Como as múmias egípcias eram feitas? Estudo revela materiais usados no processo; entenda


Mistério sobre substâncias usadas no processo de mumificação começou a ser decifrado em novo estudo. Quarto subterrâneo próximo a uma pirâmide guardava informações cruciais

Por Fernando Reinach

Não sei vocês, mas desde que me conheço por gente sou fascinado pelas múmias egípcias (são rivais dos dinossauros). O fato de uma civilização tão antiga ter sido capaz de preservar por milênios corpos de mortos queridos ou poderosos, me impressiona. Hoje, a seção de múmias no Museu Britânico continua uma visita obrigatória.

Desde 1901, quando os primeiros sarcófagos foram abertos e as primeiras múmias estudadas de maneira sistemática, sabemos que o corpo do morto era aberto, as vísceras e o cérebro removidos. Via de regra o corpo era tratado com diversos produtos, enrolado em muitas camadas de tecido, e colocado nos sarcófagos. São essas tiras de pano que aparecem dependuradas nas múmias que ressuscitam nos filmes de terror.

Foi descoberta uma espécie de dicionário químico tão importante para a mumificação quanto a Roseta Stone foi para a escrita. Foto: Nikola Nevenov/Saqqara Saite Tombs Project, University of Tuebingen/Handout via REUTERS
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Quando a escrita egípcia foi decifrada por Champollion em 1822, pudemos ler os textos deixados pelo egípcios. Isso ocorreu graças à descoberta da Rosetta Stone. Nessa pedra, um mesmo texto foi escrito usando hieróglifos egípcios e em grego antigo, e serviu como uma espécie de dicionário para Champollion.

Em Saqqara, próximo a uma pirâmide, foi descoberto um quarto subterrâneo que era um dos locais onde os mortos era mumificados  Foto: Susanne Beck/Saqqara Saite Tombs Project, University of Tübingen via AP
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Logo os cientistas descobriram textos que descrevem o processo de mumificação. Mas nesses textos, os nomes das substâncias usadas no tratamento do corpo eram genéricos (coisas como “substância para lavar” ou “para tirar o cheiro” ou “para tratar os panos”) e não permitiam aos cientistas saber exatamente o que os egípcios usavam na mumificação. E sem saber as substâncias usadas, era impossível reproduzir em laboratório o processo de mumificação. Agora, foi descoberta uma espécie de dicionário químico tão importante para a mumificação quanto a Roseta Stone foi para a escrita.

Em Saqqara, próximo a uma pirâmide, foi descoberto um quarto subterrâneo que era um dos locais onde os mortos era mumificados. Esse quarto foi construído entre 664-525 antes de Cristo, abandonado e ficou lacrado e preservado até o presente. Nesse quarto, foram encontrados 31 potes de cerâmica, com o nome/uso do produto em cada um. Eles tinham nomes como “sefet”, “antiu” ou “para ser colocado na cabeça”, termos que aparecem nos textos antigos. Mas nesse caso, em cada pote, além do nome, havia o produto dentro.

No passo seguinte, os cientistas pegaram amostras do conteúdo de cada um dos 31 potes e levaram para um sofisticado laboratório de química orgânica. E usando equipamentos modernos, entre eles espectrógrafos de massa, conseguiram identificar cada uma das moléculas presentes em cada pote.

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Com base nas moléculas presentes, os cientistas conseguiram saber sua origem. Assim, por exemplo, os potes com a legenda “safet”, descrito nos textos antigos como um dos sete óleos sagrados usados para o ritual de abrir a boca do corpo, contém uma mistura do óleo extraído cipreste e gordura animal. Já o pote marcado “no terceiro dia, para fazer a pele lisa” contém uma mistura de cera de abelha e gordura de um mamífero ruminante. E assim por diante. Os conteúdos dos 31 potes foram identificados e geraram uma enorme tabela.

O corpo era tratado com diversos produtos, enrolado em muitas camadas de tecido, e colocado nos sarcófagos.  Foto: Reuters

O interessante é que muitos dos óleos e resinas presentes nos potes não existem no Egito e foram obtidos através do comércio. Muitos desses produtos só existem no norte do Mediterrâneo, no sul da África ou na Ásia, o que mostra que a técnica de embalsamar corpos dependia do uso de produtos importados, trazidos de outros locais.

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Agora, usando as descobertas feitas nesses 31 potes, é possível preparar versões modernas de cada mistura e, seguindo os textos egípcios antigos, testar e repetir as receitas para mumificar corpos. É pouco provável que o homem moderno resolva voltar a mumificar seus parentes, mas é bom lembrar que uma boa parte das múmias encontradas no Egito são de animais de estimação. Será que vamos ver esse serviço oferecido para os donos de gatos e cachorros?

