Opinião|Bolsonaro quer destruir nosso futuro


Eu vou votar em Lula, mas não vai ser fácil encarar a urna e digitar o 13. Faz anos perdi a confiança em Lula.

Por Fernando Reinach

Foi no governo Lula que ocorreram os maiores casos de corrupção organizada da história do Brasil. Primeiro foi o mensalão onde o governo pagava uma mesada para que membros do congresso aprovassem os projetos do executivo. Um nojo! Depois vieram os casos de corrupção descobertos na Lava Jato. Na Petrobrás o governo nomeou executivos cuja função era desviar dinheiro. Essas pessoas foram descobertas, confessaram, delataram outras, devolveram parte do dinheiro roubado, e foram presas.

As provas que praticamente todo o alto escalão do PT estava envolvido são incontestáveis, muitos foram condenados e presos. Além disso, prosperou a relação espúria do governo com empreiteiras e outras grandes empresas. Elas pagavam propina para vencer concorrências e obter vantagens. Acionistas e executivos dessas empresas foram presos e fizeram delações premiadas.

Eleitores foram às urnas em 2 de outubro para o primeiro turno das eleições gerais de 2020 e voltam para o segundo no dia 30 (Antonio Augusto/TSE) Foto: Antonio Augusto/TSE
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Evidências das relações pessoais de Lula com muitos desses empresários abundam, e muitas delas geraram processos que envolveram Lula pessoalmente. Para mim, é impossível acreditar que Lula não estava a par do que ocorria e não deu seu aval para toda a roubalheira. Lula é inteligente demais para acreditarmos que tudo foi feito embaixo de suas barbas inocentes.

Lula foi condenado em diversos processos, em diversas instâncias, por muitos juízes, e acabou preso. E não é o julgamento tardio do STF, que anos depois decidiu que os crimes não deveriam ter sido investigados e julgados em Curitiba, que vai me convencer de sua inocência.

Apesar de tudo isso, vou votar em Lula. Prefiro o mal menor.

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Não vou detalhar as horríveis características pessoais de Bolsonaro, sua falta de educação, seu machismo, a homofobia, sua falta de controle verbal e emocional, sua capacidade de mentir descaradamente, sua predileção pela violência e a apologia das armas. A meu ver, se fossem esses seus únicos defeitos, e ele fosse um democrata, até consideraria dar a ele, com nojo profundo, meu voto.

Meu maior problema com Bolsonaro envolve sua tentativa de destruir o futuro do Brasil (Exterminador do Futuro, 13 de Agosto de 2022). Eu vivi minha juventude durante a ditadura militar lutando pela volta da democracia. Felizmente, ou infelizmente, grande parte das pessoas que vão votar no dia 30 de outubro não viveram esse período, não foram educadas para entender o que ocorreu, ou já se esqueceram.

Foi uma época em que amigos simplesmente desapareciam, eram presos, torturados e mortos. A imprensa sofria censura prévia e um artigo como esse teria sido substituído por uma receita culinária ou versos de Camões. Uma época em que não podíamos eleger o presidente. Quando todas as instâncias criadas para proteger a democracia foram deturpadas, destruídas, ou tornadas impotentes.

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Eu acredito que Bolsonaro, que inúmeras vezes elogiou a ditadura militar e os mais abjetos personagens da época, deseja a volta desse período sombrio de nossa história. Assim como outros líderes autoritários de esquerda e direita, Bolsonaro tem como agenda única minar aos poucos as instituições democráticas para se tornar um ditador. Ele tenta subjugar o judiciário, prega a desconfiança no processo eleitoral, e alicia a banda podre do legislativo e das forças armadas distribuindo vantagens financeiras. Se Bolsonaro tiver sucesso a democracia acaba no Brasil.

A democracia não é um regime perfeito. Sua premissa é que o povo manda através do voto e que as pessoas eleitas representam a vontade da população. O progresso de um país democrático ocorre à medida que seu povo escolhe líderes que respeitam a democracia e implementam os desejos da população. Quando isso ocorre, aos poucos (infelizmente é aos poucos mesmo) o país progride. Médicos bem formados passam a coordenar a saúde, bons economistas pilotam as finanças, e ecologistas cuidam para que o meio ambiente seja preservado.

