Camundongos com amnésia têm memória reativada por cientistas


Estudo demonstra que a amnésia é apenas um bloqueio no acesso às memórias, que não se perdem definitivamente

Por Fabio de Castro

As memórias apagadas por uma amnésia não se perdem para sempre, mas ficam apenas inacessíveis e podem ser recuperadas, de acordo com uma nova pesquisa publicada nesta quinta-feira, 28, na revista Science. Em um experimento com camundongos, os autores do estudo conseguiram fazer com que os animais recuperassem memórias que haviam sido apagadas. O feito foi possível graças à optogenética, uma técnica que permite utilizar luz para reativar certos complexos de neurônios - os engramas - que normalmente entram em ação quando as memórias são codificadas.   Há anos, os neurocientistas debatem se a amnésia retrógrada - que ocorre após eventos traumáticos, estresse, ou doenças como a de Alzheimer - é simplesmente uma incapacidade para acessar memórias e recuperá-las, ou se é uma consequência de danos irreversíveis em células do cérebro responsáveis por seu armazenamento, o que tornaria sua recuperação impossível. A resposta finalmente foi encontrada, de acordo com o estudo liderado por Susumu Tonegawa, professor do Departamento de Biologia do MIT (Estados Unidos) e diretor do Instituto Riken de Ciências do Cérebro (Japão). 

Em experimento com camundongos, pesquisadores conseguiram fazer com que os animais recuperassem memórias apagadas Foto: Reuters

"A maior parte dos pesquisadores defendia a teoria do problema de armazenamento, mas nós mostramos nesse artigo que essa teoria da maioria provavelmente está errada. A amnésia é um problema de deficiência de recuperação", disse Tonegawa, que ganhou um prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, em 1987, por descobrir princípios genéticos que geram a diversidade dos anticorpos.

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Para deixar os camundongos com amnésia, os cientistas treinaram os animais para associar um leve choque nas patas ao ambiente específico de uma câmara. Uma luz era acesa no momento em que o camundongo levava o choque, provocando nele uma típica atitude de "congelamento". Quando era levado à câmara e a luz se acendia, o camundongo "congelava" mesmo sem o choque, demonstrando que o animal havia armazenado uma memória ligada ao medo. Os neurônios ativados durante a formação da memória foram marcados geneticamente para permitir sua visualização e reativação. 

Os camundongos receberam então uma injeção de um composto que inibe a síntese de novas proteínas, para impedir que os neurônios dos engramas fortalecessem suas sinapses. A visualização dos neurônios comprovou que suas sinapses enfraqueceram, levando à amnésia. Como era esperado, os animais reconduzidos à câmara não ficavam "congelados", o que significa que eles não conseguiam mais recuperar a memória da associação entre o ambiente e o choque.

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Para saber se a memória armazenada havia sido eliminada completamente, ou se podia ser recuperada, os cientistas usaram a técnica optogenética: eles usaram um vírus para introduzir no cérebro dos camundongos, de forma seletiva, nos conjuntos de neurônios desejados, um gene que codifica proteínas sensíveis à luz azul. Por meio de um eletrodo instalado no crânio do animal, os pesquisadores ativaram os engramas com pulsos de luz azul dirigidos a esses conjuntos de neurônios. A partir daí, o camundongo "congelava" ao ser introduzido na câmara, indicando que havia recuperado a memória.

"Nossa conclusão é que, na amnésia retrógrada, as memórias passadas podem não ser apagadas, mas ser apenas perdidas, ficando inacessíveis para recuperação. Essa descoberta deverá estimular pesquisas futuras em biologia da memória e restauração clínica", disse Tonegawa.

De acordo com o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o estudo é mais uma importante contribuição do laboratório de Tonegawa ao avanço do conhecimento sobre a memória. "Isso é bastante novo, há poucas pessoas conseguindo fazer esse tipo de experimento. Há 60 anos a ciência trabalha com a hipótese de que memórias são codificadas por certas assembleias de neurônios. Usando a optogenética, eles conseguiram ativar assembleias neuronais específicas", disse Ribeiro. 

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Segundo ele, Tonegawa tem demonstrado em estudos recentes que é possível implantar no cérebro memórias artificiais de eventos que nunca ocorreram. "Nesse caso, ele demonstrou o contrário, que é possível reativar uma memória já apagada. Ele está provando experimentalmente algo que um cientista como Donald Hebb postulava desde 1949. No fundo, a memória não é o que o animal de fato viveu, mas sim o que ele acha que viveu, a partir das conexões que os neurônios fazem com circuitos relacionados a medo, dor e recompensa". 

De acordo com Ribeiro, mesmo já tendo sido agraciado com o prêmio Nobel, Tonegawa continua fazendo um trabalho cada vez mais relevante. "Há dez anos ele publica anualmente três ou quatro estudos de um nível científico incrível", declarou o brasileiro.

