Como os mosquitos usam a química do seu corpo para decidir se você é a próxima vítima?


Cientistas descobrem que transmissores da malária e da febre amarela são atraídos por substâncias encontradas na pele das pessoas

Por Carolyn Y. Johnson

WASHINGTON POST - Para desvendar a velha questão de por que os mosquitos comem algumas pessoas vivas, mas poupam outras, os cientistas construíram uma imensa arena ao ar livre na Zâmbia e canalizaram os odores de meia dúzia de humanos adormecidos em tendas próximas. Eles descobriram que os mosquitos transmissores da malária, assim como os da febre amarela, são atraídos por substâncias químicas específicas encontradas na pele das pessoas.

Os pesquisadores também identificaram um indivíduo sortudo cujo odor corporal parecia pouco apetitoso, abrindo um novo caminho na busca de maneiras de evitar as picadas.

De perto, os mosquitos usam pistas visuais e calor corporal para procurar suas presas. Mas quando estão fora do alcance visual – a alguns metros de distância – acredita-se que eles rastreiem dióxido de carbono e outras substâncias químicas encontradas no hálito e no odor corporal. Saber qual é a mistura exata que os mosquitos acham mais atraente continua sendo uma questão que gera muitas pesquisas.

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Mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue Foto: Stefan Wermuth/Reuters

Em geral, os experimentos com mosquitos são feitos em caixas relativamente pequenas ou túneis de vento livres da cacofonia aromática do ar livre. Esses experimentos tendem a investigar a tomada de decisão do mosquito a curta distância. Por isso, os cientistas construíram uma enorme arena para chegar à raiz dos instintos dos mosquitos na natureza.

“Gosto de pensar nela como a maior loja de perfumes do mundo para mosquitos, onde eles podem escolher o cheiro de que mais gostam”, disse Conor McMeniman, professor assistente de microbiologia molecular e imunologia do Instituto de Pesquisa em Malária da Universidade Johns Hopkins, que liderou o estudo, publicado na revista Current Biology.

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Como os mosquitos escolhem seus alvos?

Os mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue, que matam mais de meio milhão de pessoas a cada ano.

O Anopheles gambiae, uma das espécies que transmite a malária, é um caçador particularmente perigoso. Existem várias estimativas de quão longe os mosquitos voam, mas eles tendem a percorrer menos de 800 metros por dia, de acordo com um estudo da África Ocidental. Os mosquitos geralmente se alimentam por volta da meia-noite, quando voam para dentro dos forros abertos das casas. Na Zâmbia, 2 mil pessoas morrem de malária a cada ano.

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Para descobrir como esses mosquitos escolhem suas vítimas adormecidas, os cientistas construíram uma arena de testes ao ar livre com o tamanho de quase duas quadras de tênis – 2 mil vezes maior que os experimentos de laboratório. Eles queriam que os mosquitos se aclimatassem no laboratório ao ar livre, então fizeram tudo o que puderam para criar o clima certo.

Nas estações espalhadas pela arena, dutos de ar condicionado entregavam o buquê de diferentes humanos dormindo em tendas próximas. Em cada estação, os aromas canalizados impregnavam placas quentes, aquecidas à temperatura do corpo humano, ao lado de baforadas de dióxido de carbono.

Com uma câmera infravermelha, os cientistas observaram quais placas quentes viravam discotecas de mosquitos. E descobriram que o calor e o dióxido de carbono não eram suficientes para atrair os insetos sem o elemento adicional do odor corporal humano.

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“O estudo traz muitas informações novas”, disse Leslie Vosshall, neurobióloga e diretora científica do Instituto de Medicina Howard Hughes, cujo laboratório recentemente descobriu que a química da pele determinava se as pessoas eram ímãs de mosquitos para uma espécie diferente, o Aedes aegypti, transmissor da febre amarela.

“É um mosquito diferente – é um mosquito muito mais importante”, disse Vosshall sobre o Anopheles gambiae. “Mata muito gente, é um verdadeiro predador de seres humanos”.

