Você já jogou Terra e Mar? Conheça esta e outras brincadeiras africanas


Pesquisadores colheram exemplos de recreações em seis países e comunidades quilombolas do Recôncavo Baiano

Por Gonçalo Junior
Atualização:

Pesquisadores resgatam jogos e brincadeiras ancestrais africanos para aumentar o repertório de educadores de escolas, pré-escolas e creches a partir da diversidade racial, indo além dos clássicos esconde-esconde e pega-pega. Os catálogos de jogos podem inspirar pais e mães – e todo o exército que se mobiliza para cuidar das crianças nas férias – para superar a dura concorrência das telas.

O estudo Nô bá brinca, vamos brincar, ahi tlhangui: Catálogo de Jogos e brincadeiras africanas e afrobrasileiras pesquisou durante dois anos como brincam as crianças africanas e também como brincavam os adultos.

Pesquisadores resgatam jogos dos países africanos e do Recôncavo Baiano Foto: Pedro Nugvu
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Estudantes da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe ouviram homens e mulheres desses países, com idades entre 40 e 60 anos. Em seguida, levaram os dados para o campus onde estudam nos Malês, em São Francisco do Conde (BA).

Na segunda etapa, professoras e crianças das escolas quilombolas Dorival Passos e José de Aragão Bulcão, em Santo Amaro e São Francisco do Conde, respectivamente, responderam a questionários sobre as brincadeiras que jogavam e gostavam, na escola e fora dela. A atividade foi virtual por causa da pandemia da covid-19, que em 2021 fez com que as escolas permanecessem fechadas.

O projeto resultou em dois livros digitais: Na escola se brinca: brincadeiras das crianças quilombolas na educação infantil e o Catálogo de Jogos e Brincadeiras Africanas e Afro-Brasileiras, que reúnem cerca de 100 atividades lúdicas. Com eles, profissionais de creches e pré-escolas podem enriquecer suas práticas pedagógicas com os modos de brincar dos povos africanos em África e em diáspora pelo mundo.

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A oralidade e a linguagem escrita, por meio de brincadeiras perpassadas por gerações, procuram manter viva a memória da ancestralidade negra. A publicação é gratuita e pode ser acessada no acervo digital Anansi – Observatório da Equidade Racial na Educação Básica.

Uma das brincadeiras do catálogo é a Amarelinha do quilombo. O princípio é o mesmo: pular e se equilibrar até a casa final (céu). Em comunidades quilombolas, o jogo remete à coletividade. Por isso, as crianças pulam de mãos dadas até a casa final (amor ao próximo). Caso a dupla solte as mãos, ela deve voltar e recomeçar. Na casa final, a dupla troca um abraço.

“As brincadeiras são artefatos socioculturais e, como tal, devem expressar as relações sociais que as crianças tem no mundo. Se entendemos raça como uma das dimensões sociais e culturais, o letramento pode ser aí incluído, para aprendermos a valorizar e reconhecer diversas formas de experimentar a ludicidade. Não apenas pelas crianças”, explica Míghian Danae, organizadora do projeto ao lado de Helen Santos Pinto, e professora da Unilab no Campus Malês, em São Francisco do Conde.

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Brincadeiras africanas promovem a diversidade e ampliam o repertório dos educadores e das crianças Foto: Pedro Nugvu

O projeto foi um dos vencedores do edital Equidade Racial na Educação Básica, promovido pelo Itaú Social com a contribuição do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), organização que apoia a luta contra desigualdades étnico-raciais e o preconceito. Também participaram o Instituto Unibanco, a Fundação Tide Setubal e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“O edital buscou identificar e apoiar pesquisadores envolvidos em estudos e pesquisas que estivessem diretamente relacionados às questões do dia-a-dia da escola e dos professores, apresentando estratégias, práticas e materiais que contribuem com uma educação capaz de contemplar a riqueza da diversidade e da multiplicidade racial e de gênero que marca a sociedade brasileira”, afirma Sônia Dias, gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social.

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Foram inscritos 863 estudos e 605 projetos, produzidos por doutoras negras, em sua maioria. Ao final do processo, foram selecionados nove artigos científicos e 15 projetos de pesquisa.

O CEERT apoiou a concepção do edital e a mobilização de redes nos territórios, a fim de divulgar previamente e de potencializar os trabalhos. Isso se deu, por exemplo, a partir da parceria com organizações negras de todo o Brasil.

