Voo 447: Adiamento de decisão da Justiça francesa só prolonga agonia, dizem parentes de vítimas


Sentença de julgamento da Air France e da Airbus só será divulgada em abril de 2023; no acidente com o voo Rio-Paris em 2009, 288 pessoas morreram, entre elas 58 brasileiros

Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – A decisão da Justiça francesa de adiar para abril o acórdão sobre o caso do acidente com o avião da Air France que vitimou os 288 ocupantes, em junho de 2009, desagradou a familiares das vítimas ouvidos pelo Estadão. Para eles, serão pelo menos mais quatro meses de expectativa para que possam, finalmente, ter o reconhecimento ou não da culpa das empresas. Conforme agências europeias, a presidente do coletivo de juízes, Sylvie Daunis, anunciou que a data da leitura do acórdão foi marcada para às 13h30 (hora de Paris) de 17 de abril próximo.

Para Sylvain Owondo, morador do Rio de Janeiro que perdeu o pai, Joseph Owondo, no acidente, será mais uma espera angustiante. “Sabemos que as empresas tiveram culpa. A Air France, inclusive, já nos indenizou. O que esperamos é que a Airbus também seja responsabilizada pelas mortes”, disse. O vendedor Vinicius Gusmão de Almeida, de 34 anos, que perdeu a mãe, Valnizia Gusmão de Oliveira, lamentou o adiamento. “Quanto mais espera, mais tempo de agonia e sofrimento. No fim, quem vai dar o último veredito é Deus”, disse o também morador do Rio.

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A fase final do julgamento, nos dois últimos meses, ficou marcada pela posição do Ministério Público francês de se opor ao pedido de condenação da Air France e da Airbus pelo crime de homicídio por negligência, por entender que isso seria impossível de se provar. Os juízes devem decidir se o acidente resultou da falta de preparação dos pilotos, o que caberia à Air France, de uma falha no dispositivo de medição de velocidade, de responsabilidade da Airbus, ou se os dois fatores tiveram influência. Os juízes não são obrigados a seguir o parecer do MP.

O presidente da Associação de Famílias de Vítimas do Voo AF447, Nelson Faria Marinho, que perdeu um filho de 40 anos no acidente, ainda esperava informações oficiais sobre a nova data da sentença, mas disse não ter muita esperança de que a Justiça francesa reconheça que houve falha no avião. “Não acredito muito porque é como a raposa tomar conta do galinheiro. A Justiça da França julgando empresas francesas. O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses”, disse.

Nelson Marinho exibe a foto do filho Nelson, que morreu aos 40 anos no acidente em 2009: "O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses". Foto: Silvia Izquierdo/AP
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O filho de Marinho, que também se chamava Nelson, viajava a trabalho para Angola, na África, no voo fatídico. Ele lembrou que os problemas com aquele modelo de avião remontam a 1988, quando ocorreu a primeira tragédia no voo 296, da Air France, em que morreram três pessoas e outras 50 ficaram feridas. “Naquela ocasião, o piloto relatou problemas de natureza eletro-eletrônica, em razão de ser um avião excessivamente automatizado, problemas que até hoje não foram solucionados”, disse.

Para Marinho, a Justiça francesa precisa ter a mesma firmeza que a americana, que condenou a Boeing a pagar US$ 12 milhões aos familiares das 157 vítimas de um acidente com a aeronave 737 Max, ocorrido em 2019. “Espero que as famílias sejam indenizadas e que a Justiça reconheça que o avião tinha um defeito de fabricação. Quando estive em Paris após o acidente, conversei com 30 pilotos e todos disseram que o avião tinha problemas. A Air France indenizou algumas famílias, mas a fabricante do avião (Airbus) não indenizou ninguém.”

Dor da perda

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Depois de 13 anos do acidente, as famílias que tinham parentes no avião ainda não se recuperaram da dor causada pelas perdas. “Naquela época o mundo acabou para nós. Ficamos perdidos, começou a faltar dinheiro, pois era meu pai quem ajudava nós todos com estudo, alimentação, saúde, com tudo. O corpo só foi achado dois anos depois. Foi complicado, difícil, até hoje é meio estranho. Minha irmã precisou fazer tratamento com psicólogo, meu irmão caçula ficou meio rebelde. Eu penso nele todo dia, toda hora. Minha filha nunca pôde ver o avô, meus dois sobrinhos não puderam conhecê-lo”, relatou Sylvain.

Joseph Owondo, nascido no Gabão, consultor das Nações Unidas, havia embarcado no Rio e, de Paris, seguiria em visita à mãe e familiares no país africano. Além dos filhos Sylvain e Julienne, Owondo deixou viúva a mãe deles, Celia Maria Owondo, e uma família desestabilizada pela perda, segundo o filho. “Meu pai trabalhava nos Estados Unidos, mas estava sempre presente com a família. Ele foi trabalhar no exterior depois que eu completei 14 anos. Ele ficou muitos anos trabalhando fora e vinha de férias para o Brasil. Ele e minha mãe eram super presentes. Por culpa das empresas não terem atualizado os sistemas do avião aconteceu essa fatalidade”, disse.

Para Vinicius Almeida, nada pode repor a perda que teve e que mudou sua vida. “Perdi minha mãe no melhor momento da vida dela, cheia de planos. Sou filho único e estava ajeitando as coisas para morar com ela. Sofri toda aquela dor sem auxílio. Foi uma perda tão grande que até hoje, mesmo depois de tantos anos, sofro como se fosse ontem”, disse. Sobre o julgamento, ele não tem expectativas positivas. “O tempo não volta, a gente queria outras coisas que já não são possíveis, a verdade é essa.”

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O avião da Air France transportava passageiros de 33 nacionalidades, entre eles 61 franceses, 58 brasileiros, 28 alemães, 9 italianos e 2 espanhóis. Ao todo, 476 familiares se habilitaram como partes civis no processo levado a julgamento. A 31.ª Câmara Criminal de Paris ouviu técnicos e especialistas para determinar se a companhia aérea ou a fabricante do avião cometeram erros que poderiam ter contribuído para a tragédia. Relatórios já apontaram que o congelamento das sondas de velocidade (tubos de Pitot) causou um distúrbio no controle da velocidade do Airbus A330, deixando os pilotos sem controle do avião.

Conforme o advogado Rodrigo da Silva Schumacker, que representa parte das famílias das vítimas, o tribunal de recurso revogou o arquivamento anterior do processo por haver indícios de que a Air France não forneceu o treinamento adequado ou as informações necessárias para que os pilotos pudessem reagir à possível falha técnica. A Airbus teria subestimado a gravidade das falhas nas sondas de velocidade e não tomado as medidas para informar as tripulações de forma eficaz. Segundo ele, as falhas nesses equipamentos já ocorreram em voos anteriores.