Mosquitos Anopheles em uma rede colocada em um campo de arroz durante teste de combate à malária na Tanzânia Foto: BAZ RATNER/REUTERS
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O estudo descobriu que os mosquitos ficaram particularmente sintonizados com as secreções oleosas que hidratam a pele e a protegem dos micróbios. Compostos químicos chamados ácidos carboxílicos são um forte atrativo – tanto no novo estudo quanto no trabalho de Vosshall sobre o Aedes aegpyti.

Mas um indivíduo no novo estudo pareceu relativamente desagradável, descobriram os pesquisadores. Seu aroma característico incluía uma quantidade anormalmente baixa de ácidos carboxílicos e alto teor de eucaliptol, uma substância encontrada em muitas plantas, levantando a possibilidade de que a dieta talvez tenha um papel importante, disse McMeniman.

O que vem aí nas pesquisas sobre mosquitos?

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Agora que os pesquisadores mostraram que sua arena de testes funciona, eles estão planejando um experimento muito maior, no qual vão colocar 120 pessoas adormecidas umas contra as outras, em rodadas de competição de múltipla escolha, para descobrir quem é irresistível para os mosquitos e quem não é.

Os cientistas querem decifrar qual combinação de produtos químicos deixa uma pessoa mais ou menos atraente do que outra. E também vão estudar até que ponto fatores como dieta ou microorganismos na pele das pessoas – o microbioma da pele – influenciam sua atratividade. McMeniman também sonha em construir uma instalação semelhante nos Estados Unidos para testar outras espécies de mosquitos que espalham doenças e estragam churrascos no quintal.

Os insights desses experimentos podem levar a novos jeitos de repelir mosquitos, talvez encontrando maneiras de alterar ou mascarar a química da pele, deixando as pessoas menos atraentes.

Mas a tentativa de explicar por que os mosquitos preferem alguns humanos a outros não vai ter resposta simples. Experimentos anteriores descobriram que as mulheres grávidas são mais propensas a atrair mosquitos. Beber álcool atrai mosquitos. Usar certos tipos de sabonetes, mesmo aqueles que deixam um cheiro dominado por uma substância química conhecida por repelir mosquitos, paradoxalmente aumenta a atratividade das pessoas para os mosquitos.

“O que realmente importa para o mosquito não é o tipo de produto químico mais abundante, mas sim as interações químicas e abundâncias relativas”, disse Clément Vinauger, professor assistente de bioquímica na Virginia Tech. Ele recentemente testou quatro sabonetes muito usados e descobriu que três deles aumentavam a atratividade dos humanos para os mosquitos Aedes aegypti e o quarto – um gel de banho Native Coconut and Vanilla – parecia diminuí-la, provavelmente porque os mosquitos não gostam de óleo de coco.

“A resposta curta”, disse Vinauger, “é que o problema é complicado”./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST - Para desvendar a velha questão de por que os mosquitos comem algumas pessoas vivas, mas poupam outras, os cientistas construíram uma imensa arena ao ar livre na Zâmbia e canalizaram os odores de meia dúzia de humanos adormecidos em tendas próximas. Eles descobriram que os mosquitos transmissores da malária, assim como os da febre amarela, são atraídos por substâncias químicas específicas encontradas na pele das pessoas.

Os pesquisadores também identificaram um indivíduo sortudo cujo odor corporal parecia pouco apetitoso, abrindo um novo caminho na busca de maneiras de evitar as picadas.

De perto, os mosquitos usam pistas visuais e calor corporal para procurar suas presas. Mas quando estão fora do alcance visual – a alguns metros de distância – acredita-se que eles rastreiem dióxido de carbono e outras substâncias químicas encontradas no hálito e no odor corporal. Saber qual é a mistura exata que os mosquitos acham mais atraente continua sendo uma questão que gera muitas pesquisas.

Mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue Foto: Stefan Wermuth/Reuters

Em geral, os experimentos com mosquitos são feitos em caixas relativamente pequenas ou túneis de vento livres da cacofonia aromática do ar livre. Esses experimentos tendem a investigar a tomada de decisão do mosquito a curta distância. Por isso, os cientistas construíram uma enorme arena para chegar à raiz dos instintos dos mosquitos na natureza.

