Opinião|Ave com gripe voa


Estudo mostra que aves migratórias, mesmo com gripe, voam, e espalham com elas o vírus

Por Fernando Reinach
Atualização:

Entre frangos e perus, existem 50 bilhões de aves em cativeiro no planeta. Do pinto ao abatedouro são 2 meses, e é provável que 100 bilhões desses animais sejam criados e abatidos todos os anos. São quase dez aves para cada Homo sapiens.

Em 39 dias de vida, aves convertem 1,6 quilo de ração em 1 kg de carne Foto: Divulgação

Esses animais, que antes voavam e vagavam pelos campos, salvo raras exceções, são criados em gaiolas. São vistos pelos seus colegas de planeta, os Homo sapiens, como máquinas de transformar milho e soja em proteína. Que consumimos na forma de coxas, sobrecoxas e peitos. Aves são especialmente eficientes nessa conversão. Em 39 dias de vida, elas convertem 1,6 quilo de ração em 1 kg de carne. Bois são menos eficientes, levam anos para converter por volta de 6 kg de ração em 1 kg de carne. Não é à toa que a carne de frango é uma das mais importantes fontes de proteína na dieta do Homo sapiens.

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As aves são presas fáceis de doenças virais. Uma delas é causada pelo vírus da gripe aviária. Esses vírus, parentes dos vírus que provocam gripe em seres humanos, se modificam todos os anos. Da mesma forma que o vírus humano se espalha em ambientes fechados, o da gripe aviária faz um estrago quando aparece nos galpões usados para criar frangos. Enquanto os seres humanos repousam, se isolam e descansam esperando a gripe passar, esses mesmos seres humanos não são tão compreensivos com as aves enjauladas.

Em janeiro de 2014, surgiu na Coreia do Sul uma nova variante do vírus, chamada H5N8. Sua alta letalidade significou prejuízo certo para os membros de nossa espécie que criam frangos. Para evitar o espalhamento do vírus, todos os frangos das granjas afetadas foram executados e seus cadáveres, queimados ou enterrados. O resultado foi a morte prematura de 50 milhões de aves. Apesar das medidas draconianas, o vírus se espalhou pelo planeta.

Entre humanos, esses vírus se espalham rapidamente porque um coitado pega o vírus novo em um lado do mundo, pula em um avião, e já chega do outro lado do mundo infectando metade do aeroporto. Mas frangos não viajam de avião. Então, se perguntaram os cientistas, como esses vírus se espalham? Logo desconfiaram das visitas nos presídios de frango. Aves migratórias visitariam seus primos presos, se infectariam, voariam pelo mundo visitando outros primos e levando a doença para outros continentes. 

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Durante a epidemia de 2014, cientistas espalhados pelo planeta resolveram testar essa hipótese. Eles capturaram aves migratórias, isolaram os vírus e identificaram a nova variante que havia surgido na Coreia. 

Em 30 de abril, três meses depois do aparecimento na Coreia do Sul, o vírus já estava em aves migratórias capturadas no sul da Rússia, logo acima da Mongólia. Em 19 de agosto, aves capturadas dos dois lados do Estreito de Bering, que separa a Rússia do Alasca, já estavam com o vírus. Nessa data, ele também foi encontrado em aves migratórias ao longo de todo o litoral norte da Rússia, junto do Mar Ártico. Em 18 de novembro, aves migratórias capturadas na Europa já estavam com o vírus, que também foi detectado na costa oeste dos EUA. Em 13 de janeiro do 2015, os frangos enjaulados na costa oeste dos EUA e por toda a Europa começaram a adoecer. Em um ano, o vírus se espalhou pelo planeta.

Esse resultado demonstra que aves migratórias foram responsáveis por espalhar o novo vírus e usaram a rota migratória que passa pelo norte da Rússia para levar o vírus da Coreia para a Europa e os EUA. Aprendemos com esse estudo que aves migratórias, mesmo com gripe, voam, e com elas lá se vai o vírus. Os cientistas recomendaram que, para controlar a gripe dentro das prisões de frangos, o melhor é proibir as visitas de aves migratórias, instalando telas e coisas do gênero. Com essa descoberta, os pobres frangos enjaulados nem vão mais poder receber notícias dos seus primos que voam livres pelo planeta.

