Opinião|Como as baratas se espalharam pelo mundo


Espécie invasora é resistente à grande maioria dos inseticidas e praticamente só se alimenta de restos de nossa comida

Por Fernando Reinach

Pode passar a mão em um chinelo, ou pular para uma mesa se te falta coragem, porque o assunto hoje são as baratas e como elas se espalharam pelo planeta. Mais especificamente a Blattella germanica, descrita na Alemanha por Linnaeus em 1776.

Hoje essa barata é encontrada em todos os continentes, menos na Antártica (provavelmente porque ninguém procurou com cuidado nas cozinhas das bases científicas). Ela vive exclusivamente em associação com seres humanos, não sendo nunca encontrada fora de nossas casas ou outros edifícios. Além disso, ela praticamente só se alimenta de restos de nossa comida.

É um exemplo do que em biologia chamamos de um comensal, um animal que vive dos restos do outro, mas não é um parasita. Além disso, essa barata é uma espécie invasora, que se espalha por novos ecossistemas tomando o espaço de outras espécies.

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É sabido que essa barata, quando chega em uma nova casa, é capaz de competir com vantagem e expulsar um total de 44 outras espécies de baratas. Atualmente, ela é resistente à grande maioria dos inseticidas.

'Blattella germanica' é encontrada em todos os continentes, com exceção da Antártica Foto: Reprodução

Do ponto de vista evolutivo ela é um sucesso: se associou à especie mais poderosa do planeta, conquistou o mundo e resiste às tecnologias humanas. Nada mal. Estimativas recentes colocam o prejuízo anual causado por espécies invasoras (gastos com combate, perda de produção agrícola e de alimentos) em US$ 26,8 bilhões.

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Faz muitos séculos que se desconfiava que, apesar de ter sido descoberta na Alemanha, ela não era originária da Europa, pois não existem espécies semelhantes por lá. Procurando espécies que pudessem ter dado origem a esse monstro, os cientistas encontraram uma barata asiática, Blattella ashahinai, muito semelhante, mas que vive sem necessitar de seres humanos. Mas, se ela surgiu na Ásia, como se espalhou pelo mundo? Para resolver esse mistério um grupo de cientistas sequenciou o genoma de 281 baratas Blattella germanica coletadas em 17 países em seis continentes. Tinha até uma barata brasileira, coletada na cidade de Paulínia.

Comparando as sequências de DNA é possível construir um desenho que mostra qual linhagem de barata se originou de qual linhagem e quantos anos atrás isso ocorreu. O resultado mostra que a barata germânica derivou da barata asiática aproximadamente 2.100 anos atrás e isso ocorreu na Índia ou em Myanmar, quando ela passou a ser um comensal da espécie humana.

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A partir dessa data houve duas ondas migratórias. A mais antiga ocorreu faz 1.200 anos e levou as baratas em direção ao oeste até o Oriente Médio. Foi nessa época que o comércio entre essas regiões se intensificou e as baratas provavelmente migraram em sacos de grãos ou no pão levado pelos comerciantes.

Uma segunda migração ocorreu 390 anos atrás e levou as baratas até a Malásia. Essa segunda migração coincide com o período em que a navegação nessa área se desenvolveu. Elas chegaram no norte da Europa 270 anos atrás, no Japão faz 170 anos e há 120 anos chegaram na América do Norte. A população representada pela barata coletada em Paulínia veio mais recentemente do Caribe ou da África, talvez nos navios negreiros.

No início do século 18, essas baratas estavam ainda restritas à Europa e foi somente nos séculos 19 e 20 que elas chegaram nas Américas. E elas chegaram atravessando o Atlântico, e não o Estreito de Bering, como fizeram os seres humanos. Sua chegada na Austrália se deu via América do Sul apesar das baratas que estavam no Pacífico estarem muito mais perto. Mas, o espalhamento dessa espécie pelo planeta está relacionado às migrações de populações humanas.

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O fato de o homem ter levado espécies de um lado para outro do planeta não é novidade. Hoje, sabemos que mais de 37.000 espécies de plantas e animais foram levadas pelos homens de um continente para outro. E esse movimento continua. Mais de 200 espécies são acrescentadas a essa lista todos os anos. São muitas, mas, sem dúvida, os ratos e as baratas são as que mais nos irritam, enquanto o kiwi, o morango e um frango assado só nos dão prazer.

