A Fundação Dorina Nowill para Cegos prevê triplicar sua produção em braile e chegar a 18 milhões de páginas impressas em 2024 com uma nova ferramenta de inteligência artificial que a instituição começou a usar no ano passado.
Dona da maior gráfica de braile do Brasil e uma das maiores da América Latina, a entidade afirma que o sistema, batizado de Plataforma Braille, permite um grande salto de produtividade.
A principal exigência vem do setor da Educação. "O livro didático é nosso maior desafio", diz Bárbara Carvalho, coordenadora de produção acessível da Fundação. "Temos muita demanda para braille e tinta braille, com imagens, gráficos, textos e o sistema, todos juntos na mesma página e na mesma linha", explica.
A Plataforma Braille foi criada exclusivamente para a Fundação Dorina pela CodeBit, empresa de tecnologia em nuvem que atua principalmente no terceiro setor. É uma ferramenta de uso fechado, somente dentro da instituição.
"O usuário sobe um arquivo PDF, a inteligência artificial faz a leitura do material completo e entrega um novo arquivo", destaca Ítalo Martins, gerente de projetos de TI e sócio da CodeBit. "Assim que o usuário faz upload do PDF, o sistema aciona vários motores que são responsáveis por diversas funções. É a linearização, primeira etapa do processo de conversão para braile", comenta.
Nessa primeira etapa, a ferramenta entrega inclusive a descrição das imagens. A fase seguinte é a edição por um especialista da Fundação Dorina. Na sequência, o arquivo editado é novamente submetido à Plataforma Braille. "O arquivo gerado é compatível com o Braille Fácil - editor de textos para a transcrição e a impressão em braile - e precisa ser avaliado em razão de exigências do contratante. Quando estiver dentro do planejado, o arquivo é enviado para impressão", ressalta Ítalo Martins.
Em resumo, o trabalho que era feito de maneira separada foi unificado na Plataforma Braille e eliminou a necessidade de copiar e colar o PDF no Braille Fácil, limpar tudo, fazer a descrição de cada foto, gráfico, ícone e outras imagens.
Livros didáticos, por exemplo, têm várias nuances, cores, ilustrações, diagramas e estruturas que facilitam o aprendizado para crianças que enxergam, mas não para estudantes cegos. Então, com a Plataforma Braille, essa transposição se tornou muito mais ágil.
Segundo a Fundação Dorina, a média mensal de páginas editoradas em 2023 foi de aproximadamente 20 mil páginas e, atualmente, cada colaborador produz aproximadamente 30 páginas por dia.
"Com a implementação da nova plataforma, almejamos aumentar essa produtividade para 90 páginas por pessoa, elevando a capacidade de produção de 20 mil para 60 mil páginas por mês, em média", esclarece Bárbara Carvalho.
"As páginas geradas no setor editorial exercem influência direta no número total de páginas impressas na gráfica. Assim, ao impulsionar a capacidade produtiva do editorial, facilitamos a produção de mais páginas na gráfica. É importante ressaltar que uma única página no editorial, dependendo da tiragem de impressão, pode resultar em um número considerável de páginas impressas. Portanto, hoje nossa projeção de produção na gráfica para 2024 considerando vendas comerciais, PNLD e Projetos internos está em cerca de 11 milhões. Contudo, com os avanços da plataforma, já estamos considerando atingir os mesmos números registrados, considerando o período de jan a dez de 2023, totalizando aproximadamente 14 milhões", diz.
"Em médio prazo, quando a plataforma estiver totalmente implementada, poderemos alcançar, uma primeira estimativa de 18 milhões de páginas impressas anualmente", completa a especialista.
Pesquisa encomenda pela Fundação Dorina e divulgada no ano passado avaliou os hábitos de leitura de pessoas com deficiência visual no Brasil. De acordo com a enquete, 63% dos entrevistados afirmaram que gostam de ler, 48% têm na leitura é um hábito diário e 32% afirmaram ler pelo menos uma vez por semana (PDF completo abaixo).
Segundo Bárbara Carvalho, o mercado literário em áudio é bastante atrativo para pessoas com deficiência visual. "Há uma preferência por áudiolivro ou PDF acessível", diz. "O braile, no entanto, permanece como único eficaz para alfabetização de crianças cegas e acredito que será assim por muito tempo porque não há nada que possa substituir esse sistema", avalia a coordenadora de produção acessível da Fundação.
Também no ano passado, a instituição repaginou o site Trocando Saberes, que oferece materiais como videoaulas, apostilas e artigos acadêmicos sobre o sistema braile, orientação e mobilidade, educação inclusiva e audiodescrição.