Opinião|Aquecimento global está tornando os dias mais longos


Velocidade de rotação Terra está relacionada com o atrito da água dos oceanos com o fundo do mar e também com os movimentos da parte líquida da lava no centro do planeta

Por Fernando Reinach
Atualização:

Organizamos nossa vida em função de dois movimentos do planeta Terra. A rotação em volta do Sol determina o ano e suas estações. E a rotação da Terra sobre si mesma determina o que chamamos de dia, que dividimos em 24 horas, cada uma com seus minutos e segundos.

O dia começa com o nascer do Sol no horizonte e termina quando o Sol nasce de novo no dia seguinte. O problema é que os cientistas descobriram que o aquecimento global está diminuindo a velocidade de rotação da Terra e os dias estão ficando mais longos.

Até a construção do primeiro relógio, o dia era determinado diretamente pela observação do Sol. O mesmo acontecia quando usávamos um relógio solar, onde observamos o movimento da sombra projetada por um bastão sobre uma superfície.

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Dias podem estar ficando mais longos por causa das mudanças climáticas Foto: Werther Santana/Estadão

Com o tempo determinado e medido dessa maneira, se a Terra gira um pouco mais rápido ou mais lentamente isso não é percebido pois não existe um outro método de medir a passagem do tempo.

Já o relógio, primeiro os mecânicos, depois digitais a quartzo, e finalmente os relógios atômicos criados a partir de 1967, medem o tempo de maneira independente do movimento da Terra. Os relógios mecânicos usam um pêndulo para medir o passar do tempo, nos de quartzo é a vibração de um cristal e os atômicos a vibração dos átomos.

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Usando relógios, a duração do segundo, do minuto, da hora e do dia passou a ser definido como um múltiplo do número de vezes que o pêndulo se move ou que o átomo vibra de um nascer do Sol ao próximo nascer do Sol. Hoje o passar do tempo é medido por 450 relógios atômicos localizados em diferentes cidades. A precisão desse sistema é enorme. E é ele que determina a hora que aparece nos nossos celulares, nas transações bancárias e em todos os sistemas computacionais modernos.

Quando os relógios atômicos foram implantados, o segundo que era definido como uma fração do tempo que levava para a Terra dar a volta em si mesma passou a ser definido como um múltiplo do tempo que um átomo vibra. E como esse sistema é preciso, essa nova definição do segundo permitiu que os cientistas medissem o tempo que a Terra leva para dar uma volta sobre si mesma.

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E foi assim que se descobriu que a velocidade de rotação da Terra vem mudando ao longo dos milênios. Ela diminui muito lentamente devido ao atrito da água dos oceanos com o fundo do mar e devido aos movimentos da parte líquida da lava no centro do planeta.

Ao longo de milhares de anos essa diminuição se acumula. Hoje sabemos que 1,4 bilhões de anos atrás, quando a vida estava surgindo na Terra, ela levava somente 19 horas (definidas por um relógio) para dar uma volta sobre si mesma, hoje leva 24 horas.

Essa diminuição gradual da velocidade faz com que, de tempos em tempos, é necessário retirar um segundo na duração do dia medido pelos relógios para corrigir a rotação mais lenta da Terra. O plano era retirar um segundo em 2026 e outro em 2040.

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Nas últimas décadas, o aquecimento global fez com que as calotas polares e o gelo na Groenlândia derretam. E a água que estava presa nos polos vem migrando para regiões próximas ao Equador. O aumento dessa massa de água e o atrito causado por ela durante as marés estão diminuindo mais rapidamente a velocidade com que a Terra gira em volta de si mesma. Isso tem sido medido e confirmado nos últimos anos usando satélites.

A velocidade de rotação da Terra está ficando mais lenta em decorrência do aumento do volume de água dos oceanos. Foto: Nasa/Divulgação

E agora, refazendo os cálculos, os cientistas concluíram que para, manter a equivalência do dia medido pelo movimento da Terra com o dia medido pelos relógios atômicos, vai ser necessário retirar mais um segundo em 2029. Ou seja, o aquecimento global está provocando um aumento na duração do dia. A terra está girando mais lentamente. É um aumento pequeno, mas é um problema. Isso porque cada vez que alteramos em um segundo a duração da rotação da Terra, todos os relógios e sistemas de computação têm que ser ajustados. Dá trabalho e envolve riscos.