Mais informações: Solving the 250-year-old mystery of the origin and global spread of the German cockroach, Blattella germanica. PNAS 2024

Pode passar a mão em um chinelo, ou pular para uma mesa se te falta coragem, porque o assunto hoje são as baratas e como elas se espalharam pelo planeta. Mais especificamente a Blattella germanica, descrita na Alemanha por Linnaeus em 1776.

Hoje essa barata é encontrada em todos os continentes, menos na Antártica (provavelmente porque ninguém procurou com cuidado nas cozinhas das bases científicas). Ela vive exclusivamente em associação com seres humanos, não sendo nunca encontrada fora de nossas casas ou outros edifícios. Além disso, ela praticamente só se alimenta de restos de nossa comida.

É um exemplo do que em biologia chamamos de um comensal, um animal que vive dos restos do outro, mas não é um parasita. Além disso, essa barata é uma espécie invasora, que se espalha por novos ecossistemas tomando o espaço de outras espécies.

É sabido que essa barata, quando chega em uma nova casa, é capaz de competir com vantagem e expulsar um total de 44 outras espécies de baratas. Atualmente, ela é resistente à grande maioria dos inseticidas.

'Blattella germanica' é encontrada em todos os continentes, com exceção da Antártica Foto: Reprodução

Do ponto de vista evolutivo ela é um sucesso: se associou à especie mais poderosa do planeta, conquistou o mundo e resiste às tecnologias humanas. Nada mal. Estimativas recentes colocam o prejuízo anual causado por espécies invasoras (gastos com combate, perda de produção agrícola e de alimentos) em US$ 26,8 bilhões.

Faz muitos séculos que se desconfiava que, apesar de ter sido descoberta na Alemanha, ela não era originária da Europa, pois não existem espécies semelhantes por lá. Procurando espécies que pudessem ter dado origem a esse monstro, os cientistas encontraram uma barata asiática, Blattella ashahinai, muito semelhante, mas que vive sem necessitar de seres humanos. Mas, se ela surgiu na Ásia, como se espalhou pelo mundo? Para resolver esse mistério um grupo de cientistas sequenciou o genoma de 281 baratas Blattella germanica coletadas em 17 países em seis continentes. Tinha até uma barata brasileira, coletada na cidade de Paulínia.

Comparando as sequências de DNA é possível construir um desenho que mostra qual linhagem de barata se originou de qual linhagem e quantos anos atrás isso ocorreu. O resultado mostra que a barata germânica derivou da barata asiática aproximadamente 2.100 anos atrás e isso ocorreu na Índia ou em Myanmar, quando ela passou a ser um comensal da espécie humana.

A partir dessa data houve duas ondas migratórias. A mais antiga ocorreu faz 1.200 anos e levou as baratas em direção ao oeste até o Oriente Médio. Foi nessa época que o comércio entre essas regiões se intensificou e as baratas provavelmente migraram em sacos de grãos ou no pão levado pelos comerciantes.

Uma segunda migração ocorreu 390 anos atrás e levou as baratas até a Malásia. Essa segunda migração coincide com o período em que a navegação nessa área se desenvolveu. Elas chegaram no norte da Europa 270 anos atrás, no Japão faz 170 anos e há 120 anos chegaram na América do Norte. A população representada pela barata coletada em Paulínia veio mais recentemente do Caribe ou da África, talvez nos navios negreiros.

No início do século 18, essas baratas estavam ainda restritas à Europa e foi somente nos séculos 19 e 20 que elas chegaram nas Américas. E elas chegaram atravessando o Atlântico, e não o Estreito de Bering, como fizeram os seres humanos. Sua chegada na Austrália se deu via América do Sul apesar das baratas que estavam no Pacífico estarem muito mais perto. Mas, o espalhamento dessa espécie pelo planeta está relacionado às migrações de populações humanas.

O fato de o homem ter levado espécies de um lado para outro do planeta não é novidade. Hoje, sabemos que mais de 37.000 espécies de plantas e animais foram levadas pelos homens de um continente para outro. E esse movimento continua. Mais de 200 espécies são acrescentadas a essa lista todos os anos. São muitas, mas, sem dúvida, os ratos e as baratas são as que mais nos irritam, enquanto o kiwi, o morango e um frango assado só nos dão prazer.

