BOA VISTA - O governo de Roraima prevê criar, em 30 dias, um abrigo especial para acolher Yanomamis que vivem nas ruas de Boa Vista. Como o Estadão mostrou, grupos de indígenas sem-teto ficam sob viadutos e em outros pontos da capital roraimense diante da falta de assistência. Muitos deles não querem voltar para a reserva Yanomami, no meio da Floresta Amazônica, por causa da violência de garimpeiros ou das condições precárias de vida na região, onde o Ministério da Saúde declarou emergência.
A ideia é que esse espaço - no Centro de Atendimento Yanomami e de cerca de 500 metros quadrados - sirva também como um local de apoio para abrigar indígenas que passam por Boa Vista para tratamento de saúde.
A expectativa é de que o espaço seja gerido pelo Distrito Sanitário Especial Yanomami, órgão ligado ao Ministério da Saúde. Lá, devem ser desenvolvidas atividades como oficinas e acolhimento institucional de ajuda aos desabrigados, além de atendimentos de saúde e assistência social.
O governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas) se reuniu com os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Apesar de ter sido aliado próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Denarium tem mantido diálogo com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O governador tem reforçado que a responsabilidade sobre os cuidados com os indígenas é da União, embora destaque ações como a entrega de cestas básicas, merenda escolar e apoio à agricultura indígena. “Acreditamos que o governo de Roraima sempre ofertou o melhor acesso às políticas públicas sob sua responsabilidade às populações indígenas”, disse ao Estadão.
Denarium, porém, tem evitado atribuir à gestão Bolsonaro a responsabilidade pelo agravamento da crise Yanomami. “Os últimos 20, 30 anos têm o mesmo problema e passaram muitos governos. Então, todos eles têm responsabilidade pela morte das crianças Yanomami”, afirmou o governador ao Estadão na semana passada.
O Supremo Tribunal Federal (STF) mandou apurar eventuais omissões da gestão passada nas políticas de apoio aos indígenas. A Polícia Federal abriu inquérito para investigar genocídio.