“Gosto de pensar nela como a maior loja de perfumes do mundo para mosquitos, onde eles podem escolher o cheiro de que mais gostam”, disse Conor McMeniman, professor assistente de microbiologia molecular e imunologia do Instituto de Pesquisa em Malária da Universidade Johns Hopkins, que liderou o estudo, publicado na revista Current Biology.

Como os mosquitos escolhem seus alvos?

Os mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue, que matam mais de meio milhão de pessoas a cada ano.

O Anopheles gambiae, uma das espécies que transmite a malária, é um caçador particularmente perigoso. Existem várias estimativas de quão longe os mosquitos voam, mas eles tendem a percorrer menos de 800 metros por dia, de acordo com um estudo da África Ocidental. Os mosquitos geralmente se alimentam por volta da meia-noite, quando voam para dentro dos forros abertos das casas. Na Zâmbia, 2 mil pessoas morrem de malária a cada ano.

Para descobrir como esses mosquitos escolhem suas vítimas adormecidas, os cientistas construíram uma arena de testes ao ar livre com o tamanho de quase duas quadras de tênis – 2 mil vezes maior que os experimentos de laboratório. Eles queriam que os mosquitos se aclimatassem no laboratório ao ar livre, então fizeram tudo o que puderam para criar o clima certo.

Nas estações espalhadas pela arena, dutos de ar condicionado entregavam o buquê de diferentes humanos dormindo em tendas próximas. Em cada estação, os aromas canalizados impregnavam placas quentes, aquecidas à temperatura do corpo humano, ao lado de baforadas de dióxido de carbono.

Com uma câmera infravermelha, os cientistas observaram quais placas quentes viravam discotecas de mosquitos. E descobriram que o calor e o dióxido de carbono não eram suficientes para atrair os insetos sem o elemento adicional do odor corporal humano.

“O estudo traz muitas informações novas”, disse Leslie Vosshall, neurobióloga e diretora científica do Instituto de Medicina Howard Hughes, cujo laboratório recentemente descobriu que a química da pele determinava se as pessoas eram ímãs de mosquitos para uma espécie diferente, o Aedes aegypti, transmissor da febre amarela.

“É um mosquito diferente – é um mosquito muito mais importante”, disse Vosshall sobre o Anopheles gambiae. “Mata muito gente, é um verdadeiro predador de seres humanos”.

Mosquitos Anopheles em uma rede colocada em um campo de arroz durante teste de combate à malária na Tanzânia Foto: BAZ RATNER/REUTERS

O estudo descobriu que os mosquitos ficaram particularmente sintonizados com as secreções oleosas que hidratam a pele e a protegem dos micróbios. Compostos químicos chamados ácidos carboxílicos são um forte atrativo – tanto no novo estudo quanto no trabalho de Vosshall sobre o Aedes aegpyti.

Mas um indivíduo no novo estudo pareceu relativamente desagradável, descobriram os pesquisadores. Seu aroma característico incluía uma quantidade anormalmente baixa de ácidos carboxílicos e alto teor de eucaliptol, uma substância encontrada em muitas plantas, levantando a possibilidade de que a dieta talvez tenha um papel importante, disse McMeniman.

O que vem aí nas pesquisas sobre mosquitos?

Agora que os pesquisadores mostraram que sua arena de testes funciona, eles estão planejando um experimento muito maior, no qual vão colocar 120 pessoas adormecidas umas contra as outras, em rodadas de competição de múltipla escolha, para descobrir quem é irresistível para os mosquitos e quem não é.

Os cientistas querem decifrar qual combinação de produtos químicos deixa uma pessoa mais ou menos atraente do que outra. E também vão estudar até que ponto fatores como dieta ou microorganismos na pele das pessoas – o microbioma da pele – influenciam sua atratividade. McMeniman também sonha em construir uma instalação semelhante nos Estados Unidos para testar outras espécies de mosquitos que espalham doenças e estragam churrascos no quintal.

Os insights desses experimentos podem levar a novos jeitos de repelir mosquitos, talvez encontrando maneiras de alterar ou mascarar a química da pele, deixando as pessoas menos atraentes.