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A redução da velocidade da rotação da Terra e o alongamento do dia é mais uma consequência de nossa incapacidade de controlar as emissões de gases de efeito estufa.

Mais informações: A global timekeeping problem postponed by global warming. Nature 2024

Organizamos nossa vida em função de dois movimentos do planeta Terra. A rotação em volta do Sol determina o ano e suas estações. E a rotação da Terra sobre si mesma determina o que chamamos de dia, que dividimos em 24 horas, cada uma com seus minutos e segundos.

O dia começa com o nascer do Sol no horizonte e termina quando o Sol nasce de novo no dia seguinte. O problema é que os cientistas descobriram que o aquecimento global está diminuindo a velocidade de rotação da Terra e os dias estão ficando mais longos.

Até a construção do primeiro relógio, o dia era determinado diretamente pela observação do Sol. O mesmo acontecia quando usávamos um relógio solar, onde observamos o movimento da sombra projetada por um bastão sobre uma superfície.

Dias podem estar ficando mais longos por causa das mudanças climáticas Foto: Werther Santana/Estadão

Com o tempo determinado e medido dessa maneira, se a Terra gira um pouco mais rápido ou mais lentamente isso não é percebido pois não existe um outro método de medir a passagem do tempo.

Já o relógio, primeiro os mecânicos, depois digitais a quartzo, e finalmente os relógios atômicos criados a partir de 1967, medem o tempo de maneira independente do movimento da Terra. Os relógios mecânicos usam um pêndulo para medir o passar do tempo, nos de quartzo é a vibração de um cristal e os atômicos a vibração dos átomos.

Usando relógios, a duração do segundo, do minuto, da hora e do dia passou a ser definido como um múltiplo do número de vezes que o pêndulo se move ou que o átomo vibra de um nascer do Sol ao próximo nascer do Sol. Hoje o passar do tempo é medido por 450 relógios atômicos localizados em diferentes cidades. A precisão desse sistema é enorme. E é ele que determina a hora que aparece nos nossos celulares, nas transações bancárias e em todos os sistemas computacionais modernos.

Quando os relógios atômicos foram implantados, o segundo que era definido como uma fração do tempo que levava para a Terra dar a volta em si mesma passou a ser definido como um múltiplo do tempo que um átomo vibra. E como esse sistema é preciso, essa nova definição do segundo permitiu que os cientistas medissem o tempo que a Terra leva para dar uma volta sobre si mesma.

E foi assim que se descobriu que a velocidade de rotação da Terra vem mudando ao longo dos milênios. Ela diminui muito lentamente devido ao atrito da água dos oceanos com o fundo do mar e devido aos movimentos da parte líquida da lava no centro do planeta.

Ao longo de milhares de anos essa diminuição se acumula. Hoje sabemos que 1,4 bilhões de anos atrás, quando a vida estava surgindo na Terra, ela levava somente 19 horas (definidas por um relógio) para dar uma volta sobre si mesma, hoje leva 24 horas.

Essa diminuição gradual da velocidade faz com que, de tempos em tempos, é necessário retirar um segundo na duração do dia medido pelos relógios para corrigir a rotação mais lenta da Terra. O plano era retirar um segundo em 2026 e outro em 2040.

Nas últimas décadas, o aquecimento global fez com que as calotas polares e o gelo na Groenlândia derretam. E a água que estava presa nos polos vem migrando para regiões próximas ao Equador. O aumento dessa massa de água e o atrito causado por ela durante as marés estão diminuindo mais rapidamente a velocidade com que a Terra gira em volta de si mesma. Isso tem sido medido e confirmado nos últimos anos usando satélites.

A velocidade de rotação da Terra está ficando mais lenta em decorrência do aumento do volume de água dos oceanos. Foto: Nasa/Divulgação

E agora, refazendo os cálculos, os cientistas concluíram que para, manter a equivalência do dia medido pelo movimento da Terra com o dia medido pelos relógios atômicos, vai ser necessário retirar mais um segundo em 2029. Ou seja, o aquecimento global está provocando um aumento na duração do dia. A terra está girando mais lentamente. É um aumento pequeno, mas é um problema. Isso porque cada vez que alteramos em um segundo a duração da rotação da Terra, todos os relógios e sistemas de computação têm que ser ajustados. Dá trabalho e envolve riscos.

A redução da velocidade da rotação da Terra e o alongamento do dia é mais uma consequência de nossa incapacidade de controlar as emissões de gases de efeito estufa.

