Cientistas ressuscitam verme de 46 mil anos congelado no subsolo da Sibéria


Espécime de nematóide, cujo tempo de vida costuma ser de um a dois meses, agora está se movendo, se alimentando e se reproduzindo em laboratório

Por Carolyn Y. Johnson

Um verme microscópico do gênero feminino que passou os últimos 46 mil anos em animação suspensa nas profundezas do gelo da Sibéria foi revivido e começou a ter filhotes em um prato de laboratório.

Ao sequenciar o genoma dessa lombriga Rip van Winkle, os cientistas descobriram que ela se trata de uma nova espécie de nematóide, a qual foi descrita em um estudo publicado no periódico PLOS Genetics. Os nematóides estão hoje entre os organismos mais onipresentes do planeta Terra, habitando o solo, a água e o fundo do mar.

“A grande maioria das espécies de nematóides ainda não foram descritas”, escreveu por e-mail William Crow, nematologista da Universidade da Flórida que não estava envolvido no estudo. “Entretanto, isso bem poderia ser uma nematóide de ocorrência comum que ninguém chegou a descrever ainda.”

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Cientistas recuperaram solo de 46 mil anos de uma toca incrustada no permafrost siberiano, à esquerda. Quando eles descongelaram, foram capazes de reviver P. kolymaensis, uma espécie de nematóide recém-descrita Foto: Shatilovich et al 2023, PLOS Genetics

Além do fator “surpresa” de um nematóide viajante do tempo, há uma razão prática para estudar como essas criaturas minúsculas e encaracoladas ficam dormentes para sobreviverem a ambientes extremos, disse Philipp Schiffer, líder do Instituto de Zoologia na Universidade de Cologne e um dos autores do estudo.

Trabalhos como esse podem revelar mais sobre como, a nível molecular, os animais conseguem se adaptar às mudanças de habitat graças à crescente temperatura global e às mudanças de padrões climáticos.

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“Precisamos saber como as espécies se adaptam aos extremos através da evolução para talvez ajudarmos as espécies vivas hoje e também os humanos”, escreveu Schiffer em um e-mail.

Os cientistas sabem há muito tempo que algumas criaturas microscópicas são capazes de “pausar” a vida para sobreviverem em ambientes hostis, caindo no mais profundo dos sonos ao desacelerarem seus metabolismos até níveis indetectáveis, em um processo chamado criptobiose.

Ainda em 1936, um crustáceo em bom estado de conservação e com muitos milhares de anos foi descoberto sob o gelo do Lago Baikal, na Rússia. Em 2021, pesquisadores anunciaram que tinham ressuscitado bdelóides rotíferos, animais multicelulares microscópicos, depois de eles passarem 24 mil anos congelados na Sibéria.

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O recorde de ressuscitação anterior a um nematóide pertencia a uma espécie da Antártica que voltou a se contorcer depois de apenas algumas dúzias de anos.

Essa nova espécie de nematóide, batizada Panagrolaimus kolymaensis, quebra o recorde de dormência por dezenas de milhares de anos. O solo congelado onde o nematóide estava escondido veio de um buraco de esquilo ancestral, que foi escavado cerca de 40 metros abaixo da superfície. Os cientistas utilizaram datação por radiocarbono para determinar que o solo tinha 46 mil anos de idade.

“A era pela qual ele sobreviveu é uma das coisas chocantes”, disse Gregory Copenhaver, um dos subeditores do PLOS Genetics e diretor do Instituto de Ciência Convergente na Universidade da Carolina do Norte. Os últimos 46 mil anos chegam até a era geológica anterior, chamada Pleistoceno, ele observou, e “esse único organismo, o indivíduo que de fato foi encontrado, está vivo ao longo desse período de tempo”.

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A receita para reviver essas criaturas é bem simples, disse Schiffer. Pesquisadores descongelaram o solo, tomando cuidado para não aquecê-lo muito rápido e evitando assim cozinhar o nematóide. As minhocas então começaram a se contorcer, comendo bactérias em um prato de laboratório e se reproduzindo.

Pesquisadores continuaram a criar mais de 100 gerações a partir desse único nematóide, que se reproduz sem a necessidade de um parceiro graças a um processo chamado partenogênese.

Mas o que intriga os cientistas não é apenas a idade do espécime, mas como ele entra em um estado de limbo.