Mas a tentativa de explicar por que os mosquitos preferem alguns humanos a outros não vai ter resposta simples. Experimentos anteriores descobriram que as mulheres grávidas são mais propensas a atrair mosquitos. Beber álcool atrai mosquitos. Usar certos tipos de sabonetes, mesmo aqueles que deixam um cheiro dominado por uma substância química conhecida por repelir mosquitos, paradoxalmente aumenta a atratividade das pessoas para os mosquitos.

“O que realmente importa para o mosquito não é o tipo de produto químico mais abundante, mas sim as interações químicas e abundâncias relativas”, disse Clément Vinauger, professor assistente de bioquímica na Virginia Tech. Ele recentemente testou quatro sabonetes muito usados e descobriu que três deles aumentavam a atratividade dos humanos para os mosquitos Aedes aegypti e o quarto – um gel de banho Native Coconut and Vanilla – parecia diminuí-la, provavelmente porque os mosquitos não gostam de óleo de coco.

“A resposta curta”, disse Vinauger, “é que o problema é complicado”./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST - Para desvendar a velha questão de por que os mosquitos comem algumas pessoas vivas, mas poupam outras, os cientistas construíram uma imensa arena ao ar livre na Zâmbia e canalizaram os odores de meia dúzia de humanos adormecidos em tendas próximas. Eles descobriram que os mosquitos transmissores da malária, assim como os da febre amarela, são atraídos por substâncias químicas específicas encontradas na pele das pessoas.

Os pesquisadores também identificaram um indivíduo sortudo cujo odor corporal parecia pouco apetitoso, abrindo um novo caminho na busca de maneiras de evitar as picadas.

De perto, os mosquitos usam pistas visuais e calor corporal para procurar suas presas. Mas quando estão fora do alcance visual – a alguns metros de distância – acredita-se que eles rastreiem dióxido de carbono e outras substâncias químicas encontradas no hálito e no odor corporal. Saber qual é a mistura exata que os mosquitos acham mais atraente continua sendo uma questão que gera muitas pesquisas.

Mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue Foto: Stefan Wermuth/Reuters

Em geral, os experimentos com mosquitos são feitos em caixas relativamente pequenas ou túneis de vento livres da cacofonia aromática do ar livre. Esses experimentos tendem a investigar a tomada de decisão do mosquito a curta distância. Por isso, os cientistas construíram uma enorme arena para chegar à raiz dos instintos dos mosquitos na natureza.

“Gosto de pensar nela como a maior loja de perfumes do mundo para mosquitos, onde eles podem escolher o cheiro de que mais gostam”, disse Conor McMeniman, professor assistente de microbiologia molecular e imunologia do Instituto de Pesquisa em Malária da Universidade Johns Hopkins, que liderou o estudo, publicado na revista Current Biology.

Como os mosquitos escolhem seus alvos?

Os mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue, que matam mais de meio milhão de pessoas a cada ano.

O Anopheles gambiae, uma das espécies que transmite a malária, é um caçador particularmente perigoso. Existem várias estimativas de quão longe os mosquitos voam, mas eles tendem a percorrer menos de 800 metros por dia, de acordo com um estudo da África Ocidental. Os mosquitos geralmente se alimentam por volta da meia-noite, quando voam para dentro dos forros abertos das casas. Na Zâmbia, 2 mil pessoas morrem de malária a cada ano.

Para descobrir como esses mosquitos escolhem suas vítimas adormecidas, os cientistas construíram uma arena de testes ao ar livre com o tamanho de quase duas quadras de tênis – 2 mil vezes maior que os experimentos de laboratório. Eles queriam que os mosquitos se aclimatassem no laboratório ao ar livre, então fizeram tudo o que puderam para criar o clima certo.

Nas estações espalhadas pela arena, dutos de ar condicionado entregavam o buquê de diferentes humanos dormindo em tendas próximas. Em cada estação, os aromas canalizados impregnavam placas quentes, aquecidas à temperatura do corpo humano, ao lado de baforadas de dióxido de carbono.

Com uma câmera infravermelha, os cientistas observaram quais placas quentes viravam discotecas de mosquitos. E descobriram que o calor e o dióxido de carbono não eram suficientes para atrair os insetos sem o elemento adicional do odor corporal humano.