“O projeto previu também a criação de uma instância intitulada Comitê, que envolvia toda a comunidade escolar, incluindo as famílias, organizações locais e possíveis atores que pudessem contribuir para o trabalho. Desse modo, o edital possibilitou a criação de redes envolvendo escolas, secretarias de educação, movimentos sociais e universidades”, afirmou Cida Bento, cofundadora e conselheira do CEERT.

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Lara Rocha, coordenadora da área de Educação, afirma ainda que o “CEERT buscou fomentar a continuidade das conexões regionais e nacionais, o que contribuiu para a criação e difusão de mais de 50 produtos oriundos dos projetos desenvolvidos”.

Aprenda a brincar de Matakunza

A educadora física, mestre em Educação e autora do livro Relações étnico-raciais na educação física escolar, Francine Cruz, também sugere alternar brincadeiras clássicas por outras menos conhecidas. Em vez de pique-esconde e pega-pega, por que não brincar de Terra-Mar e Bom Kidi? Confira outras brincadeiras afro-brasileiras:

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  • Bon Kidi - assim como diversos jogos de origem africana, este necessita de poucos recursos: um espaço de terra e alguns grãos de milho. Para jogar, trace uma linha reta no chão (linha inicial) e, a uma distância aproximada de três metros, faça um círculo (cinco centímetros de diâmetro). Cada jogador recebe cinco grãos de milho e precisa tentar acertar cada grão no pequeno círculo. É muito similar ao jogo de bolinhas de gude. Quem acertar o alvo primeiro ganha todos os milhos da rodada.
  • Matakunza: este jogo se parece com o “bugalha”, “pedrinhas”, “cinco marias” ou “saquinho” (dependendo da região). O jogo consiste em lançar a semente para o alto e, neste intervalo de tempo, pegar outra semente e colocá-la no buraco, agarrando a semente lançada antes que ela toque o solo. Caso não seja possível brincar na terra, a versão em uma superfície plana também vale!
  • Terra e Mar: ele segue a mesma lógica da brincadeira brasileira “morto-vivo”, com pequenas variações. O líder traça uma linha no chão, com giz ou algo similar, para marcar um lado da linha para ser a terra e o outro, o mar. Ao comando do líder, os participantes enfileirados devem pular para alternar terra e mar. Conforme os participantes erram, saem da brincadeira. O ganhador será aquele que permanecer sozinho na terra ou no mar.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert).

Pesquisadores resgatam jogos e brincadeiras ancestrais africanos para aumentar o repertório de educadores de escolas, pré-escolas e creches a partir da diversidade racial, indo além dos clássicos esconde-esconde e pega-pega. Os catálogos de jogos podem inspirar pais e mães – e todo o exército que se mobiliza para cuidar das crianças nas férias – para superar a dura concorrência das telas.

O estudo Nô bá brinca, vamos brincar, ahi tlhangui: Catálogo de Jogos e brincadeiras africanas e afrobrasileiras pesquisou durante dois anos como brincam as crianças africanas e também como brincavam os adultos.

Pesquisadores resgatam jogos dos países africanos e do Recôncavo Baiano Foto: Pedro Nugvu

Estudantes da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe ouviram homens e mulheres desses países, com idades entre 40 e 60 anos. Em seguida, levaram os dados para o campus onde estudam nos Malês, em São Francisco do Conde (BA).

Na segunda etapa, professoras e crianças das escolas quilombolas Dorival Passos e José de Aragão Bulcão, em Santo Amaro e São Francisco do Conde, respectivamente, responderam a questionários sobre as brincadeiras que jogavam e gostavam, na escola e fora dela. A atividade foi virtual por causa da pandemia da covid-19, que em 2021 fez com que as escolas permanecessem fechadas.

O projeto resultou em dois livros digitais: Na escola se brinca: brincadeiras das crianças quilombolas na educação infantil e o Catálogo de Jogos e Brincadeiras Africanas e Afro-Brasileiras, que reúnem cerca de 100 atividades lúdicas. Com eles, profissionais de creches e pré-escolas podem enriquecer suas práticas pedagógicas com os modos de brincar dos povos africanos em África e em diáspora pelo mundo.

A oralidade e a linguagem escrita, por meio de brincadeiras perpassadas por gerações, procuram manter viva a memória da ancestralidade negra. A publicação é gratuita e pode ser acessada no acervo digital Anansi – Observatório da Equidade Racial na Educação Básica.

