Opinião|Como o cérebro decide se vamos correr algum risco?


Grupo de cientistas descobriu áreas do cérebro que controlam apetite ao risco. Entenda como funciona

Por Fernando Reinach

Fazer escolhas é uma das principais atividades de nosso cérebro. Em muitos casos temos que escolher entre correr um risco maior e ter uma recompensa maior, ou correr um risco menor e retornos também menores. Tipicamente isso ocorre quando decidimos entre diferentes aplicações financeiras. Mas um leão também encontra o mesmo problema. Ele pode ir atrás de uma presa pequena com maiores chances de sucesso, mas nesse caso o sucesso produzirá pouca comida. Ou pode tentar caçar uma presa maior, que gerará mais alimento, mas cuja chance de sucesso é menor.

A novidade é que um grupo de cientistas descobriu as áreas do cérebro que controlam esse apetite ao risco. E manipulando essas áreas é possível aumentar ou diminuir o apetite ao risco de macacos.

Para estudar como o cérebro escolhe entre uma opção de alto risco e alto retorno (AA) e outra de baixo risco e baixo retorno (BB) é preciso oferecer essas duas opções centenas de vezes a um animal e observar qual opção ele escolhe.

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A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco Foto: meeboonstudio /Adobe Stock

O experimento foi feito com macacos. Eles foram treinados a olhar um ponto branco numa tela de computador. No momento seguinte aparece na tela, de cada lado do ponto branco, dois círculos coloridos, um de cada lado, com cores diferentes. E o macaco escolhe para qual das cores ele olha. Se ele olhar para a cor azul, em nove das dez vezes que ele olhar ele vai receber uma pequena quantidade de água (111 microlitros). Essa é a escolha BB, de baixo risco (recebe a recompensa em 90% dos casos) e baixo retorno, pouca água.

Se ele decidir olhar para a cor vermelha ele só vai receber água em 10% das tentativas, mas quando receber o prêmio a quantidade de água é maior (1.000 microlitros). Essa é a escolha AA, de alto risco e alto retorno.

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Como você pode ver, essas duas situações levam, depois de centenas de tentativas, ao mesmo resultado no que se refere a quantidade de água obtida pelo animal. Desenhando o experimento dessa maneira a escolha não é influenciada pelo retorno total, mas somente pelo apetite ao risco em cada escolha.

Quando os macacos eram submetidos a essas escolhas, os cientistas descobriram que todos os animais preferiam escolher a opção AA. Ou seja, receber água raramente, mas quando recebessem preferiam receber uma grande quantidade de uma vez.

Os cientistas desconfiavam que a região que processa essa escolha é uma pequena região do cérebro chamada de Área 6 de Brodmann. Para ter certeza de que esse era o caso, eles decidiram injetar um produto químico no cérebro do animal que inibia a atividade dessa área. Quando isso era feito os macacos perdiam o apetite ao risco e passavam a sempre escolher a opção BB. Esse era o primeiro indício de que existe uma área do cérebro (a Área 6 de Brodmann) que controla o apetite ao risco.

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Num segundo experimento eles resolveram estimular de forma independente dois nervos que sabidamente ativam a Área 6 de Brodmann. Ambos se originam em uma parte distante do cérebro (área tegmental ventral, mais perto da base do cérebro), mas um ativa a parte dorsal da Área 6 e o outro ativa a parte ventral da Área 6.

E foi então que eles fizeram a grande descoberta. Quando estimulavam o nervo que ativa a parte ventral da Área 6, o apetite ao risco dos macacos ia às alturas. Eles só escolhiam a opção de alto risco e alto retorno (AA). Mas quando o nervo estimulado era o que ativava a parte dorsal da Área 6 de Brodmann, ocorria o contrário, os macacos se tornavam totalmente avessos ao risco, pois somente escolhiam o baixo risco, baixo retorno (BB).

Esses experimentos demonstram que existe uma área no cérebro que decide o nosso apetite ao risco. E que essa região pode ser influenciada para optar sempre por atitudes de alto ou baixo risco. O interessante é que existem patologias em que pessoas optam constantemente por atitudes de alto risco, como pessoas que jogam e apostam compulsivamente.

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A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco. Nesse dia, os tímidos talvez tenham seu problema solucionado.