“O estudo traz muitas informações novas”, disse Leslie Vosshall, neurobióloga e diretora científica do Instituto de Medicina Howard Hughes, cujo laboratório recentemente descobriu que a química da pele determinava se as pessoas eram ímãs de mosquitos para uma espécie diferente, o Aedes aegypti, transmissor da febre amarela.

“É um mosquito diferente – é um mosquito muito mais importante”, disse Vosshall sobre o Anopheles gambiae. “Mata muito gente, é um verdadeiro predador de seres humanos”.

Mosquitos Anopheles em uma rede colocada em um campo de arroz durante teste de combate à malária na Tanzânia Foto: BAZ RATNER/REUTERS

O estudo descobriu que os mosquitos ficaram particularmente sintonizados com as secreções oleosas que hidratam a pele e a protegem dos micróbios. Compostos químicos chamados ácidos carboxílicos são um forte atrativo – tanto no novo estudo quanto no trabalho de Vosshall sobre o Aedes aegpyti.

Mas um indivíduo no novo estudo pareceu relativamente desagradável, descobriram os pesquisadores. Seu aroma característico incluía uma quantidade anormalmente baixa de ácidos carboxílicos e alto teor de eucaliptol, uma substância encontrada em muitas plantas, levantando a possibilidade de que a dieta talvez tenha um papel importante, disse McMeniman.

O que vem aí nas pesquisas sobre mosquitos?

Agora que os pesquisadores mostraram que sua arena de testes funciona, eles estão planejando um experimento muito maior, no qual vão colocar 120 pessoas adormecidas umas contra as outras, em rodadas de competição de múltipla escolha, para descobrir quem é irresistível para os mosquitos e quem não é.

Os cientistas querem decifrar qual combinação de produtos químicos deixa uma pessoa mais ou menos atraente do que outra. E também vão estudar até que ponto fatores como dieta ou microorganismos na pele das pessoas – o microbioma da pele – influenciam sua atratividade. McMeniman também sonha em construir uma instalação semelhante nos Estados Unidos para testar outras espécies de mosquitos que espalham doenças e estragam churrascos no quintal.

Os insights desses experimentos podem levar a novos jeitos de repelir mosquitos, talvez encontrando maneiras de alterar ou mascarar a química da pele, deixando as pessoas menos atraentes.

Mas a tentativa de explicar por que os mosquitos preferem alguns humanos a outros não vai ter resposta simples. Experimentos anteriores descobriram que as mulheres grávidas são mais propensas a atrair mosquitos. Beber álcool atrai mosquitos. Usar certos tipos de sabonetes, mesmo aqueles que deixam um cheiro dominado por uma substância química conhecida por repelir mosquitos, paradoxalmente aumenta a atratividade das pessoas para os mosquitos.

“O que realmente importa para o mosquito não é o tipo de produto químico mais abundante, mas sim as interações químicas e abundâncias relativas”, disse Clément Vinauger, professor assistente de bioquímica na Virginia Tech. Ele recentemente testou quatro sabonetes muito usados e descobriu que três deles aumentavam a atratividade dos humanos para os mosquitos Aedes aegypti e o quarto – um gel de banho Native Coconut and Vanilla – parecia diminuí-la, provavelmente porque os mosquitos não gostam de óleo de coco.

“A resposta curta”, disse Vinauger, “é que o problema é complicado”./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST - Para desvendar a velha questão de por que os mosquitos comem algumas pessoas vivas, mas poupam outras, os cientistas construíram uma imensa arena ao ar livre na Zâmbia e canalizaram os odores de meia dúzia de humanos adormecidos em tendas próximas. Eles descobriram que os mosquitos transmissores da malária, assim como os da febre amarela, são atraídos por substâncias químicas específicas encontradas na pele das pessoas.

Os pesquisadores também identificaram um indivíduo sortudo cujo odor corporal parecia pouco apetitoso, abrindo um novo caminho na busca de maneiras de evitar as picadas.

