Opinião|O que pensamos nos minutos enquanto o cérebro morre?


Novo estudo demonstra que após a parada cardíaca e a perda de consciência, o cérebro tem um pico de atividade, principalmente nas áreas associadas à visão e à consciência

Por Fernando Reinach
Atualização:

Eu devia ter 14 anos quando descobri que a morte não ocorre instantaneamente, mas é um processo relativamente longo. Foi no dia em que me contaram que as unhas de um cadáver continuam a crescer durante o velório.

Cientistas mapearam pico de atividade cerebral durante seis minutos após a parada cardíaca Foto: kinomaster - stock.adobe.com

Hoje sabemos que isso não é verdade; é o dedo que murcha após a morte e causa essa impressão. Entretanto, depois que o coração para de bater, o corpo fica sem oxigênio e perdemos a consciência, os neurônios cerebrais levam de 3 a 7 minutos para morrer.

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Se a pessoa for doador de órgãos, os médicos precisam retirar os órgãos doados para transplante em 30 minutos e implantá-los em até seis horas. Caso isso ocorra, o órgão sobrevive no novo corpo, indicando que continuava vivo. Isso demonstra que a morte é um processo que dura tempos diferentes em diferentes órgãos e que só termina quando a última célula do corpo morre.

A novidade é um estudo que demonstra que após a parada cardíaca e a perda de consciência, o cérebro tem um pico de atividade, principalmente nas áreas associadas à visão e à consciência. E isso pode explicar as experiências lembradas por pessoas que sobrevivem a uma parada cardíaca.

Todos nós já vimos no cinema: a pessoa tem um ataque cardíaco, o coração para, a respiração também. A vítima perde a consciência imediatamente e as pessoas em volta passam a fazer massagem cardíaca apertando ritmicamente o peito do paciente.

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Pensamentos no leito de morte ainda são um mistério para a ciência Foto: Oto Jorisvo/Adobe Stock

Essa manobra mantem um pouco do sangue circulando, e o pulmão oxigenando o sangue. Para tentar reativar o coração, podem ser dados choques e drogas quando ela chega no hospital. No desenrolar do filme, duas coisas podem acontecer.

A primeira é os médicos não conseguirem reativar o coração e, num dado momento, desistirem, desligarem os equipamentos e declararem a pessoa morta. A segunda é que os esforços funcionam, o coração volta a funcionar e a pessoa pode sair lépida do hospital.

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Entre as pessoas que se recuperam de uma parada cardíaca, aproximadamente 10% relatam experiências consistentes dos pensamentos que tiveram quando estavam inconscientes. São os chamados pensamentos próximos da morte (near death experiences).

Eles normalmente envolvem visões da pessoa saindo do corpo, e da vida sendo recapitulada rapidamente. Esses relatos são tão consistentes que os cientistas hoje acreditam que eles têm alguma relação com a falta de oxigênio no cérebro.

Esse novo trabalho tenta descobrir o que ocorre no cérebro nos 5 a 10 minutos depois que o fluxo de oxigênio é interrompido. Foram estudadas quatro pessoas em que os esforços de reanimação do coração foram infrutíferos e os médicos decidiram parar a massagem cardíaca, os choques, e desligaram todos os sistemas de suporte.

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Mas nesses quatro casos tudo foi desligado, menos o aparelho de eletroencefalograma, que mede a atividade cerebral. Esses pacientes, no momento em que tudo foi desligado, estavam completamente inconscientes e não apresentavam nenhuma resposta neurológica.

O aparelho de eletroencefalograma consiste em uma série de eletrodos fixados no couro cabeludo que medem a atividade elétrica na parte do cérebro logo embaixo do osso da caixa craniana. Em pessoas saudáveis, esses sinais elétricos são diferentes quando nosso cérebro executa diferentes funções, e sua análise permite identificar de maneira grosseira o que está ocorrendo no cérebro.

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O que os cientistas observaram é que o cérebro desses pacientes mostrava pouca atividade durante o tempo em que os médicos estavam tentando reanimar o paciente, algo típico do estado de coma.

