O papa Bento XVI publicou três encíclicas nos quatro primeiros anos de seu pontificado. A encíclica é uma carta de alcance universal, dirigida à hierarquia eclesiástica, aos católicos leigos e "a todos os homens de boa vontade".
Deus caritas est
A encíclica Deus é amor (em latim, Deus caritas est, palavra tiradas do evangelho de São João) divide-se em duas partes. Na primeira, que trata da unidade do amor na criação e da história da salvação, Bento XVI reflete sobre três dimensões do amor, a partir das acepções dos termos gregos eros, philia e ágape. Na segunda parte, chama caritas, a encíclica fala da prática do amor pela Igreja como "comunidade de amor", ou do exercício concreto do amor ao próximo. O eros é o tipo de amor existente entre o homem e a mulher, a philia é sinônimo de amizade e ágape refere-se ao amor que une o ser humano a Deus. O papa adverte que, para não ser entendido como puro sexo, o eros tem necessidade de disciplina e de purificação. "A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política parda a realizar a sociedade mais justa possível", adverte o texto, ao discorrer sobre a desigualdade e a injustiça social nos últimos dois séculos. O papa observa que o marxismo falhou, ao apontar a revolução como panaceia para os problemas sociais. Deus caritas est, a primeira encíclica de Bento XVI, foi publicada no Natal de 2005.
Spe salvi
A segunda encíclica de Bento XVI, de novembro de 2007, é uma reflexão marcadamente teológica para um mundo em crise, dominado pelo ceticismo em relação às questões relacionadas com o transcendente, com Deus. "O homem tem necessidade de Deus, do contrário fica privado de esperança", afirma Ratzinger. "Deus é o fundamento da esperança, não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim, cada indivíduo e a humanidade em seu conjunto", observa ele. O papa cita Platão, Lutero, Kant, Bacon, Dostoievski, Engels e Marx, ao falar de esperança, razão e liberdade na construção de um mundo sem Deus que pretende responder aos anseios do homem. "Nenhuma estrutura positiva do mundo é possível nos lugares onde as almas se brutalizam", adverte. A salvação, segundo a encíclica, ultrapassa o individual. "Como cristãos, não basta perguntarmo-nos como posso salvar-me, devemos antes perguntar: o que posso fazer para que os outros sejam salvos e nasça, também para eles a estrela da esperança? ", observa Bento XVI. Essa dimensão comunitária da esperança segue a linha da primeira encíclica, Deus é amor, e lhe dá continuidade.
Caritas in veritate
A encíclica Caritas in veritate (Caridade na verdade), de julho de 2009, dedicada "ao desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade", atualiza a doutrina social da Igreja, com ênfase nos ensinamentos das encíclicas Populorum progressio, de Paulo VI (1967) e Sollicitudo rei socialis, de João Paulo II (1988). Bento XVI adverte para os riscos de uma caridade que pode cair no sentimentalismo se não se basear na verdade, pois nesse caso "o amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente". O papa afirma que a Igreja não tem soluções técnicas para oferecer e não pretende imiscuir-se na política dos Estados, mas tem uma missão a serviço da verdade, que é "irrenunciável". Ratzinger acrescenta que "não é suficiente progredir do ponto de vista econômico e tecnológico", porque o desenvolvimento tem de ser verdadeiro e integral. A encíclica recorda aos governantes que, na renovação dos sistemas econômicos e sociais do mundo, "o primeiro capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integridade". A luta contra a fome, as desigualdades sociais, a globalização, a solidariedade, o crescimento demográfico e o meio ambiente também são temas tratados na encíclica.