Foto de arquivo mostra transporte de corpo de vítima do acidente aéreo. Foto: Eraldo Peres/AP
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As vítimas

A tragédia do voo AF447 ceifou a vida de famílias inteiras de brasileiros ou de parte delas, interrompendo trajetórias e projetos. Francisco Eudes Mesquita Valle, diretor de uma transportadora de combustíveis, viajava acompanhado pela mulher, Maria de Fátima, pelo filho, o empresário Paulo Valle Brito, e pela nora, a psicóloga Luciana Clarkson Seba. O procurador federal Carlos Eduardo Lopes De Mello e a esposa dele, a médica Bianca Machado Cotta, haviam se casado em Niterói, na região metropolitana do Rio, e seguiam para a lua de mel na França.

Octávio Augusto Ceva Antunes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), viajava para uma palestra. Estava acompanhado pela esposa, Patricia Maria Nazareth Ceva Antunes, servidora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo filho do casal, Mateus, de 3 anos. O cirurgião plástico gaúcho Roberto Corrêa Chem, diretor da Santa Casa de Porto Alegre, voava para a Grécia com a mulher, a psicóloga Vera Chem, e a filha Letícia.

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A catarinense de Nova Veneza, Deise Possamai, de 34 anos, funcionária da prefeitura de Criciúma, viajava para fazer cursos de especialização na Itália. A escritora e professora de literatura alemã Izabela Maria Furtado Kestler seguia para um congresso em Leipzig, na Alemanha. O oceanógrafo Leonardo Veloso Dardengo ia para Toulouse, na França, para um curso de doutorado. O professor de direito da PUC, Marcelo Parente Gomes de Oliveira, na época chefe de gabinete do prefeito do Rio, Eduardo Paes, viajava com a esposa, Marcelle.

Também estava no voo um descendente direto de Dom Pedro II e de monarcas europeus, o príncipe Pedro Luis de Orleans e Bragança, na época com 26 anos. Nascido no Rio, ele morava em Luxemburgo e tinha vindo ao Brasil para visitar os pais. O único tripulante brasileiro a bordo do voo AF447, o comissário de bordo Lucas Gagliano, tinha ficado no País por 15 dias para o enterro do pai. Ele morava na França.

Uma parte dos familiares dessas vítimas já foi indenizada pela Air France por acordo ou por meio de sentença judicial. Procurados pela reportagem, eles preferiram não falar a respeito, já que assinaram termos de confiabilidade e sigilo com a empresa. Outros familiares de vítimas do voo AF77 não deram retorno ou preferiram não se manifestar.

A reportagem também entrou em contato com as empresas e ainda aguarda retorno. No processo e em notas públicas, a Air France e a Airbus se declararam inocentes de terem cometido qualquer falta de natureza criminal na origem do acidente.

Estabilizador vertical da aeronave é retirada por equipes de resgate.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 14/6/2009

Como foi o acidente

Às 19 horas do dia 31 de maio de 2009, o Airbus A330 da Air France partiu do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio, com destino a Paris. O AF447, um voo regular de longo curso, que levava 228 pessoas a bordo, nunca chegou ao seu destino. A aeronave caiu no Oceano Atlântico sem deixar sobreviventes.

O último contato com a tripulação foram mensagens de rotina enviadas aos controladores de terra brasileiros três horas e meia após o início do voo, quando o avião saía da vigilância dos radares brasileiros, cruzando o oceano na direção da costa do Senegal, na África Ocidental.

Cerca de 40 minutos depois, uma série de mensagens automáticas emitidas pelo Acars, sistema digital de comunicação entre aeronaves e estações terrestres, foram enviadas pelo avião, indicando problemas elétricos e perda de pressurização da cabine, sem que houvesse indicações de outros problemas. O que se sabe é que, àquela altura, o avião atravessava uma área com tempestade.

Como a aeronave não apareceu nos radares senegaleses e não houve contato com o controle de tráfego de ambos os lados do oceano, foram iniciadas as buscas. Dois dias depois, foram reportadas observações aéreas e marítimas de destroços no oceano, próximo à área do último contato com a aeronave.

Na tarde de 2 de junho, o governo brasileiro confirmou a queda do avião no oceano. Na noite do mesmo dia foi decretado luto oficial pelas vítimas. No dia seguinte, foi confirmado que os destroços encontrados eram do Airbus desaparecido. Em abril de 2011, a agência do governo francês para investigações de acidentes aeronáuticos anunciou que, em novas buscas, foram resgatadas as duas caixas-pretas do A330 a 3,9 mil metros de profundidade.

Com o auxílio de robôs, foi realizada uma minuciosa operação para o resgate dos corpos. As buscas foram encerradas no final de 2011 com a retirada do oceano de 154 corpos das 228 pessoas que estavam no avião. O reconhecimento foi feito com exames de DNA.

SOROCABA – A decisão da Justiça francesa de adiar para abril o acórdão sobre o caso do acidente com o avião da Air France que vitimou os 288 ocupantes, em junho de 2009, desagradou a familiares das vítimas ouvidos pelo Estadão. Para eles, serão pelo menos mais quatro meses de expectativa para que possam, finalmente, ter o reconhecimento ou não da culpa das empresas. Conforme agências europeias, a presidente do coletivo de juízes, Sylvie Daunis, anunciou que a data da leitura do acórdão foi marcada para às 13h30 (hora de Paris) de 17 de abril próximo.

Para Sylvain Owondo, morador do Rio de Janeiro que perdeu o pai, Joseph Owondo, no acidente, será mais uma espera angustiante. “Sabemos que as empresas tiveram culpa. A Air France, inclusive, já nos indenizou. O que esperamos é que a Airbus também seja responsabilizada pelas mortes”, disse. O vendedor Vinicius Gusmão de Almeida, de 34 anos, que perdeu a mãe, Valnizia Gusmão de Oliveira, lamentou o adiamento. “Quanto mais espera, mais tempo de agonia e sofrimento. No fim, quem vai dar o último veredito é Deus”, disse o também morador do Rio.

A fase final do julgamento, nos dois últimos meses, ficou marcada pela posição do Ministério Público francês de se opor ao pedido de condenação da Air France e da Airbus pelo crime de homicídio por negligência, por entender que isso seria impossível de se provar. Os juízes devem decidir se o acidente resultou da falta de preparação dos pilotos, o que caberia à Air France, de uma falha no dispositivo de medição de velocidade, de responsabilidade da Airbus, ou se os dois fatores tiveram influência. Os juízes não são obrigados a seguir o parecer do MP.

O presidente da Associação de Famílias de Vítimas do Voo AF447, Nelson Faria Marinho, que perdeu um filho de 40 anos no acidente, ainda esperava informações oficiais sobre a nova data da sentença, mas disse não ter muita esperança de que a Justiça francesa reconheça que houve falha no avião. “Não acredito muito porque é como a raposa tomar conta do galinheiro. A Justiça da França julgando empresas francesas. O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses”, disse.

Nelson Marinho exibe a foto do filho Nelson, que morreu aos 40 anos no acidente em 2009: "O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses". Foto: Silvia Izquierdo/AP

O filho de Marinho, que também se chamava Nelson, viajava a trabalho para Angola, na África, no voo fatídico. Ele lembrou que os problemas com aquele modelo de avião remontam a 1988, quando ocorreu a primeira tragédia no voo 296, da Air France, em que morreram três pessoas e outras 50 ficaram feridas. “Naquela ocasião, o piloto relatou problemas de natureza eletro-eletrônica, em razão de ser um avião excessivamente automatizado, problemas que até hoje não foram solucionados”, disse.