Mas assim que o fluxo de oxigênio é interrompido, a atividade cerebral aumenta abruptamente e essa atividade dura por até 6 minutos, quando ela cessa completa e definitivamente. Esses seis minutos são a transição entre um cérebro vivo e um cérebro morto.

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Analisando o padrão dessa atividade, as áreas ativadas, e as comunicações elétricas entre diversas regiões, os cientistas concluíram que durante esse tempo, em que o cérebro está morrendo, é possível que pensamentos inconscientes e memórias sejam ativadas. Como todos esses pacientes não sobreviveram à parada cardíaca não é possível saber o que eles relatariam se acordassem.

Mas uma consequência dessa descoberta é que talvez essa atividade cerebral que ocorre durante os primeiros minutos da falta total de oxigênio sejam os processos que geram as memórias e pensamentos próximos a morte reportados por parte dos pacientes que sobrevivem a uma parada cardíaca.

O que poderia estar acontecendo é que assim que o fornecimento de oxigênio ao cérebro cessa, essa atividade cerebral intensa gera sensações de saída do corpo e memórias do passado. Quando esses pacientes são reanimados e seus corações voltam a bater novamente, eles saem do coma, acordam, e essas lembranças voltam à consciência. Os cientistas esperam testar essa possibilidade no futuro próximo.

O interessante do estudo é que ele representa uma nova linha de investigação cujo objetivo é estudar e compreender os fenômenos que ocorrem durante o processo da morte. Essa compreensão pode ajudar a entender que processos podem ser revertidos e como revertê-los. Sem dúvida, é uma área da ciência um pouco mórbida e triste, mas que pode ser promissora.

Mais informações: Surge of neurophysiological coupling and connectivity of gamma oscillations in the dying human brain. PNAS https://doi.org/10.1073/pnas.2216268120 2024

Eu devia ter 14 anos quando descobri que a morte não ocorre instantaneamente, mas é um processo relativamente longo. Foi no dia em que me contaram que as unhas de um cadáver continuam a crescer durante o velório.

Cientistas mapearam pico de atividade cerebral durante seis minutos após a parada cardíaca Foto: kinomaster - stock.adobe.com

Hoje sabemos que isso não é verdade; é o dedo que murcha após a morte e causa essa impressão. Entretanto, depois que o coração para de bater, o corpo fica sem oxigênio e perdemos a consciência, os neurônios cerebrais levam de 3 a 7 minutos para morrer.

Se a pessoa for doador de órgãos, os médicos precisam retirar os órgãos doados para transplante em 30 minutos e implantá-los em até seis horas. Caso isso ocorra, o órgão sobrevive no novo corpo, indicando que continuava vivo. Isso demonstra que a morte é um processo que dura tempos diferentes em diferentes órgãos e que só termina quando a última célula do corpo morre.

A novidade é um estudo que demonstra que após a parada cardíaca e a perda de consciência, o cérebro tem um pico de atividade, principalmente nas áreas associadas à visão e à consciência. E isso pode explicar as experiências lembradas por pessoas que sobrevivem a uma parada cardíaca.

Todos nós já vimos no cinema: a pessoa tem um ataque cardíaco, o coração para, a respiração também. A vítima perde a consciência imediatamente e as pessoas em volta passam a fazer massagem cardíaca apertando ritmicamente o peito do paciente.

Pensamentos no leito de morte ainda são um mistério para a ciência Foto: Oto Jorisvo/Adobe Stock

Essa manobra mantem um pouco do sangue circulando, e o pulmão oxigenando o sangue. Para tentar reativar o coração, podem ser dados choques e drogas quando ela chega no hospital. No desenrolar do filme, duas coisas podem acontecer.

A primeira é os médicos não conseguirem reativar o coração e, num dado momento, desistirem, desligarem os equipamentos e declararem a pessoa morta. A segunda é que os esforços funcionam, o coração volta a funcionar e a pessoa pode sair lépida do hospital.

