Cleópatra, do Egito, era negra ou branca? Cientistas comentam polêmica da Netflix e curiosidades


Documentário, que estreia em maio, apresenta a governante egípcia como uma mulher de pele escura e cabelo encaracolado; decisão causa polêmica

Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - A Netflix lançou neste mês o trailer de uma nova série documental Rainha Cleópatra, com estreia prevista para o início de maio. E qual é a novidade sobre uma personagem histórica tão conhecida? A célebre monarca egípcia é retratada por uma atriz negra, a britânica Adele James.

Enquanto muitos defendem a tese da suposta ancestralidade africana de Cleópatra, outros dizem que a plataforma de streaming tenta ganhar audiência. Nesta semana, o advogado egípcio Mahmoud al-Semary entrou com ação na Justiça pedindo que o acesso à Netflix seja bloqueado em seu país. Ele acusa a plataforma de promover o “pensamento afrocêntrico e de tentar apagar a identidade egípcia”.

De acordo com o registro histórico disponível, Cleópatra nasceu em Alexandria, no Egito, no ano de 69 ou 70 a.C. e se tornou a última rainha da dinastia helênica fundada por Ptolomeu, general macedônio das tropas de Alexandre, o Grande. Ela sucedeu seu pai, Ptolomeu 12, no trono em 51 a.C. e governou até a sua morte, em 30 a.C. Depois disso, o Egito caiu sob domínio romano.

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Ex-ministro das Antiguidades do Egito e um dos mais influentes egiptólogos contemporâneos, Zahi Hawass afirmou ao jornal Al-Masry al-Youm: “Isso (a ancestralidade africana de Cleópatra) é completamente falso. Cleópatra era (de origem) grega, o que significa que ela tinha a pele clara, não negra.”

Embora Cleópatra pertença a uma dinastia de origem helênica conhecida por suas práticas endogâmicas (eles priorizavam casamentos entre parentes), a família já estava no Egito havia mais de dois séculos quando ela nasceu. Era tempo suficiente para que alguma miscigenação tivesse ocorrido. As identidades da mãe e, sobretudo, da avó da rainha, não estão bem estabelecidas historicamente e, portanto, elas podem ter sido mulheres egípcias ou mesmo de outras partes da África.

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O site parceiro da Netflix na produção da série, Tudum, afirmou em fevereiro que a decisão de escalar Adele James “era uma referência ao debate de séculos sobre a raça da governante”. Rainha Cleópatra, que tem Jada Pinkett Smith como produtora-executiva, faz parte de uma série de documentários que “explora as vidas de icônicas e proeminentes rainhas africanas”.

Em suas redes sociais, a atriz Adele James contou que tem sido vítima de ofensas racistas. “Esse tipo de comportamento não será tolerado na minha conta. Vocês serão bloqueados sem hesitação. Se você não gosta do elenco, não assista ao programa.”

Rainha se relacionou com generais romanos

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Cleópatra sempre fascinou historiadores e o público. Ela seria uma mulher extremamente culta para a época (diz-se que falava sete idiomas), belíssima, e teria se envolvido em relacionamentos amorosos com dois dos mais importantes generais do Império Romano, Júlio César e Marco Antônio. Perfis de Cleópatra cunhados em moedas da época e estátuas feitas por escultores romanos e egípcios mostram uma mulher de traços mediterrâneos, com nariz alongado.

Sua mais famosa representação no cinema é a de 1963, quando a rainha foi interpretada pela atriz Elizabeth Taylor, de pele muito branca e olhos claros – o que já rendeu a Hollywood acusações de “whitewashing” (a prática racista de embranquecer figuras históricas). A mesma polêmica foi levantada há cerca de três anos, quando as atrizes Angelina Jolie e Gal Gadot eram cotadas para estrelar uma nova produção sobre Cleópatra.

“Então, Cleópatra era negra? Nós não sabemos com certeza, mas podemos ter certeza de que ela não era branca como Elizabeth Taylor”, afirmou a diretora da série, Tina Gharavi, à revista Variety, na qual classificou a escolha de Adele como “um ato político”. “Temos que ter uma conversa com nós mesmos sobre colorismo e a supremacia branca internalizada com a qual Hollywood nos doutrinou.”