Uma das brincadeiras do catálogo é a Amarelinha do quilombo. O princípio é o mesmo: pular e se equilibrar até a casa final (céu). Em comunidades quilombolas, o jogo remete à coletividade. Por isso, as crianças pulam de mãos dadas até a casa final (amor ao próximo). Caso a dupla solte as mãos, ela deve voltar e recomeçar. Na casa final, a dupla troca um abraço.

“As brincadeiras são artefatos socioculturais e, como tal, devem expressar as relações sociais que as crianças tem no mundo. Se entendemos raça como uma das dimensões sociais e culturais, o letramento pode ser aí incluído, para aprendermos a valorizar e reconhecer diversas formas de experimentar a ludicidade. Não apenas pelas crianças”, explica Míghian Danae, organizadora do projeto ao lado de Helen Santos Pinto, e professora da Unilab no Campus Malês, em São Francisco do Conde.

Brincadeiras africanas promovem a diversidade e ampliam o repertório dos educadores e das crianças Foto: Pedro Nugvu

O projeto foi um dos vencedores do edital Equidade Racial na Educação Básica, promovido pelo Itaú Social com a contribuição do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), organização que apoia a luta contra desigualdades étnico-raciais e o preconceito. Também participaram o Instituto Unibanco, a Fundação Tide Setubal e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“O edital buscou identificar e apoiar pesquisadores envolvidos em estudos e pesquisas que estivessem diretamente relacionados às questões do dia-a-dia da escola e dos professores, apresentando estratégias, práticas e materiais que contribuem com uma educação capaz de contemplar a riqueza da diversidade e da multiplicidade racial e de gênero que marca a sociedade brasileira”, afirma Sônia Dias, gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social.

Foram inscritos 863 estudos e 605 projetos, produzidos por doutoras negras, em sua maioria. Ao final do processo, foram selecionados nove artigos científicos e 15 projetos de pesquisa.

O CEERT apoiou a concepção do edital e a mobilização de redes nos territórios, a fim de divulgar previamente e de potencializar os trabalhos. Isso se deu, por exemplo, a partir da parceria com organizações negras de todo o Brasil.

“O projeto previu também a criação de uma instância intitulada Comitê, que envolvia toda a comunidade escolar, incluindo as famílias, organizações locais e possíveis atores que pudessem contribuir para o trabalho. Desse modo, o edital possibilitou a criação de redes envolvendo escolas, secretarias de educação, movimentos sociais e universidades”, afirmou Cida Bento, cofundadora e conselheira do CEERT.

Lara Rocha, coordenadora da área de Educação, afirma ainda que o “CEERT buscou fomentar a continuidade das conexões regionais e nacionais, o que contribuiu para a criação e difusão de mais de 50 produtos oriundos dos projetos desenvolvidos”.

Aprenda a brincar de Matakunza

A educadora física, mestre em Educação e autora do livro Relações étnico-raciais na educação física escolar, Francine Cruz, também sugere alternar brincadeiras clássicas por outras menos conhecidas. Em vez de pique-esconde e pega-pega, por que não brincar de Terra-Mar e Bom Kidi? Confira outras brincadeiras afro-brasileiras:

  • Bon Kidi - assim como diversos jogos de origem africana, este necessita de poucos recursos: um espaço de terra e alguns grãos de milho. Para jogar, trace uma linha reta no chão (linha inicial) e, a uma distância aproximada de três metros, faça um círculo (cinco centímetros de diâmetro). Cada jogador recebe cinco grãos de milho e precisa tentar acertar cada grão no pequeno círculo. É muito similar ao jogo de bolinhas de gude. Quem acertar o alvo primeiro ganha todos os milhos da rodada.
  • Matakunza: este jogo se parece com o “bugalha”, “pedrinhas”, “cinco marias” ou “saquinho” (dependendo da região). O jogo consiste em lançar a semente para o alto e, neste intervalo de tempo, pegar outra semente e colocá-la no buraco, agarrando a semente lançada antes que ela toque o solo. Caso não seja possível brincar na terra, a versão em uma superfície plana também vale!
  • Terra e Mar: ele segue a mesma lógica da brincadeira brasileira “morto-vivo”, com pequenas variações. O líder traça uma linha no chão, com giz ou algo similar, para marcar um lado da linha para ser a terra e o outro, o mar. Ao comando do líder, os participantes enfileirados devem pular para alternar terra e mar. Conforme os participantes erram, saem da brincadeira. O ganhador será aquele que permanecer sozinho na terra ou no mar.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert).