Entre as pessoas que se recuperam de uma parada cardíaca, aproximadamente 10% relatam experiências consistentes dos pensamentos que tiveram quando estavam inconscientes. São os chamados pensamentos próximos da morte (near death experiences).

Eles normalmente envolvem visões da pessoa saindo do corpo, e da vida sendo recapitulada rapidamente. Esses relatos são tão consistentes que os cientistas hoje acreditam que eles têm alguma relação com a falta de oxigênio no cérebro.

Esse novo trabalho tenta descobrir o que ocorre no cérebro nos 5 a 10 minutos depois que o fluxo de oxigênio é interrompido. Foram estudadas quatro pessoas em que os esforços de reanimação do coração foram infrutíferos e os médicos decidiram parar a massagem cardíaca, os choques, e desligaram todos os sistemas de suporte.

Mas nesses quatro casos tudo foi desligado, menos o aparelho de eletroencefalograma, que mede a atividade cerebral. Esses pacientes, no momento em que tudo foi desligado, estavam completamente inconscientes e não apresentavam nenhuma resposta neurológica.

O aparelho de eletroencefalograma consiste em uma série de eletrodos fixados no couro cabeludo que medem a atividade elétrica na parte do cérebro logo embaixo do osso da caixa craniana. Em pessoas saudáveis, esses sinais elétricos são diferentes quando nosso cérebro executa diferentes funções, e sua análise permite identificar de maneira grosseira o que está ocorrendo no cérebro.

O que os cientistas observaram é que o cérebro desses pacientes mostrava pouca atividade durante o tempo em que os médicos estavam tentando reanimar o paciente, algo típico do estado de coma.

Mas assim que o fluxo de oxigênio é interrompido, a atividade cerebral aumenta abruptamente e essa atividade dura por até 6 minutos, quando ela cessa completa e definitivamente. Esses seis minutos são a transição entre um cérebro vivo e um cérebro morto.

Analisando o padrão dessa atividade, as áreas ativadas, e as comunicações elétricas entre diversas regiões, os cientistas concluíram que durante esse tempo, em que o cérebro está morrendo, é possível que pensamentos inconscientes e memórias sejam ativadas. Como todos esses pacientes não sobreviveram à parada cardíaca não é possível saber o que eles relatariam se acordassem.

Mas uma consequência dessa descoberta é que talvez essa atividade cerebral que ocorre durante os primeiros minutos da falta total de oxigênio sejam os processos que geram as memórias e pensamentos próximos a morte reportados por parte dos pacientes que sobrevivem a uma parada cardíaca.

O que poderia estar acontecendo é que assim que o fornecimento de oxigênio ao cérebro cessa, essa atividade cerebral intensa gera sensações de saída do corpo e memórias do passado. Quando esses pacientes são reanimados e seus corações voltam a bater novamente, eles saem do coma, acordam, e essas lembranças voltam à consciência. Os cientistas esperam testar essa possibilidade no futuro próximo.

O interessante do estudo é que ele representa uma nova linha de investigação cujo objetivo é estudar e compreender os fenômenos que ocorrem durante o processo da morte. Essa compreensão pode ajudar a entender que processos podem ser revertidos e como revertê-los. Sem dúvida, é uma área da ciência um pouco mórbida e triste, mas que pode ser promissora.

Mais informações: Surge of neurophysiological coupling and connectivity of gamma oscillations in the dying human brain. PNAS https://doi.org/10.1073/pnas.2216268120 2024

Eu devia ter 14 anos quando descobri que a morte não ocorre instantaneamente, mas é um processo relativamente longo. Foi no dia em que me contaram que as unhas de um cadáver continuam a crescer durante o velório.

Cientistas mapearam pico de atividade cerebral durante seis minutos após a parada cardíaca Foto: kinomaster - stock.adobe.com

Hoje sabemos que isso não é verdade; é o dedo que murcha após a morte e causa essa impressão. Entretanto, depois que o coração para de bater, o corpo fica sem oxigênio e perdemos a consciência, os neurônios cerebrais levam de 3 a 7 minutos para morrer.

