Opinião|Como o flagra do sexo entre morcegos revelou um caso único - e surpreendente - na ciência


Análise do comportamento sexual do mamífero mostrou padrão inesperado, apontam pesquisadores

Por Fernando Reinach

No ensino médio ouvi de um professor que meu trabalho havia sido feito nas coxas. Me imaginei escrevendo sobre minha coxa, no carro, indo para a escola. A reprimenda demonstraria minha pressa e o total desprezo pela tarefa executada com capricho.

Anos depois me surpreendi quando minha mãe relatou que a filha de uma amiga teria engravidado sem perder a virgindade fazendo sexo “nas coxas”. Estava recomendando cautela numa época em que a virgindade feminina era um valor a ser preservado para a noite de núpcias. Foi assim que aprendi a origem da expressão fazer nas coxas. Desde então é com um sorriso interno que reclamo dizendo que uma tarefa foi feita nas coxas.

Essas lembranças foram despertadas pela descoberta de uma espécie de morcego (Eptesicus serotinus) em que a relação sexual ocorre sem que haja a penetração do pênis na vagina. É o único caso conhecido entre mamíferos. Via de regra ocorre a penetração, o que permite a liberação dos espermatozoides no interior do corpo, na proximidade dos óvulos e do útero, facilitando a fecundação e a subsequente implantação do embrião.

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Esse morcego nunca havia sido pego no ato, e nada se sabia sobre seu comportamento sexual, mas o exame da anatomia do animal sempre despertou suspeitas. O pênis do bichano, quando ereto, é enorme, medindo 22% do tamanho do animal. Ele possui em sua extremidade dois bulbos avantajados. O diâmetro do pênis e seu comprimento são sete vezes maiores que a vagina dilatada da fêmea, o que já indicava a impossibilidade de uma penetração. Mas, cientistas são cautelosos e as suspeitas ficaram enterradas em alguma gaveta.

Nada se sabia sobre o comportamento sexual deste morcego, mas o exame da anatomia do animal sempre despertou suspeitas Foto: GUILLAUME SOUVANT/AFP

Tudo mudou quando um cientista amador resolveu observar os morcegos que habitam o ático de uma igreja perto da sua casa na Holanda. Ele conseguiu filmar os morcegos fazendo sexo, ficou impressionado, e mandou o filme para o cientista que tinha descrito o pênis dessa espécie. Eles passaram a colaborar e conseguiram filmar 93 atos sexuais no ático da igreja. Confirmaram a descoberta com 4 filmes feitos em morcegos desta espécie num centro de reabilitação na Ucrânia. Um desses filmes pode ser visto no link abaixo.

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Durante o sexo o macho sobe nas costas da fêmea e morde seu pescoço. Em seguida usa movimentos laterais e o pênis para afastar as membranas da asa da fêmea que recobrem a entrada da vagina escondida entre os pelos. Em seguida, o macho passa a esfregar o pênis de maneira contínua na proximidade da vagina. Uma superfície em forma de ventosa, na parte dorsal do pênis, parece funcionar como uma estrutura de sucção que permite o alinhamento do pênis com o exterior da vagina.

Em nenhum dos 97 atos sexuais filmados foi observada a penetração. No final do ato sexual todo o redor da vagina está molhado com o que os cientistas supõem ser o ejaculado do macho.

O problema com esse trabalho é que não foram coletadas amostras desse líquido para comprovar a presença de espermatozóides. Outra observação interessante é que o ato sexual dura até 12 horas, mas, em mais da metade dos casos, demora menos que 53 minutos. A razão para a demora ainda é desconhecida.

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A vantagem de sabermos que esse morcego pratica com sucesso o sexo sem penetração é que nas conversas, ou nas aulas de educação sexual, não precisaremos mais recorrer a filhas fictícias de amigas imaginárias para alertar os jovens para o risco de “fazer nas coxas”. É um progresso.

Mais informações: Mating without intromission in a bat. Curr. Bio. https://doi.org/10.1016/j.cub.2023.09.054 2023

No ensino médio ouvi de um professor que meu trabalho havia sido feito nas coxas. Me imaginei escrevendo sobre minha coxa, no carro, indo para a escola. A reprimenda demonstraria minha pressa e o total desprezo pela tarefa executada com capricho.

Anos depois me surpreendi quando minha mãe relatou que a filha de uma amiga teria engravidado sem perder a virgindade fazendo sexo “nas coxas”. Estava recomendando cautela numa época em que a virgindade feminina era um valor a ser preservado para a noite de núpcias. Foi assim que aprendi a origem da expressão fazer nas coxas. Desde então é com um sorriso interno que reclamo dizendo que uma tarefa foi feita nas coxas.

Essas lembranças foram despertadas pela descoberta de uma espécie de morcego (Eptesicus serotinus) em que a relação sexual ocorre sem que haja a penetração do pênis na vagina. É o único caso conhecido entre mamíferos. Via de regra ocorre a penetração, o que permite a liberação dos espermatozoides no interior do corpo, na proximidade dos óvulos e do útero, facilitando a fecundação e a subsequente implantação do embrião.

Esse morcego nunca havia sido pego no ato, e nada se sabia sobre seu comportamento sexual, mas o exame da anatomia do animal sempre despertou suspeitas. O pênis do bichano, quando ereto, é enorme, medindo 22% do tamanho do animal. Ele possui em sua extremidade dois bulbos avantajados. O diâmetro do pênis e seu comprimento são sete vezes maiores que a vagina dilatada da fêmea, o que já indicava a impossibilidade de uma penetração. Mas, cientistas são cautelosos e as suspeitas ficaram enterradas em alguma gaveta.