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Para o especialista em história antiga da Universidade do Estado do Rio (UERJ) Alair Duarte, a região do Mediterrâneo tinha intenso fluxo comercial na antiguidade e sua população era extremamente miscigenada. Por isso, segundo Duarte, Cleópatra pode ter sido tão branca quanto Elizabeth Taylor ou tão negra quanto Adele Jones.

Elizabeth Taylor em cena de 'Cleópatra', superprodução dirigida por Mankiewicz em 1963 Foto: Reprodução

Entre Elizabeth Taylor e Adele Jones, o egiptólogo brasileiro Júlio Gralha, do Departamento de História Antiga da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que ficaria com Gal Gadot. “O problema dessas discussões é que elas fogem um pouco da percepção científica e entram muito no campo da militância. E tudo o que envolve militância é muito difícil de discutir. Eu sou pardo, não sou branco, mas já sei que vão dizer que estou sendo racista”, afirmou Gralha, especialista na dinastia ptolomaica.

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“Dificilmente Cleópatra seria negra. Também não seria Elizabeth Taylor. Temos algumas representações que sugerem uma mulher de pele clara, olhos escuros e cabelos escuros, eventualmente encaracolados”, disse ela. O biotipo que a gente imagina seria mais próximo desse da Gal Gadot. O cineasta, obviamente, tem licença poética para botar quem quiser no papel, até uma alienígena, mas o problema é que é um documentário.”

O mistério só será resolvido, afirmam especialistas, se um dia encontrarem o túmulo da rainha egípcia e puderem fazer um exame de DNA.

Curiosidades

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  • Cleópatra se envolveu com importantes generais romanos, como Júlio César e Marco Antônio
  • A rainha, segundo parte dos historiadores, era culta e falava sete línguas
  • Foi casada com Ptolomeu XIII, que também era seu irmão
  • Foi a última governante da dinastia ptolomaica e seu reinado durou 21 anos
  • Há várias versões para sua morte, incluindo suicídio, assassinato e picada de cobra

RIO - A Netflix lançou neste mês o trailer de uma nova série documental Rainha Cleópatra, com estreia prevista para o início de maio. E qual é a novidade sobre uma personagem histórica tão conhecida? A célebre monarca egípcia é retratada por uma atriz negra, a britânica Adele James.

Enquanto muitos defendem a tese da suposta ancestralidade africana de Cleópatra, outros dizem que a plataforma de streaming tenta ganhar audiência. Nesta semana, o advogado egípcio Mahmoud al-Semary entrou com ação na Justiça pedindo que o acesso à Netflix seja bloqueado em seu país. Ele acusa a plataforma de promover o “pensamento afrocêntrico e de tentar apagar a identidade egípcia”.

De acordo com o registro histórico disponível, Cleópatra nasceu em Alexandria, no Egito, no ano de 69 ou 70 a.C. e se tornou a última rainha da dinastia helênica fundada por Ptolomeu, general macedônio das tropas de Alexandre, o Grande. Ela sucedeu seu pai, Ptolomeu 12, no trono em 51 a.C. e governou até a sua morte, em 30 a.C. Depois disso, o Egito caiu sob domínio romano.

Ex-ministro das Antiguidades do Egito e um dos mais influentes egiptólogos contemporâneos, Zahi Hawass afirmou ao jornal Al-Masry al-Youm: “Isso (a ancestralidade africana de Cleópatra) é completamente falso. Cleópatra era (de origem) grega, o que significa que ela tinha a pele clara, não negra.”

Embora Cleópatra pertença a uma dinastia de origem helênica conhecida por suas práticas endogâmicas (eles priorizavam casamentos entre parentes), a família já estava no Egito havia mais de dois séculos quando ela nasceu. Era tempo suficiente para que alguma miscigenação tivesse ocorrido. As identidades da mãe e, sobretudo, da avó da rainha, não estão bem estabelecidas historicamente e, portanto, elas podem ter sido mulheres egípcias ou mesmo de outras partes da África.

O site parceiro da Netflix na produção da série, Tudum, afirmou em fevereiro que a decisão de escalar Adele James “era uma referência ao debate de séculos sobre a raça da governante”. Rainha Cleópatra, que tem Jada Pinkett Smith como produtora-executiva, faz parte de uma série de documentários que “explora as vidas de icônicas e proeminentes rainhas africanas”.

