Opinião|Como funcionam os terminais nervosos no pênis e no clítoris, responsáveis pelo prazer sexual


Corpúsculos de Krause capturam os estímulos que nossos órgãos genitais recebem do exterior, como carinhos e afagos

Por Fernando Reinach

Foi reinaugurada uma área de pesquisa importante, mas totalmente relegada por 170 anos. É a investigação dos corpúsculos de Krause, as terminações nervosas especiais que temos no pênis e no clítoris. É impressionante o descaso da ciência com o sistema sensorial presente nos órgãos sexuais. Os corpúsculos de Meissener, que estão presentes na ponta de nossos dedos, e nos ajudam no tato, são equivalentes aos de Krause, mas já foram extensivamente investigados e seu funcionamento é bem conhecido.

A novidade é que um grupo de cientistas resolveu tirar o atraso e agora publicou o primeiro estudo sobre o funcionamento dessas estruturas responsáveis por grande parte de nosso prazer sexual. Os corpúsculos de Krause foram descobertos por volta de 1850, sua morfologia foi determinada, e caíram no buraco da indiferença ou do prurido científico. Afinal, para estudar seu funcionamento é necessário estimular os órgãos genitais e observar o que acontece. Antes que sua imaginação decole, já vou avisando que os estudos foram feitos em camundongos.

Cientistas investigaram o que acontece com a estimulação dos corpúsculos de Krause, terminações nervosas especiais que temos no pênis e no clítoris Foto: Chattakan / adobe.stock
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De maneira muito simplificada podemos dizer que nosso sistema nervoso tem três componentes principais. O primeiro são os neurônios envolvidos na captura dos sinais que vêm do mundo exterior e sua transmissão até o cérebro. É nessa categoria que está a retina em nossos olhos, os neurônios presentes no ouvido, aqueles envolvidos no tato, na percepção de estímulos dolorosos, os do olfato e do paladar. Os corpúsculos de Krause estão nesse grupo pois capturam os estímulos que nossos órgãos genitais recebem do exterior, como carinhos e afagos.

Os estímulos vindos do mundo exterior chegam ao nosso cérebro e lá são processados, associados à memórias e podem chegar na nossa consciência. Esse processamento leva nosso cérebro a decidir qual a resposta adequada. E essa resposta é levada de volta às outras partes do corpo. Da mesma maneira que o olho informa ao cérebro a imagem de um animal, o cérebro decide que é uma cobra, e envia sinal aos músculos para pular de lado, os corpúsculos de Krause enviam ao cérebro os estímulos recebidos nos órgãos sexuais, o cérebro cria na consciência sentimentos de prazer e providencia que o corpo responda. No caso provocando o intumescimento do clítoris, a ereção.

Estudando a forma e o funcionamento dos corpúsculos de Krause em camundongos, os cientistas descobriram que existem entre 500 e 700 corpúsculos no pênis e no clítoris de cada animal. Mas, como o clítoris é muito menor, a densidades desses corpúsculos no clítoris é de 1500 por milímetro cúbico e de 50 por milímetro cúbico no pênis. Eles também descobriram que em ambos os sexos existem dois tipos de corpúsculos, um que possui terminais com dois tipos de fibras nervosas (são maiores), e um com somente um tipo de fibra nervosa.

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Não foi possível descobrir se existem diferenças funcionais entre os dois tipos, mas ambas as fibras levam o estímulo para a medula espinhal. Monitorando a resposta dessas fibras nervosas, os cientistas descobriram que o corpúsculo de Krause responde mais intensamente a estímulos táteis leves, pouco à pressão, ou a estímulos mais fortes (carinho deve ser leve). Eles também respondem, tanto no pênis quanto no clítoris, a vibrações mecânicas, sendo mais eficientes estímulos entre 40 e 80 vibrações por segundo (dado importante para os fabricantes de vibradores).

Finalmente os cientistas investigaram o que acontecia com a estimulação desses corpúsculos. Nos machos isso levava à ereção e nas fêmeas a contrações vaginais. Quando os cientistas, usando truques genéticos, conseguiram produzir camundongos que não possuem corpúsculos de Krause, observaram que nesses machos não ocorria a ereção ou a ejaculação. Já as fêmeas sem corpúsculos demonstravam uma baixa receptividade aos machos.

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Todos esses resultados confirmam que os corpúsculos de Krause são os órgãos sensoriais envolvidos no estímulo sexual e nos comportamentos sexuais dos camundongos, algo que todos suspeitavam, mas que não havia sido investigado e demonstrado. Seguramente esses estudos inauguram um promissor campo de investigação. Me parece que o mais importante seria descobrir se existem diferenças funcionais entre os dois tipos de inervação e como esses estímulos são levados ao cérebro e processados.