Mais informações: Solving the 250-year-old mystery of the origin and global spread of the German cockroach, Blattella germanica. PNAS 2024

Pode passar a mão em um chinelo, ou pular para uma mesa se te falta coragem, porque o assunto hoje são as baratas e como elas se espalharam pelo planeta. Mais especificamente a Blattella germanica, descrita na Alemanha por Linnaeus em 1776.

Hoje essa barata é encontrada em todos os continentes, menos na Antártica (provavelmente porque ninguém procurou com cuidado nas cozinhas das bases científicas). Ela vive exclusivamente em associação com seres humanos, não sendo nunca encontrada fora de nossas casas ou outros edifícios. Além disso, ela praticamente só se alimenta de restos de nossa comida.

É um exemplo do que em biologia chamamos de um comensal, um animal que vive dos restos do outro, mas não é um parasita. Além disso, essa barata é uma espécie invasora, que se espalha por novos ecossistemas tomando o espaço de outras espécies.

É sabido que essa barata, quando chega em uma nova casa, é capaz de competir com vantagem e expulsar um total de 44 outras espécies de baratas. Atualmente, ela é resistente à grande maioria dos inseticidas.

'Blattella germanica' é encontrada em todos os continentes, com exceção da Antártica Foto: Reprodução

Do ponto de vista evolutivo ela é um sucesso: se associou à especie mais poderosa do planeta, conquistou o mundo e resiste às tecnologias humanas. Nada mal. Estimativas recentes colocam o prejuízo anual causado por espécies invasoras (gastos com combate, perda de produção agrícola e de alimentos) em US$ 26,8 bilhões.

Faz muitos séculos que se desconfiava que, apesar de ter sido descoberta na Alemanha, ela não era originária da Europa, pois não existem espécies semelhantes por lá. Procurando espécies que pudessem ter dado origem a esse monstro, os cientistas encontraram uma barata asiática, Blattella ashahinai, muito semelhante, mas que vive sem necessitar de seres humanos. Mas, se ela surgiu na Ásia, como se espalhou pelo mundo? Para resolver esse mistério um grupo de cientistas sequenciou o genoma de 281 baratas Blattella germanica coletadas em 17 países em seis continentes. Tinha até uma barata brasileira, coletada na cidade de Paulínia.

Comparando as sequências de DNA é possível construir um desenho que mostra qual linhagem de barata se originou de qual linhagem e quantos anos atrás isso ocorreu. O resultado mostra que a barata germânica derivou da barata asiática aproximadamente 2.100 anos atrás e isso ocorreu na Índia ou em Myanmar, quando ela passou a ser um comensal da espécie humana.

A partir dessa data houve duas ondas migratórias. A mais antiga ocorreu faz 1.200 anos e levou as baratas em direção ao oeste até o Oriente Médio. Foi nessa época que o comércio entre essas regiões se intensificou e as baratas provavelmente migraram em sacos de grãos ou no pão levado pelos comerciantes.

Uma segunda migração ocorreu 390 anos atrás e levou as baratas até a Malásia. Essa segunda migração coincide com o período em que a navegação nessa área se desenvolveu. Elas chegaram no norte da Europa 270 anos atrás, no Japão faz 170 anos e há 120 anos chegaram na América do Norte. A população representada pela barata coletada em Paulínia veio mais recentemente do Caribe ou da África, talvez nos navios negreiros.

No início do século 18, essas baratas estavam ainda restritas à Europa e foi somente nos séculos 19 e 20 que elas chegaram nas Américas. E elas chegaram atravessando o Atlântico, e não o Estreito de Bering, como fizeram os seres humanos. Sua chegada na Austrália se deu via América do Sul apesar das baratas que estavam no Pacífico estarem muito mais perto. Mas, o espalhamento dessa espécie pelo planeta está relacionado às migrações de populações humanas.

O fato de o homem ter levado espécies de um lado para outro do planeta não é novidade. Hoje, sabemos que mais de 37.000 espécies de plantas e animais foram levadas pelos homens de um continente para outro. E esse movimento continua. Mais de 200 espécies são acrescentadas a essa lista todos os anos. São muitas, mas, sem dúvida, os ratos e as baratas são as que mais nos irritam, enquanto o kiwi, o morango e um frango assado só nos dão prazer.

