Não, os russos não usam lápis no espaço!


Cientistas e entusiastas em geral costumam brincar dizendo que os roteiristas e diretores de Hollywood vivem num universo paralelo, onde as leis da física são diferentes -- onde o som se propaga no vácuo, por exemplo, ou onde o herói é capaz de correr mais depressa que a onda de choque de uma explosão.

Por Redação

Mas o cinema não tem o monopólio da realidade alternativa. O chamado "mundo corporativo", por exemplo, muitas vezes também me dá a impressão de existir em algum lugar além das quatro dimensões  usuais do espaçotempo. Não só pelos eufemismos semiorwellianos ("colaborador" no lugar de "empregado", "desafio" em vez de "problema" e o meu favorito, "monetizar o produto" no lugar de "ganhar dinheiro com essa tralha"), mas também por abraçar narrativas supostamente exemplares  que só são exemplos, mesmo, de má ficção.

Caso em tela: a história, repetida ad nauseam como exemplo de "foco na solução, não no problema", de "criatividade" ou de "combate ao desperdício", de que nos primórdios da corrida espacial a Nasa teria gasto milhões de dólares para criar uma canenta capaz de escrever em gravidade zero, enquanto que os soviéticos simplesmente usavam lápis. Pondo de lado a intrigante moral que se espera tirar disso -- a Nasa venceu a corrida espacial, ora bolas -- resta o fato de que isso simplesmente não é verdade.

 Foto: Estadão
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Modelo da Fisher Spacepen, criada para funcionar no espaço sideral

A história toda pode ser encontrada neste artigo da Sicentific American, mas para encurtar a conversa: canetas dotadas de cartuchos de tinta pressurizados -- e que, portanto, não dependem da gravidade para fazer a tinta correr até a ponta -- foram criadas por uma empresa privada americana, que não só fornecia (e fornece) o produto para a Nasa como também exportava para o programa espacial soviético.

O curioso é que os fatos reais se prestam também à criação de uma boa fábula corporativa (senso de oportunidade, empreendedorismo, livre iniciativa, etc.); portanto, a velha desculpa de que "se a lenda é melhor que os fatos, imprima-se a lenda", não cola. Além disso, a explicação da "SciAm" está online há quase quatro anos. O que pode ser um sinal de que os mitos morrem devagar. Ou de que há consultores corporativos ocupados demais para usar o Google.

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(Curiosidade: as canetas espaciais têm até um site próprio, onde é possível ver os diversos modelos e preços. Infelizmente, da última vez que olhei, eles não faziam entregas para o Brasil).

Mas o cinema não tem o monopólio da realidade alternativa. O chamado "mundo corporativo", por exemplo, muitas vezes também me dá a impressão de existir em algum lugar além das quatro dimensões  usuais do espaçotempo. Não só pelos eufemismos semiorwellianos ("colaborador" no lugar de "empregado", "desafio" em vez de "problema" e o meu favorito, "monetizar o produto" no lugar de "ganhar dinheiro com essa tralha"), mas também por abraçar narrativas supostamente exemplares  que só são exemplos, mesmo, de má ficção.

Caso em tela: a história, repetida ad nauseam como exemplo de "foco na solução, não no problema", de "criatividade" ou de "combate ao desperdício", de que nos primórdios da corrida espacial a Nasa teria gasto milhões de dólares para criar uma canenta capaz de escrever em gravidade zero, enquanto que os soviéticos simplesmente usavam lápis. Pondo de lado a intrigante moral que se espera tirar disso -- a Nasa venceu a corrida espacial, ora bolas -- resta o fato de que isso simplesmente não é verdade.

 Foto: Estadão

Modelo da Fisher Spacepen, criada para funcionar no espaço sideral

A história toda pode ser encontrada neste artigo da Sicentific American, mas para encurtar a conversa: canetas dotadas de cartuchos de tinta pressurizados -- e que, portanto, não dependem da gravidade para fazer a tinta correr até a ponta -- foram criadas por uma empresa privada americana, que não só fornecia (e fornece) o produto para a Nasa como também exportava para o programa espacial soviético.

O curioso é que os fatos reais se prestam também à criação de uma boa fábula corporativa (senso de oportunidade, empreendedorismo, livre iniciativa, etc.); portanto, a velha desculpa de que "se a lenda é melhor que os fatos, imprima-se a lenda", não cola. Além disso, a explicação da "SciAm" está online há quase quatro anos. O que pode ser um sinal de que os mitos morrem devagar. Ou de que há consultores corporativos ocupados demais para usar o Google.

(Curiosidade: as canetas espaciais têm até um site próprio, onde é possível ver os diversos modelos e preços. Infelizmente, da última vez que olhei, eles não faziam entregas para o Brasil).

Mas o cinema não tem o monopólio da realidade alternativa. O chamado "mundo corporativo", por exemplo, muitas vezes também me dá a impressão de existir em algum lugar além das quatro dimensões  usuais do espaçotempo. Não só pelos eufemismos semiorwellianos ("colaborador" no lugar de "empregado", "desafio" em vez de "problema" e o meu favorito, "monetizar o produto" no lugar de "ganhar dinheiro com essa tralha"), mas também por abraçar narrativas supostamente exemplares  que só são exemplos, mesmo, de má ficção.

Caso em tela: a história, repetida ad nauseam como exemplo de "foco na solução, não no problema", de "criatividade" ou de "combate ao desperdício", de que nos primórdios da corrida espacial a Nasa teria gasto milhões de dólares para criar uma canenta capaz de escrever em gravidade zero, enquanto que os soviéticos simplesmente usavam lápis. Pondo de lado a intrigante moral que se espera tirar disso -- a Nasa venceu a corrida espacial, ora bolas -- resta o fato de que isso simplesmente não é verdade.

 Foto: Estadão

Modelo da Fisher Spacepen, criada para funcionar no espaço sideral

A história toda pode ser encontrada neste artigo da Sicentific American, mas para encurtar a conversa: canetas dotadas de cartuchos de tinta pressurizados -- e que, portanto, não dependem da gravidade para fazer a tinta correr até a ponta -- foram criadas por uma empresa privada americana, que não só fornecia (e fornece) o produto para a Nasa como também exportava para o programa espacial soviético.

O curioso é que os fatos reais se prestam também à criação de uma boa fábula corporativa (senso de oportunidade, empreendedorismo, livre iniciativa, etc.); portanto, a velha desculpa de que "se a lenda é melhor que os fatos, imprima-se a lenda", não cola. Além disso, a explicação da "SciAm" está online há quase quatro anos. O que pode ser um sinal de que os mitos morrem devagar. Ou de que há consultores corporativos ocupados demais para usar o Google.

(Curiosidade: as canetas espaciais têm até um site próprio, onde é possível ver os diversos modelos e preços. Infelizmente, da última vez que olhei, eles não faziam entregas para o Brasil).

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