inclusão são necessários, mas as empresas se movem mais rápido quando uma grande referência ou a concorrência se movimentam antes delas.

"Todo movimento em prol da inclusão de pessoas com deficiência é válido, mas quando uma empresa como o Google reforça seu posicionamento e desenvolve seus produtos pensando nesse público, acontece um efeito cascata poderoso em diversas indústrias", ressalta Pedroza.

"Desde o início da pandemia, os aspectos ESG foram fortalecidos. As empresas passaram a ser cobradas a colocar em prática, e mostrar, suas ações positivas ambientais, sociais e de governança", diz o executivo.

"O 'S', de Social na sigla ESG, ganhou força e muitas iniciativas que antes estavam na gaveta tiveram de ser executadas. Vimos muitos projetos de inclusão e diversidade saindo do papel em plena pandemia, fruto da cobrança da sociedade, que se refletiram na valorização de marcas que são reconhecidas por suas boas práticas", afirma.

"É um efeito dominó. A sociedade valoriza, acionistas e investidores passam a cobrar das empresas e as empresas adotam boas práticas a fim de se manterem sustentáveis", diz. "Aqueles que saíram na frente já colhem os frutos da cultura de diversidade. A inclusão é um caminho sem volta e as empresas que ainda não perceberam essa urgência vão ter dificuldade para correr atrás do prejuízo", alerta Luiz Eduardo Pedroza.

Luiz Eduardo Pedroza é co-fundador da Audima. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

Para Ronaldo Tenório, CEO da Hand Talk, o anúncio do Google gera expectativa para uma evolução na acessibilidade digital. "O Google percebeu claramente o poder de ser mais acessível. São milhões de pessoas que necessitam desses recursos para ter mais autonomia", diz o especialista.

"Espero que iniciativas como essas sejam cada vez mais referência para organizações que ainda não estão criando ferramentas mais inclusivas", diz Tenório.

Ronaldo Tenório é CEO da Hand Talk, startup brasileira especializada na tradução automática de línguas de sinais. Clique na imagem para saber mais. Foto: Divulgação.

Jaques Haber alerta para o problema da invisibilidade da pessoa com deficiência como consumidor, trabalhador e profissional. E para a falta de representatividade na liderança das empresas, nos espaços de decisão.

"Sabemos que todo esse movimento de transformação digital forçou as empresas a investirem alguns milhões na internet, para manter e melhorar o relacionamento com seus consumidores, que estão na web atualmente, mas como não há pessoas com deficiência nas equipes que fazem esse trabalho, as empresas não enxergam a dor dos consumidores com deficiência", explica Haber.

O head da EqualWeb chama atenção para o mito de que acessibilidade digital tem alto custo porque o caminho mais conhecido é o by design, na concepção do projeto. "É um caminho muito válido, mas temos hoje muitas ferramentas de tecnologia que tornam esse processo muito mais simples e rápido, com preço acessível", defende o executivo.

"Falta as empresas perceberem a importância do consumidor com deficiência, que é um influenciador para outros consumidores", afirma Haber, que não é uma pessoa com deficiência, mas é casado com Andrea Schwarz, mulher com deficiência, palestrante, empresária, CEO na iigual, um das Top Voices no LinkedIn e TEDx Speaker.

"Minhas escolhas são muito guiadas pelas necessidades específicas de acessibilidade da minha esposa, que influenciam toda a família, tanto eu quanto os nossos dois filhos. E isso é feito da mesma forma no mundo digital. Se você uma empresa atende aos requisitos de algum familiar com deficiência, toda a família vai prestigiar essa empresa", esclarece o empreendedor.

Discurso e prática - Jaques Haber afirma que há avanços na prática da inclusão, com mais espaço para palestras sobre o tema, mais interesse na contratação de profissionais com deficiência e outros representantes da diversidade e discussões sobre o ESG, mas ainda sem atingir a acessibilidade digital.