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Através de experimento, eles descobriram que, como qualquer outro verme microscópico, C. elegans, a nova espécie de nematóide sobrevive melhor ao congelamento e à secura se for exposta a condições levemente desidratantes antes do congelamento profundo. Durante esse período de pré-condicionamento, os nematóides começam a liberar um açúcar chamado trealose, que pode estar envolvida em proteger seu DNA, células e proteínas da degradação.

Coautor do estudo, Teymuras Kurzchalia, professor emérito do Instituto Max Planck de Biologia Molecular Celular e Genética, disse que os esforços em desvendar quais proteínas são necessários para esse processo ainda continuam, utilizando ferramentas que podem silenciar ou derrubar os genes.

“Ainda temos muito a aprender sobre os mecanismos de tolerância à dissecação”, disse Kurzchalia.

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Os pesquisadores também estão curiosos sobre se já algum limite ou por quanto tempo um organismo pode sobreviver e ser ressuscitado, e o que significa para a evolução e até a noção de extinção se os animais que normalmente vivem, se reproduzem e morrem em um período de semanas pudessem alongar suas existências por séculos ou milênios.

O tempo de vida normal da espécie nematóide de 46 mil anos costuma ser de apenas um ou dois meses.

“Podemos dizer que eles estão vivos, porque se movem, comem bactérias nos pratos laboratoriais e se reproduzem”, disse Schiffer. / THE WASHINGTON POST

Um verme microscópico do gênero feminino que passou os últimos 46 mil anos em animação suspensa nas profundezas do gelo da Sibéria foi revivido e começou a ter filhotes em um prato de laboratório.

Ao sequenciar o genoma dessa lombriga Rip van Winkle, os cientistas descobriram que ela se trata de uma nova espécie de nematóide, a qual foi descrita em um estudo publicado no periódico PLOS Genetics. Os nematóides estão hoje entre os organismos mais onipresentes do planeta Terra, habitando o solo, a água e o fundo do mar.

“A grande maioria das espécies de nematóides ainda não foram descritas”, escreveu por e-mail William Crow, nematologista da Universidade da Flórida que não estava envolvido no estudo. “Entretanto, isso bem poderia ser uma nematóide de ocorrência comum que ninguém chegou a descrever ainda.”

Cientistas recuperaram solo de 46 mil anos de uma toca incrustada no permafrost siberiano, à esquerda. Quando eles descongelaram, foram capazes de reviver P. kolymaensis, uma espécie de nematóide recém-descrita Foto: Shatilovich et al 2023, PLOS Genetics

Além do fator “surpresa” de um nematóide viajante do tempo, há uma razão prática para estudar como essas criaturas minúsculas e encaracoladas ficam dormentes para sobreviverem a ambientes extremos, disse Philipp Schiffer, líder do Instituto de Zoologia na Universidade de Cologne e um dos autores do estudo.

Trabalhos como esse podem revelar mais sobre como, a nível molecular, os animais conseguem se adaptar às mudanças de habitat graças à crescente temperatura global e às mudanças de padrões climáticos.

“Precisamos saber como as espécies se adaptam aos extremos através da evolução para talvez ajudarmos as espécies vivas hoje e também os humanos”, escreveu Schiffer em um e-mail.

Os cientistas sabem há muito tempo que algumas criaturas microscópicas são capazes de “pausar” a vida para sobreviverem em ambientes hostis, caindo no mais profundo dos sonos ao desacelerarem seus metabolismos até níveis indetectáveis, em um processo chamado criptobiose.

Ainda em 1936, um crustáceo em bom estado de conservação e com muitos milhares de anos foi descoberto sob o gelo do Lago Baikal, na Rússia. Em 2021, pesquisadores anunciaram que tinham ressuscitado bdelóides rotíferos, animais multicelulares microscópicos, depois de eles passarem 24 mil anos congelados na Sibéria.

O recorde de ressuscitação anterior a um nematóide pertencia a uma espécie da Antártica que voltou a se contorcer depois de apenas algumas dúzias de anos.

Essa nova espécie de nematóide, batizada Panagrolaimus kolymaensis, quebra o recorde de dormência por dezenas de milhares de anos. O solo congelado onde o nematóide estava escondido veio de um buraco de esquilo ancestral, que foi escavado cerca de 40 metros abaixo da superfície. Os cientistas utilizaram datação por radiocarbono para determinar que o solo tinha 46 mil anos de idade.