Para Marinho, a Justiça francesa precisa ter a mesma firmeza que a americana, que condenou a Boeing a pagar US$ 12 milhões aos familiares das 157 vítimas de um acidente com a aeronave 737 Max, ocorrido em 2019. “Espero que as famílias sejam indenizadas e que a Justiça reconheça que o avião tinha um defeito de fabricação. Quando estive em Paris após o acidente, conversei com 30 pilotos e todos disseram que o avião tinha problemas. A Air France indenizou algumas famílias, mas a fabricante do avião (Airbus) não indenizou ninguém.”

Dor da perda

Depois de 13 anos do acidente, as famílias que tinham parentes no avião ainda não se recuperaram da dor causada pelas perdas. “Naquela época o mundo acabou para nós. Ficamos perdidos, começou a faltar dinheiro, pois era meu pai quem ajudava nós todos com estudo, alimentação, saúde, com tudo. O corpo só foi achado dois anos depois. Foi complicado, difícil, até hoje é meio estranho. Minha irmã precisou fazer tratamento com psicólogo, meu irmão caçula ficou meio rebelde. Eu penso nele todo dia, toda hora. Minha filha nunca pôde ver o avô, meus dois sobrinhos não puderam conhecê-lo”, relatou Sylvain.

Joseph Owondo, nascido no Gabão, consultor das Nações Unidas, havia embarcado no Rio e, de Paris, seguiria em visita à mãe e familiares no país africano. Além dos filhos Sylvain e Julienne, Owondo deixou viúva a mãe deles, Celia Maria Owondo, e uma família desestabilizada pela perda, segundo o filho. “Meu pai trabalhava nos Estados Unidos, mas estava sempre presente com a família. Ele foi trabalhar no exterior depois que eu completei 14 anos. Ele ficou muitos anos trabalhando fora e vinha de férias para o Brasil. Ele e minha mãe eram super presentes. Por culpa das empresas não terem atualizado os sistemas do avião aconteceu essa fatalidade”, disse.

Para Vinicius Almeida, nada pode repor a perda que teve e que mudou sua vida. “Perdi minha mãe no melhor momento da vida dela, cheia de planos. Sou filho único e estava ajeitando as coisas para morar com ela. Sofri toda aquela dor sem auxílio. Foi uma perda tão grande que até hoje, mesmo depois de tantos anos, sofro como se fosse ontem”, disse. Sobre o julgamento, ele não tem expectativas positivas. “O tempo não volta, a gente queria outras coisas que já não são possíveis, a verdade é essa.”

O avião da Air France transportava passageiros de 33 nacionalidades, entre eles 61 franceses, 58 brasileiros, 28 alemães, 9 italianos e 2 espanhóis. Ao todo, 476 familiares se habilitaram como partes civis no processo levado a julgamento. A 31.ª Câmara Criminal de Paris ouviu técnicos e especialistas para determinar se a companhia aérea ou a fabricante do avião cometeram erros que poderiam ter contribuído para a tragédia. Relatórios já apontaram que o congelamento das sondas de velocidade (tubos de Pitot) causou um distúrbio no controle da velocidade do Airbus A330, deixando os pilotos sem controle do avião.

Conforme o advogado Rodrigo da Silva Schumacker, que representa parte das famílias das vítimas, o tribunal de recurso revogou o arquivamento anterior do processo por haver indícios de que a Air France não forneceu o treinamento adequado ou as informações necessárias para que os pilotos pudessem reagir à possível falha técnica. A Airbus teria subestimado a gravidade das falhas nas sondas de velocidade e não tomado as medidas para informar as tripulações de forma eficaz. Segundo ele, as falhas nesses equipamentos já ocorreram em voos anteriores.

Foto de arquivo mostra transporte de corpo de vítima do acidente aéreo. Foto: Eraldo Peres/AP

As vítimas

A tragédia do voo AF447 ceifou a vida de famílias inteiras de brasileiros ou de parte delas, interrompendo trajetórias e projetos. Francisco Eudes Mesquita Valle, diretor de uma transportadora de combustíveis, viajava acompanhado pela mulher, Maria de Fátima, pelo filho, o empresário Paulo Valle Brito, e pela nora, a psicóloga Luciana Clarkson Seba. O procurador federal Carlos Eduardo Lopes De Mello e a esposa dele, a médica Bianca Machado Cotta, haviam se casado em Niterói, na região metropolitana do Rio, e seguiam para a lua de mel na França.

Octávio Augusto Ceva Antunes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), viajava para uma palestra. Estava acompanhado pela esposa, Patricia Maria Nazareth Ceva Antunes, servidora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo filho do casal, Mateus, de 3 anos. O cirurgião plástico gaúcho Roberto Corrêa Chem, diretor da Santa Casa de Porto Alegre, voava para a Grécia com a mulher, a psicóloga Vera Chem, e a filha Letícia.

A catarinense de Nova Veneza, Deise Possamai, de 34 anos, funcionária da prefeitura de Criciúma, viajava para fazer cursos de especialização na Itália. A escritora e professora de literatura alemã Izabela Maria Furtado Kestler seguia para um congresso em Leipzig, na Alemanha. O oceanógrafo Leonardo Veloso Dardengo ia para Toulouse, na França, para um curso de doutorado. O professor de direito da PUC, Marcelo Parente Gomes de Oliveira, na época chefe de gabinete do prefeito do Rio, Eduardo Paes, viajava com a esposa, Marcelle.

Também estava no voo um descendente direto de Dom Pedro II e de monarcas europeus, o príncipe Pedro Luis de Orleans e Bragança, na época com 26 anos. Nascido no Rio, ele morava em Luxemburgo e tinha vindo ao Brasil para visitar os pais. O único tripulante brasileiro a bordo do voo AF447, o comissário de bordo Lucas Gagliano, tinha ficado no País por 15 dias para o enterro do pai. Ele morava na França.

Uma parte dos familiares dessas vítimas já foi indenizada pela Air France por acordo ou por meio de sentença judicial. Procurados pela reportagem, eles preferiram não falar a respeito, já que assinaram termos de confiabilidade e sigilo com a empresa. Outros familiares de vítimas do voo AF77 não deram retorno ou preferiram não se manifestar.

A reportagem também entrou em contato com as empresas e ainda aguarda retorno. No processo e em notas públicas, a Air France e a Airbus se declararam inocentes de terem cometido qualquer falta de natureza criminal na origem do acidente.

Estabilizador vertical da aeronave é retirada por equipes de resgate.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 14/6/2009

Como foi o acidente

Às 19 horas do dia 31 de maio de 2009, o Airbus A330 da Air France partiu do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio, com destino a Paris. O AF447, um voo regular de longo curso, que levava 228 pessoas a bordo, nunca chegou ao seu destino. A aeronave caiu no Oceano Atlântico sem deixar sobreviventes.

