Artemis I: ‘É muito difícil criar um robô com conhecimento de um astronauta’, diz brasileira da Nasa


Ao ‘Estadão’, cientista Rosaly Lopes comenta expectativas com a missão que teve o primeiro lançamento bem sucedido nesta quarta-feira e que vai levar o ser humano de volta à Lua

Por Leon Ferrari
Atualização:

Com o lançamento bem sucedido da primeira fase da Missão Artemis, a astrônoma brasileira Rosaly Lopes está animada com as possibilidades abertas pela retomada da exploração humana além da órbita terrestre. Segundo ela, que é cientista-chefe de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory (JPL) - líder em exploração espacial com robôs -, da Nasa, na Califórnia (EUA), é difícil criar um robô com o conhecimento de um astronauta. “Não é que você não possa fazer coisas com um programa robótico, mas é muito mais lento, demora muito mais tempo”, comenta.

Rosaly não trabalha diretamente no programa Artemis, mas comenta que, após os atrasos e com a temporada de furacões na Flórida, o lançamento era motivo de ansiedade. E, por isso, o sucesso foi muito comemorado na manhã desta quarta.

O foguete Space Launch System (SLS), com a cápsula da tripulação Orion, decolou da Flórida (EUA), na quarta, 16 Foto: Joe Rimkus Jr./Reuters
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Ela comenta que os atrasos não são motivo de preocupação, mas sim prova de segurança. “A exploração espacial é sempre assim. Cada projeto, cada programa, é uma coisa nova, tem muitas coisas que podem ter falhas. A gente testa o máximo possível. É muito melhor adiar um lançamento do que lançar e ter algum problema.”

Leia a entrevista:

Quais são as suas expectativas com a missão Artemis? Quais portas acha que ela pode abrir?

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O teste do SLS é um ponto muito importante. Ele é um foguete muito mais possante do que foi o Saturno V, do programa Apollo. Um foguete muito possante pode facilitar a ida mais depressa a outros lugares. Quando você tem humanos a bordo é muito perigoso estar no espaço por muito tempo, então, um foguete possante pode reduzir o tempo necessário para chegar, digamos, a Marte ou a qualquer outro lugar.

Estou esperando, agora, principalmente, a Artemis III que vai levar humanos de volta à Lua. Isso vai ser um grande passo. Quando cresci, com o programa Apollo, esperava que por essas alturas a gente já tivesse humanos trabalhando na Lua e em estações espaciais, e, realmente, aquele programa parou. Gosto de ver o programa humano avançando de novo.

Por que tivemos esse hiato no programa humano?

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Acho que a coisa principal foi a a orçamento, porque o programa humano é muito caro. Acho que, depois de colherem amostras, de fazerem experiências na Lua, eles acharam que não justificava o custo. Acho que foi, realmente, uma questão de custo, não de tecnologia.

A Artemis marca, de fato, o início da volta das viagens humanas além da órbita da Terra. Qual é a relevância disso?

Nós podemos fazer muita coisa com robôs, e é até é mais barato, mas tem uma diferença muito importante entre os robôs e os astronautas: é muito difícil você criar um robô com o conhecimento de um astronauta. Se você colocar um geólogo na Lua, eles podem fazer muito rapidamente, com o olho humano, com o cérebro humano, uma avaliação dos tipos de rocha, pode fazer experiências muito mais facilmente do que um robô. O humano é mais eficiente.

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Mas a coisa que acho mais importante é que os seres humanos querem explorar. É importante retornar os astronautas à Lua não só por causa da ciência, mas também por esse aspecto da inspiração para todos nós aqui na Terra, para as crianças, principalmente. Metade dos meus colegas no laboratório queriam ser astronautas. A minha inspiração foram os astronautas do programa Apollo.

Brasileira, Rosaly Lopes é cientista-chefe de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da Nasa, na Califórnia (EUA) Foto: JPL/Nasa/Reprodução

Qual a importância da retomada do olhar para a Lua que a Artemis e missões de outros países têm feito?