"É um tema específico, que exige maior consciência sobre a sua importância, porque a acessibilidade digital atende o 'S', do Social, e também o 'G', de Governança, porque há uma legislação que regula esse setor. A Lei Brasileira de Inclusão, no artigo 73, destaca a obrigatoriedade de todo website oferecer acessibilidade digital", diz o fundador da iigual.

"No final das contas, como faltam lideranças representativas de pessoas com deficiência dentro das empresas, a visão dessas corporações ainda é muito limitada, não enxergam a oportunidade que é ser digitalmente acessível, além de não valorizar a diversidade a inclusão como negócio. São temas muito vinculados ao RH ou à área de D&I, mas não é transversal, não é uma estratégia de negócio", analisa o especialista.

"Algumas empresas já têm a inclusão como um pilar de negócio porque entendem que isso é bom para a empresa, não apenas para a sociedade. Então, enquanto não houver mais vozes potentes falando sobre esse tema, enquanto não houver mais líderes com deficiência nas empresas, não haverá mudanças em um curto prazo", completa Jaques Haber.

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Menos de 1% dos websites brasileiros são realmente acessíveis. Crédito: blog Vencer Limites. Foto: Estadão

O anúncio do Google sobre a ampliação dos recursos acessíveis no sistema operacional Android, feito nesta quinta-feira, 23, e publicado com exclusividade pelo blog Vencer Limites, chamou a atenção de especialistas em acessibilidade digital e gerou boas expectativas para um aumento da visibilidade do setor, ainda negligenciado e desconhecido para a maioria das empresas no Brasil.

De acordo com a terceira edição da pesquisa sobre a experiência de pessoas com deficiência na internet, organizada pela BigDataCorp e o Movimento Web para Todos, com análise de 16 milhões de websites e 2 mil aplicativos brasileiros, entre abril e maio de 2021, menos de 1% das páginas são realmente acessíveis no País.

"O anúncio é muito positivo. Qualquer esforço para ampliar a acessibilidade digital é válido. E quando é uma iniciativa do Google, é mais positivo ainda porque lança luz sobre um tema que ainda está invisível, apesar de ser urgente", afirma o empreendedor social Jaques Haber, fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb.

"Estamos vivenciando, há quase dois anos, uma transformação digital acelerada pela pandemia, mas não há visibilidade para a acessibilidade digital", diz Haber. "E quando um gigante com o poder do Google lança recursos tão avançados, com o uso do celular pelo movimento dos olhos e por expressões do rosto, isso influencia outras corporações a olharem para essa questão", avalia o empreendedor.

"Muitas empresas sequer perceberam que não ter acessibilidade digital é um problema. Não se trata do desinteresse em enfrentar a situação, mas de realmente não compreender que é uma barreira. E muitas já sabem que é um problema, mas não têm ideia de como resolver", comenta Haber.

Jaques Haber é fundador da iigual e head de impacto da EqualWeb. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

Na avaliação do co-fundador da Audima, Luiz Eduardo Pedroza, o mercado já sabe que recursos de acessibilidade e inclusão são necessários, mas as empresas se movem mais rápido quando uma grande referência ou a concorrência se movimentam antes delas.

"Todo movimento em prol da inclusão de pessoas com deficiência é válido, mas quando uma empresa como o Google reforça seu posicionamento e desenvolve seus produtos pensando nesse público, acontece um efeito cascata poderoso em diversas indústrias", ressalta Pedroza.

"Desde o início da pandemia, os aspectos ESG foram fortalecidos. As empresas passaram a ser cobradas a colocar em prática, e mostrar, suas ações positivas ambientais, sociais e de governança", diz o executivo.

"O 'S', de Social na sigla ESG, ganhou força e muitas iniciativas que antes estavam na gaveta tiveram de ser executadas. Vimos muitos projetos de inclusão e diversidade saindo do papel em plena pandemia, fruto da cobrança da sociedade, que se refletiram na valorização de marcas que são reconhecidas por suas boas práticas", afirma.