Mais informações: Balancing risk-return decisions by manipulating the mesofrontal circuits in primates. Science https://www.science.org/doi/10.1126/science.adj6645 2023

Fazer escolhas é uma das principais atividades de nosso cérebro. Em muitos casos temos que escolher entre correr um risco maior e ter uma recompensa maior, ou correr um risco menor e retornos também menores. Tipicamente isso ocorre quando decidimos entre diferentes aplicações financeiras. Mas um leão também encontra o mesmo problema. Ele pode ir atrás de uma presa pequena com maiores chances de sucesso, mas nesse caso o sucesso produzirá pouca comida. Ou pode tentar caçar uma presa maior, que gerará mais alimento, mas cuja chance de sucesso é menor.

A novidade é que um grupo de cientistas descobriu as áreas do cérebro que controlam esse apetite ao risco. E manipulando essas áreas é possível aumentar ou diminuir o apetite ao risco de macacos.

Para estudar como o cérebro escolhe entre uma opção de alto risco e alto retorno (AA) e outra de baixo risco e baixo retorno (BB) é preciso oferecer essas duas opções centenas de vezes a um animal e observar qual opção ele escolhe.

A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco Foto: meeboonstudio /Adobe Stock

O experimento foi feito com macacos. Eles foram treinados a olhar um ponto branco numa tela de computador. No momento seguinte aparece na tela, de cada lado do ponto branco, dois círculos coloridos, um de cada lado, com cores diferentes. E o macaco escolhe para qual das cores ele olha. Se ele olhar para a cor azul, em nove das dez vezes que ele olhar ele vai receber uma pequena quantidade de água (111 microlitros). Essa é a escolha BB, de baixo risco (recebe a recompensa em 90% dos casos) e baixo retorno, pouca água.

Se ele decidir olhar para a cor vermelha ele só vai receber água em 10% das tentativas, mas quando receber o prêmio a quantidade de água é maior (1.000 microlitros). Essa é a escolha AA, de alto risco e alto retorno.

Como você pode ver, essas duas situações levam, depois de centenas de tentativas, ao mesmo resultado no que se refere a quantidade de água obtida pelo animal. Desenhando o experimento dessa maneira a escolha não é influenciada pelo retorno total, mas somente pelo apetite ao risco em cada escolha.

Quando os macacos eram submetidos a essas escolhas, os cientistas descobriram que todos os animais preferiam escolher a opção AA. Ou seja, receber água raramente, mas quando recebessem preferiam receber uma grande quantidade de uma vez.

Os cientistas desconfiavam que a região que processa essa escolha é uma pequena região do cérebro chamada de Área 6 de Brodmann. Para ter certeza de que esse era o caso, eles decidiram injetar um produto químico no cérebro do animal que inibia a atividade dessa área. Quando isso era feito os macacos perdiam o apetite ao risco e passavam a sempre escolher a opção BB. Esse era o primeiro indício de que existe uma área do cérebro (a Área 6 de Brodmann) que controla o apetite ao risco.

Num segundo experimento eles resolveram estimular de forma independente dois nervos que sabidamente ativam a Área 6 de Brodmann. Ambos se originam em uma parte distante do cérebro (área tegmental ventral, mais perto da base do cérebro), mas um ativa a parte dorsal da Área 6 e o outro ativa a parte ventral da Área 6.

E foi então que eles fizeram a grande descoberta. Quando estimulavam o nervo que ativa a parte ventral da Área 6, o apetite ao risco dos macacos ia às alturas. Eles só escolhiam a opção de alto risco e alto retorno (AA). Mas quando o nervo estimulado era o que ativava a parte dorsal da Área 6 de Brodmann, ocorria o contrário, os macacos se tornavam totalmente avessos ao risco, pois somente escolhiam o baixo risco, baixo retorno (BB).

Esses experimentos demonstram que existe uma área no cérebro que decide o nosso apetite ao risco. E que essa região pode ser influenciada para optar sempre por atitudes de alto ou baixo risco. O interessante é que existem patologias em que pessoas optam constantemente por atitudes de alto risco, como pessoas que jogam e apostam compulsivamente.

A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco. Nesse dia, os tímidos talvez tenham seu problema solucionado.