De perto, os mosquitos usam pistas visuais e calor corporal para procurar suas presas. Mas quando estão fora do alcance visual – a alguns metros de distância – acredita-se que eles rastreiem dióxido de carbono e outras substâncias químicas encontradas no hálito e no odor corporal. Saber qual é a mistura exata que os mosquitos acham mais atraente continua sendo uma questão que gera muitas pesquisas.

Mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue Foto: Stefan Wermuth/Reuters

Em geral, os experimentos com mosquitos são feitos em caixas relativamente pequenas ou túneis de vento livres da cacofonia aromática do ar livre. Esses experimentos tendem a investigar a tomada de decisão do mosquito a curta distância. Por isso, os cientistas construíram uma enorme arena para chegar à raiz dos instintos dos mosquitos na natureza.

“Gosto de pensar nela como a maior loja de perfumes do mundo para mosquitos, onde eles podem escolher o cheiro de que mais gostam”, disse Conor McMeniman, professor assistente de microbiologia molecular e imunologia do Instituto de Pesquisa em Malária da Universidade Johns Hopkins, que liderou o estudo, publicado na revista Current Biology.

Como os mosquitos escolhem seus alvos?

Os mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue, que matam mais de meio milhão de pessoas a cada ano.

O Anopheles gambiae, uma das espécies que transmite a malária, é um caçador particularmente perigoso. Existem várias estimativas de quão longe os mosquitos voam, mas eles tendem a percorrer menos de 800 metros por dia, de acordo com um estudo da África Ocidental. Os mosquitos geralmente se alimentam por volta da meia-noite, quando voam para dentro dos forros abertos das casas. Na Zâmbia, 2 mil pessoas morrem de malária a cada ano.

Para descobrir como esses mosquitos escolhem suas vítimas adormecidas, os cientistas construíram uma arena de testes ao ar livre com o tamanho de quase duas quadras de tênis – 2 mil vezes maior que os experimentos de laboratório. Eles queriam que os mosquitos se aclimatassem no laboratório ao ar livre, então fizeram tudo o que puderam para criar o clima certo.

Nas estações espalhadas pela arena, dutos de ar condicionado entregavam o buquê de diferentes humanos dormindo em tendas próximas. Em cada estação, os aromas canalizados impregnavam placas quentes, aquecidas à temperatura do corpo humano, ao lado de baforadas de dióxido de carbono.

Com uma câmera infravermelha, os cientistas observaram quais placas quentes viravam discotecas de mosquitos. E descobriram que o calor e o dióxido de carbono não eram suficientes para atrair os insetos sem o elemento adicional do odor corporal humano.

“O estudo traz muitas informações novas”, disse Leslie Vosshall, neurobióloga e diretora científica do Instituto de Medicina Howard Hughes, cujo laboratório recentemente descobriu que a química da pele determinava se as pessoas eram ímãs de mosquitos para uma espécie diferente, o Aedes aegypti, transmissor da febre amarela.

“É um mosquito diferente – é um mosquito muito mais importante”, disse Vosshall sobre o Anopheles gambiae. “Mata muito gente, é um verdadeiro predador de seres humanos”.

Mosquitos Anopheles em uma rede colocada em um campo de arroz durante teste de combate à malária na Tanzânia Foto: BAZ RATNER/REUTERS

O estudo descobriu que os mosquitos ficaram particularmente sintonizados com as secreções oleosas que hidratam a pele e a protegem dos micróbios. Compostos químicos chamados ácidos carboxílicos são um forte atrativo – tanto no novo estudo quanto no trabalho de Vosshall sobre o Aedes aegpyti.

Mas um indivíduo no novo estudo pareceu relativamente desagradável, descobriram os pesquisadores. Seu aroma característico incluía uma quantidade anormalmente baixa de ácidos carboxílicos e alto teor de eucaliptol, uma substância encontrada em muitas plantas, levantando a possibilidade de que a dieta talvez tenha um papel importante, disse McMeniman.

O que vem aí nas pesquisas sobre mosquitos?

Agora que os pesquisadores mostraram que sua arena de testes funciona, eles estão planejando um experimento muito maior, no qual vão colocar 120 pessoas adormecidas umas contra as outras, em rodadas de competição de múltipla escolha, para descobrir quem é irresistível para os mosquitos e quem não é.