Em suas redes sociais, a atriz Adele James contou que tem sido vítima de ofensas racistas. “Esse tipo de comportamento não será tolerado na minha conta. Vocês serão bloqueados sem hesitação. Se você não gosta do elenco, não assista ao programa.”

Rainha se relacionou com generais romanos

Cleópatra sempre fascinou historiadores e o público. Ela seria uma mulher extremamente culta para a época (diz-se que falava sete idiomas), belíssima, e teria se envolvido em relacionamentos amorosos com dois dos mais importantes generais do Império Romano, Júlio César e Marco Antônio. Perfis de Cleópatra cunhados em moedas da época e estátuas feitas por escultores romanos e egípcios mostram uma mulher de traços mediterrâneos, com nariz alongado.

Sua mais famosa representação no cinema é a de 1963, quando a rainha foi interpretada pela atriz Elizabeth Taylor, de pele muito branca e olhos claros – o que já rendeu a Hollywood acusações de “whitewashing” (a prática racista de embranquecer figuras históricas). A mesma polêmica foi levantada há cerca de três anos, quando as atrizes Angelina Jolie e Gal Gadot eram cotadas para estrelar uma nova produção sobre Cleópatra.

“Então, Cleópatra era negra? Nós não sabemos com certeza, mas podemos ter certeza de que ela não era branca como Elizabeth Taylor”, afirmou a diretora da série, Tina Gharavi, à revista Variety, na qual classificou a escolha de Adele como “um ato político”. “Temos que ter uma conversa com nós mesmos sobre colorismo e a supremacia branca internalizada com a qual Hollywood nos doutrinou.”

Para o especialista em história antiga da Universidade do Estado do Rio (UERJ) Alair Duarte, a região do Mediterrâneo tinha intenso fluxo comercial na antiguidade e sua população era extremamente miscigenada. Por isso, segundo Duarte, Cleópatra pode ter sido tão branca quanto Elizabeth Taylor ou tão negra quanto Adele Jones.

Elizabeth Taylor em cena de 'Cleópatra', superprodução dirigida por Mankiewicz em 1963 Foto: Reprodução

Entre Elizabeth Taylor e Adele Jones, o egiptólogo brasileiro Júlio Gralha, do Departamento de História Antiga da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que ficaria com Gal Gadot. “O problema dessas discussões é que elas fogem um pouco da percepção científica e entram muito no campo da militância. E tudo o que envolve militância é muito difícil de discutir. Eu sou pardo, não sou branco, mas já sei que vão dizer que estou sendo racista”, afirmou Gralha, especialista na dinastia ptolomaica.

“Dificilmente Cleópatra seria negra. Também não seria Elizabeth Taylor. Temos algumas representações que sugerem uma mulher de pele clara, olhos escuros e cabelos escuros, eventualmente encaracolados”, disse ela. O biotipo que a gente imagina seria mais próximo desse da Gal Gadot. O cineasta, obviamente, tem licença poética para botar quem quiser no papel, até uma alienígena, mas o problema é que é um documentário.”

O mistério só será resolvido, afirmam especialistas, se um dia encontrarem o túmulo da rainha egípcia e puderem fazer um exame de DNA.

Curiosidades

  • Cleópatra se envolveu com importantes generais romanos, como Júlio César e Marco Antônio
  • A rainha, segundo parte dos historiadores, era culta e falava sete línguas
  • Foi casada com Ptolomeu XIII, que também era seu irmão
  • Foi a última governante da dinastia ptolomaica e seu reinado durou 21 anos
  • Há várias versões para sua morte, incluindo suicídio, assassinato e picada de cobra

RIO - A Netflix lançou neste mês o trailer de uma nova série documental Rainha Cleópatra, com estreia prevista para o início de maio. E qual é a novidade sobre uma personagem histórica tão conhecida? A célebre monarca egípcia é retratada por uma atriz negra, a britânica Adele James.

Enquanto muitos defendem a tese da suposta ancestralidade africana de Cleópatra, outros dizem que a plataforma de streaming tenta ganhar audiência. Nesta semana, o advogado egípcio Mahmoud al-Semary entrou com ação na Justiça pedindo que o acesso à Netflix seja bloqueado em seu país. Ele acusa a plataforma de promover o “pensamento afrocêntrico e de tentar apagar a identidade egípcia”.

