Por que eclipse solar, para os maias, estava ligado até a sacrifícios humanos?


Muitas grandes civilizações conseguiram desenvolver formas de prever eclipses, ainda que não tivessem comunicação entre si

Por Ramana Rech
Atualização:

Os maias, povo pré-hispânico que habita a região onde hoje é o México, mantinham uma série de rituais durante eclipses solares que envolviam sacrifício de pessoas, animais e até mesmo da nobreza. O Sol era a principal divindade para os maias, chamado de Kinich Ahau, e seu escurecimento no meio do dia provocava medo e era visto como sinal de mau agouro. O planejamento dos rituais era possibilitado pela alta previsibilidade do calendário maia.

Civilização maia, que viveu na região onde hoje está o México, foi uma das mais avançadas entre os povos pré-colombianos Foto: bayazed - stock.adobe.com

Ao longo dos séculos, os cientistas aprimoraram as ferramentas que estabelecem cronogramas para esses fenômenos astronômicos. Para esta segunda-feira, 8, é previsto um eclipse solar total justamente na América do Norte.

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Na visão dos maias, todos os dias o Sol morria e percorria o mundo das sombras e da morte para aparecer no dia seguinte e, assim, manter a ordem cosmológica. “A sombra provocada pelo eclipse era sinal de que o Sol estava morrendo, pois o fenômeno ocorre de dia durante o brilho solar”, diz o professor de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Alexandre Guida Navarro.

“Era como se a noite, o mundo das sombras, o Inframundo, tivesse tomado conta do dia e, assim, destruí-lo”, acrescenta.

O sangue representava um elemento fundamental da criação do universo. Diante da tentativa do Inframundo de tomar conta, o sangue como líquido vital era capaz de fortalecer Kinich Ahau (Sol) e dar-lhe forças para derrotar as sombras. Prisioneiros de guerra eram sacrificados em eventos de três formas diferentes: retirada do coração, das vísceras ou esmagamento do crânio.

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Seis páginas do Códice de Dresden que mostram o eclipse e o dilúvio, por exemplo. Foto: Wikimedia Commons/Reprodução

A nobreza e os reis também se perfuravam com facas construídas a partir de esqueleto de animais marinhos. Eles podiam se cortar no braços, mas o principal eram órgãos genitais. O sangue dos reis era valioso, pois eles eram considerados os representantes de divindades na Terra.

Navarro explica que os astros regiam a vida religiosa e social dos maias. Isso era possível a partir de um calendário extremamente preciso dos eventos celestes, por meio do qual organizavam casamentos e guerras. Os maias acertavam aproximadamente 55% das previsões de eclipses, estimam os cientistas hoje.

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Os sacerdotes e a nobreza adquiram conhecimento suficiente para empregar um sistema complexo em que contavam o tempo em que a Lua demorava para passar em todas as suas fases, associado às datas no chamado calendário de data longa.

De acordo com a Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa), esse povo conseguiu prever o eclipse solar de julho de 1991. Eles deixavam seus registros em hieróglifos esculpidos em pedra, pintados em cerâmica e murais, e escritos em livros dobráveis chamados de Códices de Dresden.

Além de cálculos do Sol e da Lua, esses manuscritos continham calendários dos rituais e de adivinhação, cálculos das fases de Vênus, instruções sobre cerimônias de ano novo e descrições das localizações do Deus da Chuva. Nele, o eclipse é representado com o Sol, duas fêmures, como sinal de morte, e campos preto e branco que se assemelham a asas de borboleta, segundo artigo do Instituto Nacional de Antropologia e História do México.

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Um eclipse solar total poderá ser visto na América do Norte em 8 de abril de 2024 Foto: Agência Espacial do Canadá/Reprodução

A civilização maia teve origem quase dois mil anos antes de Cristo e já estava em decadência quando os europeus iniciaram a colonização das Américas, no século 16. Hoje, muito do que se sabe dos maias, também tem origem nas observações registradas pelos espanhóis ao entrarem em contato com os povos pré-hispânicos.