Mais informações: Balancing risk-return decisions by manipulating the mesofrontal circuits in primates. Science https://www.science.org/doi/10.1126/science.adj6645 2023

Fazer escolhas é uma das principais atividades de nosso cérebro. Em muitos casos temos que escolher entre correr um risco maior e ter uma recompensa maior, ou correr um risco menor e retornos também menores. Tipicamente isso ocorre quando decidimos entre diferentes aplicações financeiras. Mas um leão também encontra o mesmo problema. Ele pode ir atrás de uma presa pequena com maiores chances de sucesso, mas nesse caso o sucesso produzirá pouca comida. Ou pode tentar caçar uma presa maior, que gerará mais alimento, mas cuja chance de sucesso é menor.

A novidade é que um grupo de cientistas descobriu as áreas do cérebro que controlam esse apetite ao risco. E manipulando essas áreas é possível aumentar ou diminuir o apetite ao risco de macacos.

Para estudar como o cérebro escolhe entre uma opção de alto risco e alto retorno (AA) e outra de baixo risco e baixo retorno (BB) é preciso oferecer essas duas opções centenas de vezes a um animal e observar qual opção ele escolhe.

A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco Foto: meeboonstudio /Adobe Stock

O experimento foi feito com macacos. Eles foram treinados a olhar um ponto branco numa tela de computador. No momento seguinte aparece na tela, de cada lado do ponto branco, dois círculos coloridos, um de cada lado, com cores diferentes. E o macaco escolhe para qual das cores ele olha. Se ele olhar para a cor azul, em nove das dez vezes que ele olhar ele vai receber uma pequena quantidade de água (111 microlitros). Essa é a escolha BB, de baixo risco (recebe a recompensa em 90% dos casos) e baixo retorno, pouca água.

Se ele decidir olhar para a cor vermelha ele só vai receber água em 10% das tentativas, mas quando receber o prêmio a quantidade de água é maior (1.000 microlitros). Essa é a escolha AA, de alto risco e alto retorno.

Como você pode ver, essas duas situações levam, depois de centenas de tentativas, ao mesmo resultado no que se refere a quantidade de água obtida pelo animal. Desenhando o experimento dessa maneira a escolha não é influenciada pelo retorno total, mas somente pelo apetite ao risco em cada escolha.

Quando os macacos eram submetidos a essas escolhas, os cientistas descobriram que todos os animais preferiam escolher a opção AA. Ou seja, receber água raramente, mas quando recebessem preferiam receber uma grande quantidade de uma vez.

Os cientistas desconfiavam que a região que processa essa escolha é uma pequena região do cérebro chamada de Área 6 de Brodmann. Para ter certeza de que esse era o caso, eles decidiram injetar um produto químico no cérebro do animal que inibia a atividade dessa área. Quando isso era feito os macacos perdiam o apetite ao risco e passavam a sempre escolher a opção BB. Esse era o primeiro indício de que existe uma área do cérebro (a Área 6 de Brodmann) que controla o apetite ao risco.

Num segundo experimento eles resolveram estimular de forma independente dois nervos que sabidamente ativam a Área 6 de Brodmann. Ambos se originam em uma parte distante do cérebro (área tegmental ventral, mais perto da base do cérebro), mas um ativa a parte dorsal da Área 6 e o outro ativa a parte ventral da Área 6.

E foi então que eles fizeram a grande descoberta. Quando estimulavam o nervo que ativa a parte ventral da Área 6, o apetite ao risco dos macacos ia às alturas. Eles só escolhiam a opção de alto risco e alto retorno (AA). Mas quando o nervo estimulado era o que ativava a parte dorsal da Área 6 de Brodmann, ocorria o contrário, os macacos se tornavam totalmente avessos ao risco, pois somente escolhiam o baixo risco, baixo retorno (BB).

Esses experimentos demonstram que existe uma área no cérebro que decide o nosso apetite ao risco. E que essa região pode ser influenciada para optar sempre por atitudes de alto ou baixo risco. O interessante é que existem patologias em que pessoas optam constantemente por atitudes de alto risco, como pessoas que jogam e apostam compulsivamente.

A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco. Nesse dia, os tímidos talvez tenham seu problema solucionado.