De acordo com o registro histórico disponível, Cleópatra nasceu em Alexandria, no Egito, no ano de 69 ou 70 a.C. e se tornou a última rainha da dinastia helênica fundada por Ptolomeu, general macedônio das tropas de Alexandre, o Grande. Ela sucedeu seu pai, Ptolomeu 12, no trono em 51 a.C. e governou até a sua morte, em 30 a.C. Depois disso, o Egito caiu sob domínio romano.

Ex-ministro das Antiguidades do Egito e um dos mais influentes egiptólogos contemporâneos, Zahi Hawass afirmou ao jornal Al-Masry al-Youm: “Isso (a ancestralidade africana de Cleópatra) é completamente falso. Cleópatra era (de origem) grega, o que significa que ela tinha a pele clara, não negra.”

Embora Cleópatra pertença a uma dinastia de origem helênica conhecida por suas práticas endogâmicas (eles priorizavam casamentos entre parentes), a família já estava no Egito havia mais de dois séculos quando ela nasceu. Era tempo suficiente para que alguma miscigenação tivesse ocorrido. As identidades da mãe e, sobretudo, da avó da rainha, não estão bem estabelecidas historicamente e, portanto, elas podem ter sido mulheres egípcias ou mesmo de outras partes da África.

O site parceiro da Netflix na produção da série, Tudum, afirmou em fevereiro que a decisão de escalar Adele James “era uma referência ao debate de séculos sobre a raça da governante”. Rainha Cleópatra, que tem Jada Pinkett Smith como produtora-executiva, faz parte de uma série de documentários que “explora as vidas de icônicas e proeminentes rainhas africanas”.

Em suas redes sociais, a atriz Adele James contou que tem sido vítima de ofensas racistas. “Esse tipo de comportamento não será tolerado na minha conta. Vocês serão bloqueados sem hesitação. Se você não gosta do elenco, não assista ao programa.”

Rainha se relacionou com generais romanos

Cleópatra sempre fascinou historiadores e o público. Ela seria uma mulher extremamente culta para a época (diz-se que falava sete idiomas), belíssima, e teria se envolvido em relacionamentos amorosos com dois dos mais importantes generais do Império Romano, Júlio César e Marco Antônio. Perfis de Cleópatra cunhados em moedas da época e estátuas feitas por escultores romanos e egípcios mostram uma mulher de traços mediterrâneos, com nariz alongado.

Sua mais famosa representação no cinema é a de 1963, quando a rainha foi interpretada pela atriz Elizabeth Taylor, de pele muito branca e olhos claros – o que já rendeu a Hollywood acusações de “whitewashing” (a prática racista de embranquecer figuras históricas). A mesma polêmica foi levantada há cerca de três anos, quando as atrizes Angelina Jolie e Gal Gadot eram cotadas para estrelar uma nova produção sobre Cleópatra.

“Então, Cleópatra era negra? Nós não sabemos com certeza, mas podemos ter certeza de que ela não era branca como Elizabeth Taylor”, afirmou a diretora da série, Tina Gharavi, à revista Variety, na qual classificou a escolha de Adele como “um ato político”. “Temos que ter uma conversa com nós mesmos sobre colorismo e a supremacia branca internalizada com a qual Hollywood nos doutrinou.”

Para o especialista em história antiga da Universidade do Estado do Rio (UERJ) Alair Duarte, a região do Mediterrâneo tinha intenso fluxo comercial na antiguidade e sua população era extremamente miscigenada. Por isso, segundo Duarte, Cleópatra pode ter sido tão branca quanto Elizabeth Taylor ou tão negra quanto Adele Jones.

Elizabeth Taylor em cena de 'Cleópatra', superprodução dirigida por Mankiewicz em 1963 Foto: Reprodução

Entre Elizabeth Taylor e Adele Jones, o egiptólogo brasileiro Júlio Gralha, do Departamento de História Antiga da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que ficaria com Gal Gadot. “O problema dessas discussões é que elas fogem um pouco da percepção científica e entram muito no campo da militância. E tudo o que envolve militância é muito difícil de discutir. Eu sou pardo, não sou branco, mas já sei que vão dizer que estou sendo racista”, afirmou Gralha, especialista na dinastia ptolomaica.