Sabemos que um povo pouco educado é presa fácil de promessas impossíveis, de argumentos demagógicos e enganosos, como o que armar a população diminui a criminalidade. É por isso que a manutenção e o progresso das democracias depende de dois fatores: governantes que respeitem os princípios democráticos, e uma melhora gradativa do nível de educação. Só isso permite a eleição de representantes cada vez melhores.

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Políticos autoritários, os realmente perigosos, como Bolsonaro, vão aos poucos desacreditando os alicerces do processo democrático (o voto, as urnas, o processo legal, o judiciário e o TSE) e ao mesmo tempo tentam retardar, destruir ou mesmo fazer retroceder a educação de seus eleitores. Quanto menor o nível educacional, mais fácil manipular e enganar a população. Esse é o maior conflito de interesse de muitos políticos: prometem melhorar a educação mas sabem que se isso ocorrer vai ficar mais difícil se manterem no poder. No caso dos políticos autoritários, como Bolsonaro, a decisão é simples. Prometem educar mas destroem o Ministério da Educação, da Ciência e Tecnologia e substituem o debate racional por lemas, crenças e palavras de ordem. E assim tentam se manter no poder pelo voto até acabarem com o voto e a democracia, se tornando ditadores.

É por esse motivo que para mim é impossível votar em Bolsonaro. No fundo acredito que é melhor um presidente corrupto ou conivente com a corrupção, mas que respeita a democracia (brigou pelo fim do regime militar, se submeteu à prisão e lutou por vias legais por sua soltura) a um que tem como objetivo exterminar nosso futuro. É mais fácil combater a corrupção do que reconstruir uma democracia. É por isso que vou votar, constrangido, em Lula.

Foi no governo Lula que ocorreram os maiores casos de corrupção organizada da história do Brasil. Primeiro foi o mensalão onde o governo pagava uma mesada para que membros do congresso aprovassem os projetos do executivo. Um nojo! Depois vieram os casos de corrupção descobertos na Lava Jato. Na Petrobrás o governo nomeou executivos cuja função era desviar dinheiro. Essas pessoas foram descobertas, confessaram, delataram outras, devolveram parte do dinheiro roubado, e foram presas.

As provas que praticamente todo o alto escalão do PT estava envolvido são incontestáveis, muitos foram condenados e presos. Além disso, prosperou a relação espúria do governo com empreiteiras e outras grandes empresas. Elas pagavam propina para vencer concorrências e obter vantagens. Acionistas e executivos dessas empresas foram presos e fizeram delações premiadas.

Eleitores foram às urnas em 2 de outubro para o primeiro turno das eleições gerais de 2020 e voltam para o segundo no dia 30 (Antonio Augusto/TSE) Foto: Antonio Augusto/TSE

Evidências das relações pessoais de Lula com muitos desses empresários abundam, e muitas delas geraram processos que envolveram Lula pessoalmente. Para mim, é impossível acreditar que Lula não estava a par do que ocorria e não deu seu aval para toda a roubalheira. Lula é inteligente demais para acreditarmos que tudo foi feito embaixo de suas barbas inocentes.

Lula foi condenado em diversos processos, em diversas instâncias, por muitos juízes, e acabou preso. E não é o julgamento tardio do STF, que anos depois decidiu que os crimes não deveriam ter sido investigados e julgados em Curitiba, que vai me convencer de sua inocência.

Apesar de tudo isso, vou votar em Lula. Prefiro o mal menor.

Não vou detalhar as horríveis características pessoais de Bolsonaro, sua falta de educação, seu machismo, a homofobia, sua falta de controle verbal e emocional, sua capacidade de mentir descaradamente, sua predileção pela violência e a apologia das armas. A meu ver, se fossem esses seus únicos defeitos, e ele fosse um democrata, até consideraria dar a ele, com nojo profundo, meu voto.

Meu maior problema com Bolsonaro envolve sua tentativa de destruir o futuro do Brasil (Exterminador do Futuro, 13 de Agosto de 2022). Eu vivi minha juventude durante a ditadura militar lutando pela volta da democracia. Felizmente, ou infelizmente, grande parte das pessoas que vão votar no dia 30 de outubro não viveram esse período, não foram educadas para entender o que ocorreu, ou já se esqueceram.