Mais informações: Biomolecular analises enable new insights into ancient Egyptian embalming. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-022-05663-4 2023

É biólogo

Não sei vocês, mas desde que me conheço por gente sou fascinado pelas múmias egípcias (são rivais dos dinossauros). O fato de uma civilização tão antiga ter sido capaz de preservar por milênios corpos de mortos queridos ou poderosos, me impressiona. Hoje, a seção de múmias no Museu Britânico continua uma visita obrigatória.

Desde 1901, quando os primeiros sarcófagos foram abertos e as primeiras múmias estudadas de maneira sistemática, sabemos que o corpo do morto era aberto, as vísceras e o cérebro removidos. Via de regra o corpo era tratado com diversos produtos, enrolado em muitas camadas de tecido, e colocado nos sarcófagos. São essas tiras de pano que aparecem dependuradas nas múmias que ressuscitam nos filmes de terror.

Foi descoberta uma espécie de dicionário químico tão importante para a mumificação quanto a Roseta Stone foi para a escrita. Foto: Nikola Nevenov/Saqqara Saite Tombs Project, University of Tuebingen/Handout via REUTERS

Quando a escrita egípcia foi decifrada por Champollion em 1822, pudemos ler os textos deixados pelo egípcios. Isso ocorreu graças à descoberta da Rosetta Stone. Nessa pedra, um mesmo texto foi escrito usando hieróglifos egípcios e em grego antigo, e serviu como uma espécie de dicionário para Champollion.

Em Saqqara, próximo a uma pirâmide, foi descoberto um quarto subterrâneo que era um dos locais onde os mortos era mumificados  Foto: Susanne Beck/Saqqara Saite Tombs Project, University of Tübingen via AP

Logo os cientistas descobriram textos que descrevem o processo de mumificação. Mas nesses textos, os nomes das substâncias usadas no tratamento do corpo eram genéricos (coisas como “substância para lavar” ou “para tirar o cheiro” ou “para tratar os panos”) e não permitiam aos cientistas saber exatamente o que os egípcios usavam na mumificação. E sem saber as substâncias usadas, era impossível reproduzir em laboratório o processo de mumificação. Agora, foi descoberta uma espécie de dicionário químico tão importante para a mumificação quanto a Roseta Stone foi para a escrita.

Em Saqqara, próximo a uma pirâmide, foi descoberto um quarto subterrâneo que era um dos locais onde os mortos era mumificados. Esse quarto foi construído entre 664-525 antes de Cristo, abandonado e ficou lacrado e preservado até o presente. Nesse quarto, foram encontrados 31 potes de cerâmica, com o nome/uso do produto em cada um. Eles tinham nomes como “sefet”, “antiu” ou “para ser colocado na cabeça”, termos que aparecem nos textos antigos. Mas nesse caso, em cada pote, além do nome, havia o produto dentro.

No passo seguinte, os cientistas pegaram amostras do conteúdo de cada um dos 31 potes e levaram para um sofisticado laboratório de química orgânica. E usando equipamentos modernos, entre eles espectrógrafos de massa, conseguiram identificar cada uma das moléculas presentes em cada pote.

Com base nas moléculas presentes, os cientistas conseguiram saber sua origem. Assim, por exemplo, os potes com a legenda “safet”, descrito nos textos antigos como um dos sete óleos sagrados usados para o ritual de abrir a boca do corpo, contém uma mistura do óleo extraído cipreste e gordura animal. Já o pote marcado “no terceiro dia, para fazer a pele lisa” contém uma mistura de cera de abelha e gordura de um mamífero ruminante. E assim por diante. Os conteúdos dos 31 potes foram identificados e geraram uma enorme tabela.

O corpo era tratado com diversos produtos, enrolado em muitas camadas de tecido, e colocado nos sarcófagos.  Foto: Reuters

O interessante é que muitos dos óleos e resinas presentes nos potes não existem no Egito e foram obtidos através do comércio. Muitos desses produtos só existem no norte do Mediterrâneo, no sul da África ou na Ásia, o que mostra que a técnica de embalsamar corpos dependia do uso de produtos importados, trazidos de outros locais.

Agora, usando as descobertas feitas nesses 31 potes, é possível preparar versões modernas de cada mistura e, seguindo os textos egípcios antigos, testar e repetir as receitas para mumificar corpos. É pouco provável que o homem moderno resolva voltar a mumificar seus parentes, mas é bom lembrar que uma boa parte das múmias encontradas no Egito são de animais de estimação. Será que vamos ver esse serviço oferecido para os donos de gatos e cachorros?