O último contato com a tripulação foram mensagens de rotina enviadas aos controladores de terra brasileiros três horas e meia após o início do voo, quando o avião saía da vigilância dos radares brasileiros, cruzando o oceano na direção da costa do Senegal, na África Ocidental.

Cerca de 40 minutos depois, uma série de mensagens automáticas emitidas pelo Acars, sistema digital de comunicação entre aeronaves e estações terrestres, foram enviadas pelo avião, indicando problemas elétricos e perda de pressurização da cabine, sem que houvesse indicações de outros problemas. O que se sabe é que, àquela altura, o avião atravessava uma área com tempestade.

Como a aeronave não apareceu nos radares senegaleses e não houve contato com o controle de tráfego de ambos os lados do oceano, foram iniciadas as buscas. Dois dias depois, foram reportadas observações aéreas e marítimas de destroços no oceano, próximo à área do último contato com a aeronave.

Na tarde de 2 de junho, o governo brasileiro confirmou a queda do avião no oceano. Na noite do mesmo dia foi decretado luto oficial pelas vítimas. No dia seguinte, foi confirmado que os destroços encontrados eram do Airbus desaparecido. Em abril de 2011, a agência do governo francês para investigações de acidentes aeronáuticos anunciou que, em novas buscas, foram resgatadas as duas caixas-pretas do A330 a 3,9 mil metros de profundidade.

Com o auxílio de robôs, foi realizada uma minuciosa operação para o resgate dos corpos. As buscas foram encerradas no final de 2011 com a retirada do oceano de 154 corpos das 228 pessoas que estavam no avião. O reconhecimento foi feito com exames de DNA.

SOROCABA – A decisão da Justiça francesa de adiar para abril o acórdão sobre o caso do acidente com o avião da Air France que vitimou os 288 ocupantes, em junho de 2009, desagradou a familiares das vítimas ouvidos pelo Estadão. Para eles, serão pelo menos mais quatro meses de expectativa para que possam, finalmente, ter o reconhecimento ou não da culpa das empresas. Conforme agências europeias, a presidente do coletivo de juízes, Sylvie Daunis, anunciou que a data da leitura do acórdão foi marcada para às 13h30 (hora de Paris) de 17 de abril próximo.

Para Sylvain Owondo, morador do Rio de Janeiro que perdeu o pai, Joseph Owondo, no acidente, será mais uma espera angustiante. “Sabemos que as empresas tiveram culpa. A Air France, inclusive, já nos indenizou. O que esperamos é que a Airbus também seja responsabilizada pelas mortes”, disse. O vendedor Vinicius Gusmão de Almeida, de 34 anos, que perdeu a mãe, Valnizia Gusmão de Oliveira, lamentou o adiamento. “Quanto mais espera, mais tempo de agonia e sofrimento. No fim, quem vai dar o último veredito é Deus”, disse o também morador do Rio.

A fase final do julgamento, nos dois últimos meses, ficou marcada pela posição do Ministério Público francês de se opor ao pedido de condenação da Air France e da Airbus pelo crime de homicídio por negligência, por entender que isso seria impossível de se provar. Os juízes devem decidir se o acidente resultou da falta de preparação dos pilotos, o que caberia à Air France, de uma falha no dispositivo de medição de velocidade, de responsabilidade da Airbus, ou se os dois fatores tiveram influência. Os juízes não são obrigados a seguir o parecer do MP.

O presidente da Associação de Famílias de Vítimas do Voo AF447, Nelson Faria Marinho, que perdeu um filho de 40 anos no acidente, ainda esperava informações oficiais sobre a nova data da sentença, mas disse não ter muita esperança de que a Justiça francesa reconheça que houve falha no avião. “Não acredito muito porque é como a raposa tomar conta do galinheiro. A Justiça da França julgando empresas francesas. O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses”, disse.

Nelson Marinho exibe a foto do filho Nelson, que morreu aos 40 anos no acidente em 2009: "O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses". Foto: Silvia Izquierdo/AP

O filho de Marinho, que também se chamava Nelson, viajava a trabalho para Angola, na África, no voo fatídico. Ele lembrou que os problemas com aquele modelo de avião remontam a 1988, quando ocorreu a primeira tragédia no voo 296, da Air France, em que morreram três pessoas e outras 50 ficaram feridas. “Naquela ocasião, o piloto relatou problemas de natureza eletro-eletrônica, em razão de ser um avião excessivamente automatizado, problemas que até hoje não foram solucionados”, disse.

Para Marinho, a Justiça francesa precisa ter a mesma firmeza que a americana, que condenou a Boeing a pagar US$ 12 milhões aos familiares das 157 vítimas de um acidente com a aeronave 737 Max, ocorrido em 2019. “Espero que as famílias sejam indenizadas e que a Justiça reconheça que o avião tinha um defeito de fabricação. Quando estive em Paris após o acidente, conversei com 30 pilotos e todos disseram que o avião tinha problemas. A Air France indenizou algumas famílias, mas a fabricante do avião (Airbus) não indenizou ninguém.”

Dor da perda

Depois de 13 anos do acidente, as famílias que tinham parentes no avião ainda não se recuperaram da dor causada pelas perdas. “Naquela época o mundo acabou para nós. Ficamos perdidos, começou a faltar dinheiro, pois era meu pai quem ajudava nós todos com estudo, alimentação, saúde, com tudo. O corpo só foi achado dois anos depois. Foi complicado, difícil, até hoje é meio estranho. Minha irmã precisou fazer tratamento com psicólogo, meu irmão caçula ficou meio rebelde. Eu penso nele todo dia, toda hora. Minha filha nunca pôde ver o avô, meus dois sobrinhos não puderam conhecê-lo”, relatou Sylvain.

Joseph Owondo, nascido no Gabão, consultor das Nações Unidas, havia embarcado no Rio e, de Paris, seguiria em visita à mãe e familiares no país africano. Além dos filhos Sylvain e Julienne, Owondo deixou viúva a mãe deles, Celia Maria Owondo, e uma família desestabilizada pela perda, segundo o filho. “Meu pai trabalhava nos Estados Unidos, mas estava sempre presente com a família. Ele foi trabalhar no exterior depois que eu completei 14 anos. Ele ficou muitos anos trabalhando fora e vinha de férias para o Brasil. Ele e minha mãe eram super presentes. Por culpa das empresas não terem atualizado os sistemas do avião aconteceu essa fatalidade”, disse.

Para Vinicius Almeida, nada pode repor a perda que teve e que mudou sua vida. “Perdi minha mãe no melhor momento da vida dela, cheia de planos. Sou filho único e estava ajeitando as coisas para morar com ela. Sofri toda aquela dor sem auxílio. Foi uma perda tão grande que até hoje, mesmo depois de tantos anos, sofro como se fosse ontem”, disse. Sobre o julgamento, ele não tem expectativas positivas. “O tempo não volta, a gente queria outras coisas que já não são possíveis, a verdade é essa.”