Se a pessoa for doador de órgãos, os médicos precisam retirar os órgãos doados para transplante em 30 minutos e implantá-los em até seis horas. Caso isso ocorra, o órgão sobrevive no novo corpo, indicando que continuava vivo. Isso demonstra que a morte é um processo que dura tempos diferentes em diferentes órgãos e que só termina quando a última célula do corpo morre.

A novidade é um estudo que demonstra que após a parada cardíaca e a perda de consciência, o cérebro tem um pico de atividade, principalmente nas áreas associadas à visão e à consciência. E isso pode explicar as experiências lembradas por pessoas que sobrevivem a uma parada cardíaca.

Todos nós já vimos no cinema: a pessoa tem um ataque cardíaco, o coração para, a respiração também. A vítima perde a consciência imediatamente e as pessoas em volta passam a fazer massagem cardíaca apertando ritmicamente o peito do paciente.

Pensamentos no leito de morte ainda são um mistério para a ciência Foto: Oto Jorisvo/Adobe Stock

Essa manobra mantem um pouco do sangue circulando, e o pulmão oxigenando o sangue. Para tentar reativar o coração, podem ser dados choques e drogas quando ela chega no hospital. No desenrolar do filme, duas coisas podem acontecer.

A primeira é os médicos não conseguirem reativar o coração e, num dado momento, desistirem, desligarem os equipamentos e declararem a pessoa morta. A segunda é que os esforços funcionam, o coração volta a funcionar e a pessoa pode sair lépida do hospital.

Entre as pessoas que se recuperam de uma parada cardíaca, aproximadamente 10% relatam experiências consistentes dos pensamentos que tiveram quando estavam inconscientes. São os chamados pensamentos próximos da morte (near death experiences).

Eles normalmente envolvem visões da pessoa saindo do corpo, e da vida sendo recapitulada rapidamente. Esses relatos são tão consistentes que os cientistas hoje acreditam que eles têm alguma relação com a falta de oxigênio no cérebro.

Esse novo trabalho tenta descobrir o que ocorre no cérebro nos 5 a 10 minutos depois que o fluxo de oxigênio é interrompido. Foram estudadas quatro pessoas em que os esforços de reanimação do coração foram infrutíferos e os médicos decidiram parar a massagem cardíaca, os choques, e desligaram todos os sistemas de suporte.

Mas nesses quatro casos tudo foi desligado, menos o aparelho de eletroencefalograma, que mede a atividade cerebral. Esses pacientes, no momento em que tudo foi desligado, estavam completamente inconscientes e não apresentavam nenhuma resposta neurológica.

O aparelho de eletroencefalograma consiste em uma série de eletrodos fixados no couro cabeludo que medem a atividade elétrica na parte do cérebro logo embaixo do osso da caixa craniana. Em pessoas saudáveis, esses sinais elétricos são diferentes quando nosso cérebro executa diferentes funções, e sua análise permite identificar de maneira grosseira o que está ocorrendo no cérebro.

O que os cientistas observaram é que o cérebro desses pacientes mostrava pouca atividade durante o tempo em que os médicos estavam tentando reanimar o paciente, algo típico do estado de coma.

Mas assim que o fluxo de oxigênio é interrompido, a atividade cerebral aumenta abruptamente e essa atividade dura por até 6 minutos, quando ela cessa completa e definitivamente. Esses seis minutos são a transição entre um cérebro vivo e um cérebro morto.

Analisando o padrão dessa atividade, as áreas ativadas, e as comunicações elétricas entre diversas regiões, os cientistas concluíram que durante esse tempo, em que o cérebro está morrendo, é possível que pensamentos inconscientes e memórias sejam ativadas. Como todos esses pacientes não sobreviveram à parada cardíaca não é possível saber o que eles relatariam se acordassem.

Mas uma consequência dessa descoberta é que talvez essa atividade cerebral que ocorre durante os primeiros minutos da falta total de oxigênio sejam os processos que geram as memórias e pensamentos próximos a morte reportados por parte dos pacientes que sobrevivem a uma parada cardíaca.