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MAIS INFORMAÇÕES: ROLE FOR MIGRATORY WILD BIRDS IN THE GLOBAL SPREAD OF AVIAN INFLUENZA H5N8. SCIENCE VOL. 354 PAG. 213 2016 * É BIÓLOGO

Entre frangos e perus, existem 50 bilhões de aves em cativeiro no planeta. Do pinto ao abatedouro são 2 meses, e é provável que 100 bilhões desses animais sejam criados e abatidos todos os anos. São quase dez aves para cada Homo sapiens.

Em 39 dias de vida, aves convertem 1,6 quilo de ração em 1 kg de carne Foto: Divulgação

Esses animais, que antes voavam e vagavam pelos campos, salvo raras exceções, são criados em gaiolas. São vistos pelos seus colegas de planeta, os Homo sapiens, como máquinas de transformar milho e soja em proteína. Que consumimos na forma de coxas, sobrecoxas e peitos. Aves são especialmente eficientes nessa conversão. Em 39 dias de vida, elas convertem 1,6 quilo de ração em 1 kg de carne. Bois são menos eficientes, levam anos para converter por volta de 6 kg de ração em 1 kg de carne. Não é à toa que a carne de frango é uma das mais importantes fontes de proteína na dieta do Homo sapiens.

As aves são presas fáceis de doenças virais. Uma delas é causada pelo vírus da gripe aviária. Esses vírus, parentes dos vírus que provocam gripe em seres humanos, se modificam todos os anos. Da mesma forma que o vírus humano se espalha em ambientes fechados, o da gripe aviária faz um estrago quando aparece nos galpões usados para criar frangos. Enquanto os seres humanos repousam, se isolam e descansam esperando a gripe passar, esses mesmos seres humanos não são tão compreensivos com as aves enjauladas.

Em janeiro de 2014, surgiu na Coreia do Sul uma nova variante do vírus, chamada H5N8. Sua alta letalidade significou prejuízo certo para os membros de nossa espécie que criam frangos. Para evitar o espalhamento do vírus, todos os frangos das granjas afetadas foram executados e seus cadáveres, queimados ou enterrados. O resultado foi a morte prematura de 50 milhões de aves. Apesar das medidas draconianas, o vírus se espalhou pelo planeta.

Entre humanos, esses vírus se espalham rapidamente porque um coitado pega o vírus novo em um lado do mundo, pula em um avião, e já chega do outro lado do mundo infectando metade do aeroporto. Mas frangos não viajam de avião. Então, se perguntaram os cientistas, como esses vírus se espalham? Logo desconfiaram das visitas nos presídios de frango. Aves migratórias visitariam seus primos presos, se infectariam, voariam pelo mundo visitando outros primos e levando a doença para outros continentes. 

Durante a epidemia de 2014, cientistas espalhados pelo planeta resolveram testar essa hipótese. Eles capturaram aves migratórias, isolaram os vírus e identificaram a nova variante que havia surgido na Coreia. 

Em 30 de abril, três meses depois do aparecimento na Coreia do Sul, o vírus já estava em aves migratórias capturadas no sul da Rússia, logo acima da Mongólia. Em 19 de agosto, aves capturadas dos dois lados do Estreito de Bering, que separa a Rússia do Alasca, já estavam com o vírus. Nessa data, ele também foi encontrado em aves migratórias ao longo de todo o litoral norte da Rússia, junto do Mar Ártico. Em 18 de novembro, aves migratórias capturadas na Europa já estavam com o vírus, que também foi detectado na costa oeste dos EUA. Em 13 de janeiro do 2015, os frangos enjaulados na costa oeste dos EUA e por toda a Europa começaram a adoecer. Em um ano, o vírus se espalhou pelo planeta.

Esse resultado demonstra que aves migratórias foram responsáveis por espalhar o novo vírus e usaram a rota migratória que passa pelo norte da Rússia para levar o vírus da Coreia para a Europa e os EUA. Aprendemos com esse estudo que aves migratórias, mesmo com gripe, voam, e com elas lá se vai o vírus. Os cientistas recomendaram que, para controlar a gripe dentro das prisões de frangos, o melhor é proibir as visitas de aves migratórias, instalando telas e coisas do gênero. Com essa descoberta, os pobres frangos enjaulados nem vão mais poder receber notícias dos seus primos que voam livres pelo planeta.