O avião da Air France transportava passageiros de 33 nacionalidades, entre eles 61 franceses, 58 brasileiros, 28 alemães, 9 italianos e 2 espanhóis. Ao todo, 476 familiares se habilitaram como partes civis no processo levado a julgamento. A 31.ª Câmara Criminal de Paris ouviu técnicos e especialistas para determinar se a companhia aérea ou a fabricante do avião cometeram erros que poderiam ter contribuído para a tragédia. Relatórios já apontaram que o congelamento das sondas de velocidade (tubos de Pitot) causou um distúrbio no controle da velocidade do Airbus A330, deixando os pilotos sem controle do avião.

Conforme o advogado Rodrigo da Silva Schumacker, que representa parte das famílias das vítimas, o tribunal de recurso revogou o arquivamento anterior do processo por haver indícios de que a Air France não forneceu o treinamento adequado ou as informações necessárias para que os pilotos pudessem reagir à possível falha técnica. A Airbus teria subestimado a gravidade das falhas nas sondas de velocidade e não tomado as medidas para informar as tripulações de forma eficaz. Segundo ele, as falhas nesses equipamentos já ocorreram em voos anteriores.

Foto de arquivo mostra transporte de corpo de vítima do acidente aéreo. Foto: Eraldo Peres/AP

As vítimas

A tragédia do voo AF447 ceifou a vida de famílias inteiras de brasileiros ou de parte delas, interrompendo trajetórias e projetos. Francisco Eudes Mesquita Valle, diretor de uma transportadora de combustíveis, viajava acompanhado pela mulher, Maria de Fátima, pelo filho, o empresário Paulo Valle Brito, e pela nora, a psicóloga Luciana Clarkson Seba. O procurador federal Carlos Eduardo Lopes De Mello e a esposa dele, a médica Bianca Machado Cotta, haviam se casado em Niterói, na região metropolitana do Rio, e seguiam para a lua de mel na França.

Octávio Augusto Ceva Antunes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), viajava para uma palestra. Estava acompanhado pela esposa, Patricia Maria Nazareth Ceva Antunes, servidora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo filho do casal, Mateus, de 3 anos. O cirurgião plástico gaúcho Roberto Corrêa Chem, diretor da Santa Casa de Porto Alegre, voava para a Grécia com a mulher, a psicóloga Vera Chem, e a filha Letícia.

A catarinense de Nova Veneza, Deise Possamai, de 34 anos, funcionária da prefeitura de Criciúma, viajava para fazer cursos de especialização na Itália. A escritora e professora de literatura alemã Izabela Maria Furtado Kestler seguia para um congresso em Leipzig, na Alemanha. O oceanógrafo Leonardo Veloso Dardengo ia para Toulouse, na França, para um curso de doutorado. O professor de direito da PUC, Marcelo Parente Gomes de Oliveira, na época chefe de gabinete do prefeito do Rio, Eduardo Paes, viajava com a esposa, Marcelle.

Também estava no voo um descendente direto de Dom Pedro II e de monarcas europeus, o príncipe Pedro Luis de Orleans e Bragança, na época com 26 anos. Nascido no Rio, ele morava em Luxemburgo e tinha vindo ao Brasil para visitar os pais. O único tripulante brasileiro a bordo do voo AF447, o comissário de bordo Lucas Gagliano, tinha ficado no País por 15 dias para o enterro do pai. Ele morava na França.

Uma parte dos familiares dessas vítimas já foi indenizada pela Air France por acordo ou por meio de sentença judicial. Procurados pela reportagem, eles preferiram não falar a respeito, já que assinaram termos de confiabilidade e sigilo com a empresa. Outros familiares de vítimas do voo AF77 não deram retorno ou preferiram não se manifestar.

A reportagem também entrou em contato com as empresas e ainda aguarda retorno. No processo e em notas públicas, a Air France e a Airbus se declararam inocentes de terem cometido qualquer falta de natureza criminal na origem do acidente.

Estabilizador vertical da aeronave é retirada por equipes de resgate.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 14/6/2009

Como foi o acidente

Às 19 horas do dia 31 de maio de 2009, o Airbus A330 da Air France partiu do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio, com destino a Paris. O AF447, um voo regular de longo curso, que levava 228 pessoas a bordo, nunca chegou ao seu destino. A aeronave caiu no Oceano Atlântico sem deixar sobreviventes.

O último contato com a tripulação foram mensagens de rotina enviadas aos controladores de terra brasileiros três horas e meia após o início do voo, quando o avião saía da vigilância dos radares brasileiros, cruzando o oceano na direção da costa do Senegal, na África Ocidental.

Cerca de 40 minutos depois, uma série de mensagens automáticas emitidas pelo Acars, sistema digital de comunicação entre aeronaves e estações terrestres, foram enviadas pelo avião, indicando problemas elétricos e perda de pressurização da cabine, sem que houvesse indicações de outros problemas. O que se sabe é que, àquela altura, o avião atravessava uma área com tempestade.

Como a aeronave não apareceu nos radares senegaleses e não houve contato com o controle de tráfego de ambos os lados do oceano, foram iniciadas as buscas. Dois dias depois, foram reportadas observações aéreas e marítimas de destroços no oceano, próximo à área do último contato com a aeronave.

Na tarde de 2 de junho, o governo brasileiro confirmou a queda do avião no oceano. Na noite do mesmo dia foi decretado luto oficial pelas vítimas. No dia seguinte, foi confirmado que os destroços encontrados eram do Airbus desaparecido. Em abril de 2011, a agência do governo francês para investigações de acidentes aeronáuticos anunciou que, em novas buscas, foram resgatadas as duas caixas-pretas do A330 a 3,9 mil metros de profundidade.

Com o auxílio de robôs, foi realizada uma minuciosa operação para o resgate dos corpos. As buscas foram encerradas no final de 2011 com a retirada do oceano de 154 corpos das 228 pessoas que estavam no avião. O reconhecimento foi feito com exames de DNA.

SOROCABA – A decisão da Justiça francesa de adiar para abril o acórdão sobre o caso do acidente com o avião da Air France que vitimou os 288 ocupantes, em junho de 2009, desagradou a familiares das vítimas ouvidos pelo Estadão. Para eles, serão pelo menos mais quatro meses de expectativa para que possam, finalmente, ter o reconhecimento ou não da culpa das empresas. Conforme agências europeias, a presidente do coletivo de juízes, Sylvie Daunis, anunciou que a data da leitura do acórdão foi marcada para às 13h30 (hora de Paris) de 17 de abril próximo.

Para Sylvain Owondo, morador do Rio de Janeiro que perdeu o pai, Joseph Owondo, no acidente, será mais uma espera angustiante. “Sabemos que as empresas tiveram culpa. A Air France, inclusive, já nos indenizou. O que esperamos é que a Airbus também seja responsabilizada pelas mortes”, disse. O vendedor Vinicius Gusmão de Almeida, de 34 anos, que perdeu a mãe, Valnizia Gusmão de Oliveira, lamentou o adiamento. “Quanto mais espera, mais tempo de agonia e sofrimento. No fim, quem vai dar o último veredito é Deus”, disse o também morador do Rio.