O que poderia estar acontecendo é que assim que o fornecimento de oxigênio ao cérebro cessa, essa atividade cerebral intensa gera sensações de saída do corpo e memórias do passado. Quando esses pacientes são reanimados e seus corações voltam a bater novamente, eles saem do coma, acordam, e essas lembranças voltam à consciência. Os cientistas esperam testar essa possibilidade no futuro próximo.

O interessante do estudo é que ele representa uma nova linha de investigação cujo objetivo é estudar e compreender os fenômenos que ocorrem durante o processo da morte. Essa compreensão pode ajudar a entender que processos podem ser revertidos e como revertê-los. Sem dúvida, é uma área da ciência um pouco mórbida e triste, mas que pode ser promissora.

Mais informações: Surge of neurophysiological coupling and connectivity of gamma oscillations in the dying human brain. PNAS https://doi.org/10.1073/pnas.2216268120 2024

Eu devia ter 14 anos quando descobri que a morte não ocorre instantaneamente, mas é um processo relativamente longo. Foi no dia em que me contaram que as unhas de um cadáver continuam a crescer durante o velório.

Cientistas mapearam pico de atividade cerebral durante seis minutos após a parada cardíaca Foto: kinomaster - stock.adobe.com

Hoje sabemos que isso não é verdade; é o dedo que murcha após a morte e causa essa impressão. Entretanto, depois que o coração para de bater, o corpo fica sem oxigênio e perdemos a consciência, os neurônios cerebrais levam de 3 a 7 minutos para morrer.

Se a pessoa for doador de órgãos, os médicos precisam retirar os órgãos doados para transplante em 30 minutos e implantá-los em até seis horas. Caso isso ocorra, o órgão sobrevive no novo corpo, indicando que continuava vivo. Isso demonstra que a morte é um processo que dura tempos diferentes em diferentes órgãos e que só termina quando a última célula do corpo morre.

A novidade é um estudo que demonstra que após a parada cardíaca e a perda de consciência, o cérebro tem um pico de atividade, principalmente nas áreas associadas à visão e à consciência. E isso pode explicar as experiências lembradas por pessoas que sobrevivem a uma parada cardíaca.

Todos nós já vimos no cinema: a pessoa tem um ataque cardíaco, o coração para, a respiração também. A vítima perde a consciência imediatamente e as pessoas em volta passam a fazer massagem cardíaca apertando ritmicamente o peito do paciente.

Pensamentos no leito de morte ainda são um mistério para a ciência Foto: Oto Jorisvo/Adobe Stock

Essa manobra mantem um pouco do sangue circulando, e o pulmão oxigenando o sangue. Para tentar reativar o coração, podem ser dados choques e drogas quando ela chega no hospital. No desenrolar do filme, duas coisas podem acontecer.

A primeira é os médicos não conseguirem reativar o coração e, num dado momento, desistirem, desligarem os equipamentos e declararem a pessoa morta. A segunda é que os esforços funcionam, o coração volta a funcionar e a pessoa pode sair lépida do hospital.

Entre as pessoas que se recuperam de uma parada cardíaca, aproximadamente 10% relatam experiências consistentes dos pensamentos que tiveram quando estavam inconscientes. São os chamados pensamentos próximos da morte (near death experiences).

Eles normalmente envolvem visões da pessoa saindo do corpo, e da vida sendo recapitulada rapidamente. Esses relatos são tão consistentes que os cientistas hoje acreditam que eles têm alguma relação com a falta de oxigênio no cérebro.

Esse novo trabalho tenta descobrir o que ocorre no cérebro nos 5 a 10 minutos depois que o fluxo de oxigênio é interrompido. Foram estudadas quatro pessoas em que os esforços de reanimação do coração foram infrutíferos e os médicos decidiram parar a massagem cardíaca, os choques, e desligaram todos os sistemas de suporte.

Mas nesses quatro casos tudo foi desligado, menos o aparelho de eletroencefalograma, que mede a atividade cerebral. Esses pacientes, no momento em que tudo foi desligado, estavam completamente inconscientes e não apresentavam nenhuma resposta neurológica.