Foi uma época em que amigos simplesmente desapareciam, eram presos, torturados e mortos. A imprensa sofria censura prévia e um artigo como esse teria sido substituído por uma receita culinária ou versos de Camões. Uma época em que não podíamos eleger o presidente. Quando todas as instâncias criadas para proteger a democracia foram deturpadas, destruídas, ou tornadas impotentes.

Eu acredito que Bolsonaro, que inúmeras vezes elogiou a ditadura militar e os mais abjetos personagens da época, deseja a volta desse período sombrio de nossa história. Assim como outros líderes autoritários de esquerda e direita, Bolsonaro tem como agenda única minar aos poucos as instituições democráticas para se tornar um ditador. Ele tenta subjugar o judiciário, prega a desconfiança no processo eleitoral, e alicia a banda podre do legislativo e das forças armadas distribuindo vantagens financeiras. Se Bolsonaro tiver sucesso a democracia acaba no Brasil.

A democracia não é um regime perfeito. Sua premissa é que o povo manda através do voto e que as pessoas eleitas representam a vontade da população. O progresso de um país democrático ocorre à medida que seu povo escolhe líderes que respeitam a democracia e implementam os desejos da população. Quando isso ocorre, aos poucos (infelizmente é aos poucos mesmo) o país progride. Médicos bem formados passam a coordenar a saúde, bons economistas pilotam as finanças, e ecologistas cuidam para que o meio ambiente seja preservado.

Sabemos que um povo pouco educado é presa fácil de promessas impossíveis, de argumentos demagógicos e enganosos, como o que armar a população diminui a criminalidade. É por isso que a manutenção e o progresso das democracias depende de dois fatores: governantes que respeitem os princípios democráticos, e uma melhora gradativa do nível de educação. Só isso permite a eleição de representantes cada vez melhores.

Políticos autoritários, os realmente perigosos, como Bolsonaro, vão aos poucos desacreditando os alicerces do processo democrático (o voto, as urnas, o processo legal, o judiciário e o TSE) e ao mesmo tempo tentam retardar, destruir ou mesmo fazer retroceder a educação de seus eleitores. Quanto menor o nível educacional, mais fácil manipular e enganar a população. Esse é o maior conflito de interesse de muitos políticos: prometem melhorar a educação mas sabem que se isso ocorrer vai ficar mais difícil se manterem no poder. No caso dos políticos autoritários, como Bolsonaro, a decisão é simples. Prometem educar mas destroem o Ministério da Educação, da Ciência e Tecnologia e substituem o debate racional por lemas, crenças e palavras de ordem. E assim tentam se manter no poder pelo voto até acabarem com o voto e a democracia, se tornando ditadores.

É por esse motivo que para mim é impossível votar em Bolsonaro. No fundo acredito que é melhor um presidente corrupto ou conivente com a corrupção, mas que respeita a democracia (brigou pelo fim do regime militar, se submeteu à prisão e lutou por vias legais por sua soltura) a um que tem como objetivo exterminar nosso futuro. É mais fácil combater a corrupção do que reconstruir uma democracia. É por isso que vou votar, constrangido, em Lula.

Foi no governo Lula que ocorreram os maiores casos de corrupção organizada da história do Brasil. Primeiro foi o mensalão onde o governo pagava uma mesada para que membros do congresso aprovassem os projetos do executivo. Um nojo! Depois vieram os casos de corrupção descobertos na Lava Jato. Na Petrobrás o governo nomeou executivos cuja função era desviar dinheiro. Essas pessoas foram descobertas, confessaram, delataram outras, devolveram parte do dinheiro roubado, e foram presas.

As provas que praticamente todo o alto escalão do PT estava envolvido são incontestáveis, muitos foram condenados e presos. Além disso, prosperou a relação espúria do governo com empreiteiras e outras grandes empresas. Elas pagavam propina para vencer concorrências e obter vantagens. Acionistas e executivos dessas empresas foram presos e fizeram delações premiadas.

Eleitores foram às urnas em 2 de outubro para o primeiro turno das eleições gerais de 2020 e voltam para o segundo no dia 30 (Antonio Augusto/TSE) Foto: Antonio Augusto/TSE

Evidências das relações pessoais de Lula com muitos desses empresários abundam, e muitas delas geraram processos que envolveram Lula pessoalmente. Para mim, é impossível acreditar que Lula não estava a par do que ocorria e não deu seu aval para toda a roubalheira. Lula é inteligente demais para acreditarmos que tudo foi feito embaixo de suas barbas inocentes.