"É um efeito dominó. A sociedade valoriza, acionistas e investidores passam a cobrar das empresas e as empresas adotam boas práticas a fim de se manterem sustentáveis", diz. "Aqueles que saíram na frente já colhem os frutos da cultura de diversidade. A inclusão é um caminho sem volta e as empresas que ainda não perceberam essa urgência vão ter dificuldade para correr atrás do prejuízo", alerta Luiz Eduardo Pedroza.

Luiz Eduardo Pedroza é co-fundador da Audima. Crédito: Divulgação. Foto: Estadão

Para Ronaldo Tenório, CEO da Hand Talk, o anúncio do Google gera expectativa para uma evolução na acessibilidade digital. "O Google percebeu claramente o poder de ser mais acessível. São milhões de pessoas que necessitam desses recursos para ter mais autonomia", diz o especialista.

"Espero que iniciativas como essas sejam cada vez mais referência para organizações que ainda não estão criando ferramentas mais inclusivas", diz Tenório.

Ronaldo Tenório é CEO da Hand Talk, startup brasileira especializada na tradução automática de línguas de sinais. Clique na imagem para saber mais. Foto: Divulgação.

Jaques Haber alerta para o problema da invisibilidade da pessoa com deficiência como consumidor, trabalhador e profissional. E para a falta de representatividade na liderança das empresas, nos espaços de decisão.

"Sabemos que todo esse movimento de transformação digital forçou as empresas a investirem alguns milhões na internet, para manter e melhorar o relacionamento com seus consumidores, que estão na web atualmente, mas como não há pessoas com deficiência nas equipes que fazem esse trabalho, as empresas não enxergam a dor dos consumidores com deficiência", explica Haber.

O head da EqualWeb chama atenção para o mito de que acessibilidade digital tem alto custo porque o caminho mais conhecido é o by design, na concepção do projeto. "É um caminho muito válido, mas temos hoje muitas ferramentas de tecnologia que tornam esse processo muito mais simples e rápido, com preço acessível", defende o executivo.

"Falta as empresas perceberem a importância do consumidor com deficiência, que é um influenciador para outros consumidores", afirma Haber, que não é uma pessoa com deficiência, mas é casado com Andrea Schwarz, mulher com deficiência, palestrante, empresária, CEO na iigual, um das Top Voices no LinkedIn e TEDx Speaker.

"Minhas escolhas são muito guiadas pelas necessidades específicas de acessibilidade da minha esposa, que influenciam toda a família, tanto eu quanto os nossos dois filhos. E isso é feito da mesma forma no mundo digital. Se você uma empresa atende aos requisitos de algum familiar com deficiência, toda a família vai prestigiar essa empresa", esclarece o empreendedor.

Discurso e prática - Jaques Haber afirma que há avanços na prática da inclusão, com mais espaço para palestras sobre o tema, mais interesse na contratação de profissionais com deficiência e outros representantes da diversidade e discussões sobre o ESG, mas ainda sem atingir a acessibilidade digital.

"É um tema específico, que exige maior consciência sobre a sua importância, porque a acessibilidade digital atende o 'S', do Social, e também o 'G', de Governança, porque há uma legislação que regula esse setor. A Lei Brasileira de Inclusão, no artigo 73, destaca a obrigatoriedade de todo website oferecer acessibilidade digital", diz o fundador da iigual.

"No final das contas, como faltam lideranças representativas de pessoas com deficiência dentro das empresas, a visão dessas corporações ainda é muito limitada, não enxergam a oportunidade que é ser digitalmente acessível, além de não valorizar a diversidade a inclusão como negócio. São temas muito vinculados ao RH ou à área de D&I, mas não é transversal, não é uma estratégia de negócio", analisa o especialista.

"Algumas empresas já têm a inclusão como um pilar de negócio porque entendem que isso é bom para a empresa, não apenas para a sociedade. Então, enquanto não houver mais vozes potentes falando sobre esse tema, enquanto não houver mais líderes com deficiência nas empresas, não haverá mudanças em um curto prazo", completa Jaques Haber.

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