As memórias apagadas por uma amnésia não se perdem para sempre, mas ficam apenas inacessíveis e podem ser recuperadas, de acordo com uma nova pesquisa publicada nesta quinta-feira, 28, na revista Science. Em um experimento com camundongos, os autores do estudo conseguiram fazer com que os animais recuperassem memórias que haviam sido apagadas. O feito foi possível graças à optogenética, uma técnica que permite utilizar luz para reativar certos complexos de neurônios - os engramas - que normalmente entram em ação quando as memórias são codificadas.   Há anos, os neurocientistas debatem se a amnésia retrógrada - que ocorre após eventos traumáticos, estresse, ou doenças como a de Alzheimer - é simplesmente uma incapacidade para acessar memórias e recuperá-las, ou se é uma consequência de danos irreversíveis em células do cérebro responsáveis por seu armazenamento, o que tornaria sua recuperação impossível. A resposta finalmente foi encontrada, de acordo com o estudo liderado por Susumu Tonegawa, professor do Departamento de Biologia do MIT (Estados Unidos) e diretor do Instituto Riken de Ciências do Cérebro (Japão). 

Em experimento com camundongos, pesquisadores conseguiram fazer com que os animais recuperassem memórias apagadas Foto: Reuters

"A maior parte dos pesquisadores defendia a teoria do problema de armazenamento, mas nós mostramos nesse artigo que essa teoria da maioria provavelmente está errada. A amnésia é um problema de deficiência de recuperação", disse Tonegawa, que ganhou um prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, em 1987, por descobrir princípios genéticos que geram a diversidade dos anticorpos.

Para deixar os camundongos com amnésia, os cientistas treinaram os animais para associar um leve choque nas patas ao ambiente específico de uma câmara. Uma luz era acesa no momento em que o camundongo levava o choque, provocando nele uma típica atitude de "congelamento". Quando era levado à câmara e a luz se acendia, o camundongo "congelava" mesmo sem o choque, demonstrando que o animal havia armazenado uma memória ligada ao medo. Os neurônios ativados durante a formação da memória foram marcados geneticamente para permitir sua visualização e reativação. 

Os camundongos receberam então uma injeção de um composto que inibe a síntese de novas proteínas, para impedir que os neurônios dos engramas fortalecessem suas sinapses. A visualização dos neurônios comprovou que suas sinapses enfraqueceram, levando à amnésia. Como era esperado, os animais reconduzidos à câmara não ficavam "congelados", o que significa que eles não conseguiam mais recuperar a memória da associação entre o ambiente e o choque.

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Para saber se a memória armazenada havia sido eliminada completamente, ou se podia ser recuperada, os cientistas usaram a técnica optogenética: eles usaram um vírus para introduzir no cérebro dos camundongos, de forma seletiva, nos conjuntos de neurônios desejados, um gene que codifica proteínas sensíveis à luz azul. Por meio de um eletrodo instalado no crânio do animal, os pesquisadores ativaram os engramas com pulsos de luz azul dirigidos a esses conjuntos de neurônios. A partir daí, o camundongo "congelava" ao ser introduzido na câmara, indicando que havia recuperado a memória.

"Nossa conclusão é que, na amnésia retrógrada, as memórias passadas podem não ser apagadas, mas ser apenas perdidas, ficando inacessíveis para recuperação. Essa descoberta deverá estimular pesquisas futuras em biologia da memória e restauração clínica", disse Tonegawa.

De acordo com o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o estudo é mais uma importante contribuição do laboratório de Tonegawa ao avanço do conhecimento sobre a memória. "Isso é bastante novo, há poucas pessoas conseguindo fazer esse tipo de experimento. Há 60 anos a ciência trabalha com a hipótese de que memórias são codificadas por certas assembleias de neurônios. Usando a optogenética, eles conseguiram ativar assembleias neuronais específicas", disse Ribeiro. 

Segundo ele, Tonegawa tem demonstrado em estudos recentes que é possível implantar no cérebro memórias artificiais de eventos que nunca ocorreram. "Nesse caso, ele demonstrou o contrário, que é possível reativar uma memória já apagada. Ele está provando experimentalmente algo que um cientista como Donald Hebb postulava desde 1949. No fundo, a memória não é o que o animal de fato viveu, mas sim o que ele acha que viveu, a partir das conexões que os neurônios fazem com circuitos relacionados a medo, dor e recompensa". 

De acordo com Ribeiro, mesmo já tendo sido agraciado com o prêmio Nobel, Tonegawa continua fazendo um trabalho cada vez mais relevante. "Há dez anos ele publica anualmente três ou quatro estudos de um nível científico incrível", declarou o brasileiro.