Lula foi condenado em diversos processos, em diversas instâncias, por muitos juízes, e acabou preso. E não é o julgamento tardio do STF, que anos depois decidiu que os crimes não deveriam ter sido investigados e julgados em Curitiba, que vai me convencer de sua inocência.

Apesar de tudo isso, vou votar em Lula. Prefiro o mal menor.

Não vou detalhar as horríveis características pessoais de Bolsonaro, sua falta de educação, seu machismo, a homofobia, sua falta de controle verbal e emocional, sua capacidade de mentir descaradamente, sua predileção pela violência e a apologia das armas. A meu ver, se fossem esses seus únicos defeitos, e ele fosse um democrata, até consideraria dar a ele, com nojo profundo, meu voto.

Meu maior problema com Bolsonaro envolve sua tentativa de destruir o futuro do Brasil (Exterminador do Futuro, 13 de Agosto de 2022). Eu vivi minha juventude durante a ditadura militar lutando pela volta da democracia. Felizmente, ou infelizmente, grande parte das pessoas que vão votar no dia 30 de outubro não viveram esse período, não foram educadas para entender o que ocorreu, ou já se esqueceram.

Foi uma época em que amigos simplesmente desapareciam, eram presos, torturados e mortos. A imprensa sofria censura prévia e um artigo como esse teria sido substituído por uma receita culinária ou versos de Camões. Uma época em que não podíamos eleger o presidente. Quando todas as instâncias criadas para proteger a democracia foram deturpadas, destruídas, ou tornadas impotentes.

Eu acredito que Bolsonaro, que inúmeras vezes elogiou a ditadura militar e os mais abjetos personagens da época, deseja a volta desse período sombrio de nossa história. Assim como outros líderes autoritários de esquerda e direita, Bolsonaro tem como agenda única minar aos poucos as instituições democráticas para se tornar um ditador. Ele tenta subjugar o judiciário, prega a desconfiança no processo eleitoral, e alicia a banda podre do legislativo e das forças armadas distribuindo vantagens financeiras. Se Bolsonaro tiver sucesso a democracia acaba no Brasil.

A democracia não é um regime perfeito. Sua premissa é que o povo manda através do voto e que as pessoas eleitas representam a vontade da população. O progresso de um país democrático ocorre à medida que seu povo escolhe líderes que respeitam a democracia e implementam os desejos da população. Quando isso ocorre, aos poucos (infelizmente é aos poucos mesmo) o país progride. Médicos bem formados passam a coordenar a saúde, bons economistas pilotam as finanças, e ecologistas cuidam para que o meio ambiente seja preservado.

Sabemos que um povo pouco educado é presa fácil de promessas impossíveis, de argumentos demagógicos e enganosos, como o que armar a população diminui a criminalidade. É por isso que a manutenção e o progresso das democracias depende de dois fatores: governantes que respeitem os princípios democráticos, e uma melhora gradativa do nível de educação. Só isso permite a eleição de representantes cada vez melhores.

Políticos autoritários, os realmente perigosos, como Bolsonaro, vão aos poucos desacreditando os alicerces do processo democrático (o voto, as urnas, o processo legal, o judiciário e o TSE) e ao mesmo tempo tentam retardar, destruir ou mesmo fazer retroceder a educação de seus eleitores. Quanto menor o nível educacional, mais fácil manipular e enganar a população. Esse é o maior conflito de interesse de muitos políticos: prometem melhorar a educação mas sabem que se isso ocorrer vai ficar mais difícil se manterem no poder. No caso dos políticos autoritários, como Bolsonaro, a decisão é simples. Prometem educar mas destroem o Ministério da Educação, da Ciência e Tecnologia e substituem o debate racional por lemas, crenças e palavras de ordem. E assim tentam se manter no poder pelo voto até acabarem com o voto e a democracia, se tornando ditadores.

É por esse motivo que para mim é impossível votar em Bolsonaro. No fundo acredito que é melhor um presidente corrupto ou conivente com a corrupção, mas que respeita a democracia (brigou pelo fim do regime militar, se submeteu à prisão e lutou por vias legais por sua soltura) a um que tem como objetivo exterminar nosso futuro. É mais fácil combater a corrupção do que reconstruir uma democracia. É por isso que vou votar, constrangido, em Lula.

Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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