Grandes civilizações e eclipses

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Parte significativa das grandes civilizações da Antiguidade desenvolveu tecnologias para prever os eclipses. E isso aconteceu ainda que elas não tivessem comunicação entre si, ressalta o astrônomo e professor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), Gabriel Hickel .

Entretanto, foi necessário um trabalho conjunto de milhares de anos para conseguir prever os eclipses. Embora a astronomia tenha surgido por volta de 6 mil anos, o registro mais antigo de um eclipse que conseguiu ser previsto pelos humanos é do dia 5 de março do ano 1.223 anos antes de Cristo.

O registro astronômico foi encontrado no sítio arqueológico de Ugarit, atual Síria, em 1948. Quem observou o fenômeno, conta Hickel, foram os assírios, mas a previsão havia sido feita pelos babilônios.

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Um eclipse solar total poderá ser visto na América do Norte em 8 de abril de 2024 Foto: Agência Espacial do Canadá/Reprodução

A astronomia teve início com as estratégias de domínio das técnicas de agricultura pelos povos antigos. Hickel conta que a atividade permitiu que as pessoas tivesse tempo para se dedicar à observação do céu.

Esse estudo logo se mostrou útil para criar marcadores do tempo e ver os melhores períodos para melhor rendimento justamente nas atividades agrícolas.

Hoje, computadores aumentam cada vez mais a precisão dos cálculos de quando haverá um próximo eclipse. Entretanto, como conta Hickel, a previsibilidade de eclipses em tempos modernos também tem limites.

Ao estender a previsão para milhares de anos, as chances de erros aumentam. “Quando você começa a calcular para daqui a 30 mil, 40 mil anos, pode ser que a previsão falhe, porque vão acumulando os erros”, explica.

Pioneirismo no Oriente Médio

O conhecimento ocidental da astronomia teve seus primórdios no Oriente Médio. Os sumérios foram uma das primeiras civilizações sedentárias e viviam na atual região do Irã e do Iraque. Eles também tiveram pioneirismo na astronomia, juntamente com os chineses.

Entre 5 mil e 6 mil anos antes de Cristo, os sumérios começaram a fazer observações minuciosas dos movimentos da Lua e do Sol e, por vezes, até de outros planetas. Eles buscavam, com isso, criar uma espécie de calendário para prever, por exemplo, os períodos de chuva.

A civilização desapareceu e, no lugar surgiu a Babilônia, que aproveitou os conhecimentos produzidos anteriormente pelos sumérios. Os babilônios, por sua vez, entre 2 mil e 2,5 mil anos A.C., notaram que o que hoje se conhece como ciclo de Saros dura quase 19 anos ou, de forma mais precisa, 18 anos 11 dias e 8 horas.

Isso significa que o dia do ano só irá coincidir com um mesmo momento da fase da Lua daqui a 19 anos. Isso porque a divisão entre a quantidade de dias de um ano (cerca de 365) e os dias da fase da lua (29) não é um número exato.

“Neste mês vamos ter a Lua cheia no dia 23. Ano que vem a Lua cheia de abril não cai no dia 23, mas em outro dia, porque não há essa concordância entre o período de lunação e o de translação da terra, que é o ano”, explica o professor.

Essa descoberta permitiu previsibilidade das fases da Lua ao longo de 12 meses. Os babilônicos registravam os achados em argila.

Os sucessores dos babilônicos foram os assírios. Esses povos já tinha registros suficientes para conseguir notar a periodicidade do eclipse e conseguiram corresponder esses dados com o do ciclo de Saros. Assim, os assírios se tornaram capazes de prever quando um eclipse aconteceria, mas não sabiam o porquê, afirma Hickel.

O ciclo de 19 anos não significava que eles veriam um eclipse a cada 19 anos, mas de um número múltiplo.

Por volta de 400 anos A.C os persas chegaram e dominaram o Oriente Médio, incluindo a ascendência sobre os assírios. Chegaram também até os gregos, difundindo os conhecimentos na observação de eclipses dos assírios.