Os cientistas querem decifrar qual combinação de produtos químicos deixa uma pessoa mais ou menos atraente do que outra. E também vão estudar até que ponto fatores como dieta ou microorganismos na pele das pessoas – o microbioma da pele – influenciam sua atratividade. McMeniman também sonha em construir uma instalação semelhante nos Estados Unidos para testar outras espécies de mosquitos que espalham doenças e estragam churrascos no quintal.

Os insights desses experimentos podem levar a novos jeitos de repelir mosquitos, talvez encontrando maneiras de alterar ou mascarar a química da pele, deixando as pessoas menos atraentes.

Mas a tentativa de explicar por que os mosquitos preferem alguns humanos a outros não vai ter resposta simples. Experimentos anteriores descobriram que as mulheres grávidas são mais propensas a atrair mosquitos. Beber álcool atrai mosquitos. Usar certos tipos de sabonetes, mesmo aqueles que deixam um cheiro dominado por uma substância química conhecida por repelir mosquitos, paradoxalmente aumenta a atratividade das pessoas para os mosquitos.

“O que realmente importa para o mosquito não é o tipo de produto químico mais abundante, mas sim as interações químicas e abundâncias relativas”, disse Clément Vinauger, professor assistente de bioquímica na Virginia Tech. Ele recentemente testou quatro sabonetes muito usados e descobriu que três deles aumentavam a atratividade dos humanos para os mosquitos Aedes aegypti e o quarto – um gel de banho Native Coconut and Vanilla – parecia diminuí-la, provavelmente porque os mosquitos não gostam de óleo de coco.

“A resposta curta”, disse Vinauger, “é que o problema é complicado”./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST - Para desvendar a velha questão de por que os mosquitos comem algumas pessoas vivas, mas poupam outras, os cientistas construíram uma imensa arena ao ar livre na Zâmbia e canalizaram os odores de meia dúzia de humanos adormecidos em tendas próximas. Eles descobriram que os mosquitos transmissores da malária, assim como os da febre amarela, são atraídos por substâncias químicas específicas encontradas na pele das pessoas.

Os pesquisadores também identificaram um indivíduo sortudo cujo odor corporal parecia pouco apetitoso, abrindo um novo caminho na busca de maneiras de evitar as picadas.

De perto, os mosquitos usam pistas visuais e calor corporal para procurar suas presas. Mas quando estão fora do alcance visual – a alguns metros de distância – acredita-se que eles rastreiem dióxido de carbono e outras substâncias químicas encontradas no hálito e no odor corporal. Saber qual é a mistura exata que os mosquitos acham mais atraente continua sendo uma questão que gera muitas pesquisas.

Mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue Foto: Stefan Wermuth/Reuters

Em geral, os experimentos com mosquitos são feitos em caixas relativamente pequenas ou túneis de vento livres da cacofonia aromática do ar livre. Esses experimentos tendem a investigar a tomada de decisão do mosquito a curta distância. Por isso, os cientistas construíram uma enorme arena para chegar à raiz dos instintos dos mosquitos na natureza.

“Gosto de pensar nela como a maior loja de perfumes do mundo para mosquitos, onde eles podem escolher o cheiro de que mais gostam”, disse Conor McMeniman, professor assistente de microbiologia molecular e imunologia do Instituto de Pesquisa em Malária da Universidade Johns Hopkins, que liderou o estudo, publicado na revista Current Biology.

Como os mosquitos escolhem seus alvos?

Os mosquitos são os predadores mais letais dos seres humanos, transmitindo doenças como malária, febre amarela e dengue, que matam mais de meio milhão de pessoas a cada ano.

O Anopheles gambiae, uma das espécies que transmite a malária, é um caçador particularmente perigoso. Existem várias estimativas de quão longe os mosquitos voam, mas eles tendem a percorrer menos de 800 metros por dia, de acordo com um estudo da África Ocidental. Os mosquitos geralmente se alimentam por volta da meia-noite, quando voam para dentro dos forros abertos das casas. Na Zâmbia, 2 mil pessoas morrem de malária a cada ano.