Mais informações: Solving the 250-year-old mystery of the origin and global spread of the German cockroach, Blattella germanica. PNAS 2024

Pode passar a mão em um chinelo, ou pular para uma mesa se te falta coragem, porque o assunto hoje são as baratas e como elas se espalharam pelo planeta. Mais especificamente a Blattella germanica, descrita na Alemanha por Linnaeus em 1776.

Hoje essa barata é encontrada em todos os continentes, menos na Antártica (provavelmente porque ninguém procurou com cuidado nas cozinhas das bases científicas). Ela vive exclusivamente em associação com seres humanos, não sendo nunca encontrada fora de nossas casas ou outros edifícios. Além disso, ela praticamente só se alimenta de restos de nossa comida.

É um exemplo do que em biologia chamamos de um comensal, um animal que vive dos restos do outro, mas não é um parasita. Além disso, essa barata é uma espécie invasora, que se espalha por novos ecossistemas tomando o espaço de outras espécies.

É sabido que essa barata, quando chega em uma nova casa, é capaz de competir com vantagem e expulsar um total de 44 outras espécies de baratas. Atualmente, ela é resistente à grande maioria dos inseticidas.

'Blattella germanica' é encontrada em todos os continentes, com exceção da Antártica Foto: Reprodução

Do ponto de vista evolutivo ela é um sucesso: se associou à especie mais poderosa do planeta, conquistou o mundo e resiste às tecnologias humanas. Nada mal. Estimativas recentes colocam o prejuízo anual causado por espécies invasoras (gastos com combate, perda de produção agrícola e de alimentos) em US$ 26,8 bilhões.

Faz muitos séculos que se desconfiava que, apesar de ter sido descoberta na Alemanha, ela não era originária da Europa, pois não existem espécies semelhantes por lá. Procurando espécies que pudessem ter dado origem a esse monstro, os cientistas encontraram uma barata asiática, Blattella ashahinai, muito semelhante, mas que vive sem necessitar de seres humanos. Mas, se ela surgiu na Ásia, como se espalhou pelo mundo? Para resolver esse mistério um grupo de cientistas sequenciou o genoma de 281 baratas Blattella germanica coletadas em 17 países em seis continentes. Tinha até uma barata brasileira, coletada na cidade de Paulínia.

Comparando as sequências de DNA é possível construir um desenho que mostra qual linhagem de barata se originou de qual linhagem e quantos anos atrás isso ocorreu. O resultado mostra que a barata germânica derivou da barata asiática aproximadamente 2.100 anos atrás e isso ocorreu na Índia ou em Myanmar, quando ela passou a ser um comensal da espécie humana.

A partir dessa data houve duas ondas migratórias. A mais antiga ocorreu faz 1.200 anos e levou as baratas em direção ao oeste até o Oriente Médio. Foi nessa época que o comércio entre essas regiões se intensificou e as baratas provavelmente migraram em sacos de grãos ou no pão levado pelos comerciantes.

Uma segunda migração ocorreu 390 anos atrás e levou as baratas até a Malásia. Essa segunda migração coincide com o período em que a navegação nessa área se desenvolveu. Elas chegaram no norte da Europa 270 anos atrás, no Japão faz 170 anos e há 120 anos chegaram na América do Norte. A população representada pela barata coletada em Paulínia veio mais recentemente do Caribe ou da África, talvez nos navios negreiros.

No início do século 18, essas baratas estavam ainda restritas à Europa e foi somente nos séculos 19 e 20 que elas chegaram nas Américas. E elas chegaram atravessando o Atlântico, e não o Estreito de Bering, como fizeram os seres humanos. Sua chegada na Austrália se deu via América do Sul apesar das baratas que estavam no Pacífico estarem muito mais perto. Mas, o espalhamento dessa espécie pelo planeta está relacionado às migrações de populações humanas.

O fato de o homem ter levado espécies de um lado para outro do planeta não é novidade. Hoje, sabemos que mais de 37.000 espécies de plantas e animais foram levadas pelos homens de um continente para outro. E esse movimento continua. Mais de 200 espécies são acrescentadas a essa lista todos os anos. São muitas, mas, sem dúvida, os ratos e as baratas são as que mais nos irritam, enquanto o kiwi, o morango e um frango assado só nos dão prazer.