“A era pela qual ele sobreviveu é uma das coisas chocantes”, disse Gregory Copenhaver, um dos subeditores do PLOS Genetics e diretor do Instituto de Ciência Convergente na Universidade da Carolina do Norte. Os últimos 46 mil anos chegam até a era geológica anterior, chamada Pleistoceno, ele observou, e “esse único organismo, o indivíduo que de fato foi encontrado, está vivo ao longo desse período de tempo”.

A receita para reviver essas criaturas é bem simples, disse Schiffer. Pesquisadores descongelaram o solo, tomando cuidado para não aquecê-lo muito rápido e evitando assim cozinhar o nematóide. As minhocas então começaram a se contorcer, comendo bactérias em um prato de laboratório e se reproduzindo.

Pesquisadores continuaram a criar mais de 100 gerações a partir desse único nematóide, que se reproduz sem a necessidade de um parceiro graças a um processo chamado partenogênese.

Mas o que intriga os cientistas não é apenas a idade do espécime, mas como ele entra em um estado de limbo.

Através de experimento, eles descobriram que, como qualquer outro verme microscópico, C. elegans, a nova espécie de nematóide sobrevive melhor ao congelamento e à secura se for exposta a condições levemente desidratantes antes do congelamento profundo. Durante esse período de pré-condicionamento, os nematóides começam a liberar um açúcar chamado trealose, que pode estar envolvida em proteger seu DNA, células e proteínas da degradação.

Coautor do estudo, Teymuras Kurzchalia, professor emérito do Instituto Max Planck de Biologia Molecular Celular e Genética, disse que os esforços em desvendar quais proteínas são necessários para esse processo ainda continuam, utilizando ferramentas que podem silenciar ou derrubar os genes.

“Ainda temos muito a aprender sobre os mecanismos de tolerância à dissecação”, disse Kurzchalia.

Os pesquisadores também estão curiosos sobre se já algum limite ou por quanto tempo um organismo pode sobreviver e ser ressuscitado, e o que significa para a evolução e até a noção de extinção se os animais que normalmente vivem, se reproduzem e morrem em um período de semanas pudessem alongar suas existências por séculos ou milênios.

O tempo de vida normal da espécie nematóide de 46 mil anos costuma ser de apenas um ou dois meses.

“Podemos dizer que eles estão vivos, porque se movem, comem bactérias nos pratos laboratoriais e se reproduzem”, disse Schiffer. / THE WASHINGTON POST

Um verme microscópico do gênero feminino que passou os últimos 46 mil anos em animação suspensa nas profundezas do gelo da Sibéria foi revivido e começou a ter filhotes em um prato de laboratório.

Ao sequenciar o genoma dessa lombriga Rip van Winkle, os cientistas descobriram que ela se trata de uma nova espécie de nematóide, a qual foi descrita em um estudo publicado no periódico PLOS Genetics. Os nematóides estão hoje entre os organismos mais onipresentes do planeta Terra, habitando o solo, a água e o fundo do mar.

“A grande maioria das espécies de nematóides ainda não foram descritas”, escreveu por e-mail William Crow, nematologista da Universidade da Flórida que não estava envolvido no estudo. “Entretanto, isso bem poderia ser uma nematóide de ocorrência comum que ninguém chegou a descrever ainda.”

Cientistas recuperaram solo de 46 mil anos de uma toca incrustada no permafrost siberiano, à esquerda. Quando eles descongelaram, foram capazes de reviver P. kolymaensis, uma espécie de nematóide recém-descrita Foto: Shatilovich et al 2023, PLOS Genetics

Além do fator “surpresa” de um nematóide viajante do tempo, há uma razão prática para estudar como essas criaturas minúsculas e encaracoladas ficam dormentes para sobreviverem a ambientes extremos, disse Philipp Schiffer, líder do Instituto de Zoologia na Universidade de Cologne e um dos autores do estudo.

Trabalhos como esse podem revelar mais sobre como, a nível molecular, os animais conseguem se adaptar às mudanças de habitat graças à crescente temperatura global e às mudanças de padrões climáticos.

“Precisamos saber como as espécies se adaptam aos extremos através da evolução para talvez ajudarmos as espécies vivas hoje e também os humanos”, escreveu Schiffer em um e-mail.

Os cientistas sabem há muito tempo que algumas criaturas microscópicas são capazes de “pausar” a vida para sobreviverem em ambientes hostis, caindo no mais profundo dos sonos ao desacelerarem seus metabolismos até níveis indetectáveis, em um processo chamado criptobiose.