A fase final do julgamento, nos dois últimos meses, ficou marcada pela posição do Ministério Público francês de se opor ao pedido de condenação da Air France e da Airbus pelo crime de homicídio por negligência, por entender que isso seria impossível de se provar. Os juízes devem decidir se o acidente resultou da falta de preparação dos pilotos, o que caberia à Air France, de uma falha no dispositivo de medição de velocidade, de responsabilidade da Airbus, ou se os dois fatores tiveram influência. Os juízes não são obrigados a seguir o parecer do MP.

O presidente da Associação de Famílias de Vítimas do Voo AF447, Nelson Faria Marinho, que perdeu um filho de 40 anos no acidente, ainda esperava informações oficiais sobre a nova data da sentença, mas disse não ter muita esperança de que a Justiça francesa reconheça que houve falha no avião. “Não acredito muito porque é como a raposa tomar conta do galinheiro. A Justiça da França julgando empresas francesas. O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses”, disse.

Nelson Marinho exibe a foto do filho Nelson, que morreu aos 40 anos no acidente em 2009: "O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses". Foto: Silvia Izquierdo/AP

O filho de Marinho, que também se chamava Nelson, viajava a trabalho para Angola, na África, no voo fatídico. Ele lembrou que os problemas com aquele modelo de avião remontam a 1988, quando ocorreu a primeira tragédia no voo 296, da Air France, em que morreram três pessoas e outras 50 ficaram feridas. “Naquela ocasião, o piloto relatou problemas de natureza eletro-eletrônica, em razão de ser um avião excessivamente automatizado, problemas que até hoje não foram solucionados”, disse.

Para Marinho, a Justiça francesa precisa ter a mesma firmeza que a americana, que condenou a Boeing a pagar US$ 12 milhões aos familiares das 157 vítimas de um acidente com a aeronave 737 Max, ocorrido em 2019. “Espero que as famílias sejam indenizadas e que a Justiça reconheça que o avião tinha um defeito de fabricação. Quando estive em Paris após o acidente, conversei com 30 pilotos e todos disseram que o avião tinha problemas. A Air France indenizou algumas famílias, mas a fabricante do avião (Airbus) não indenizou ninguém.”

Dor da perda

Depois de 13 anos do acidente, as famílias que tinham parentes no avião ainda não se recuperaram da dor causada pelas perdas. “Naquela época o mundo acabou para nós. Ficamos perdidos, começou a faltar dinheiro, pois era meu pai quem ajudava nós todos com estudo, alimentação, saúde, com tudo. O corpo só foi achado dois anos depois. Foi complicado, difícil, até hoje é meio estranho. Minha irmã precisou fazer tratamento com psicólogo, meu irmão caçula ficou meio rebelde. Eu penso nele todo dia, toda hora. Minha filha nunca pôde ver o avô, meus dois sobrinhos não puderam conhecê-lo”, relatou Sylvain.

Joseph Owondo, nascido no Gabão, consultor das Nações Unidas, havia embarcado no Rio e, de Paris, seguiria em visita à mãe e familiares no país africano. Além dos filhos Sylvain e Julienne, Owondo deixou viúva a mãe deles, Celia Maria Owondo, e uma família desestabilizada pela perda, segundo o filho. “Meu pai trabalhava nos Estados Unidos, mas estava sempre presente com a família. Ele foi trabalhar no exterior depois que eu completei 14 anos. Ele ficou muitos anos trabalhando fora e vinha de férias para o Brasil. Ele e minha mãe eram super presentes. Por culpa das empresas não terem atualizado os sistemas do avião aconteceu essa fatalidade”, disse.

Para Vinicius Almeida, nada pode repor a perda que teve e que mudou sua vida. “Perdi minha mãe no melhor momento da vida dela, cheia de planos. Sou filho único e estava ajeitando as coisas para morar com ela. Sofri toda aquela dor sem auxílio. Foi uma perda tão grande que até hoje, mesmo depois de tantos anos, sofro como se fosse ontem”, disse. Sobre o julgamento, ele não tem expectativas positivas. “O tempo não volta, a gente queria outras coisas que já não são possíveis, a verdade é essa.”

O avião da Air France transportava passageiros de 33 nacionalidades, entre eles 61 franceses, 58 brasileiros, 28 alemães, 9 italianos e 2 espanhóis. Ao todo, 476 familiares se habilitaram como partes civis no processo levado a julgamento. A 31.ª Câmara Criminal de Paris ouviu técnicos e especialistas para determinar se a companhia aérea ou a fabricante do avião cometeram erros que poderiam ter contribuído para a tragédia. Relatórios já apontaram que o congelamento das sondas de velocidade (tubos de Pitot) causou um distúrbio no controle da velocidade do Airbus A330, deixando os pilotos sem controle do avião.

Conforme o advogado Rodrigo da Silva Schumacker, que representa parte das famílias das vítimas, o tribunal de recurso revogou o arquivamento anterior do processo por haver indícios de que a Air France não forneceu o treinamento adequado ou as informações necessárias para que os pilotos pudessem reagir à possível falha técnica. A Airbus teria subestimado a gravidade das falhas nas sondas de velocidade e não tomado as medidas para informar as tripulações de forma eficaz. Segundo ele, as falhas nesses equipamentos já ocorreram em voos anteriores.

Foto de arquivo mostra transporte de corpo de vítima do acidente aéreo. Foto: Eraldo Peres/AP

As vítimas

A tragédia do voo AF447 ceifou a vida de famílias inteiras de brasileiros ou de parte delas, interrompendo trajetórias e projetos. Francisco Eudes Mesquita Valle, diretor de uma transportadora de combustíveis, viajava acompanhado pela mulher, Maria de Fátima, pelo filho, o empresário Paulo Valle Brito, e pela nora, a psicóloga Luciana Clarkson Seba. O procurador federal Carlos Eduardo Lopes De Mello e a esposa dele, a médica Bianca Machado Cotta, haviam se casado em Niterói, na região metropolitana do Rio, e seguiam para a lua de mel na França.

Octávio Augusto Ceva Antunes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), viajava para uma palestra. Estava acompanhado pela esposa, Patricia Maria Nazareth Ceva Antunes, servidora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo filho do casal, Mateus, de 3 anos. O cirurgião plástico gaúcho Roberto Corrêa Chem, diretor da Santa Casa de Porto Alegre, voava para a Grécia com a mulher, a psicóloga Vera Chem, e a filha Letícia.

A catarinense de Nova Veneza, Deise Possamai, de 34 anos, funcionária da prefeitura de Criciúma, viajava para fazer cursos de especialização na Itália. A escritora e professora de literatura alemã Izabela Maria Furtado Kestler seguia para um congresso em Leipzig, na Alemanha. O oceanógrafo Leonardo Veloso Dardengo ia para Toulouse, na França, para um curso de doutorado. O professor de direito da PUC, Marcelo Parente Gomes de Oliveira, na época chefe de gabinete do prefeito do Rio, Eduardo Paes, viajava com a esposa, Marcelle.