Mais informações: Solving the 250-year-old mystery of the origin and global spread of the German cockroach, Blattella germanica. PNAS 2024

Pode passar a mão em um chinelo, ou pular para uma mesa se te falta coragem, porque o assunto hoje são as baratas e como elas se espalharam pelo planeta. Mais especificamente a Blattella germanica, descrita na Alemanha por Linnaeus em 1776.

Hoje essa barata é encontrada em todos os continentes, menos na Antártica (provavelmente porque ninguém procurou com cuidado nas cozinhas das bases científicas). Ela vive exclusivamente em associação com seres humanos, não sendo nunca encontrada fora de nossas casas ou outros edifícios. Além disso, ela praticamente só se alimenta de restos de nossa comida.

É um exemplo do que em biologia chamamos de um comensal, um animal que vive dos restos do outro, mas não é um parasita. Além disso, essa barata é uma espécie invasora, que se espalha por novos ecossistemas tomando o espaço de outras espécies.

É sabido que essa barata, quando chega em uma nova casa, é capaz de competir com vantagem e expulsar um total de 44 outras espécies de baratas. Atualmente, ela é resistente à grande maioria dos inseticidas.

'Blattella germanica' é encontrada em todos os continentes, com exceção da Antártica Foto: Reprodução

Do ponto de vista evolutivo ela é um sucesso: se associou à especie mais poderosa do planeta, conquistou o mundo e resiste às tecnologias humanas. Nada mal. Estimativas recentes colocam o prejuízo anual causado por espécies invasoras (gastos com combate, perda de produção agrícola e de alimentos) em US$ 26,8 bilhões.

Faz muitos séculos que se desconfiava que, apesar de ter sido descoberta na Alemanha, ela não era originária da Europa, pois não existem espécies semelhantes por lá. Procurando espécies que pudessem ter dado origem a esse monstro, os cientistas encontraram uma barata asiática, Blattella ashahinai, muito semelhante, mas que vive sem necessitar de seres humanos. Mas, se ela surgiu na Ásia, como se espalhou pelo mundo? Para resolver esse mistério um grupo de cientistas sequenciou o genoma de 281 baratas Blattella germanica coletadas em 17 países em seis continentes. Tinha até uma barata brasileira, coletada na cidade de Paulínia.

Comparando as sequências de DNA é possível construir um desenho que mostra qual linhagem de barata se originou de qual linhagem e quantos anos atrás isso ocorreu. O resultado mostra que a barata germânica derivou da barata asiática aproximadamente 2.100 anos atrás e isso ocorreu na Índia ou em Myanmar, quando ela passou a ser um comensal da espécie humana.

A partir dessa data houve duas ondas migratórias. A mais antiga ocorreu faz 1.200 anos e levou as baratas em direção ao oeste até o Oriente Médio. Foi nessa época que o comércio entre essas regiões se intensificou e as baratas provavelmente migraram em sacos de grãos ou no pão levado pelos comerciantes.

Uma segunda migração ocorreu 390 anos atrás e levou as baratas até a Malásia. Essa segunda migração coincide com o período em que a navegação nessa área se desenvolveu. Elas chegaram no norte da Europa 270 anos atrás, no Japão faz 170 anos e há 120 anos chegaram na América do Norte. A população representada pela barata coletada em Paulínia veio mais recentemente do Caribe ou da África, talvez nos navios negreiros.

No início do século 18, essas baratas estavam ainda restritas à Europa e foi somente nos séculos 19 e 20 que elas chegaram nas Américas. E elas chegaram atravessando o Atlântico, e não o Estreito de Bering, como fizeram os seres humanos. Sua chegada na Austrália se deu via América do Sul apesar das baratas que estavam no Pacífico estarem muito mais perto. Mas, o espalhamento dessa espécie pelo planeta está relacionado às migrações de populações humanas.

O fato de o homem ter levado espécies de um lado para outro do planeta não é novidade. Hoje, sabemos que mais de 37.000 espécies de plantas e animais foram levadas pelos homens de um continente para outro. E esse movimento continua. Mais de 200 espécies são acrescentadas a essa lista todos os anos. São muitas, mas, sem dúvida, os ratos e as baratas são as que mais nos irritam, enquanto o kiwi, o morango e um frango assado só nos dão prazer.

Mais informações: Solving the 250-year-old mystery of the origin and global spread of the German cockroach, Blattella germanica. PNAS 2024

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Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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