Ainda em 1936, um crustáceo em bom estado de conservação e com muitos milhares de anos foi descoberto sob o gelo do Lago Baikal, na Rússia. Em 2021, pesquisadores anunciaram que tinham ressuscitado bdelóides rotíferos, animais multicelulares microscópicos, depois de eles passarem 24 mil anos congelados na Sibéria.

O recorde de ressuscitação anterior a um nematóide pertencia a uma espécie da Antártica que voltou a se contorcer depois de apenas algumas dúzias de anos.

Essa nova espécie de nematóide, batizada Panagrolaimus kolymaensis, quebra o recorde de dormência por dezenas de milhares de anos. O solo congelado onde o nematóide estava escondido veio de um buraco de esquilo ancestral, que foi escavado cerca de 40 metros abaixo da superfície. Os cientistas utilizaram datação por radiocarbono para determinar que o solo tinha 46 mil anos de idade.

“A era pela qual ele sobreviveu é uma das coisas chocantes”, disse Gregory Copenhaver, um dos subeditores do PLOS Genetics e diretor do Instituto de Ciência Convergente na Universidade da Carolina do Norte. Os últimos 46 mil anos chegam até a era geológica anterior, chamada Pleistoceno, ele observou, e “esse único organismo, o indivíduo que de fato foi encontrado, está vivo ao longo desse período de tempo”.

A receita para reviver essas criaturas é bem simples, disse Schiffer. Pesquisadores descongelaram o solo, tomando cuidado para não aquecê-lo muito rápido e evitando assim cozinhar o nematóide. As minhocas então começaram a se contorcer, comendo bactérias em um prato de laboratório e se reproduzindo.

Pesquisadores continuaram a criar mais de 100 gerações a partir desse único nematóide, que se reproduz sem a necessidade de um parceiro graças a um processo chamado partenogênese.

Mas o que intriga os cientistas não é apenas a idade do espécime, mas como ele entra em um estado de limbo.

Através de experimento, eles descobriram que, como qualquer outro verme microscópico, C. elegans, a nova espécie de nematóide sobrevive melhor ao congelamento e à secura se for exposta a condições levemente desidratantes antes do congelamento profundo. Durante esse período de pré-condicionamento, os nematóides começam a liberar um açúcar chamado trealose, que pode estar envolvida em proteger seu DNA, células e proteínas da degradação.

Coautor do estudo, Teymuras Kurzchalia, professor emérito do Instituto Max Planck de Biologia Molecular Celular e Genética, disse que os esforços em desvendar quais proteínas são necessários para esse processo ainda continuam, utilizando ferramentas que podem silenciar ou derrubar os genes.

“Ainda temos muito a aprender sobre os mecanismos de tolerância à dissecação”, disse Kurzchalia.

Os pesquisadores também estão curiosos sobre se já algum limite ou por quanto tempo um organismo pode sobreviver e ser ressuscitado, e o que significa para a evolução e até a noção de extinção se os animais que normalmente vivem, se reproduzem e morrem em um período de semanas pudessem alongar suas existências por séculos ou milênios.

O tempo de vida normal da espécie nematóide de 46 mil anos costuma ser de apenas um ou dois meses.

“Podemos dizer que eles estão vivos, porque se movem, comem bactérias nos pratos laboratoriais e se reproduzem”, disse Schiffer. / THE WASHINGTON POST

Um verme microscópico do gênero feminino que passou os últimos 46 mil anos em animação suspensa nas profundezas do gelo da Sibéria foi revivido e começou a ter filhotes em um prato de laboratório.

Ao sequenciar o genoma dessa lombriga Rip van Winkle, os cientistas descobriram que ela se trata de uma nova espécie de nematóide, a qual foi descrita em um estudo publicado no periódico PLOS Genetics. Os nematóides estão hoje entre os organismos mais onipresentes do planeta Terra, habitando o solo, a água e o fundo do mar.

“A grande maioria das espécies de nematóides ainda não foram descritas”, escreveu por e-mail William Crow, nematologista da Universidade da Flórida que não estava envolvido no estudo. “Entretanto, isso bem poderia ser uma nematóide de ocorrência comum que ninguém chegou a descrever ainda.”