Também estava no voo um descendente direto de Dom Pedro II e de monarcas europeus, o príncipe Pedro Luis de Orleans e Bragança, na época com 26 anos. Nascido no Rio, ele morava em Luxemburgo e tinha vindo ao Brasil para visitar os pais. O único tripulante brasileiro a bordo do voo AF447, o comissário de bordo Lucas Gagliano, tinha ficado no País por 15 dias para o enterro do pai. Ele morava na França.

Uma parte dos familiares dessas vítimas já foi indenizada pela Air France por acordo ou por meio de sentença judicial. Procurados pela reportagem, eles preferiram não falar a respeito, já que assinaram termos de confiabilidade e sigilo com a empresa. Outros familiares de vítimas do voo AF77 não deram retorno ou preferiram não se manifestar.

A reportagem também entrou em contato com as empresas e ainda aguarda retorno. No processo e em notas públicas, a Air France e a Airbus se declararam inocentes de terem cometido qualquer falta de natureza criminal na origem do acidente.

Estabilizador vertical da aeronave é retirada por equipes de resgate.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 14/6/2009

Como foi o acidente

Às 19 horas do dia 31 de maio de 2009, o Airbus A330 da Air France partiu do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio, com destino a Paris. O AF447, um voo regular de longo curso, que levava 228 pessoas a bordo, nunca chegou ao seu destino. A aeronave caiu no Oceano Atlântico sem deixar sobreviventes.

O último contato com a tripulação foram mensagens de rotina enviadas aos controladores de terra brasileiros três horas e meia após o início do voo, quando o avião saía da vigilância dos radares brasileiros, cruzando o oceano na direção da costa do Senegal, na África Ocidental.

Cerca de 40 minutos depois, uma série de mensagens automáticas emitidas pelo Acars, sistema digital de comunicação entre aeronaves e estações terrestres, foram enviadas pelo avião, indicando problemas elétricos e perda de pressurização da cabine, sem que houvesse indicações de outros problemas. O que se sabe é que, àquela altura, o avião atravessava uma área com tempestade.

Como a aeronave não apareceu nos radares senegaleses e não houve contato com o controle de tráfego de ambos os lados do oceano, foram iniciadas as buscas. Dois dias depois, foram reportadas observações aéreas e marítimas de destroços no oceano, próximo à área do último contato com a aeronave.

Na tarde de 2 de junho, o governo brasileiro confirmou a queda do avião no oceano. Na noite do mesmo dia foi decretado luto oficial pelas vítimas. No dia seguinte, foi confirmado que os destroços encontrados eram do Airbus desaparecido. Em abril de 2011, a agência do governo francês para investigações de acidentes aeronáuticos anunciou que, em novas buscas, foram resgatadas as duas caixas-pretas do A330 a 3,9 mil metros de profundidade.

Com o auxílio de robôs, foi realizada uma minuciosa operação para o resgate dos corpos. As buscas foram encerradas no final de 2011 com a retirada do oceano de 154 corpos das 228 pessoas que estavam no avião. O reconhecimento foi feito com exames de DNA.

SOROCABA – A decisão da Justiça francesa de adiar para abril o acórdão sobre o caso do acidente com o avião da Air France que vitimou os 288 ocupantes, em junho de 2009, desagradou a familiares das vítimas ouvidos pelo Estadão. Para eles, serão pelo menos mais quatro meses de expectativa para que possam, finalmente, ter o reconhecimento ou não da culpa das empresas. Conforme agências europeias, a presidente do coletivo de juízes, Sylvie Daunis, anunciou que a data da leitura do acórdão foi marcada para às 13h30 (hora de Paris) de 17 de abril próximo.

Para Sylvain Owondo, morador do Rio de Janeiro que perdeu o pai, Joseph Owondo, no acidente, será mais uma espera angustiante. “Sabemos que as empresas tiveram culpa. A Air France, inclusive, já nos indenizou. O que esperamos é que a Airbus também seja responsabilizada pelas mortes”, disse. O vendedor Vinicius Gusmão de Almeida, de 34 anos, que perdeu a mãe, Valnizia Gusmão de Oliveira, lamentou o adiamento. “Quanto mais espera, mais tempo de agonia e sofrimento. No fim, quem vai dar o último veredito é Deus”, disse o também morador do Rio.

A fase final do julgamento, nos dois últimos meses, ficou marcada pela posição do Ministério Público francês de se opor ao pedido de condenação da Air France e da Airbus pelo crime de homicídio por negligência, por entender que isso seria impossível de se provar. Os juízes devem decidir se o acidente resultou da falta de preparação dos pilotos, o que caberia à Air France, de uma falha no dispositivo de medição de velocidade, de responsabilidade da Airbus, ou se os dois fatores tiveram influência. Os juízes não são obrigados a seguir o parecer do MP.

O presidente da Associação de Famílias de Vítimas do Voo AF447, Nelson Faria Marinho, que perdeu um filho de 40 anos no acidente, ainda esperava informações oficiais sobre a nova data da sentença, mas disse não ter muita esperança de que a Justiça francesa reconheça que houve falha no avião. “Não acredito muito porque é como a raposa tomar conta do galinheiro. A Justiça da França julgando empresas francesas. O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses”, disse.

Nelson Marinho exibe a foto do filho Nelson, que morreu aos 40 anos no acidente em 2009: "O governo brasileiro tinha o direito de investigar o acidente, mas deixou por conta dos franceses". Foto: Silvia Izquierdo/AP

O filho de Marinho, que também se chamava Nelson, viajava a trabalho para Angola, na África, no voo fatídico. Ele lembrou que os problemas com aquele modelo de avião remontam a 1988, quando ocorreu a primeira tragédia no voo 296, da Air France, em que morreram três pessoas e outras 50 ficaram feridas. “Naquela ocasião, o piloto relatou problemas de natureza eletro-eletrônica, em razão de ser um avião excessivamente automatizado, problemas que até hoje não foram solucionados”, disse.

Para Marinho, a Justiça francesa precisa ter a mesma firmeza que a americana, que condenou a Boeing a pagar US$ 12 milhões aos familiares das 157 vítimas de um acidente com a aeronave 737 Max, ocorrido em 2019. “Espero que as famílias sejam indenizadas e que a Justiça reconheça que o avião tinha um defeito de fabricação. Quando estive em Paris após o acidente, conversei com 30 pilotos e todos disseram que o avião tinha problemas. A Air France indenizou algumas famílias, mas a fabricante do avião (Airbus) não indenizou ninguém.”

Dor da perda

Depois de 13 anos do acidente, as famílias que tinham parentes no avião ainda não se recuperaram da dor causada pelas perdas. “Naquela época o mundo acabou para nós. Ficamos perdidos, começou a faltar dinheiro, pois era meu pai quem ajudava nós todos com estudo, alimentação, saúde, com tudo. O corpo só foi achado dois anos depois. Foi complicado, difícil, até hoje é meio estranho. Minha irmã precisou fazer tratamento com psicólogo, meu irmão caçula ficou meio rebelde. Eu penso nele todo dia, toda hora. Minha filha nunca pôde ver o avô, meus dois sobrinhos não puderam conhecê-lo”, relatou Sylvain.