Pesquisadores resgatam jogos e brincadeiras ancestrais africanos para aumentar o repertório de educadores de escolas, pré-escolas e creches a partir da diversidade racial, indo além dos clássicos esconde-esconde e pega-pega. Os catálogos de jogos podem inspirar pais e mães – e todo o exército que se mobiliza para cuidar das crianças nas férias – para superar a dura concorrência das telas.

O estudo Nô bá brinca, vamos brincar, ahi tlhangui: Catálogo de Jogos e brincadeiras africanas e afrobrasileiras pesquisou durante dois anos como brincam as crianças africanas e também como brincavam os adultos.

Pesquisadores resgatam jogos dos países africanos e do Recôncavo Baiano Foto: Pedro Nugvu

Estudantes da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe ouviram homens e mulheres desses países, com idades entre 40 e 60 anos. Em seguida, levaram os dados para o campus onde estudam nos Malês, em São Francisco do Conde (BA).

Na segunda etapa, professoras e crianças das escolas quilombolas Dorival Passos e José de Aragão Bulcão, em Santo Amaro e São Francisco do Conde, respectivamente, responderam a questionários sobre as brincadeiras que jogavam e gostavam, na escola e fora dela. A atividade foi virtual por causa da pandemia da covid-19, que em 2021 fez com que as escolas permanecessem fechadas.

O projeto resultou em dois livros digitais: Na escola se brinca: brincadeiras das crianças quilombolas na educação infantil e o Catálogo de Jogos e Brincadeiras Africanas e Afro-Brasileiras, que reúnem cerca de 100 atividades lúdicas. Com eles, profissionais de creches e pré-escolas podem enriquecer suas práticas pedagógicas com os modos de brincar dos povos africanos em África e em diáspora pelo mundo.

A oralidade e a linguagem escrita, por meio de brincadeiras perpassadas por gerações, procuram manter viva a memória da ancestralidade negra. A publicação é gratuita e pode ser acessada no acervo digital Anansi – Observatório da Equidade Racial na Educação Básica.

Uma das brincadeiras do catálogo é a Amarelinha do quilombo. O princípio é o mesmo: pular e se equilibrar até a casa final (céu). Em comunidades quilombolas, o jogo remete à coletividade. Por isso, as crianças pulam de mãos dadas até a casa final (amor ao próximo). Caso a dupla solte as mãos, ela deve voltar e recomeçar. Na casa final, a dupla troca um abraço.

“As brincadeiras são artefatos socioculturais e, como tal, devem expressar as relações sociais que as crianças tem no mundo. Se entendemos raça como uma das dimensões sociais e culturais, o letramento pode ser aí incluído, para aprendermos a valorizar e reconhecer diversas formas de experimentar a ludicidade. Não apenas pelas crianças”, explica Míghian Danae, organizadora do projeto ao lado de Helen Santos Pinto, e professora da Unilab no Campus Malês, em São Francisco do Conde.

Brincadeiras africanas promovem a diversidade e ampliam o repertório dos educadores e das crianças Foto: Pedro Nugvu

O projeto foi um dos vencedores do edital Equidade Racial na Educação Básica, promovido pelo Itaú Social com a contribuição do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), organização que apoia a luta contra desigualdades étnico-raciais e o preconceito. Também participaram o Instituto Unibanco, a Fundação Tide Setubal e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“O edital buscou identificar e apoiar pesquisadores envolvidos em estudos e pesquisas que estivessem diretamente relacionados às questões do dia-a-dia da escola e dos professores, apresentando estratégias, práticas e materiais que contribuem com uma educação capaz de contemplar a riqueza da diversidade e da multiplicidade racial e de gênero que marca a sociedade brasileira”, afirma Sônia Dias, gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social.

Foram inscritos 863 estudos e 605 projetos, produzidos por doutoras negras, em sua maioria. Ao final do processo, foram selecionados nove artigos científicos e 15 projetos de pesquisa.

O CEERT apoiou a concepção do edital e a mobilização de redes nos territórios, a fim de divulgar previamente e de potencializar os trabalhos. Isso se deu, por exemplo, a partir da parceria com organizações negras de todo o Brasil.

