Desde sua criação, em 1901, o Prêmio Nobel nunca premiou um brasileiro em suas seis diferentes categorias. Apesar disso, muitos brasileiros já foram indicados para consideração das instituições seletoras, alguns múltiplas vezes, e um deles é considerado “injustiçado” pela premiação: o físico Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido como César Lattes.
Em 1950, o inglês Cecil Powell recebeu o Prêmio Nobel de Física por “desenvolver o método fotográfico de estudo dos processos nucleares e descoberta de mésons feita com esse método”. Powell era o chefe do grupo de pesquisa da Universidade de Bristol responsável pelos estudos, que Lattes integrava, mas a descoberta da subpartícula méson pi, que faz com que os prótons e nêutrons se mantenham unidos dentro do átomo, é atribuída ao brasileiro.
Na época, a comunidade científica estava empenhada em descobrir como os núcleos dos átomos permaneciam com suas partículas agrupadas. Em 1946, César Lattes deixou o Departamento de Física da Universidade de São Paulo (USP), onde já estudava física atômica, para se juntar à equipe da universidade inglesa e trabalhar com os cientistas Cecil Powell e Giuseppe Occhialini na busca dessa resposta.
Ele acreditava que estudar os raios cósmicos, um tipo de radiação de partículas que viaja pelo espaço, seria mais eficiente do que usar um acelerador de partículas para desvendar a questão. Em um local de atitude elevada, as chances de conseguir fotografar esses raios seriam ainda maiores.
Então, depois de pedir para que o fabricante da emulsão das chapas fotográficas adicionasse mais do elemento químico boro na solução (era esperado que a substância fizesse as marcas registradas resistirem por mais tempo), ele partiu para os Andes bolivianos. No pico Chacaltaya, expôs as chapas aos raios cósmicos e, quando foram reveladas, elas mostraram a trajetória de uma nova partícula subatômica, responsável por intermediar a interação dos prótons e dos nêutrons e permitir que permaneçam unidos.
A partícula recebeu o nome de méson pi, e sua descoberta abriu caminho para o desenvolvimento de um novo campo de estudos: a física das partículas elementares. Em 1947, Lattes descreveu seu progresso em um artigo na revista científica Nature, com seus colegas de laboratório como coautores.
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Reconhecimento
César retornou ao Brasil em 1949 e se tornou um importante fomentador da ciência no País. Além de professor universitário por décadas, foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e desempenhou um papel importante na criação de iniciativas como o Conselho Nacional de Pesquisas (atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq), a Escola Latino-Americana de Física e o Centro Latino-Americano de Física.
O físico, que nasceu em Curitiba e se formou em Física e em Matemática na USP, teve sete indicações ao Prêmio Nobel nas edições de 1949, 1951, 1952, 1953 e 1954; todas feitas por pesquisadores de outros países. Embora nunca tenha sido um laureado, sua importância na comunidade científica foi reconhecida por premiações como o Prêmio Einstein (1950), Fonseca Costa (1958), Bernardo Houssay, da Organização dos Estados Americanos (OEA) (1978), e o prêmio da Academia de Ciência do Terceiro Mundo (TWAS), em 1988.
Ele também recebeu muitas homenagens no Brasil, a mais conhecida sendo o uso de seu nome no sistema nacional que cadastra estudantes, cientistas e pesquisadores de todas as áreas, a Plataforma Lattes. César Lattes morreu em 2005, aos 80 anos.