Os gregos, mais tarde, sofreram invasão de Império de Roma. Os romanos então absorveram o que os gregos tinham aprendido com os persas e difundiram esse conhecimento na Europa.

Os maias, povo pré-hispânico que habita a região onde hoje é o México, mantinham uma série de rituais durante eclipses solares que envolviam sacrifício de pessoas, animais e até mesmo da nobreza. O Sol era a principal divindade para os maias, chamado de Kinich Ahau, e seu escurecimento no meio do dia provocava medo e era visto como sinal de mau agouro. O planejamento dos rituais era possibilitado pela alta previsibilidade do calendário maia.

Civilização maia, que viveu na região onde hoje está o México, foi uma das mais avançadas entre os povos pré-colombianos Foto: bayazed - stock.adobe.com

Ao longo dos séculos, os cientistas aprimoraram as ferramentas que estabelecem cronogramas para esses fenômenos astronômicos. Para esta segunda-feira, 8, é previsto um eclipse solar total justamente na América do Norte.

Na visão dos maias, todos os dias o Sol morria e percorria o mundo das sombras e da morte para aparecer no dia seguinte e, assim, manter a ordem cosmológica. “A sombra provocada pelo eclipse era sinal de que o Sol estava morrendo, pois o fenômeno ocorre de dia durante o brilho solar”, diz o professor de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Alexandre Guida Navarro.

“Era como se a noite, o mundo das sombras, o Inframundo, tivesse tomado conta do dia e, assim, destruí-lo”, acrescenta.

O sangue representava um elemento fundamental da criação do universo. Diante da tentativa do Inframundo de tomar conta, o sangue como líquido vital era capaz de fortalecer Kinich Ahau (Sol) e dar-lhe forças para derrotar as sombras. Prisioneiros de guerra eram sacrificados em eventos de três formas diferentes: retirada do coração, das vísceras ou esmagamento do crânio.

Seis páginas do Códice de Dresden que mostram o eclipse e o dilúvio, por exemplo. Foto: Wikimedia Commons/Reprodução

A nobreza e os reis também se perfuravam com facas construídas a partir de esqueleto de animais marinhos. Eles podiam se cortar no braços, mas o principal eram órgãos genitais. O sangue dos reis era valioso, pois eles eram considerados os representantes de divindades na Terra.

Navarro explica que os astros regiam a vida religiosa e social dos maias. Isso era possível a partir de um calendário extremamente preciso dos eventos celestes, por meio do qual organizavam casamentos e guerras. Os maias acertavam aproximadamente 55% das previsões de eclipses, estimam os cientistas hoje.

Os sacerdotes e a nobreza adquiram conhecimento suficiente para empregar um sistema complexo em que contavam o tempo em que a Lua demorava para passar em todas as suas fases, associado às datas no chamado calendário de data longa.

De acordo com a Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa), esse povo conseguiu prever o eclipse solar de julho de 1991. Eles deixavam seus registros em hieróglifos esculpidos em pedra, pintados em cerâmica e murais, e escritos em livros dobráveis chamados de Códices de Dresden.

Além de cálculos do Sol e da Lua, esses manuscritos continham calendários dos rituais e de adivinhação, cálculos das fases de Vênus, instruções sobre cerimônias de ano novo e descrições das localizações do Deus da Chuva. Nele, o eclipse é representado com o Sol, duas fêmures, como sinal de morte, e campos preto e branco que se assemelham a asas de borboleta, segundo artigo do Instituto Nacional de Antropologia e História do México.

Um eclipse solar total poderá ser visto na América do Norte em 8 de abril de 2024 Foto: Agência Espacial do Canadá/Reprodução

A civilização maia teve origem quase dois mil anos antes de Cristo e já estava em decadência quando os europeus iniciaram a colonização das Américas, no século 16. Hoje, muito do que se sabe dos maias, também tem origem nas observações registradas pelos espanhóis ao entrarem em contato com os povos pré-hispânicos.