Mais informações: Biomolecular analises enable new insights into ancient Egyptian embalming. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-022-05663-4 2023

É biólogo

Não sei vocês, mas desde que me conheço por gente sou fascinado pelas múmias egípcias (são rivais dos dinossauros). O fato de uma civilização tão antiga ter sido capaz de preservar por milênios corpos de mortos queridos ou poderosos, me impressiona. Hoje, a seção de múmias no Museu Britânico continua uma visita obrigatória.

Desde 1901, quando os primeiros sarcófagos foram abertos e as primeiras múmias estudadas de maneira sistemática, sabemos que o corpo do morto era aberto, as vísceras e o cérebro removidos. Via de regra o corpo era tratado com diversos produtos, enrolado em muitas camadas de tecido, e colocado nos sarcófagos. São essas tiras de pano que aparecem dependuradas nas múmias que ressuscitam nos filmes de terror.

Foi descoberta uma espécie de dicionário químico tão importante para a mumificação quanto a Roseta Stone foi para a escrita. Foto: Nikola Nevenov/Saqqara Saite Tombs Project, University of Tuebingen/Handout via REUTERS

Quando a escrita egípcia foi decifrada por Champollion em 1822, pudemos ler os textos deixados pelo egípcios. Isso ocorreu graças à descoberta da Rosetta Stone. Nessa pedra, um mesmo texto foi escrito usando hieróglifos egípcios e em grego antigo, e serviu como uma espécie de dicionário para Champollion.

Em Saqqara, próximo a uma pirâmide, foi descoberto um quarto subterrâneo que era um dos locais onde os mortos era mumificados  Foto: Susanne Beck/Saqqara Saite Tombs Project, University of Tübingen via AP

Logo os cientistas descobriram textos que descrevem o processo de mumificação. Mas nesses textos, os nomes das substâncias usadas no tratamento do corpo eram genéricos (coisas como “substância para lavar” ou “para tirar o cheiro” ou “para tratar os panos”) e não permitiam aos cientistas saber exatamente o que os egípcios usavam na mumificação. E sem saber as substâncias usadas, era impossível reproduzir em laboratório o processo de mumificação. Agora, foi descoberta uma espécie de dicionário químico tão importante para a mumificação quanto a Roseta Stone foi para a escrita.

Em Saqqara, próximo a uma pirâmide, foi descoberto um quarto subterrâneo que era um dos locais onde os mortos era mumificados. Esse quarto foi construído entre 664-525 antes de Cristo, abandonado e ficou lacrado e preservado até o presente. Nesse quarto, foram encontrados 31 potes de cerâmica, com o nome/uso do produto em cada um. Eles tinham nomes como “sefet”, “antiu” ou “para ser colocado na cabeça”, termos que aparecem nos textos antigos. Mas nesse caso, em cada pote, além do nome, havia o produto dentro.

No passo seguinte, os cientistas pegaram amostras do conteúdo de cada um dos 31 potes e levaram para um sofisticado laboratório de química orgânica. E usando equipamentos modernos, entre eles espectrógrafos de massa, conseguiram identificar cada uma das moléculas presentes em cada pote.

Com base nas moléculas presentes, os cientistas conseguiram saber sua origem. Assim, por exemplo, os potes com a legenda “safet”, descrito nos textos antigos como um dos sete óleos sagrados usados para o ritual de abrir a boca do corpo, contém uma mistura do óleo extraído cipreste e gordura animal. Já o pote marcado “no terceiro dia, para fazer a pele lisa” contém uma mistura de cera de abelha e gordura de um mamífero ruminante. E assim por diante. Os conteúdos dos 31 potes foram identificados e geraram uma enorme tabela.

O corpo era tratado com diversos produtos, enrolado em muitas camadas de tecido, e colocado nos sarcófagos.  Foto: Reuters

O interessante é que muitos dos óleos e resinas presentes nos potes não existem no Egito e foram obtidos através do comércio. Muitos desses produtos só existem no norte do Mediterrâneo, no sul da África ou na Ásia, o que mostra que a técnica de embalsamar corpos dependia do uso de produtos importados, trazidos de outros locais.

Agora, usando as descobertas feitas nesses 31 potes, é possível preparar versões modernas de cada mistura e, seguindo os textos egípcios antigos, testar e repetir as receitas para mumificar corpos. É pouco provável que o homem moderno resolva voltar a mumificar seus parentes, mas é bom lembrar que uma boa parte das múmias encontradas no Egito são de animais de estimação. Será que vamos ver esse serviço oferecido para os donos de gatos e cachorros?