Joseph Owondo, nascido no Gabão, consultor das Nações Unidas, havia embarcado no Rio e, de Paris, seguiria em visita à mãe e familiares no país africano. Além dos filhos Sylvain e Julienne, Owondo deixou viúva a mãe deles, Celia Maria Owondo, e uma família desestabilizada pela perda, segundo o filho. “Meu pai trabalhava nos Estados Unidos, mas estava sempre presente com a família. Ele foi trabalhar no exterior depois que eu completei 14 anos. Ele ficou muitos anos trabalhando fora e vinha de férias para o Brasil. Ele e minha mãe eram super presentes. Por culpa das empresas não terem atualizado os sistemas do avião aconteceu essa fatalidade”, disse.

Para Vinicius Almeida, nada pode repor a perda que teve e que mudou sua vida. “Perdi minha mãe no melhor momento da vida dela, cheia de planos. Sou filho único e estava ajeitando as coisas para morar com ela. Sofri toda aquela dor sem auxílio. Foi uma perda tão grande que até hoje, mesmo depois de tantos anos, sofro como se fosse ontem”, disse. Sobre o julgamento, ele não tem expectativas positivas. “O tempo não volta, a gente queria outras coisas que já não são possíveis, a verdade é essa.”

O avião da Air France transportava passageiros de 33 nacionalidades, entre eles 61 franceses, 58 brasileiros, 28 alemães, 9 italianos e 2 espanhóis. Ao todo, 476 familiares se habilitaram como partes civis no processo levado a julgamento. A 31.ª Câmara Criminal de Paris ouviu técnicos e especialistas para determinar se a companhia aérea ou a fabricante do avião cometeram erros que poderiam ter contribuído para a tragédia. Relatórios já apontaram que o congelamento das sondas de velocidade (tubos de Pitot) causou um distúrbio no controle da velocidade do Airbus A330, deixando os pilotos sem controle do avião.

Conforme o advogado Rodrigo da Silva Schumacker, que representa parte das famílias das vítimas, o tribunal de recurso revogou o arquivamento anterior do processo por haver indícios de que a Air France não forneceu o treinamento adequado ou as informações necessárias para que os pilotos pudessem reagir à possível falha técnica. A Airbus teria subestimado a gravidade das falhas nas sondas de velocidade e não tomado as medidas para informar as tripulações de forma eficaz. Segundo ele, as falhas nesses equipamentos já ocorreram em voos anteriores.

Foto de arquivo mostra transporte de corpo de vítima do acidente aéreo. Foto: Eraldo Peres/AP

As vítimas

A tragédia do voo AF447 ceifou a vida de famílias inteiras de brasileiros ou de parte delas, interrompendo trajetórias e projetos. Francisco Eudes Mesquita Valle, diretor de uma transportadora de combustíveis, viajava acompanhado pela mulher, Maria de Fátima, pelo filho, o empresário Paulo Valle Brito, e pela nora, a psicóloga Luciana Clarkson Seba. O procurador federal Carlos Eduardo Lopes De Mello e a esposa dele, a médica Bianca Machado Cotta, haviam se casado em Niterói, na região metropolitana do Rio, e seguiam para a lua de mel na França.

Octávio Augusto Ceva Antunes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), viajava para uma palestra. Estava acompanhado pela esposa, Patricia Maria Nazareth Ceva Antunes, servidora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo filho do casal, Mateus, de 3 anos. O cirurgião plástico gaúcho Roberto Corrêa Chem, diretor da Santa Casa de Porto Alegre, voava para a Grécia com a mulher, a psicóloga Vera Chem, e a filha Letícia.

A catarinense de Nova Veneza, Deise Possamai, de 34 anos, funcionária da prefeitura de Criciúma, viajava para fazer cursos de especialização na Itália. A escritora e professora de literatura alemã Izabela Maria Furtado Kestler seguia para um congresso em Leipzig, na Alemanha. O oceanógrafo Leonardo Veloso Dardengo ia para Toulouse, na França, para um curso de doutorado. O professor de direito da PUC, Marcelo Parente Gomes de Oliveira, na época chefe de gabinete do prefeito do Rio, Eduardo Paes, viajava com a esposa, Marcelle.

Também estava no voo um descendente direto de Dom Pedro II e de monarcas europeus, o príncipe Pedro Luis de Orleans e Bragança, na época com 26 anos. Nascido no Rio, ele morava em Luxemburgo e tinha vindo ao Brasil para visitar os pais. O único tripulante brasileiro a bordo do voo AF447, o comissário de bordo Lucas Gagliano, tinha ficado no País por 15 dias para o enterro do pai. Ele morava na França.

Uma parte dos familiares dessas vítimas já foi indenizada pela Air France por acordo ou por meio de sentença judicial. Procurados pela reportagem, eles preferiram não falar a respeito, já que assinaram termos de confiabilidade e sigilo com a empresa. Outros familiares de vítimas do voo AF77 não deram retorno ou preferiram não se manifestar.

A reportagem também entrou em contato com as empresas e ainda aguarda retorno. No processo e em notas públicas, a Air France e a Airbus se declararam inocentes de terem cometido qualquer falta de natureza criminal na origem do acidente.

Estabilizador vertical da aeronave é retirada por equipes de resgate.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 14/6/2009

Como foi o acidente

Às 19 horas do dia 31 de maio de 2009, o Airbus A330 da Air France partiu do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio, com destino a Paris. O AF447, um voo regular de longo curso, que levava 228 pessoas a bordo, nunca chegou ao seu destino. A aeronave caiu no Oceano Atlântico sem deixar sobreviventes.

O último contato com a tripulação foram mensagens de rotina enviadas aos controladores de terra brasileiros três horas e meia após o início do voo, quando o avião saía da vigilância dos radares brasileiros, cruzando o oceano na direção da costa do Senegal, na África Ocidental.

Cerca de 40 minutos depois, uma série de mensagens automáticas emitidas pelo Acars, sistema digital de comunicação entre aeronaves e estações terrestres, foram enviadas pelo avião, indicando problemas elétricos e perda de pressurização da cabine, sem que houvesse indicações de outros problemas. O que se sabe é que, àquela altura, o avião atravessava uma área com tempestade.

Como a aeronave não apareceu nos radares senegaleses e não houve contato com o controle de tráfego de ambos os lados do oceano, foram iniciadas as buscas. Dois dias depois, foram reportadas observações aéreas e marítimas de destroços no oceano, próximo à área do último contato com a aeronave.

Na tarde de 2 de junho, o governo brasileiro confirmou a queda do avião no oceano. Na noite do mesmo dia foi decretado luto oficial pelas vítimas. No dia seguinte, foi confirmado que os destroços encontrados eram do Airbus desaparecido. Em abril de 2011, a agência do governo francês para investigações de acidentes aeronáuticos anunciou que, em novas buscas, foram resgatadas as duas caixas-pretas do A330 a 3,9 mil metros de profundidade.

Com o auxílio de robôs, foi realizada uma minuciosa operação para o resgate dos corpos. As buscas foram encerradas no final de 2011 com a retirada do oceano de 154 corpos das 228 pessoas que estavam no avião. O reconhecimento foi feito com exames de DNA.

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