Nada se sabia sobre o comportamento sexual deste morcego, mas o exame da anatomia do animal sempre despertou suspeitas Foto: GUILLAUME SOUVANT/AFP

Tudo mudou quando um cientista amador resolveu observar os morcegos que habitam o ático de uma igreja perto da sua casa na Holanda. Ele conseguiu filmar os morcegos fazendo sexo, ficou impressionado, e mandou o filme para o cientista que tinha descrito o pênis dessa espécie. Eles passaram a colaborar e conseguiram filmar 93 atos sexuais no ático da igreja. Confirmaram a descoberta com 4 filmes feitos em morcegos desta espécie num centro de reabilitação na Ucrânia. Um desses filmes pode ser visto no link abaixo.

Durante o sexo o macho sobe nas costas da fêmea e morde seu pescoço. Em seguida usa movimentos laterais e o pênis para afastar as membranas da asa da fêmea que recobrem a entrada da vagina escondida entre os pelos. Em seguida, o macho passa a esfregar o pênis de maneira contínua na proximidade da vagina. Uma superfície em forma de ventosa, na parte dorsal do pênis, parece funcionar como uma estrutura de sucção que permite o alinhamento do pênis com o exterior da vagina.

Em nenhum dos 97 atos sexuais filmados foi observada a penetração. No final do ato sexual todo o redor da vagina está molhado com o que os cientistas supõem ser o ejaculado do macho.

O problema com esse trabalho é que não foram coletadas amostras desse líquido para comprovar a presença de espermatozóides. Outra observação interessante é que o ato sexual dura até 12 horas, mas, em mais da metade dos casos, demora menos que 53 minutos. A razão para a demora ainda é desconhecida.

A vantagem de sabermos que esse morcego pratica com sucesso o sexo sem penetração é que nas conversas, ou nas aulas de educação sexual, não precisaremos mais recorrer a filhas fictícias de amigas imaginárias para alertar os jovens para o risco de “fazer nas coxas”. É um progresso.

Mais informações: Mating without intromission in a bat. Curr. Bio. https://doi.org/10.1016/j.cub.2023.09.054 2023

No ensino médio ouvi de um professor que meu trabalho havia sido feito nas coxas. Me imaginei escrevendo sobre minha coxa, no carro, indo para a escola. A reprimenda demonstraria minha pressa e o total desprezo pela tarefa executada com capricho.

Anos depois me surpreendi quando minha mãe relatou que a filha de uma amiga teria engravidado sem perder a virgindade fazendo sexo “nas coxas”. Estava recomendando cautela numa época em que a virgindade feminina era um valor a ser preservado para a noite de núpcias. Foi assim que aprendi a origem da expressão fazer nas coxas. Desde então é com um sorriso interno que reclamo dizendo que uma tarefa foi feita nas coxas.

Essas lembranças foram despertadas pela descoberta de uma espécie de morcego (Eptesicus serotinus) em que a relação sexual ocorre sem que haja a penetração do pênis na vagina. É o único caso conhecido entre mamíferos. Via de regra ocorre a penetração, o que permite a liberação dos espermatozoides no interior do corpo, na proximidade dos óvulos e do útero, facilitando a fecundação e a subsequente implantação do embrião.

Esse morcego nunca havia sido pego no ato, e nada se sabia sobre seu comportamento sexual, mas o exame da anatomia do animal sempre despertou suspeitas. O pênis do bichano, quando ereto, é enorme, medindo 22% do tamanho do animal. Ele possui em sua extremidade dois bulbos avantajados. O diâmetro do pênis e seu comprimento são sete vezes maiores que a vagina dilatada da fêmea, o que já indicava a impossibilidade de uma penetração. Mas, cientistas são cautelosos e as suspeitas ficaram enterradas em alguma gaveta.

Nada se sabia sobre o comportamento sexual deste morcego, mas o exame da anatomia do animal sempre despertou suspeitas Foto: GUILLAUME SOUVANT/AFP

Tudo mudou quando um cientista amador resolveu observar os morcegos que habitam o ático de uma igreja perto da sua casa na Holanda. Ele conseguiu filmar os morcegos fazendo sexo, ficou impressionado, e mandou o filme para o cientista que tinha descrito o pênis dessa espécie. Eles passaram a colaborar e conseguiram filmar 93 atos sexuais no ático da igreja. Confirmaram a descoberta com 4 filmes feitos em morcegos desta espécie num centro de reabilitação na Ucrânia. Um desses filmes pode ser visto no link abaixo.

Durante o sexo o macho sobe nas costas da fêmea e morde seu pescoço. Em seguida usa movimentos laterais e o pênis para afastar as membranas da asa da fêmea que recobrem a entrada da vagina escondida entre os pelos. Em seguida, o macho passa a esfregar o pênis de maneira contínua na proximidade da vagina. Uma superfície em forma de ventosa, na parte dorsal do pênis, parece funcionar como uma estrutura de sucção que permite o alinhamento do pênis com o exterior da vagina.

Em nenhum dos 97 atos sexuais filmados foi observada a penetração. No final do ato sexual todo o redor da vagina está molhado com o que os cientistas supõem ser o ejaculado do macho.

O problema com esse trabalho é que não foram coletadas amostras desse líquido para comprovar a presença de espermatozóides. Outra observação interessante é que o ato sexual dura até 12 horas, mas, em mais da metade dos casos, demora menos que 53 minutos. A razão para a demora ainda é desconhecida.

A vantagem de sabermos que esse morcego pratica com sucesso o sexo sem penetração é que nas conversas, ou nas aulas de educação sexual, não precisaremos mais recorrer a filhas fictícias de amigas imaginárias para alertar os jovens para o risco de “fazer nas coxas”. É um progresso.

Mais informações: Mating without intromission in a bat. Curr. Bio. https://doi.org/10.1016/j.cub.2023.09.054 2023

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Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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