Mais informações: Balancing risk-return decisions by manipulating the mesofrontal circuits in primates. Science https://www.science.org/doi/10.1126/science.adj6645 2023

Fazer escolhas é uma das principais atividades de nosso cérebro. Em muitos casos temos que escolher entre correr um risco maior e ter uma recompensa maior, ou correr um risco menor e retornos também menores. Tipicamente isso ocorre quando decidimos entre diferentes aplicações financeiras. Mas um leão também encontra o mesmo problema. Ele pode ir atrás de uma presa pequena com maiores chances de sucesso, mas nesse caso o sucesso produzirá pouca comida. Ou pode tentar caçar uma presa maior, que gerará mais alimento, mas cuja chance de sucesso é menor.

A novidade é que um grupo de cientistas descobriu as áreas do cérebro que controlam esse apetite ao risco. E manipulando essas áreas é possível aumentar ou diminuir o apetite ao risco de macacos.

Para estudar como o cérebro escolhe entre uma opção de alto risco e alto retorno (AA) e outra de baixo risco e baixo retorno (BB) é preciso oferecer essas duas opções centenas de vezes a um animal e observar qual opção ele escolhe.

A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco Foto: meeboonstudio /Adobe Stock

O experimento foi feito com macacos. Eles foram treinados a olhar um ponto branco numa tela de computador. No momento seguinte aparece na tela, de cada lado do ponto branco, dois círculos coloridos, um de cada lado, com cores diferentes. E o macaco escolhe para qual das cores ele olha. Se ele olhar para a cor azul, em nove das dez vezes que ele olhar ele vai receber uma pequena quantidade de água (111 microlitros). Essa é a escolha BB, de baixo risco (recebe a recompensa em 90% dos casos) e baixo retorno, pouca água.

Se ele decidir olhar para a cor vermelha ele só vai receber água em 10% das tentativas, mas quando receber o prêmio a quantidade de água é maior (1.000 microlitros). Essa é a escolha AA, de alto risco e alto retorno.

Como você pode ver, essas duas situações levam, depois de centenas de tentativas, ao mesmo resultado no que se refere a quantidade de água obtida pelo animal. Desenhando o experimento dessa maneira a escolha não é influenciada pelo retorno total, mas somente pelo apetite ao risco em cada escolha.

Quando os macacos eram submetidos a essas escolhas, os cientistas descobriram que todos os animais preferiam escolher a opção AA. Ou seja, receber água raramente, mas quando recebessem preferiam receber uma grande quantidade de uma vez.

Os cientistas desconfiavam que a região que processa essa escolha é uma pequena região do cérebro chamada de Área 6 de Brodmann. Para ter certeza de que esse era o caso, eles decidiram injetar um produto químico no cérebro do animal que inibia a atividade dessa área. Quando isso era feito os macacos perdiam o apetite ao risco e passavam a sempre escolher a opção BB. Esse era o primeiro indício de que existe uma área do cérebro (a Área 6 de Brodmann) que controla o apetite ao risco.

Num segundo experimento eles resolveram estimular de forma independente dois nervos que sabidamente ativam a Área 6 de Brodmann. Ambos se originam em uma parte distante do cérebro (área tegmental ventral, mais perto da base do cérebro), mas um ativa a parte dorsal da Área 6 e o outro ativa a parte ventral da Área 6.

E foi então que eles fizeram a grande descoberta. Quando estimulavam o nervo que ativa a parte ventral da Área 6, o apetite ao risco dos macacos ia às alturas. Eles só escolhiam a opção de alto risco e alto retorno (AA). Mas quando o nervo estimulado era o que ativava a parte dorsal da Área 6 de Brodmann, ocorria o contrário, os macacos se tornavam totalmente avessos ao risco, pois somente escolhiam o baixo risco, baixo retorno (BB).

Esses experimentos demonstram que existe uma área no cérebro que decide o nosso apetite ao risco. E que essa região pode ser influenciada para optar sempre por atitudes de alto ou baixo risco. O interessante é que existem patologias em que pessoas optam constantemente por atitudes de alto risco, como pessoas que jogam e apostam compulsivamente.

A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco. Nesse dia, os tímidos talvez tenham seu problema solucionado.