“O projeto previu também a criação de uma instância intitulada Comitê, que envolvia toda a comunidade escolar, incluindo as famílias, organizações locais e possíveis atores que pudessem contribuir para o trabalho. Desse modo, o edital possibilitou a criação de redes envolvendo escolas, secretarias de educação, movimentos sociais e universidades”, afirmou Cida Bento, cofundadora e conselheira do CEERT.

Lara Rocha, coordenadora da área de Educação, afirma ainda que o “CEERT buscou fomentar a continuidade das conexões regionais e nacionais, o que contribuiu para a criação e difusão de mais de 50 produtos oriundos dos projetos desenvolvidos”.

Aprenda a brincar de Matakunza

A educadora física, mestre em Educação e autora do livro Relações étnico-raciais na educação física escolar, Francine Cruz, também sugere alternar brincadeiras clássicas por outras menos conhecidas. Em vez de pique-esconde e pega-pega, por que não brincar de Terra-Mar e Bom Kidi? Confira outras brincadeiras afro-brasileiras:

  • Bon Kidi - assim como diversos jogos de origem africana, este necessita de poucos recursos: um espaço de terra e alguns grãos de milho. Para jogar, trace uma linha reta no chão (linha inicial) e, a uma distância aproximada de três metros, faça um círculo (cinco centímetros de diâmetro). Cada jogador recebe cinco grãos de milho e precisa tentar acertar cada grão no pequeno círculo. É muito similar ao jogo de bolinhas de gude. Quem acertar o alvo primeiro ganha todos os milhos da rodada.
  • Matakunza: este jogo se parece com o “bugalha”, “pedrinhas”, “cinco marias” ou “saquinho” (dependendo da região). O jogo consiste em lançar a semente para o alto e, neste intervalo de tempo, pegar outra semente e colocá-la no buraco, agarrando a semente lançada antes que ela toque o solo. Caso não seja possível brincar na terra, a versão em uma superfície plana também vale!
  • Terra e Mar: ele segue a mesma lógica da brincadeira brasileira “morto-vivo”, com pequenas variações. O líder traça uma linha no chão, com giz ou algo similar, para marcar um lado da linha para ser a terra e o outro, o mar. Ao comando do líder, os participantes enfileirados devem pular para alternar terra e mar. Conforme os participantes erram, saem da brincadeira. O ganhador será aquele que permanecer sozinho na terra ou no mar.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert).

Pesquisadores resgatam jogos e brincadeiras ancestrais africanos para aumentar o repertório de educadores de escolas, pré-escolas e creches a partir da diversidade racial, indo além dos clássicos esconde-esconde e pega-pega. Os catálogos de jogos podem inspirar pais e mães – e todo o exército que se mobiliza para cuidar das crianças nas férias – para superar a dura concorrência das telas.

O estudo Nô bá brinca, vamos brincar, ahi tlhangui: Catálogo de Jogos e brincadeiras africanas e afrobrasileiras pesquisou durante dois anos como brincam as crianças africanas e também como brincavam os adultos.

Pesquisadores resgatam jogos dos países africanos e do Recôncavo Baiano Foto: Pedro Nugvu

Estudantes da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe ouviram homens e mulheres desses países, com idades entre 40 e 60 anos. Em seguida, levaram os dados para o campus onde estudam nos Malês, em São Francisco do Conde (BA).

Na segunda etapa, professoras e crianças das escolas quilombolas Dorival Passos e José de Aragão Bulcão, em Santo Amaro e São Francisco do Conde, respectivamente, responderam a questionários sobre as brincadeiras que jogavam e gostavam, na escola e fora dela. A atividade foi virtual por causa da pandemia da covid-19, que em 2021 fez com que as escolas permanecessem fechadas.

O projeto resultou em dois livros digitais: Na escola se brinca: brincadeiras das crianças quilombolas na educação infantil e o Catálogo de Jogos e Brincadeiras Africanas e Afro-Brasileiras, que reúnem cerca de 100 atividades lúdicas. Com eles, profissionais de creches e pré-escolas podem enriquecer suas práticas pedagógicas com os modos de brincar dos povos africanos em África e em diáspora pelo mundo.

A oralidade e a linguagem escrita, por meio de brincadeiras perpassadas por gerações, procuram manter viva a memória da ancestralidade negra. A publicação é gratuita e pode ser acessada no acervo digital Anansi – Observatório da Equidade Racial na Educação Básica.