Mais informações: Krause corpuscles are genital vibrotactile sensors for sexual behaviours. Nature 2024

Foi reinaugurada uma área de pesquisa importante, mas totalmente relegada por 170 anos. É a investigação dos corpúsculos de Krause, as terminações nervosas especiais que temos no pênis e no clítoris. É impressionante o descaso da ciência com o sistema sensorial presente nos órgãos sexuais. Os corpúsculos de Meissener, que estão presentes na ponta de nossos dedos, e nos ajudam no tato, são equivalentes aos de Krause, mas já foram extensivamente investigados e seu funcionamento é bem conhecido.

A novidade é que um grupo de cientistas resolveu tirar o atraso e agora publicou o primeiro estudo sobre o funcionamento dessas estruturas responsáveis por grande parte de nosso prazer sexual. Os corpúsculos de Krause foram descobertos por volta de 1850, sua morfologia foi determinada, e caíram no buraco da indiferença ou do prurido científico. Afinal, para estudar seu funcionamento é necessário estimular os órgãos genitais e observar o que acontece. Antes que sua imaginação decole, já vou avisando que os estudos foram feitos em camundongos.

Cientistas investigaram o que acontece com a estimulação dos corpúsculos de Krause, terminações nervosas especiais que temos no pênis e no clítoris Foto: Chattakan / adobe.stock

De maneira muito simplificada podemos dizer que nosso sistema nervoso tem três componentes principais. O primeiro são os neurônios envolvidos na captura dos sinais que vêm do mundo exterior e sua transmissão até o cérebro. É nessa categoria que está a retina em nossos olhos, os neurônios presentes no ouvido, aqueles envolvidos no tato, na percepção de estímulos dolorosos, os do olfato e do paladar. Os corpúsculos de Krause estão nesse grupo pois capturam os estímulos que nossos órgãos genitais recebem do exterior, como carinhos e afagos.

Os estímulos vindos do mundo exterior chegam ao nosso cérebro e lá são processados, associados à memórias e podem chegar na nossa consciência. Esse processamento leva nosso cérebro a decidir qual a resposta adequada. E essa resposta é levada de volta às outras partes do corpo. Da mesma maneira que o olho informa ao cérebro a imagem de um animal, o cérebro decide que é uma cobra, e envia sinal aos músculos para pular de lado, os corpúsculos de Krause enviam ao cérebro os estímulos recebidos nos órgãos sexuais, o cérebro cria na consciência sentimentos de prazer e providencia que o corpo responda. No caso provocando o intumescimento do clítoris, a ereção.

Estudando a forma e o funcionamento dos corpúsculos de Krause em camundongos, os cientistas descobriram que existem entre 500 e 700 corpúsculos no pênis e no clítoris de cada animal. Mas, como o clítoris é muito menor, a densidades desses corpúsculos no clítoris é de 1500 por milímetro cúbico e de 50 por milímetro cúbico no pênis. Eles também descobriram que em ambos os sexos existem dois tipos de corpúsculos, um que possui terminais com dois tipos de fibras nervosas (são maiores), e um com somente um tipo de fibra nervosa.

Não foi possível descobrir se existem diferenças funcionais entre os dois tipos, mas ambas as fibras levam o estímulo para a medula espinhal. Monitorando a resposta dessas fibras nervosas, os cientistas descobriram que o corpúsculo de Krause responde mais intensamente a estímulos táteis leves, pouco à pressão, ou a estímulos mais fortes (carinho deve ser leve). Eles também respondem, tanto no pênis quanto no clítoris, a vibrações mecânicas, sendo mais eficientes estímulos entre 40 e 80 vibrações por segundo (dado importante para os fabricantes de vibradores).

Finalmente os cientistas investigaram o que acontecia com a estimulação desses corpúsculos. Nos machos isso levava à ereção e nas fêmeas a contrações vaginais. Quando os cientistas, usando truques genéticos, conseguiram produzir camundongos que não possuem corpúsculos de Krause, observaram que nesses machos não ocorria a ereção ou a ejaculação. Já as fêmeas sem corpúsculos demonstravam uma baixa receptividade aos machos.

Todos esses resultados confirmam que os corpúsculos de Krause são os órgãos sensoriais envolvidos no estímulo sexual e nos comportamentos sexuais dos camundongos, algo que todos suspeitavam, mas que não havia sido investigado e demonstrado. Seguramente esses estudos inauguram um promissor campo de investigação. Me parece que o mais importante seria descobrir se existem diferenças funcionais entre os dois tipos de inervação e como esses estímulos são levados ao cérebro e processados.