“Dificilmente Cleópatra seria negra. Também não seria Elizabeth Taylor. Temos algumas representações que sugerem uma mulher de pele clara, olhos escuros e cabelos escuros, eventualmente encaracolados”, disse ela. O biotipo que a gente imagina seria mais próximo desse da Gal Gadot. O cineasta, obviamente, tem licença poética para botar quem quiser no papel, até uma alienígena, mas o problema é que é um documentário.”

O mistério só será resolvido, afirmam especialistas, se um dia encontrarem o túmulo da rainha egípcia e puderem fazer um exame de DNA.

Curiosidades

  • Cleópatra se envolveu com importantes generais romanos, como Júlio César e Marco Antônio
  • A rainha, segundo parte dos historiadores, era culta e falava sete línguas
  • Foi casada com Ptolomeu XIII, que também era seu irmão
  • Foi a última governante da dinastia ptolomaica e seu reinado durou 21 anos
  • Há várias versões para sua morte, incluindo suicídio, assassinato e picada de cobra

RIO - A Netflix lançou neste mês o trailer de uma nova série documental Rainha Cleópatra, com estreia prevista para o início de maio. E qual é a novidade sobre uma personagem histórica tão conhecida? A célebre monarca egípcia é retratada por uma atriz negra, a britânica Adele James.

Enquanto muitos defendem a tese da suposta ancestralidade africana de Cleópatra, outros dizem que a plataforma de streaming tenta ganhar audiência. Nesta semana, o advogado egípcio Mahmoud al-Semary entrou com ação na Justiça pedindo que o acesso à Netflix seja bloqueado em seu país. Ele acusa a plataforma de promover o “pensamento afrocêntrico e de tentar apagar a identidade egípcia”.

De acordo com o registro histórico disponível, Cleópatra nasceu em Alexandria, no Egito, no ano de 69 ou 70 a.C. e se tornou a última rainha da dinastia helênica fundada por Ptolomeu, general macedônio das tropas de Alexandre, o Grande. Ela sucedeu seu pai, Ptolomeu 12, no trono em 51 a.C. e governou até a sua morte, em 30 a.C. Depois disso, o Egito caiu sob domínio romano.

Ex-ministro das Antiguidades do Egito e um dos mais influentes egiptólogos contemporâneos, Zahi Hawass afirmou ao jornal Al-Masry al-Youm: “Isso (a ancestralidade africana de Cleópatra) é completamente falso. Cleópatra era (de origem) grega, o que significa que ela tinha a pele clara, não negra.”

Embora Cleópatra pertença a uma dinastia de origem helênica conhecida por suas práticas endogâmicas (eles priorizavam casamentos entre parentes), a família já estava no Egito havia mais de dois séculos quando ela nasceu. Era tempo suficiente para que alguma miscigenação tivesse ocorrido. As identidades da mãe e, sobretudo, da avó da rainha, não estão bem estabelecidas historicamente e, portanto, elas podem ter sido mulheres egípcias ou mesmo de outras partes da África.

O site parceiro da Netflix na produção da série, Tudum, afirmou em fevereiro que a decisão de escalar Adele James “era uma referência ao debate de séculos sobre a raça da governante”. Rainha Cleópatra, que tem Jada Pinkett Smith como produtora-executiva, faz parte de uma série de documentários que “explora as vidas de icônicas e proeminentes rainhas africanas”.

Em suas redes sociais, a atriz Adele James contou que tem sido vítima de ofensas racistas. “Esse tipo de comportamento não será tolerado na minha conta. Vocês serão bloqueados sem hesitação. Se você não gosta do elenco, não assista ao programa.”

Rainha se relacionou com generais romanos

Cleópatra sempre fascinou historiadores e o público. Ela seria uma mulher extremamente culta para a época (diz-se que falava sete idiomas), belíssima, e teria se envolvido em relacionamentos amorosos com dois dos mais importantes generais do Império Romano, Júlio César e Marco Antônio. Perfis de Cleópatra cunhados em moedas da época e estátuas feitas por escultores romanos e egípcios mostram uma mulher de traços mediterrâneos, com nariz alongado.

Sua mais famosa representação no cinema é a de 1963, quando a rainha foi interpretada pela atriz Elizabeth Taylor, de pele muito branca e olhos claros – o que já rendeu a Hollywood acusações de “whitewashing” (a prática racista de embranquecer figuras históricas). A mesma polêmica foi levantada há cerca de três anos, quando as atrizes Angelina Jolie e Gal Gadot eram cotadas para estrelar uma nova produção sobre Cleópatra.