Mais informações: Biomolecular analises enable new insights into ancient Egyptian embalming. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-022-05663-4 2023

É biólogo

Não sei vocês, mas desde que me conheço por gente sou fascinado pelas múmias egípcias (são rivais dos dinossauros). O fato de uma civilização tão antiga ter sido capaz de preservar por milênios corpos de mortos queridos ou poderosos, me impressiona. Hoje, a seção de múmias no Museu Britânico continua uma visita obrigatória.

Desde 1901, quando os primeiros sarcófagos foram abertos e as primeiras múmias estudadas de maneira sistemática, sabemos que o corpo do morto era aberto, as vísceras e o cérebro removidos. Via de regra o corpo era tratado com diversos produtos, enrolado em muitas camadas de tecido, e colocado nos sarcófagos. São essas tiras de pano que aparecem dependuradas nas múmias que ressuscitam nos filmes de terror.

Foi descoberta uma espécie de dicionário químico tão importante para a mumificação quanto a Roseta Stone foi para a escrita. Foto: Nikola Nevenov/Saqqara Saite Tombs Project, University of Tuebingen/Handout via REUTERS

Quando a escrita egípcia foi decifrada por Champollion em 1822, pudemos ler os textos deixados pelo egípcios. Isso ocorreu graças à descoberta da Rosetta Stone. Nessa pedra, um mesmo texto foi escrito usando hieróglifos egípcios e em grego antigo, e serviu como uma espécie de dicionário para Champollion.

Em Saqqara, próximo a uma pirâmide, foi descoberto um quarto subterrâneo que era um dos locais onde os mortos era mumificados  Foto: Susanne Beck/Saqqara Saite Tombs Project, University of Tübingen via AP

Logo os cientistas descobriram textos que descrevem o processo de mumificação. Mas nesses textos, os nomes das substâncias usadas no tratamento do corpo eram genéricos (coisas como “substância para lavar” ou “para tirar o cheiro” ou “para tratar os panos”) e não permitiam aos cientistas saber exatamente o que os egípcios usavam na mumificação. E sem saber as substâncias usadas, era impossível reproduzir em laboratório o processo de mumificação. Agora, foi descoberta uma espécie de dicionário químico tão importante para a mumificação quanto a Roseta Stone foi para a escrita.

Em Saqqara, próximo a uma pirâmide, foi descoberto um quarto subterrâneo que era um dos locais onde os mortos era mumificados. Esse quarto foi construído entre 664-525 antes de Cristo, abandonado e ficou lacrado e preservado até o presente. Nesse quarto, foram encontrados 31 potes de cerâmica, com o nome/uso do produto em cada um. Eles tinham nomes como “sefet”, “antiu” ou “para ser colocado na cabeça”, termos que aparecem nos textos antigos. Mas nesse caso, em cada pote, além do nome, havia o produto dentro.

No passo seguinte, os cientistas pegaram amostras do conteúdo de cada um dos 31 potes e levaram para um sofisticado laboratório de química orgânica. E usando equipamentos modernos, entre eles espectrógrafos de massa, conseguiram identificar cada uma das moléculas presentes em cada pote.

Com base nas moléculas presentes, os cientistas conseguiram saber sua origem. Assim, por exemplo, os potes com a legenda “safet”, descrito nos textos antigos como um dos sete óleos sagrados usados para o ritual de abrir a boca do corpo, contém uma mistura do óleo extraído cipreste e gordura animal. Já o pote marcado “no terceiro dia, para fazer a pele lisa” contém uma mistura de cera de abelha e gordura de um mamífero ruminante. E assim por diante. Os conteúdos dos 31 potes foram identificados e geraram uma enorme tabela.

O corpo era tratado com diversos produtos, enrolado em muitas camadas de tecido, e colocado nos sarcófagos.  Foto: Reuters

O interessante é que muitos dos óleos e resinas presentes nos potes não existem no Egito e foram obtidos através do comércio. Muitos desses produtos só existem no norte do Mediterrâneo, no sul da África ou na Ásia, o que mostra que a técnica de embalsamar corpos dependia do uso de produtos importados, trazidos de outros locais.

Agora, usando as descobertas feitas nesses 31 potes, é possível preparar versões modernas de cada mistura e, seguindo os textos egípcios antigos, testar e repetir as receitas para mumificar corpos. É pouco provável que o homem moderno resolva voltar a mumificar seus parentes, mas é bom lembrar que uma boa parte das múmias encontradas no Egito são de animais de estimação. Será que vamos ver esse serviço oferecido para os donos de gatos e cachorros?

Mais informações: Biomolecular analises enable new insights into ancient Egyptian embalming. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-022-05663-4 2023

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