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Nossa ciência evoluiu muito desde o programa Apollo, o que os astronautas vão fazer na Lua agora é muito mais avançado do que fizeram no programa Apollo, mas tem muitas coisas que precisam ser estudadas sobre o ser humano, sobre a fisiologia, e a Lua é o lugar mais rápido. A diferença de tempo entre uma ida à Lua e uma ida a Marte é muito grande. A Lua sendo menor, é mais fácil. A Lua é o primeiro passo para resolver problemas antes de mandar humanos pra Marte.

Além dos 50 anos de distância, quais as diferenças entre o programa Apollo e a missão Artemis?

É difícil dizer tudo, porque a tecnologia é completamente diferente. No programa Apollo foi extraordinário o que eles fizeram com a tecnologia da época - ainda estava na infância dos computadores - mas também foi muito arriscado. Agora, computadores muito mais avançados e também podemos levar instrumentos muito mais avançados para analisar a superfície da Lua. Vamos poder dar passos muito significantes em ciência e também em exploração.

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E uma das maiores diferenças vai ser que a Artemis III vai mandar a primeira mulher e a primeira pessoa não-branca à Lua. Antes, os astronautas americanos antes eram todos homens e brancos, então, vai aumentar a diversidade.

E qual a importância de mais diversidade nas missões?

O recado é que não tem pré-requisito, em termos de gênero ou raça, para ser astronauta. É uma questão de você se identificar com alguém. A gente não quer excluir nenhum tipo de pessoa da Nasa, porque nós queremos os melhores, e os melhores podem ser de qualquer gênero ou de qualquer raça. Nós queremos que todas as pessoas tenham a inspiração de poder alcançar esse alvo.

Com o lançamento bem sucedido da primeira fase da Missão Artemis, a astrônoma brasileira Rosaly Lopes está animada com as possibilidades abertas pela retomada da exploração humana além da órbita terrestre. Segundo ela, que é cientista-chefe de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory (JPL) - líder em exploração espacial com robôs -, da Nasa, na Califórnia (EUA), é difícil criar um robô com o conhecimento de um astronauta. “Não é que você não possa fazer coisas com um programa robótico, mas é muito mais lento, demora muito mais tempo”, comenta.

Rosaly não trabalha diretamente no programa Artemis, mas comenta que, após os atrasos e com a temporada de furacões na Flórida, o lançamento era motivo de ansiedade. E, por isso, o sucesso foi muito comemorado na manhã desta quarta.

O foguete Space Launch System (SLS), com a cápsula da tripulação Orion, decolou da Flórida (EUA), na quarta, 16 Foto: Joe Rimkus Jr./Reuters

Ela comenta que os atrasos não são motivo de preocupação, mas sim prova de segurança. “A exploração espacial é sempre assim. Cada projeto, cada programa, é uma coisa nova, tem muitas coisas que podem ter falhas. A gente testa o máximo possível. É muito melhor adiar um lançamento do que lançar e ter algum problema.”

Leia a entrevista:

Quais são as suas expectativas com a missão Artemis? Quais portas acha que ela pode abrir?

O teste do SLS é um ponto muito importante. Ele é um foguete muito mais possante do que foi o Saturno V, do programa Apollo. Um foguete muito possante pode facilitar a ida mais depressa a outros lugares. Quando você tem humanos a bordo é muito perigoso estar no espaço por muito tempo, então, um foguete possante pode reduzir o tempo necessário para chegar, digamos, a Marte ou a qualquer outro lugar.

Estou esperando, agora, principalmente, a Artemis III que vai levar humanos de volta à Lua. Isso vai ser um grande passo. Quando cresci, com o programa Apollo, esperava que por essas alturas a gente já tivesse humanos trabalhando na Lua e em estações espaciais, e, realmente, aquele programa parou. Gosto de ver o programa humano avançando de novo.

Por que tivemos esse hiato no programa humano?

Acho que a coisa principal foi a a orçamento, porque o programa humano é muito caro. Acho que, depois de colherem amostras, de fazerem experiências na Lua, eles acharam que não justificava o custo. Acho que foi, realmente, uma questão de custo, não de tecnologia.

