Milhares de animais e plantas que correm risco de extinção podem ser salvos se houver foco na preservação de uma área que corresponde a apenas 1,2% da superfície da Terra. Essa é a conclusão de um estudo publicado pela revista científica Frontiers in Science que teve a participação de 24 pesquisadores de diferentes nacionalidades.
“Para definir quais áreas devem ser protegidas para evitar extinções mais prováveis e iminentes, propomos Imperativos de Conservação”, explica o estudo. Os “Imperativos de Conservação” são locais estratégicos que abrigam um número relevante de espécies em risco de extinção e que, por isso, poderiam ter um grande impacto na preservação do meio ambiente como um todo.
Com base nesse mapeamento, os pesquisadores criticaram a implementação de áreas de proteção ambiental que não levam em conta a preservação efetiva de espécies em extinção. O estudo revela que o trabalho feito até aqui beira a ineficácia: entre 2018 e 2023, apenas 7% das novas áreas de preservação estavam em territórios que abrigam espécies ameaçadas.
“É como se os países estivessem usando um algoritmo de seleção reversa e escolhendo os locais sem espécies raras para adicionar às áreas globais protegidas. O apelo deste artigo é que precisamos fazer um trabalho muito melhor nos próximos cinco anos e isso é possível”, disse Eric Dinerstein, um dos responsáveis pelo estudo, ao jornal britânico The Guardian.
A criação de novas áreas de proteção ambiental faz parte do compromisso firmado entre os Estados-Membros da ONU, que prevê a preservação de 30% da superfície da Terra até o ano de 2030 - a chamada Meta 30 x 30. Os pesquisadores defendem a inclusão dos locais mapeados dentro dessa meta.
De acordo com o estudo, 16.825 locais diferentes compõem os “Imperativos de Conservação”, o que equivale a 164 milhões de hectares (1,2% da superfície da Terra). Filipinas, Brasil e Indonésia sozinhos respondem por mais da metade de todos os locais-chave de conservação. O Brasil ocupa o segundo lugar do ranking, com a concentração de quase 20% do total de pontos mapeados no estudo.
Confira abaixo a distribuição entre os 10 países que mais têm áreas estratégicas de preservação:
- Filipinas: 19,5%
- Brasil: 19,4%
- Indonésia: 11%
- Madagascar: 5,6%
- Colômbia: 4,4%
- Equador: 3,8%
- Papua-Nova Guiné: 3,1%
- Índia: 2,5%
- Peru 2%
- Turquia: 1,8%
No Brasil, as áreas estratégicas estão concentradas nas regiões onde há Mata Atlântica, como na imensa faixa litorânea que vai do Rio Grande do Sul à Bahia. Ainda na parte costeira, os Estados de Pernambuco e Alagoas também abrigam locais apontados no estudo.
No interior do País, há pontos de atenção na Floresta Atlântica do Alto Paraná, que está inserida nos Estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Ao todo, 12 Estados brasileiros têm áreas definidas como “Imperativos de Conservação” pelos pesquisadores.
O custo estimado para a preservação dos locais indicados em todo o mundo é de R$ 159 a R$ 253 bilhões por ano, durante os próximos cinco anos. “Diferentes abordagens serão necessárias para atingir metas de proteção a longo prazo: garantir direitos e títulos de terra aos povos indígenas e comunidades locais, designação governamental a nível federal e estadual de novas áreas protegidas e compra ou arrendamento por longo prazo de terras de propriedade privada”, conclui o estudo.
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