A curitibana Leroy Gaspar da Silva, 73 anos, tem agora um diamante de 0,25 quilate (4,1 milímetros de diâmetro) feito com carbono extraído das cinzas do marido, o militar da reserva Jorge Gaspar da Silva, falecido de problemas cardíacos em maio de 1994, aos 61 anos de idade. Ele foi fabricado na Suíça, pela empresa Algordanza, que tem como representante na América Latina o Crematório Vaticano, de Curitiba. Segundo a sócia-diretora do crematório, Mylena Cooper, este é o primeiro diamante produzido a partir das cinzas de um falecido a chegar ao Brasil. A mulher de Jorge não guardará para si a relíquia. A filha Lígia, de 50 anos, que também mora em Curitiba, será presenteada, com a recomendação de que guarde a pedra para o neto do militar, Leandro, de 23 anos. "Eles tinham uma ligação muito forte", justificou Leroy. Leroy conheceu o carioca Jorge em um baile no Círculo Militar de Curitiba, no dia 7 de setembro de 1956. Foram três meses de namoro antes do noivado, que durou um ano e levou ao casamento em 31 de dezembro de 1957. Depois da morte do marido, Leroy diz ter ficado por cerca de cinco anos em grande depressão, afastando-se inclusive dos amigos. Hoje, o sentimento de perda ficou para trás. "Agora, é como se ele continuasse vivo, tenho uma foto no quarto, converso com ele e peço para cuidar da casa quando saio", disse. "Com o diamante, isso deve fixar ainda mais." O que mais a preocupava, diz ela, era uma certa "obrigação" que sentia de visitar todas as semanas o túmulo, no Jardim Iguaçu, a cerca de 20 quilômetros de onde ela mora. "A gente fica incomodada achando que se não visitar vai deixá-lo abandonado", afirmou. Por isso, depois de vencer resistências familiares, optou pela cremação, no fim do ano passado. No mesmo ato foi apresentada a novidade de transformação das cinzas em diamante. "Eu não tinha nem ideia de que isso pudesse acontecer", disse. Mas aceitou na hora, apesar de considerar o preço um pouco alto. Segundo a Vaticano, uma pedra de 0,25 quilate custa cerca de R$ 12,6 mil, enquanto que por uma maior, de 1 quilate (6,5 milímetros de diâmetro), paga-se aproximadamente R$ 52,3 mil. Para a confecção da pedra preciosa foram remetidos 500 gramas de cinza à Suíça. O restante (a cremação de uma pessoa com 70 quilos rende cerca de 2,5 quilos de cinzas) foi espalhado pelos filhos de Jorge no local que ele mais gostava em Curitiba - não revelado pela mulher. Católica, Leroy disse não ver qualquer problema religioso em sua opção. Tem apenas elogios para a individualidade de sua joia: "Tem um tom cinza, não é igual a nada que já vi." A diretora da Vaticano acredita que, com a entrega do primeiro diamante, a técnica torne-se mais conhecida no País e as consultas transformem-se em pedidos. Segundo Mylena, desde que o serviço foi lançado, em 2 de novembro do ano passado, em média dez pessoas interessadas entram em contato por mês. "Como foi feito o primeiro, a credibilidade fica mais forte", disse. "O diamante acaba virando uma peça de herança, pois as pessoas têm necessidade de apego físico e a pedra estará sempre próxima." Produzir diamantes com a cristalização do carbono é uma técnica desenvolvida há mais de 50 anos nos Estados Unidos. Mas, para que ele se transforme em pedra preciosa a partir de cinzas humanas, é necessário um método especial. São cerca de três meses de trabalho desde o recebimento das cinzas. Pouco tempo comparado com a natureza, que leva milhões de anos. O primeiro passo, ao chegar à Algordanza, é extrair, por processo químico e físico, os componentes de potássio e cálcio (cerca de 85% do volume da cinza). O carbono resultante é submetido a sessões de altíssima pressão e a temperaturas de até 1.500 graus centígrados - imitando o que ocorre na crosta terrestre -, transformando-se em grafita. O crescimento do diamante inicia-se com a introdução de um pequenino cristal. Em volta dele, novos cristais começam a se formar, a partir da grafita. O tamanho do diamante depende do tempo do crescimento. Quando alcança o volume desejado, é retirado da máquina e elimina-se o cristal inicial. Depois isso, vai para a lapidação e polimento. Segundo a Vaticano, há um rigoroso controle de qualidade, com a concessão do certificado de autenticidade, peso, corte, cor e composição química emitido pelo Instituto Gemológico Suíço. A coloração do diamante vai do branco ao azulado, conforme a menor ou maior presença do produto químico boro no corpo da pessoa, o que depende de todo o estilo de vida que ela levava.