Grandes civilizações e eclipses

Parte significativa das grandes civilizações da Antiguidade desenvolveu tecnologias para prever os eclipses. E isso aconteceu ainda que elas não tivessem comunicação entre si, ressalta o astrônomo e professor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), Gabriel Hickel .

Entretanto, foi necessário um trabalho conjunto de milhares de anos para conseguir prever os eclipses. Embora a astronomia tenha surgido por volta de 6 mil anos, o registro mais antigo de um eclipse que conseguiu ser previsto pelos humanos é do dia 5 de março do ano 1.223 anos antes de Cristo.

O registro astronômico foi encontrado no sítio arqueológico de Ugarit, atual Síria, em 1948. Quem observou o fenômeno, conta Hickel, foram os assírios, mas a previsão havia sido feita pelos babilônios.

Um eclipse solar total poderá ser visto na América do Norte em 8 de abril de 2024 Foto: Agência Espacial do Canadá/Reprodução

A astronomia teve início com as estratégias de domínio das técnicas de agricultura pelos povos antigos. Hickel conta que a atividade permitiu que as pessoas tivesse tempo para se dedicar à observação do céu.

Esse estudo logo se mostrou útil para criar marcadores do tempo e ver os melhores períodos para melhor rendimento justamente nas atividades agrícolas.

Hoje, computadores aumentam cada vez mais a precisão dos cálculos de quando haverá um próximo eclipse. Entretanto, como conta Hickel, a previsibilidade de eclipses em tempos modernos também tem limites.

Ao estender a previsão para milhares de anos, as chances de erros aumentam. “Quando você começa a calcular para daqui a 30 mil, 40 mil anos, pode ser que a previsão falhe, porque vão acumulando os erros”, explica.

Pioneirismo no Oriente Médio

O conhecimento ocidental da astronomia teve seus primórdios no Oriente Médio. Os sumérios foram uma das primeiras civilizações sedentárias e viviam na atual região do Irã e do Iraque. Eles também tiveram pioneirismo na astronomia, juntamente com os chineses.

Entre 5 mil e 6 mil anos antes de Cristo, os sumérios começaram a fazer observações minuciosas dos movimentos da Lua e do Sol e, por vezes, até de outros planetas. Eles buscavam, com isso, criar uma espécie de calendário para prever, por exemplo, os períodos de chuva.

A civilização desapareceu e, no lugar surgiu a Babilônia, que aproveitou os conhecimentos produzidos anteriormente pelos sumérios. Os babilônios, por sua vez, entre 2 mil e 2,5 mil anos A.C., notaram que o que hoje se conhece como ciclo de Saros dura quase 19 anos ou, de forma mais precisa, 18 anos 11 dias e 8 horas.

Isso significa que o dia do ano só irá coincidir com um mesmo momento da fase da Lua daqui a 19 anos. Isso porque a divisão entre a quantidade de dias de um ano (cerca de 365) e os dias da fase da lua (29) não é um número exato.

“Neste mês vamos ter a Lua cheia no dia 23. Ano que vem a Lua cheia de abril não cai no dia 23, mas em outro dia, porque não há essa concordância entre o período de lunação e o de translação da terra, que é o ano”, explica o professor.

Essa descoberta permitiu previsibilidade das fases da Lua ao longo de 12 meses. Os babilônicos registravam os achados em argila.

Os sucessores dos babilônicos foram os assírios. Esses povos já tinha registros suficientes para conseguir notar a periodicidade do eclipse e conseguiram corresponder esses dados com o do ciclo de Saros. Assim, os assírios se tornaram capazes de prever quando um eclipse aconteceria, mas não sabiam o porquê, afirma Hickel.

O ciclo de 19 anos não significava que eles veriam um eclipse a cada 19 anos, mas de um número múltiplo.

Por volta de 400 anos A.C os persas chegaram e dominaram o Oriente Médio, incluindo a ascendência sobre os assírios. Chegaram também até os gregos, difundindo os conhecimentos na observação de eclipses dos assírios.

Os gregos, mais tarde, sofreram invasão de Império de Roma. Os romanos então absorveram o que os gregos tinham aprendido com os persas e difundiram esse conhecimento na Europa.