“Então, Cleópatra era negra? Nós não sabemos com certeza, mas podemos ter certeza de que ela não era branca como Elizabeth Taylor”, afirmou a diretora da série, Tina Gharavi, à revista Variety, na qual classificou a escolha de Adele como “um ato político”. “Temos que ter uma conversa com nós mesmos sobre colorismo e a supremacia branca internalizada com a qual Hollywood nos doutrinou.”

Para o especialista em história antiga da Universidade do Estado do Rio (UERJ) Alair Duarte, a região do Mediterrâneo tinha intenso fluxo comercial na antiguidade e sua população era extremamente miscigenada. Por isso, segundo Duarte, Cleópatra pode ter sido tão branca quanto Elizabeth Taylor ou tão negra quanto Adele Jones.

Elizabeth Taylor em cena de 'Cleópatra', superprodução dirigida por Mankiewicz em 1963 Foto: Reprodução

Entre Elizabeth Taylor e Adele Jones, o egiptólogo brasileiro Júlio Gralha, do Departamento de História Antiga da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que ficaria com Gal Gadot. “O problema dessas discussões é que elas fogem um pouco da percepção científica e entram muito no campo da militância. E tudo o que envolve militância é muito difícil de discutir. Eu sou pardo, não sou branco, mas já sei que vão dizer que estou sendo racista”, afirmou Gralha, especialista na dinastia ptolomaica.

“Dificilmente Cleópatra seria negra. Também não seria Elizabeth Taylor. Temos algumas representações que sugerem uma mulher de pele clara, olhos escuros e cabelos escuros, eventualmente encaracolados”, disse ela. O biotipo que a gente imagina seria mais próximo desse da Gal Gadot. O cineasta, obviamente, tem licença poética para botar quem quiser no papel, até uma alienígena, mas o problema é que é um documentário.”

O mistério só será resolvido, afirmam especialistas, se um dia encontrarem o túmulo da rainha egípcia e puderem fazer um exame de DNA.

Curiosidades

  • Cleópatra se envolveu com importantes generais romanos, como Júlio César e Marco Antônio
  • A rainha, segundo parte dos historiadores, era culta e falava sete línguas
  • Foi casada com Ptolomeu XIII, que também era seu irmão
  • Foi a última governante da dinastia ptolomaica e seu reinado durou 21 anos
  • Há várias versões para sua morte, incluindo suicídio, assassinato e picada de cobra

RIO - A Netflix lançou neste mês o trailer de uma nova série documental Rainha Cleópatra, com estreia prevista para o início de maio. E qual é a novidade sobre uma personagem histórica tão conhecida? A célebre monarca egípcia é retratada por uma atriz negra, a britânica Adele James.

Enquanto muitos defendem a tese da suposta ancestralidade africana de Cleópatra, outros dizem que a plataforma de streaming tenta ganhar audiência. Nesta semana, o advogado egípcio Mahmoud al-Semary entrou com ação na Justiça pedindo que o acesso à Netflix seja bloqueado em seu país. Ele acusa a plataforma de promover o “pensamento afrocêntrico e de tentar apagar a identidade egípcia”.

De acordo com o registro histórico disponível, Cleópatra nasceu em Alexandria, no Egito, no ano de 69 ou 70 a.C. e se tornou a última rainha da dinastia helênica fundada por Ptolomeu, general macedônio das tropas de Alexandre, o Grande. Ela sucedeu seu pai, Ptolomeu 12, no trono em 51 a.C. e governou até a sua morte, em 30 a.C. Depois disso, o Egito caiu sob domínio romano.

Ex-ministro das Antiguidades do Egito e um dos mais influentes egiptólogos contemporâneos, Zahi Hawass afirmou ao jornal Al-Masry al-Youm: “Isso (a ancestralidade africana de Cleópatra) é completamente falso. Cleópatra era (de origem) grega, o que significa que ela tinha a pele clara, não negra.”