Cientistas recuperaram solo de 46 mil anos de uma toca incrustada no permafrost siberiano, à esquerda. Quando eles descongelaram, foram capazes de reviver P. kolymaensis, uma espécie de nematóide recém-descrita Foto: Shatilovich et al 2023, PLOS Genetics

Além do fator “surpresa” de um nematóide viajante do tempo, há uma razão prática para estudar como essas criaturas minúsculas e encaracoladas ficam dormentes para sobreviverem a ambientes extremos, disse Philipp Schiffer, líder do Instituto de Zoologia na Universidade de Cologne e um dos autores do estudo.

Trabalhos como esse podem revelar mais sobre como, a nível molecular, os animais conseguem se adaptar às mudanças de habitat graças à crescente temperatura global e às mudanças de padrões climáticos.

“Precisamos saber como as espécies se adaptam aos extremos através da evolução para talvez ajudarmos as espécies vivas hoje e também os humanos”, escreveu Schiffer em um e-mail.

Os cientistas sabem há muito tempo que algumas criaturas microscópicas são capazes de “pausar” a vida para sobreviverem em ambientes hostis, caindo no mais profundo dos sonos ao desacelerarem seus metabolismos até níveis indetectáveis, em um processo chamado criptobiose.

Ainda em 1936, um crustáceo em bom estado de conservação e com muitos milhares de anos foi descoberto sob o gelo do Lago Baikal, na Rússia. Em 2021, pesquisadores anunciaram que tinham ressuscitado bdelóides rotíferos, animais multicelulares microscópicos, depois de eles passarem 24 mil anos congelados na Sibéria.

O recorde de ressuscitação anterior a um nematóide pertencia a uma espécie da Antártica que voltou a se contorcer depois de apenas algumas dúzias de anos.

Essa nova espécie de nematóide, batizada Panagrolaimus kolymaensis, quebra o recorde de dormência por dezenas de milhares de anos. O solo congelado onde o nematóide estava escondido veio de um buraco de esquilo ancestral, que foi escavado cerca de 40 metros abaixo da superfície. Os cientistas utilizaram datação por radiocarbono para determinar que o solo tinha 46 mil anos de idade.

“A era pela qual ele sobreviveu é uma das coisas chocantes”, disse Gregory Copenhaver, um dos subeditores do PLOS Genetics e diretor do Instituto de Ciência Convergente na Universidade da Carolina do Norte. Os últimos 46 mil anos chegam até a era geológica anterior, chamada Pleistoceno, ele observou, e “esse único organismo, o indivíduo que de fato foi encontrado, está vivo ao longo desse período de tempo”.

A receita para reviver essas criaturas é bem simples, disse Schiffer. Pesquisadores descongelaram o solo, tomando cuidado para não aquecê-lo muito rápido e evitando assim cozinhar o nematóide. As minhocas então começaram a se contorcer, comendo bactérias em um prato de laboratório e se reproduzindo.

Pesquisadores continuaram a criar mais de 100 gerações a partir desse único nematóide, que se reproduz sem a necessidade de um parceiro graças a um processo chamado partenogênese.

Mas o que intriga os cientistas não é apenas a idade do espécime, mas como ele entra em um estado de limbo.

Através de experimento, eles descobriram que, como qualquer outro verme microscópico, C. elegans, a nova espécie de nematóide sobrevive melhor ao congelamento e à secura se for exposta a condições levemente desidratantes antes do congelamento profundo. Durante esse período de pré-condicionamento, os nematóides começam a liberar um açúcar chamado trealose, que pode estar envolvida em proteger seu DNA, células e proteínas da degradação.

Coautor do estudo, Teymuras Kurzchalia, professor emérito do Instituto Max Planck de Biologia Molecular Celular e Genética, disse que os esforços em desvendar quais proteínas são necessários para esse processo ainda continuam, utilizando ferramentas que podem silenciar ou derrubar os genes.

“Ainda temos muito a aprender sobre os mecanismos de tolerância à dissecação”, disse Kurzchalia.

Os pesquisadores também estão curiosos sobre se já algum limite ou por quanto tempo um organismo pode sobreviver e ser ressuscitado, e o que significa para a evolução e até a noção de extinção se os animais que normalmente vivem, se reproduzem e morrem em um período de semanas pudessem alongar suas existências por séculos ou milênios.

O tempo de vida normal da espécie nematóide de 46 mil anos costuma ser de apenas um ou dois meses.

“Podemos dizer que eles estão vivos, porque se movem, comem bactérias nos pratos laboratoriais e se reproduzem”, disse Schiffer. / THE WASHINGTON POST

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