O aparelho de eletroencefalograma consiste em uma série de eletrodos fixados no couro cabeludo que medem a atividade elétrica na parte do cérebro logo embaixo do osso da caixa craniana. Em pessoas saudáveis, esses sinais elétricos são diferentes quando nosso cérebro executa diferentes funções, e sua análise permite identificar de maneira grosseira o que está ocorrendo no cérebro.

O que os cientistas observaram é que o cérebro desses pacientes mostrava pouca atividade durante o tempo em que os médicos estavam tentando reanimar o paciente, algo típico do estado de coma.

Mas assim que o fluxo de oxigênio é interrompido, a atividade cerebral aumenta abruptamente e essa atividade dura por até 6 minutos, quando ela cessa completa e definitivamente. Esses seis minutos são a transição entre um cérebro vivo e um cérebro morto.

Analisando o padrão dessa atividade, as áreas ativadas, e as comunicações elétricas entre diversas regiões, os cientistas concluíram que durante esse tempo, em que o cérebro está morrendo, é possível que pensamentos inconscientes e memórias sejam ativadas. Como todos esses pacientes não sobreviveram à parada cardíaca não é possível saber o que eles relatariam se acordassem.

Mas uma consequência dessa descoberta é que talvez essa atividade cerebral que ocorre durante os primeiros minutos da falta total de oxigênio sejam os processos que geram as memórias e pensamentos próximos a morte reportados por parte dos pacientes que sobrevivem a uma parada cardíaca.

O que poderia estar acontecendo é que assim que o fornecimento de oxigênio ao cérebro cessa, essa atividade cerebral intensa gera sensações de saída do corpo e memórias do passado. Quando esses pacientes são reanimados e seus corações voltam a bater novamente, eles saem do coma, acordam, e essas lembranças voltam à consciência. Os cientistas esperam testar essa possibilidade no futuro próximo.

O interessante do estudo é que ele representa uma nova linha de investigação cujo objetivo é estudar e compreender os fenômenos que ocorrem durante o processo da morte. Essa compreensão pode ajudar a entender que processos podem ser revertidos e como revertê-los. Sem dúvida, é uma área da ciência um pouco mórbida e triste, mas que pode ser promissora.

Mais informações: Surge of neurophysiological coupling and connectivity of gamma oscillations in the dying human brain. PNAS https://doi.org/10.1073/pnas.2216268120 2024

Eu devia ter 14 anos quando descobri que a morte não ocorre instantaneamente, mas é um processo relativamente longo. Foi no dia em que me contaram que as unhas de um cadáver continuam a crescer durante o velório.

Cientistas mapearam pico de atividade cerebral durante seis minutos após a parada cardíaca Foto: kinomaster - stock.adobe.com

Hoje sabemos que isso não é verdade; é o dedo que murcha após a morte e causa essa impressão. Entretanto, depois que o coração para de bater, o corpo fica sem oxigênio e perdemos a consciência, os neurônios cerebrais levam de 3 a 7 minutos para morrer.

Se a pessoa for doador de órgãos, os médicos precisam retirar os órgãos doados para transplante em 30 minutos e implantá-los em até seis horas. Caso isso ocorra, o órgão sobrevive no novo corpo, indicando que continuava vivo. Isso demonstra que a morte é um processo que dura tempos diferentes em diferentes órgãos e que só termina quando a última célula do corpo morre.

A novidade é um estudo que demonstra que após a parada cardíaca e a perda de consciência, o cérebro tem um pico de atividade, principalmente nas áreas associadas à visão e à consciência. E isso pode explicar as experiências lembradas por pessoas que sobrevivem a uma parada cardíaca.

Todos nós já vimos no cinema: a pessoa tem um ataque cardíaco, o coração para, a respiração também. A vítima perde a consciência imediatamente e as pessoas em volta passam a fazer massagem cardíaca apertando ritmicamente o peito do paciente.