Mais informações: Krause corpuscles are genital vibrotactile sensors for sexual behaviours. Nature 2024

Foi reinaugurada uma área de pesquisa importante, mas totalmente relegada por 170 anos. É a investigação dos corpúsculos de Krause, as terminações nervosas especiais que temos no pênis e no clítoris. É impressionante o descaso da ciência com o sistema sensorial presente nos órgãos sexuais. Os corpúsculos de Meissener, que estão presentes na ponta de nossos dedos, e nos ajudam no tato, são equivalentes aos de Krause, mas já foram extensivamente investigados e seu funcionamento é bem conhecido.

A novidade é que um grupo de cientistas resolveu tirar o atraso e agora publicou o primeiro estudo sobre o funcionamento dessas estruturas responsáveis por grande parte de nosso prazer sexual. Os corpúsculos de Krause foram descobertos por volta de 1850, sua morfologia foi determinada, e caíram no buraco da indiferença ou do prurido científico. Afinal, para estudar seu funcionamento é necessário estimular os órgãos genitais e observar o que acontece. Antes que sua imaginação decole, já vou avisando que os estudos foram feitos em camundongos.

Cientistas investigaram o que acontece com a estimulação dos corpúsculos de Krause, terminações nervosas especiais que temos no pênis e no clítoris Foto: Chattakan / adobe.stock

De maneira muito simplificada podemos dizer que nosso sistema nervoso tem três componentes principais. O primeiro são os neurônios envolvidos na captura dos sinais que vêm do mundo exterior e sua transmissão até o cérebro. É nessa categoria que está a retina em nossos olhos, os neurônios presentes no ouvido, aqueles envolvidos no tato, na percepção de estímulos dolorosos, os do olfato e do paladar. Os corpúsculos de Krause estão nesse grupo pois capturam os estímulos que nossos órgãos genitais recebem do exterior, como carinhos e afagos.

Os estímulos vindos do mundo exterior chegam ao nosso cérebro e lá são processados, associados à memórias e podem chegar na nossa consciência. Esse processamento leva nosso cérebro a decidir qual a resposta adequada. E essa resposta é levada de volta às outras partes do corpo. Da mesma maneira que o olho informa ao cérebro a imagem de um animal, o cérebro decide que é uma cobra, e envia sinal aos músculos para pular de lado, os corpúsculos de Krause enviam ao cérebro os estímulos recebidos nos órgãos sexuais, o cérebro cria na consciência sentimentos de prazer e providencia que o corpo responda. No caso provocando o intumescimento do clítoris, a ereção.

Estudando a forma e o funcionamento dos corpúsculos de Krause em camundongos, os cientistas descobriram que existem entre 500 e 700 corpúsculos no pênis e no clítoris de cada animal. Mas, como o clítoris é muito menor, a densidades desses corpúsculos no clítoris é de 1500 por milímetro cúbico e de 50 por milímetro cúbico no pênis. Eles também descobriram que em ambos os sexos existem dois tipos de corpúsculos, um que possui terminais com dois tipos de fibras nervosas (são maiores), e um com somente um tipo de fibra nervosa.

Não foi possível descobrir se existem diferenças funcionais entre os dois tipos, mas ambas as fibras levam o estímulo para a medula espinhal. Monitorando a resposta dessas fibras nervosas, os cientistas descobriram que o corpúsculo de Krause responde mais intensamente a estímulos táteis leves, pouco à pressão, ou a estímulos mais fortes (carinho deve ser leve). Eles também respondem, tanto no pênis quanto no clítoris, a vibrações mecânicas, sendo mais eficientes estímulos entre 40 e 80 vibrações por segundo (dado importante para os fabricantes de vibradores).

Finalmente os cientistas investigaram o que acontecia com a estimulação desses corpúsculos. Nos machos isso levava à ereção e nas fêmeas a contrações vaginais. Quando os cientistas, usando truques genéticos, conseguiram produzir camundongos que não possuem corpúsculos de Krause, observaram que nesses machos não ocorria a ereção ou a ejaculação. Já as fêmeas sem corpúsculos demonstravam uma baixa receptividade aos machos.

Todos esses resultados confirmam que os corpúsculos de Krause são os órgãos sensoriais envolvidos no estímulo sexual e nos comportamentos sexuais dos camundongos, algo que todos suspeitavam, mas que não havia sido investigado e demonstrado. Seguramente esses estudos inauguram um promissor campo de investigação. Me parece que o mais importante seria descobrir se existem diferenças funcionais entre os dois tipos de inervação e como esses estímulos são levados ao cérebro e processados.

Mais informações: Krause corpuscles are genital vibrotactile sensors for sexual behaviours. Nature 2024

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Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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