As memórias apagadas por uma amnésia não se perdem para sempre, mas ficam apenas inacessíveis e podem ser recuperadas, de acordo com uma nova pesquisa publicada nesta quinta-feira, 28, na revista Science. Em um experimento com camundongos, os autores do estudo conseguiram fazer com que os animais recuperassem memórias que haviam sido apagadas. O feito foi possível graças à optogenética, uma técnica que permite utilizar luz para reativar certos complexos de neurônios - os engramas - que normalmente entram em ação quando as memórias são codificadas.   Há anos, os neurocientistas debatem se a amnésia retrógrada - que ocorre após eventos traumáticos, estresse, ou doenças como a de Alzheimer - é simplesmente uma incapacidade para acessar memórias e recuperá-las, ou se é uma consequência de danos irreversíveis em células do cérebro responsáveis por seu armazenamento, o que tornaria sua recuperação impossível. A resposta finalmente foi encontrada, de acordo com o estudo liderado por Susumu Tonegawa, professor do Departamento de Biologia do MIT (Estados Unidos) e diretor do Instituto Riken de Ciências do Cérebro (Japão). 

Em experimento com camundongos, pesquisadores conseguiram fazer com que os animais recuperassem memórias apagadas Foto: Reuters

"A maior parte dos pesquisadores defendia a teoria do problema de armazenamento, mas nós mostramos nesse artigo que essa teoria da maioria provavelmente está errada. A amnésia é um problema de deficiência de recuperação", disse Tonegawa, que ganhou um prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, em 1987, por descobrir princípios genéticos que geram a diversidade dos anticorpos.

Para deixar os camundongos com amnésia, os cientistas treinaram os animais para associar um leve choque nas patas ao ambiente específico de uma câmara. Uma luz era acesa no momento em que o camundongo levava o choque, provocando nele uma típica atitude de "congelamento". Quando era levado à câmara e a luz se acendia, o camundongo "congelava" mesmo sem o choque, demonstrando que o animal havia armazenado uma memória ligada ao medo. Os neurônios ativados durante a formação da memória foram marcados geneticamente para permitir sua visualização e reativação. 

Os camundongos receberam então uma injeção de um composto que inibe a síntese de novas proteínas, para impedir que os neurônios dos engramas fortalecessem suas sinapses. A visualização dos neurônios comprovou que suas sinapses enfraqueceram, levando à amnésia. Como era esperado, os animais reconduzidos à câmara não ficavam "congelados", o que significa que eles não conseguiam mais recuperar a memória da associação entre o ambiente e o choque.

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Para saber se a memória armazenada havia sido eliminada completamente, ou se podia ser recuperada, os cientistas usaram a técnica optogenética: eles usaram um vírus para introduzir no cérebro dos camundongos, de forma seletiva, nos conjuntos de neurônios desejados, um gene que codifica proteínas sensíveis à luz azul. Por meio de um eletrodo instalado no crânio do animal, os pesquisadores ativaram os engramas com pulsos de luz azul dirigidos a esses conjuntos de neurônios. A partir daí, o camundongo "congelava" ao ser introduzido na câmara, indicando que havia recuperado a memória.

"Nossa conclusão é que, na amnésia retrógrada, as memórias passadas podem não ser apagadas, mas ser apenas perdidas, ficando inacessíveis para recuperação. Essa descoberta deverá estimular pesquisas futuras em biologia da memória e restauração clínica", disse Tonegawa.

De acordo com o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o estudo é mais uma importante contribuição do laboratório de Tonegawa ao avanço do conhecimento sobre a memória. "Isso é bastante novo, há poucas pessoas conseguindo fazer esse tipo de experimento. Há 60 anos a ciência trabalha com a hipótese de que memórias são codificadas por certas assembleias de neurônios. Usando a optogenética, eles conseguiram ativar assembleias neuronais específicas", disse Ribeiro. 

Segundo ele, Tonegawa tem demonstrado em estudos recentes que é possível implantar no cérebro memórias artificiais de eventos que nunca ocorreram. "Nesse caso, ele demonstrou o contrário, que é possível reativar uma memória já apagada. Ele está provando experimentalmente algo que um cientista como Donald Hebb postulava desde 1949. No fundo, a memória não é o que o animal de fato viveu, mas sim o que ele acha que viveu, a partir das conexões que os neurônios fazem com circuitos relacionados a medo, dor e recompensa". 

De acordo com Ribeiro, mesmo já tendo sido agraciado com o prêmio Nobel, Tonegawa continua fazendo um trabalho cada vez mais relevante. "Há dez anos ele publica anualmente três ou quatro estudos de um nível científico incrível", declarou o brasileiro.

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