Mais informações: Balancing risk-return decisions by manipulating the mesofrontal circuits in primates. Science https://www.science.org/doi/10.1126/science.adj6645 2023

Fazer escolhas é uma das principais atividades de nosso cérebro. Em muitos casos temos que escolher entre correr um risco maior e ter uma recompensa maior, ou correr um risco menor e retornos também menores. Tipicamente isso ocorre quando decidimos entre diferentes aplicações financeiras. Mas um leão também encontra o mesmo problema. Ele pode ir atrás de uma presa pequena com maiores chances de sucesso, mas nesse caso o sucesso produzirá pouca comida. Ou pode tentar caçar uma presa maior, que gerará mais alimento, mas cuja chance de sucesso é menor.

A novidade é que um grupo de cientistas descobriu as áreas do cérebro que controlam esse apetite ao risco. E manipulando essas áreas é possível aumentar ou diminuir o apetite ao risco de macacos.

Para estudar como o cérebro escolhe entre uma opção de alto risco e alto retorno (AA) e outra de baixo risco e baixo retorno (BB) é preciso oferecer essas duas opções centenas de vezes a um animal e observar qual opção ele escolhe.

A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco Foto: meeboonstudio /Adobe Stock

O experimento foi feito com macacos. Eles foram treinados a olhar um ponto branco numa tela de computador. No momento seguinte aparece na tela, de cada lado do ponto branco, dois círculos coloridos, um de cada lado, com cores diferentes. E o macaco escolhe para qual das cores ele olha. Se ele olhar para a cor azul, em nove das dez vezes que ele olhar ele vai receber uma pequena quantidade de água (111 microlitros). Essa é a escolha BB, de baixo risco (recebe a recompensa em 90% dos casos) e baixo retorno, pouca água.

Se ele decidir olhar para a cor vermelha ele só vai receber água em 10% das tentativas, mas quando receber o prêmio a quantidade de água é maior (1.000 microlitros). Essa é a escolha AA, de alto risco e alto retorno.

Como você pode ver, essas duas situações levam, depois de centenas de tentativas, ao mesmo resultado no que se refere a quantidade de água obtida pelo animal. Desenhando o experimento dessa maneira a escolha não é influenciada pelo retorno total, mas somente pelo apetite ao risco em cada escolha.

Quando os macacos eram submetidos a essas escolhas, os cientistas descobriram que todos os animais preferiam escolher a opção AA. Ou seja, receber água raramente, mas quando recebessem preferiam receber uma grande quantidade de uma vez.

Os cientistas desconfiavam que a região que processa essa escolha é uma pequena região do cérebro chamada de Área 6 de Brodmann. Para ter certeza de que esse era o caso, eles decidiram injetar um produto químico no cérebro do animal que inibia a atividade dessa área. Quando isso era feito os macacos perdiam o apetite ao risco e passavam a sempre escolher a opção BB. Esse era o primeiro indício de que existe uma área do cérebro (a Área 6 de Brodmann) que controla o apetite ao risco.

Num segundo experimento eles resolveram estimular de forma independente dois nervos que sabidamente ativam a Área 6 de Brodmann. Ambos se originam em uma parte distante do cérebro (área tegmental ventral, mais perto da base do cérebro), mas um ativa a parte dorsal da Área 6 e o outro ativa a parte ventral da Área 6.

E foi então que eles fizeram a grande descoberta. Quando estimulavam o nervo que ativa a parte ventral da Área 6, o apetite ao risco dos macacos ia às alturas. Eles só escolhiam a opção de alto risco e alto retorno (AA). Mas quando o nervo estimulado era o que ativava a parte dorsal da Área 6 de Brodmann, ocorria o contrário, os macacos se tornavam totalmente avessos ao risco, pois somente escolhiam o baixo risco, baixo retorno (BB).

Esses experimentos demonstram que existe uma área no cérebro que decide o nosso apetite ao risco. E que essa região pode ser influenciada para optar sempre por atitudes de alto ou baixo risco. O interessante é que existem patologias em que pessoas optam constantemente por atitudes de alto risco, como pessoas que jogam e apostam compulsivamente.

A descoberta da existência e localização desse centro de controle de risco pode levar no futuro ao desenvolvimento de drogas que alteram nosso perfil de risco. Nesse dia, os tímidos talvez tenham seu problema solucionado.

Mais informações: Balancing risk-return decisions by manipulating the mesofrontal circuits in primates. Science https://www.science.org/doi/10.1126/science.adj6645 2023

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Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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