A Artemis marca, de fato, o início da volta das viagens humanas além da órbita da Terra. Qual é a relevância disso?

Nós podemos fazer muita coisa com robôs, e é até é mais barato, mas tem uma diferença muito importante entre os robôs e os astronautas: é muito difícil você criar um robô com o conhecimento de um astronauta. Se você colocar um geólogo na Lua, eles podem fazer muito rapidamente, com o olho humano, com o cérebro humano, uma avaliação dos tipos de rocha, pode fazer experiências muito mais facilmente do que um robô. O humano é mais eficiente.

Mas a coisa que acho mais importante é que os seres humanos querem explorar. É importante retornar os astronautas à Lua não só por causa da ciência, mas também por esse aspecto da inspiração para todos nós aqui na Terra, para as crianças, principalmente. Metade dos meus colegas no laboratório queriam ser astronautas. A minha inspiração foram os astronautas do programa Apollo.

Brasileira, Rosaly Lopes é cientista-chefe de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da Nasa, na Califórnia (EUA) Foto: JPL/Nasa/Reprodução

Qual a importância da retomada do olhar para a Lua que a Artemis e missões de outros países têm feito?

Nossa ciência evoluiu muito desde o programa Apollo, o que os astronautas vão fazer na Lua agora é muito mais avançado do que fizeram no programa Apollo, mas tem muitas coisas que precisam ser estudadas sobre o ser humano, sobre a fisiologia, e a Lua é o lugar mais rápido. A diferença de tempo entre uma ida à Lua e uma ida a Marte é muito grande. A Lua sendo menor, é mais fácil. A Lua é o primeiro passo para resolver problemas antes de mandar humanos pra Marte.

Além dos 50 anos de distância, quais as diferenças entre o programa Apollo e a missão Artemis?

É difícil dizer tudo, porque a tecnologia é completamente diferente. No programa Apollo foi extraordinário o que eles fizeram com a tecnologia da época - ainda estava na infância dos computadores - mas também foi muito arriscado. Agora, computadores muito mais avançados e também podemos levar instrumentos muito mais avançados para analisar a superfície da Lua. Vamos poder dar passos muito significantes em ciência e também em exploração.

E uma das maiores diferenças vai ser que a Artemis III vai mandar a primeira mulher e a primeira pessoa não-branca à Lua. Antes, os astronautas americanos antes eram todos homens e brancos, então, vai aumentar a diversidade.

E qual a importância de mais diversidade nas missões?

O recado é que não tem pré-requisito, em termos de gênero ou raça, para ser astronauta. É uma questão de você se identificar com alguém. A gente não quer excluir nenhum tipo de pessoa da Nasa, porque nós queremos os melhores, e os melhores podem ser de qualquer gênero ou de qualquer raça. Nós queremos que todas as pessoas tenham a inspiração de poder alcançar esse alvo.

Com o lançamento bem sucedido da primeira fase da Missão Artemis, a astrônoma brasileira Rosaly Lopes está animada com as possibilidades abertas pela retomada da exploração humana além da órbita terrestre. Segundo ela, que é cientista-chefe de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory (JPL) - líder em exploração espacial com robôs -, da Nasa, na Califórnia (EUA), é difícil criar um robô com o conhecimento de um astronauta. “Não é que você não possa fazer coisas com um programa robótico, mas é muito mais lento, demora muito mais tempo”, comenta.

Rosaly não trabalha diretamente no programa Artemis, mas comenta que, após os atrasos e com a temporada de furacões na Flórida, o lançamento era motivo de ansiedade. E, por isso, o sucesso foi muito comemorado na manhã desta quarta.

O foguete Space Launch System (SLS), com a cápsula da tripulação Orion, decolou da Flórida (EUA), na quarta, 16 Foto: Joe Rimkus Jr./Reuters

Ela comenta que os atrasos não são motivo de preocupação, mas sim prova de segurança. “A exploração espacial é sempre assim. Cada projeto, cada programa, é uma coisa nova, tem muitas coisas que podem ter falhas. A gente testa o máximo possível. É muito melhor adiar um lançamento do que lançar e ter algum problema.”