Embora Cleópatra pertença a uma dinastia de origem helênica conhecida por suas práticas endogâmicas (eles priorizavam casamentos entre parentes), a família já estava no Egito havia mais de dois séculos quando ela nasceu. Era tempo suficiente para que alguma miscigenação tivesse ocorrido. As identidades da mãe e, sobretudo, da avó da rainha, não estão bem estabelecidas historicamente e, portanto, elas podem ter sido mulheres egípcias ou mesmo de outras partes da África.

O site parceiro da Netflix na produção da série, Tudum, afirmou em fevereiro que a decisão de escalar Adele James “era uma referência ao debate de séculos sobre a raça da governante”. Rainha Cleópatra, que tem Jada Pinkett Smith como produtora-executiva, faz parte de uma série de documentários que “explora as vidas de icônicas e proeminentes rainhas africanas”.

Em suas redes sociais, a atriz Adele James contou que tem sido vítima de ofensas racistas. “Esse tipo de comportamento não será tolerado na minha conta. Vocês serão bloqueados sem hesitação. Se você não gosta do elenco, não assista ao programa.”

Rainha se relacionou com generais romanos

Cleópatra sempre fascinou historiadores e o público. Ela seria uma mulher extremamente culta para a época (diz-se que falava sete idiomas), belíssima, e teria se envolvido em relacionamentos amorosos com dois dos mais importantes generais do Império Romano, Júlio César e Marco Antônio. Perfis de Cleópatra cunhados em moedas da época e estátuas feitas por escultores romanos e egípcios mostram uma mulher de traços mediterrâneos, com nariz alongado.

Sua mais famosa representação no cinema é a de 1963, quando a rainha foi interpretada pela atriz Elizabeth Taylor, de pele muito branca e olhos claros – o que já rendeu a Hollywood acusações de “whitewashing” (a prática racista de embranquecer figuras históricas). A mesma polêmica foi levantada há cerca de três anos, quando as atrizes Angelina Jolie e Gal Gadot eram cotadas para estrelar uma nova produção sobre Cleópatra.

“Então, Cleópatra era negra? Nós não sabemos com certeza, mas podemos ter certeza de que ela não era branca como Elizabeth Taylor”, afirmou a diretora da série, Tina Gharavi, à revista Variety, na qual classificou a escolha de Adele como “um ato político”. “Temos que ter uma conversa com nós mesmos sobre colorismo e a supremacia branca internalizada com a qual Hollywood nos doutrinou.”

Para o especialista em história antiga da Universidade do Estado do Rio (UERJ) Alair Duarte, a região do Mediterrâneo tinha intenso fluxo comercial na antiguidade e sua população era extremamente miscigenada. Por isso, segundo Duarte, Cleópatra pode ter sido tão branca quanto Elizabeth Taylor ou tão negra quanto Adele Jones.

Elizabeth Taylor em cena de 'Cleópatra', superprodução dirigida por Mankiewicz em 1963 Foto: Reprodução

Entre Elizabeth Taylor e Adele Jones, o egiptólogo brasileiro Júlio Gralha, do Departamento de História Antiga da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que ficaria com Gal Gadot. “O problema dessas discussões é que elas fogem um pouco da percepção científica e entram muito no campo da militância. E tudo o que envolve militância é muito difícil de discutir. Eu sou pardo, não sou branco, mas já sei que vão dizer que estou sendo racista”, afirmou Gralha, especialista na dinastia ptolomaica.

“Dificilmente Cleópatra seria negra. Também não seria Elizabeth Taylor. Temos algumas representações que sugerem uma mulher de pele clara, olhos escuros e cabelos escuros, eventualmente encaracolados”, disse ela. O biotipo que a gente imagina seria mais próximo desse da Gal Gadot. O cineasta, obviamente, tem licença poética para botar quem quiser no papel, até uma alienígena, mas o problema é que é um documentário.”

O mistério só será resolvido, afirmam especialistas, se um dia encontrarem o túmulo da rainha egípcia e puderem fazer um exame de DNA.

Curiosidades

  • Cleópatra se envolveu com importantes generais romanos, como Júlio César e Marco Antônio
  • A rainha, segundo parte dos historiadores, era culta e falava sete línguas
  • Foi casada com Ptolomeu XIII, que também era seu irmão
  • Foi a última governante da dinastia ptolomaica e seu reinado durou 21 anos
  • Há várias versões para sua morte, incluindo suicídio, assassinato e picada de cobra

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