A distribuição de três medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar pessoas com esquizofrenia está interrompida em dez estados (AL, BA, CE, MG, MT, PI, RJ, RS, SE e SP), segundo levantamento da Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia (AMME), que atende aproximadamente quatro mil famílias de todo o País.
"Estamos com uma dificuldade enorme com medicamentos antipsicóticos: clozapina, quetiapina e olanzapina", diz Sarah Nicolleli, fundadora e presidente da AMME. "Em algumas cidades, mesmo nas farmácias particulares, já é difícil encontrar para comprar", comenta.
"Imagine uma pessoa com esquizofrenia que faz tratamento contínuo e fica sem tomar seus remédios. Certamente, terá uma crise psicótica, que pode ser agressiva", alerta. "A associação tem ajudado com doação de alguns medicamentos. Uma caixa custa R$ 300, quando é genérico, e alguns pacientes tomam seis comprimidos por dia. No Brasil, são 2 milhões de pessoas com esquizofrenia, com uma média de 80% atendidos pelo SUS. As secretarias de saúde dizem que há falta de remédios e o Ministério da Saúde não informa nada", ressalta Sarah Nicolleli.
Resposta - Questionado pelo blog Vencer Limites, o Ministério da Saúde afirmou em nota que atendeu 100% da demanda das secretarias estaduais de Saúde e do Distrito Federal dos medicamentos clozapina (25mg e 100mg) e olanzapina (10 mg) para o atendimento do quarto trimestre de 2021 (outubro, novembro e dezembro).
"O medicamento quetiapina (100mg e 200mg) será distribuído de acordo com as datas agendadas junto às Secretarias Estaduais de Saúde (SES). Em relação aos medicamentos quetiapina (25mg) e olanzapina (5mg), foram atendidos, respectivamente, 22% e 81% da demanda. A Pasta aguarda assinatura do novo contrato com o laboratório produtor para o atendimento do restante da demanda. Cabe ressaltar que o ministério exigiu o adiantamento das entregas", completa o MS.
Danos no cérebro - O médico psiquiatra e professor Ary Gadelha, vice-chefe do departamento de psiquiatria e coordenador do Programa de Esquizofrenia (PROESQ) da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal De São Paulo (EPM/UNIFESP), alerta para os problemas que a interrupção dos tratamento pode provocar.
"A medicação antipsicótica tem duas ações. Ela tira a pessoa com esquizofrenia da crise e, depois que ela está estabilizada, previne novas crises. Funciona para todas as três medicações (clozapina, quetiapina e olanzapina). Interromper o tratamento pode levar a uma recaída da doença, marcada por uma nova crise psicótica. O período para essa recaída é variável, mas pode acontecer mesmo com três a cinco dias sem remédios. Por isso, a urgência de retomar o fornecimento", explica o médico.
"Temos recebido pacientes que entraram em crise por falta de medicação. É uma população muito vulnerável. Essas medicações têm um custo maior, o que torna muito difícil as famílias manterem o tratamento sem o apoio do poder público", comenta o professor.
"Cada crise psicótica pode agravar ainda mais a doença, afetando o funcionamento do cérebro. O paciente pode se recuperar, mas pode também ter perdas permanentes ou levar de meses, até anos, para voltar ao funcionamento anterior à crise", completa o psiquiatra Ary Gadelha.