Os maias, povo pré-hispânico que habita a região onde hoje é o México, mantinham uma série de rituais durante eclipses solares que envolviam sacrifício de pessoas, animais e até mesmo da nobreza. O Sol era a principal divindade para os maias, chamado de Kinich Ahau, e seu escurecimento no meio do dia provocava medo e era visto como sinal de mau agouro. O planejamento dos rituais era possibilitado pela alta previsibilidade do calendário maia.

Civilização maia, que viveu na região onde hoje está o México, foi uma das mais avançadas entre os povos pré-colombianos Foto: bayazed - stock.adobe.com

Ao longo dos séculos, os cientistas aprimoraram as ferramentas que estabelecem cronogramas para esses fenômenos astronômicos. Para esta segunda-feira, 8, é previsto um eclipse solar total justamente na América do Norte.

Na visão dos maias, todos os dias o Sol morria e percorria o mundo das sombras e da morte para aparecer no dia seguinte e, assim, manter a ordem cosmológica. “A sombra provocada pelo eclipse era sinal de que o Sol estava morrendo, pois o fenômeno ocorre de dia durante o brilho solar”, diz o professor de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Alexandre Guida Navarro.

“Era como se a noite, o mundo das sombras, o Inframundo, tivesse tomado conta do dia e, assim, destruí-lo”, acrescenta.

O sangue representava um elemento fundamental da criação do universo. Diante da tentativa do Inframundo de tomar conta, o sangue como líquido vital era capaz de fortalecer Kinich Ahau (Sol) e dar-lhe forças para derrotar as sombras. Prisioneiros de guerra eram sacrificados em eventos de três formas diferentes: retirada do coração, das vísceras ou esmagamento do crânio.

Seis páginas do Códice de Dresden que mostram o eclipse e o dilúvio, por exemplo. Foto: Wikimedia Commons/Reprodução

A nobreza e os reis também se perfuravam com facas construídas a partir de esqueleto de animais marinhos. Eles podiam se cortar no braços, mas o principal eram órgãos genitais. O sangue dos reis era valioso, pois eles eram considerados os representantes de divindades na Terra.

Navarro explica que os astros regiam a vida religiosa e social dos maias. Isso era possível a partir de um calendário extremamente preciso dos eventos celestes, por meio do qual organizavam casamentos e guerras. Os maias acertavam aproximadamente 55% das previsões de eclipses, estimam os cientistas hoje.

Os sacerdotes e a nobreza adquiram conhecimento suficiente para empregar um sistema complexo em que contavam o tempo em que a Lua demorava para passar em todas as suas fases, associado às datas no chamado calendário de data longa.

De acordo com a Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa), esse povo conseguiu prever o eclipse solar de julho de 1991. Eles deixavam seus registros em hieróglifos esculpidos em pedra, pintados em cerâmica e murais, e escritos em livros dobráveis chamados de Códices de Dresden.

Além de cálculos do Sol e da Lua, esses manuscritos continham calendários dos rituais e de adivinhação, cálculos das fases de Vênus, instruções sobre cerimônias de ano novo e descrições das localizações do Deus da Chuva. Nele, o eclipse é representado com o Sol, duas fêmures, como sinal de morte, e campos preto e branco que se assemelham a asas de borboleta, segundo artigo do Instituto Nacional de Antropologia e História do México.

Um eclipse solar total poderá ser visto na América do Norte em 8 de abril de 2024 Foto: Agência Espacial do Canadá/Reprodução

A civilização maia teve origem quase dois mil anos antes de Cristo e já estava em decadência quando os europeus iniciaram a colonização das Américas, no século 16. Hoje, muito do que se sabe dos maias, também tem origem nas observações registradas pelos espanhóis ao entrarem em contato com os povos pré-hispânicos.

Grandes civilizações e eclipses

Parte significativa das grandes civilizações da Antiguidade desenvolveu tecnologias para prever os eclipses. E isso aconteceu ainda que elas não tivessem comunicação entre si, ressalta o astrônomo e professor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), Gabriel Hickel .