Leia a entrevista:

Quais são as suas expectativas com a missão Artemis? Quais portas acha que ela pode abrir?

O teste do SLS é um ponto muito importante. Ele é um foguete muito mais possante do que foi o Saturno V, do programa Apollo. Um foguete muito possante pode facilitar a ida mais depressa a outros lugares. Quando você tem humanos a bordo é muito perigoso estar no espaço por muito tempo, então, um foguete possante pode reduzir o tempo necessário para chegar, digamos, a Marte ou a qualquer outro lugar.

Estou esperando, agora, principalmente, a Artemis III que vai levar humanos de volta à Lua. Isso vai ser um grande passo. Quando cresci, com o programa Apollo, esperava que por essas alturas a gente já tivesse humanos trabalhando na Lua e em estações espaciais, e, realmente, aquele programa parou. Gosto de ver o programa humano avançando de novo.

Por que tivemos esse hiato no programa humano?

Acho que a coisa principal foi a a orçamento, porque o programa humano é muito caro. Acho que, depois de colherem amostras, de fazerem experiências na Lua, eles acharam que não justificava o custo. Acho que foi, realmente, uma questão de custo, não de tecnologia.

A Artemis marca, de fato, o início da volta das viagens humanas além da órbita da Terra. Qual é a relevância disso?

Nós podemos fazer muita coisa com robôs, e é até é mais barato, mas tem uma diferença muito importante entre os robôs e os astronautas: é muito difícil você criar um robô com o conhecimento de um astronauta. Se você colocar um geólogo na Lua, eles podem fazer muito rapidamente, com o olho humano, com o cérebro humano, uma avaliação dos tipos de rocha, pode fazer experiências muito mais facilmente do que um robô. O humano é mais eficiente.

Mas a coisa que acho mais importante é que os seres humanos querem explorar. É importante retornar os astronautas à Lua não só por causa da ciência, mas também por esse aspecto da inspiração para todos nós aqui na Terra, para as crianças, principalmente. Metade dos meus colegas no laboratório queriam ser astronautas. A minha inspiração foram os astronautas do programa Apollo.

Brasileira, Rosaly Lopes é cientista-chefe de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da Nasa, na Califórnia (EUA) Foto: JPL/Nasa/Reprodução

Qual a importância da retomada do olhar para a Lua que a Artemis e missões de outros países têm feito?

Nossa ciência evoluiu muito desde o programa Apollo, o que os astronautas vão fazer na Lua agora é muito mais avançado do que fizeram no programa Apollo, mas tem muitas coisas que precisam ser estudadas sobre o ser humano, sobre a fisiologia, e a Lua é o lugar mais rápido. A diferença de tempo entre uma ida à Lua e uma ida a Marte é muito grande. A Lua sendo menor, é mais fácil. A Lua é o primeiro passo para resolver problemas antes de mandar humanos pra Marte.

Além dos 50 anos de distância, quais as diferenças entre o programa Apollo e a missão Artemis?

É difícil dizer tudo, porque a tecnologia é completamente diferente. No programa Apollo foi extraordinário o que eles fizeram com a tecnologia da época - ainda estava na infância dos computadores - mas também foi muito arriscado. Agora, computadores muito mais avançados e também podemos levar instrumentos muito mais avançados para analisar a superfície da Lua. Vamos poder dar passos muito significantes em ciência e também em exploração.

E uma das maiores diferenças vai ser que a Artemis III vai mandar a primeira mulher e a primeira pessoa não-branca à Lua. Antes, os astronautas americanos antes eram todos homens e brancos, então, vai aumentar a diversidade.

E qual a importância de mais diversidade nas missões?

O recado é que não tem pré-requisito, em termos de gênero ou raça, para ser astronauta. É uma questão de você se identificar com alguém. A gente não quer excluir nenhum tipo de pessoa da Nasa, porque nós queremos os melhores, e os melhores podem ser de qualquer gênero ou de qualquer raça. Nós queremos que todas as pessoas tenham a inspiração de poder alcançar esse alvo.

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