Pensamentos no leito de morte ainda são um mistério para a ciência Foto: Oto Jorisvo/Adobe Stock

Essa manobra mantem um pouco do sangue circulando, e o pulmão oxigenando o sangue. Para tentar reativar o coração, podem ser dados choques e drogas quando ela chega no hospital. No desenrolar do filme, duas coisas podem acontecer.

A primeira é os médicos não conseguirem reativar o coração e, num dado momento, desistirem, desligarem os equipamentos e declararem a pessoa morta. A segunda é que os esforços funcionam, o coração volta a funcionar e a pessoa pode sair lépida do hospital.

Entre as pessoas que se recuperam de uma parada cardíaca, aproximadamente 10% relatam experiências consistentes dos pensamentos que tiveram quando estavam inconscientes. São os chamados pensamentos próximos da morte (near death experiences).

Eles normalmente envolvem visões da pessoa saindo do corpo, e da vida sendo recapitulada rapidamente. Esses relatos são tão consistentes que os cientistas hoje acreditam que eles têm alguma relação com a falta de oxigênio no cérebro.

Esse novo trabalho tenta descobrir o que ocorre no cérebro nos 5 a 10 minutos depois que o fluxo de oxigênio é interrompido. Foram estudadas quatro pessoas em que os esforços de reanimação do coração foram infrutíferos e os médicos decidiram parar a massagem cardíaca, os choques, e desligaram todos os sistemas de suporte.

Mas nesses quatro casos tudo foi desligado, menos o aparelho de eletroencefalograma, que mede a atividade cerebral. Esses pacientes, no momento em que tudo foi desligado, estavam completamente inconscientes e não apresentavam nenhuma resposta neurológica.

O aparelho de eletroencefalograma consiste em uma série de eletrodos fixados no couro cabeludo que medem a atividade elétrica na parte do cérebro logo embaixo do osso da caixa craniana. Em pessoas saudáveis, esses sinais elétricos são diferentes quando nosso cérebro executa diferentes funções, e sua análise permite identificar de maneira grosseira o que está ocorrendo no cérebro.

O que os cientistas observaram é que o cérebro desses pacientes mostrava pouca atividade durante o tempo em que os médicos estavam tentando reanimar o paciente, algo típico do estado de coma.

Mas assim que o fluxo de oxigênio é interrompido, a atividade cerebral aumenta abruptamente e essa atividade dura por até 6 minutos, quando ela cessa completa e definitivamente. Esses seis minutos são a transição entre um cérebro vivo e um cérebro morto.

Analisando o padrão dessa atividade, as áreas ativadas, e as comunicações elétricas entre diversas regiões, os cientistas concluíram que durante esse tempo, em que o cérebro está morrendo, é possível que pensamentos inconscientes e memórias sejam ativadas. Como todos esses pacientes não sobreviveram à parada cardíaca não é possível saber o que eles relatariam se acordassem.

Mas uma consequência dessa descoberta é que talvez essa atividade cerebral que ocorre durante os primeiros minutos da falta total de oxigênio sejam os processos que geram as memórias e pensamentos próximos a morte reportados por parte dos pacientes que sobrevivem a uma parada cardíaca.

O que poderia estar acontecendo é que assim que o fornecimento de oxigênio ao cérebro cessa, essa atividade cerebral intensa gera sensações de saída do corpo e memórias do passado. Quando esses pacientes são reanimados e seus corações voltam a bater novamente, eles saem do coma, acordam, e essas lembranças voltam à consciência. Os cientistas esperam testar essa possibilidade no futuro próximo.

O interessante do estudo é que ele representa uma nova linha de investigação cujo objetivo é estudar e compreender os fenômenos que ocorrem durante o processo da morte. Essa compreensão pode ajudar a entender que processos podem ser revertidos e como revertê-los. Sem dúvida, é uma área da ciência um pouco mórbida e triste, mas que pode ser promissora.

Mais informações: Surge of neurophysiological coupling and connectivity of gamma oscillations in the dying human brain. PNAS https://doi.org/10.1073/pnas.2216268120 2024

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Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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