Uma das brincadeiras do catálogo é a Amarelinha do quilombo. O princípio é o mesmo: pular e se equilibrar até a casa final (céu). Em comunidades quilombolas, o jogo remete à coletividade. Por isso, as crianças pulam de mãos dadas até a casa final (amor ao próximo). Caso a dupla solte as mãos, ela deve voltar e recomeçar. Na casa final, a dupla troca um abraço.

“As brincadeiras são artefatos socioculturais e, como tal, devem expressar as relações sociais que as crianças tem no mundo. Se entendemos raça como uma das dimensões sociais e culturais, o letramento pode ser aí incluído, para aprendermos a valorizar e reconhecer diversas formas de experimentar a ludicidade. Não apenas pelas crianças”, explica Míghian Danae, organizadora do projeto ao lado de Helen Santos Pinto, e professora da Unilab no Campus Malês, em São Francisco do Conde.

Brincadeiras africanas promovem a diversidade e ampliam o repertório dos educadores e das crianças Foto: Pedro Nugvu

O projeto foi um dos vencedores do edital Equidade Racial na Educação Básica, promovido pelo Itaú Social com a contribuição do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), organização que apoia a luta contra desigualdades étnico-raciais e o preconceito. Também participaram o Instituto Unibanco, a Fundação Tide Setubal e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“O edital buscou identificar e apoiar pesquisadores envolvidos em estudos e pesquisas que estivessem diretamente relacionados às questões do dia-a-dia da escola e dos professores, apresentando estratégias, práticas e materiais que contribuem com uma educação capaz de contemplar a riqueza da diversidade e da multiplicidade racial e de gênero que marca a sociedade brasileira”, afirma Sônia Dias, gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social.

Foram inscritos 863 estudos e 605 projetos, produzidos por doutoras negras, em sua maioria. Ao final do processo, foram selecionados nove artigos científicos e 15 projetos de pesquisa.

O CEERT apoiou a concepção do edital e a mobilização de redes nos territórios, a fim de divulgar previamente e de potencializar os trabalhos. Isso se deu, por exemplo, a partir da parceria com organizações negras de todo o Brasil.

“O projeto previu também a criação de uma instância intitulada Comitê, que envolvia toda a comunidade escolar, incluindo as famílias, organizações locais e possíveis atores que pudessem contribuir para o trabalho. Desse modo, o edital possibilitou a criação de redes envolvendo escolas, secretarias de educação, movimentos sociais e universidades”, afirmou Cida Bento, cofundadora e conselheira do CEERT.

Lara Rocha, coordenadora da área de Educação, afirma ainda que o “CEERT buscou fomentar a continuidade das conexões regionais e nacionais, o que contribuiu para a criação e difusão de mais de 50 produtos oriundos dos projetos desenvolvidos”.

Aprenda a brincar de Matakunza

A educadora física, mestre em Educação e autora do livro Relações étnico-raciais na educação física escolar, Francine Cruz, também sugere alternar brincadeiras clássicas por outras menos conhecidas. Em vez de pique-esconde e pega-pega, por que não brincar de Terra-Mar e Bom Kidi? Confira outras brincadeiras afro-brasileiras:

  • Bon Kidi - assim como diversos jogos de origem africana, este necessita de poucos recursos: um espaço de terra e alguns grãos de milho. Para jogar, trace uma linha reta no chão (linha inicial) e, a uma distância aproximada de três metros, faça um círculo (cinco centímetros de diâmetro). Cada jogador recebe cinco grãos de milho e precisa tentar acertar cada grão no pequeno círculo. É muito similar ao jogo de bolinhas de gude. Quem acertar o alvo primeiro ganha todos os milhos da rodada.
  • Matakunza: este jogo se parece com o “bugalha”, “pedrinhas”, “cinco marias” ou “saquinho” (dependendo da região). O jogo consiste em lançar a semente para o alto e, neste intervalo de tempo, pegar outra semente e colocá-la no buraco, agarrando a semente lançada antes que ela toque o solo. Caso não seja possível brincar na terra, a versão em uma superfície plana também vale!
  • Terra e Mar: ele segue a mesma lógica da brincadeira brasileira “morto-vivo”, com pequenas variações. O líder traça uma linha no chão, com giz ou algo similar, para marcar um lado da linha para ser a terra e o outro, o mar. Ao comando do líder, os participantes enfileirados devem pular para alternar terra e mar. Conforme os participantes erram, saem da brincadeira. O ganhador será aquele que permanecer sozinho na terra ou no mar.

* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert).

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