Mais informações: A global timekeeping problem postponed by global warming. Nature 2024

Organizamos nossa vida em função de dois movimentos do planeta Terra. A rotação em volta do Sol determina o ano e suas estações. E a rotação da Terra sobre si mesma determina o que chamamos de dia, que dividimos em 24 horas, cada uma com seus minutos e segundos.

O dia começa com o nascer do Sol no horizonte e termina quando o Sol nasce de novo no dia seguinte. O problema é que os cientistas descobriram que o aquecimento global está diminuindo a velocidade de rotação da Terra e os dias estão ficando mais longos.

Até a construção do primeiro relógio, o dia era determinado diretamente pela observação do Sol. O mesmo acontecia quando usávamos um relógio solar, onde observamos o movimento da sombra projetada por um bastão sobre uma superfície.

Dias podem estar ficando mais longos por causa das mudanças climáticas Foto: Werther Santana/Estadão

Com o tempo determinado e medido dessa maneira, se a Terra gira um pouco mais rápido ou mais lentamente isso não é percebido pois não existe um outro método de medir a passagem do tempo.

Já o relógio, primeiro os mecânicos, depois digitais a quartzo, e finalmente os relógios atômicos criados a partir de 1967, medem o tempo de maneira independente do movimento da Terra. Os relógios mecânicos usam um pêndulo para medir o passar do tempo, nos de quartzo é a vibração de um cristal e os atômicos a vibração dos átomos.

Usando relógios, a duração do segundo, do minuto, da hora e do dia passou a ser definido como um múltiplo do número de vezes que o pêndulo se move ou que o átomo vibra de um nascer do Sol ao próximo nascer do Sol. Hoje o passar do tempo é medido por 450 relógios atômicos localizados em diferentes cidades. A precisão desse sistema é enorme. E é ele que determina a hora que aparece nos nossos celulares, nas transações bancárias e em todos os sistemas computacionais modernos.

Quando os relógios atômicos foram implantados, o segundo que era definido como uma fração do tempo que levava para a Terra dar a volta em si mesma passou a ser definido como um múltiplo do tempo que um átomo vibra. E como esse sistema é preciso, essa nova definição do segundo permitiu que os cientistas medissem o tempo que a Terra leva para dar uma volta sobre si mesma.

E foi assim que se descobriu que a velocidade de rotação da Terra vem mudando ao longo dos milênios. Ela diminui muito lentamente devido ao atrito da água dos oceanos com o fundo do mar e devido aos movimentos da parte líquida da lava no centro do planeta.

Ao longo de milhares de anos essa diminuição se acumula. Hoje sabemos que 1,4 bilhões de anos atrás, quando a vida estava surgindo na Terra, ela levava somente 19 horas (definidas por um relógio) para dar uma volta sobre si mesma, hoje leva 24 horas.

Essa diminuição gradual da velocidade faz com que, de tempos em tempos, é necessário retirar um segundo na duração do dia medido pelos relógios para corrigir a rotação mais lenta da Terra. O plano era retirar um segundo em 2026 e outro em 2040.

Nas últimas décadas, o aquecimento global fez com que as calotas polares e o gelo na Groenlândia derretam. E a água que estava presa nos polos vem migrando para regiões próximas ao Equador. O aumento dessa massa de água e o atrito causado por ela durante as marés estão diminuindo mais rapidamente a velocidade com que a Terra gira em volta de si mesma. Isso tem sido medido e confirmado nos últimos anos usando satélites.

A velocidade de rotação da Terra está ficando mais lenta em decorrência do aumento do volume de água dos oceanos. Foto: Nasa/Divulgação

E agora, refazendo os cálculos, os cientistas concluíram que para, manter a equivalência do dia medido pelo movimento da Terra com o dia medido pelos relógios atômicos, vai ser necessário retirar mais um segundo em 2029. Ou seja, o aquecimento global está provocando um aumento na duração do dia. A terra está girando mais lentamente. É um aumento pequeno, mas é um problema. Isso porque cada vez que alteramos em um segundo a duração da rotação da Terra, todos os relógios e sistemas de computação têm que ser ajustados. Dá trabalho e envolve riscos.

A redução da velocidade da rotação da Terra e o alongamento do dia é mais uma consequência de nossa incapacidade de controlar as emissões de gases de efeito estufa.

Mais informações: A global timekeeping problem postponed by global warming. Nature 2024

Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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