Entretanto, foi necessário um trabalho conjunto de milhares de anos para conseguir prever os eclipses. Embora a astronomia tenha surgido por volta de 6 mil anos, o registro mais antigo de um eclipse que conseguiu ser previsto pelos humanos é do dia 5 de março do ano 1.223 anos antes de Cristo.

O registro astronômico foi encontrado no sítio arqueológico de Ugarit, atual Síria, em 1948. Quem observou o fenômeno, conta Hickel, foram os assírios, mas a previsão havia sido feita pelos babilônios.

Um eclipse solar total poderá ser visto na América do Norte em 8 de abril de 2024 Foto: Agência Espacial do Canadá/Reprodução

A astronomia teve início com as estratégias de domínio das técnicas de agricultura pelos povos antigos. Hickel conta que a atividade permitiu que as pessoas tivesse tempo para se dedicar à observação do céu.

Esse estudo logo se mostrou útil para criar marcadores do tempo e ver os melhores períodos para melhor rendimento justamente nas atividades agrícolas.

Hoje, computadores aumentam cada vez mais a precisão dos cálculos de quando haverá um próximo eclipse. Entretanto, como conta Hickel, a previsibilidade de eclipses em tempos modernos também tem limites.

Ao estender a previsão para milhares de anos, as chances de erros aumentam. “Quando você começa a calcular para daqui a 30 mil, 40 mil anos, pode ser que a previsão falhe, porque vão acumulando os erros”, explica.

Pioneirismo no Oriente Médio

O conhecimento ocidental da astronomia teve seus primórdios no Oriente Médio. Os sumérios foram uma das primeiras civilizações sedentárias e viviam na atual região do Irã e do Iraque. Eles também tiveram pioneirismo na astronomia, juntamente com os chineses.

Entre 5 mil e 6 mil anos antes de Cristo, os sumérios começaram a fazer observações minuciosas dos movimentos da Lua e do Sol e, por vezes, até de outros planetas. Eles buscavam, com isso, criar uma espécie de calendário para prever, por exemplo, os períodos de chuva.

A civilização desapareceu e, no lugar surgiu a Babilônia, que aproveitou os conhecimentos produzidos anteriormente pelos sumérios. Os babilônios, por sua vez, entre 2 mil e 2,5 mil anos A.C., notaram que o que hoje se conhece como ciclo de Saros dura quase 19 anos ou, de forma mais precisa, 18 anos 11 dias e 8 horas.

Isso significa que o dia do ano só irá coincidir com um mesmo momento da fase da Lua daqui a 19 anos. Isso porque a divisão entre a quantidade de dias de um ano (cerca de 365) e os dias da fase da lua (29) não é um número exato.

“Neste mês vamos ter a Lua cheia no dia 23. Ano que vem a Lua cheia de abril não cai no dia 23, mas em outro dia, porque não há essa concordância entre o período de lunação e o de translação da terra, que é o ano”, explica o professor.

Essa descoberta permitiu previsibilidade das fases da Lua ao longo de 12 meses. Os babilônicos registravam os achados em argila.

Os sucessores dos babilônicos foram os assírios. Esses povos já tinha registros suficientes para conseguir notar a periodicidade do eclipse e conseguiram corresponder esses dados com o do ciclo de Saros. Assim, os assírios se tornaram capazes de prever quando um eclipse aconteceria, mas não sabiam o porquê, afirma Hickel.

O ciclo de 19 anos não significava que eles veriam um eclipse a cada 19 anos, mas de um número múltiplo.

Por volta de 400 anos A.C os persas chegaram e dominaram o Oriente Médio, incluindo a ascendência sobre os assírios. Chegaram também até os gregos, difundindo os conhecimentos na observação de eclipses dos assírios.

Os gregos, mais tarde, sofreram invasão de Império de Roma. Os romanos então absorveram o que os gregos tinham aprendido com os persas e difundiram esse conhecimento na Europa.

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