Um estudo feito por cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, sugere uma nova forma de classificar os planetas que pode mudar a maneira como conhecemos e nomeamos o que é descoberto no Universo.
Hoje, os critérios que definem o que é - ou não - um planeta foram estabelecidos pela União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês) em 2006, quando Plutão foi categorizado como um planeta-anão. Entre os requisitos, a entidade determinou que um corpo celeste só pode ser considerado um planeta se estiver no Sistema Solar e orbitar o Sol.
A proposta dos pesquisadores da universidade californiana agora é incluir, na categoria planetária, os chamados exoplanetas - também conhecidos como planetas extrassolares -, que orbitam estrelas de fora do sistema solar.
A sugestão destes novos parâmetros foi apresentada em artigo publicado na revista Planetary Science Journal, e será levada também para a Assembleia Geral da União Astronômica Internacional, marcada para agosto, na África do Sul.
Não é garantia de que a proposta será aceita pela IAU, entidade responsável pelas classificações dos objetos no espaço. Mudar os critérios da taxinomia planetária requer discussões entre os especialistas e pode levar anos para uma definição. A esperança dos autores do estudo, ao menos, é que o artigo provoque o debate.
As reclassificações, ou atualizações dos critérios, são um procedimento comum ao longo da história e servem para organizar os corpos celestes em famílias e grupos a partir de suas características.
A medida facilita o estudo dos especialistas e a compressão dos elementos que estão no espaço. E são realizadas na medida em que a ciência avança e desvenda novas propriedades sobre aquilo que existe no Universo.
É o caso, por exemplo, de Plutão, que deixou de ser um planeta em 2006 em função dos novos critérios adotados pela IAU. Por conta de suas propriedades, passou a ser classificado como um planeta-anão (entenda mais abaixo).
“Atualmente, o primeiro requisito formal para ser planeta é orbitar o Sol; não qualquer uma das bilhões de estrelas que vivem na galáxia, mas exclusivamente o Sol”, explica Roberto Costa, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).
“O que eles estão propondo é expandir essa definição de maneira que ela sirva para planetas em torno de outras estrelas, os chamados planetas extrassolares”, acrescenta o docente.
O atuais critérios de classificação
O sistema atual da IAU adota três critérios para considerar o que se trata de um planeta:
- Estar no sistema solar e orbitar o Sol;
- Atingir o equilíbrio gravitacional hidrostático - o que na prática significa ter uma forma esférica ou próxima disso;
- Ter dominância orbital - o corpo celeste deve estar sozinho ou ser o elemento dominante na sua órbita em torno do Sol.
No artigo, os pesquisadores da Universidade da Califórnia descrevem que este método é “problemático” por ser excludente e muito restritivo, sobretudo quando a astronomia avança na descoberta, cada vez mais intensa, de novos planetas fora do sistema solar.
Além disso, argumentam que o conceito de dominância orbital é “vago” e que o critério de ser esférico também é falho, uma vez que os corpos celestes mais distantes dificilmente podem ser observados com precisão - o que torna difícil saber a forma exata que assumem.
“A definição atual menciona especificamente orbitar nosso sol. Agora sabemos sobre a existência de milhares de planetas, mas a definição da IAU se aplica apenas aos do nosso sistema solar”, afirma Jean-Luc Margot, principal autor do artigo e professor de ciências terrestres, planetárias e espaciais e de física e astronomia da Universidade da Califórnia.
“O que estamos propondo é uma nova definição que pode ser aplicada a corpos celestes que orbitam qualquer estrela”, acrescenta.
Quais são os critérios sugeridos pelos autores?
Além de defenderem a inclusão de exoplanetas dentro da categoria, os pesquisadores da Universidade da Califórnia sugerem uma atualização da taxonomia planetária a partir de critérios mais quantitativos e mensuráveis, como a massa (kg).
Para se chegar a estes critérios, os cientistas executaram um algoritmo matemático nas propriedades de objetos do sistema solar para ver quais objetos se agrupavam.
Com isso, estabeleceram que, para ser planeta, é necessário:
- Orbitar uma ou mais estrelas, anãs marrons ou remanescentes estelares;
- Ser mais massivo que 10 ²³ kg;
- Ser menos massivo que 13 massas de Júpiter (2,5 X 10²⁸ kg).
“Ter definições ancoradas na quantidade mais facilmente mensurável, como a massa, remove argumentos sobre se um objeto específico atende ou não ao critério”, diz Bratt Gladman, um dos autores do estudo.
Descoberta de novos planetas
De acordo com Roberto Costa, docente da USP, existem hoje cerca de 5,6 mil a 5,7 mil planetas extrassolares catalogados, mas com a certeza de que o número “é infinitamente maior”.
Ele explica que os pesquisadores estão conseguindo descobrir esse tipo de corpo celeste de forma mais rápida e intensa a cada ano. Por isso, ele acredita que estender a definição de planeta para os objetos fora do sistema solar é “oportuno”.
“Essas reclassificações periódicas são necessárias porque vão no sentido de aprimorar a descrição da realidade física. A ciência funciona assim”, afirma o professor.
“Na prática, isso vai facilitar posteriormente a elaboração de modelos mais precisos de como os planetas e sistemas planetários se formam, e de como eles evoluem em termos do movimento que fazem em torno das estrelas”, completa Costa.
Plutão pode voltar a ser planeta?
A partir dos critérios sugeridos pelos cientistas da Universidade da Califórnia, a resposta é não. Apesar de estar no sistema solar e ser esférico, Plutão deixou de ser um planeta em 2006 por causa da sua falta de dominância orbital, um dos critérios adotados pela IAU para a classificar um corpo celeste como planeta.
A dominância orbital, explica Roberto Costa, significa que o elemento espacial “deve estar sozinho na sua órbita em torno do sol” ou então ser o corpo dominante dentro desta órbita.
“Não é o caso de Plutão”, diz. “Plutão tem vários corpos que orbitam em órbitas parecidas com as dele em torno do Sol. Ele não é o corpo dominante na sua órbita, e, por isso, foi colocado a ele o carimbo de um planeta anão”.
Como os novos critérios sugeridos incluem a massa do corpo celeste - ser mais massivo que 10 ²³ kg e menos massivo que 13 massas de Júpiter - , Plutão não voltaria à prateleira dos planetas por “ser leve demais”.
“Essa fronteira de 10²³ kg continua sendo uma massa bem maior que a massa de plutão, centenas de vezes”, disse Roberto Costa.