MAIS INFORMAÇÕES: ROLE FOR MIGRATORY WILD BIRDS IN THE GLOBAL SPREAD OF AVIAN INFLUENZA H5N8. SCIENCE VOL. 354 PAG. 213 2016 * É BIÓLOGO

Entre frangos e perus, existem 50 bilhões de aves em cativeiro no planeta. Do pinto ao abatedouro são 2 meses, e é provável que 100 bilhões desses animais sejam criados e abatidos todos os anos. São quase dez aves para cada Homo sapiens.

Em 39 dias de vida, aves convertem 1,6 quilo de ração em 1 kg de carne Foto: Divulgação

Esses animais, que antes voavam e vagavam pelos campos, salvo raras exceções, são criados em gaiolas. São vistos pelos seus colegas de planeta, os Homo sapiens, como máquinas de transformar milho e soja em proteína. Que consumimos na forma de coxas, sobrecoxas e peitos. Aves são especialmente eficientes nessa conversão. Em 39 dias de vida, elas convertem 1,6 quilo de ração em 1 kg de carne. Bois são menos eficientes, levam anos para converter por volta de 6 kg de ração em 1 kg de carne. Não é à toa que a carne de frango é uma das mais importantes fontes de proteína na dieta do Homo sapiens.

As aves são presas fáceis de doenças virais. Uma delas é causada pelo vírus da gripe aviária. Esses vírus, parentes dos vírus que provocam gripe em seres humanos, se modificam todos os anos. Da mesma forma que o vírus humano se espalha em ambientes fechados, o da gripe aviária faz um estrago quando aparece nos galpões usados para criar frangos. Enquanto os seres humanos repousam, se isolam e descansam esperando a gripe passar, esses mesmos seres humanos não são tão compreensivos com as aves enjauladas.

Em janeiro de 2014, surgiu na Coreia do Sul uma nova variante do vírus, chamada H5N8. Sua alta letalidade significou prejuízo certo para os membros de nossa espécie que criam frangos. Para evitar o espalhamento do vírus, todos os frangos das granjas afetadas foram executados e seus cadáveres, queimados ou enterrados. O resultado foi a morte prematura de 50 milhões de aves. Apesar das medidas draconianas, o vírus se espalhou pelo planeta.

Entre humanos, esses vírus se espalham rapidamente porque um coitado pega o vírus novo em um lado do mundo, pula em um avião, e já chega do outro lado do mundo infectando metade do aeroporto. Mas frangos não viajam de avião. Então, se perguntaram os cientistas, como esses vírus se espalham? Logo desconfiaram das visitas nos presídios de frango. Aves migratórias visitariam seus primos presos, se infectariam, voariam pelo mundo visitando outros primos e levando a doença para outros continentes. 

Durante a epidemia de 2014, cientistas espalhados pelo planeta resolveram testar essa hipótese. Eles capturaram aves migratórias, isolaram os vírus e identificaram a nova variante que havia surgido na Coreia. 

Em 30 de abril, três meses depois do aparecimento na Coreia do Sul, o vírus já estava em aves migratórias capturadas no sul da Rússia, logo acima da Mongólia. Em 19 de agosto, aves capturadas dos dois lados do Estreito de Bering, que separa a Rússia do Alasca, já estavam com o vírus. Nessa data, ele também foi encontrado em aves migratórias ao longo de todo o litoral norte da Rússia, junto do Mar Ártico. Em 18 de novembro, aves migratórias capturadas na Europa já estavam com o vírus, que também foi detectado na costa oeste dos EUA. Em 13 de janeiro do 2015, os frangos enjaulados na costa oeste dos EUA e por toda a Europa começaram a adoecer. Em um ano, o vírus se espalhou pelo planeta.

Esse resultado demonstra que aves migratórias foram responsáveis por espalhar o novo vírus e usaram a rota migratória que passa pelo norte da Rússia para levar o vírus da Coreia para a Europa e os EUA. Aprendemos com esse estudo que aves migratórias, mesmo com gripe, voam, e com elas lá se vai o vírus. Os cientistas recomendaram que, para controlar a gripe dentro das prisões de frangos, o melhor é proibir as visitas de aves migratórias, instalando telas e coisas do gênero. Com essa descoberta, os pobres frangos enjaulados nem vão mais poder receber notícias dos seus primos que voam livres pelo planeta.

MAIS INFORMAÇÕES: ROLE FOR MIGRATORY WILD BIRDS IN THE GLOBAL SPREAD OF AVIAN INFLUENZA H5N8. SCIENCE VOL. 354 PAG. 213 2016 * É BIÓLOGO

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