Para descobrir como esses mosquitos escolhem suas vítimas adormecidas, os cientistas construíram uma arena de testes ao ar livre com o tamanho de quase duas quadras de tênis – 2 mil vezes maior que os experimentos de laboratório. Eles queriam que os mosquitos se aclimatassem no laboratório ao ar livre, então fizeram tudo o que puderam para criar o clima certo.

Nas estações espalhadas pela arena, dutos de ar condicionado entregavam o buquê de diferentes humanos dormindo em tendas próximas. Em cada estação, os aromas canalizados impregnavam placas quentes, aquecidas à temperatura do corpo humano, ao lado de baforadas de dióxido de carbono.

Com uma câmera infravermelha, os cientistas observaram quais placas quentes viravam discotecas de mosquitos. E descobriram que o calor e o dióxido de carbono não eram suficientes para atrair os insetos sem o elemento adicional do odor corporal humano.

“O estudo traz muitas informações novas”, disse Leslie Vosshall, neurobióloga e diretora científica do Instituto de Medicina Howard Hughes, cujo laboratório recentemente descobriu que a química da pele determinava se as pessoas eram ímãs de mosquitos para uma espécie diferente, o Aedes aegypti, transmissor da febre amarela.

“É um mosquito diferente – é um mosquito muito mais importante”, disse Vosshall sobre o Anopheles gambiae. “Mata muito gente, é um verdadeiro predador de seres humanos”.

Mosquitos Anopheles em uma rede colocada em um campo de arroz durante teste de combate à malária na Tanzânia Foto: BAZ RATNER/REUTERS

O estudo descobriu que os mosquitos ficaram particularmente sintonizados com as secreções oleosas que hidratam a pele e a protegem dos micróbios. Compostos químicos chamados ácidos carboxílicos são um forte atrativo – tanto no novo estudo quanto no trabalho de Vosshall sobre o Aedes aegpyti.

Mas um indivíduo no novo estudo pareceu relativamente desagradável, descobriram os pesquisadores. Seu aroma característico incluía uma quantidade anormalmente baixa de ácidos carboxílicos e alto teor de eucaliptol, uma substância encontrada em muitas plantas, levantando a possibilidade de que a dieta talvez tenha um papel importante, disse McMeniman.

O que vem aí nas pesquisas sobre mosquitos?

Agora que os pesquisadores mostraram que sua arena de testes funciona, eles estão planejando um experimento muito maior, no qual vão colocar 120 pessoas adormecidas umas contra as outras, em rodadas de competição de múltipla escolha, para descobrir quem é irresistível para os mosquitos e quem não é.

Os cientistas querem decifrar qual combinação de produtos químicos deixa uma pessoa mais ou menos atraente do que outra. E também vão estudar até que ponto fatores como dieta ou microorganismos na pele das pessoas – o microbioma da pele – influenciam sua atratividade. McMeniman também sonha em construir uma instalação semelhante nos Estados Unidos para testar outras espécies de mosquitos que espalham doenças e estragam churrascos no quintal.

Os insights desses experimentos podem levar a novos jeitos de repelir mosquitos, talvez encontrando maneiras de alterar ou mascarar a química da pele, deixando as pessoas menos atraentes.

Mas a tentativa de explicar por que os mosquitos preferem alguns humanos a outros não vai ter resposta simples. Experimentos anteriores descobriram que as mulheres grávidas são mais propensas a atrair mosquitos. Beber álcool atrai mosquitos. Usar certos tipos de sabonetes, mesmo aqueles que deixam um cheiro dominado por uma substância química conhecida por repelir mosquitos, paradoxalmente aumenta a atratividade das pessoas para os mosquitos.

“O que realmente importa para o mosquito não é o tipo de produto químico mais abundante, mas sim as interações químicas e abundâncias relativas”, disse Clément Vinauger, professor assistente de bioquímica na Virginia Tech. Ele recentemente testou quatro sabonetes muito usados e descobriu que três deles aumentavam a atratividade dos humanos para os mosquitos Aedes aegypti e o quarto – um gel de banho Native Coconut and Vanilla – parecia diminuí-la, provavelmente porque os mosquitos não gostam de óleo de coco.

“A resposta curta”, disse Vinauger, “é que o problema é complicado”./ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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