Opinião|Como seria se homens fossem extintos? Um mundo só de mulheres é possível, segundo a ciência


Imagine um mundo habitado somente por mulheres, onde casais de mulheres concebem seus filhos sem a interferência dos homens

Por Fernando Reinach

Os avanços da genética nos permitem imaginar mundos distópicos cientificamente plausíveis. A ficção científica está lotada de mundos distópicos, desde os inocentes, recheados de super-heróis voadores, até os bizarros, com viagens no tempo. O problema é que grande parte desses mundos distópicos não são cientificamente plausíveis. Para existirem é necessário que as leis da física ou outros conhecimentos científicos sejam violados.

O que me fascina são os mundos distópicos que se tornam possíveis devido a um desenvolvimento científico ou tecnológico. Distopias cientificamente possíveis são interessantes, pois sua existência só depende do desejo da humanidade. Novas tecnologias, como bebês de proveta que se desenvolvem em barrigas de aluguel, não tem inspirado a criação de mundos distópicos. Já a clonagem, produção de seres vivos geneticamente idênticos (lembram da ovelha Dolly?), inspirou distopias com milhares de cópias de Hitler.

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Hoje quero descrever um desses mundos, uma sociedade humana de mulheres, sem pessoas do sexo masculino.

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos Foto: REUTERS/Regis Duvignau

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos, e o feto se desenvolve no útero de uma fêmea. Essa semana cientistas reportaram pela primeira vez a criação de camundongos provenientes de dois machos. Nesse experimento, células retiradas de um camundongo macho foram induzidas, através de um processo bastante complexo, a se transformarem em óvulos. E esses óvulos foram fecundados com espermatozoides provenientes de camundongos machos. Dessa maneira o embrião resultante é filho genético de dois machos.

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Esses embriões foram implantados no útero de uma fêmea e geraram camundongos saudáveis. As etapas desse processo são complexas, e a taxa de sucesso é muito baixa. Foram obtidos sete filhotes em 630 tentativas. Com base nesse feito cientifico, é possível imaginarmos um mundo distópico onde todas as crianças seriam filhas de dois pais do sexo masculino. Mas nesse mundo estranho, as mulheres ainda seriam necessárias, pois os embriões precisam do útero feminino para se desenvolverem. Assim, respeitando a ciência, essa descoberta não nos permite imaginar um mundo habitado somente por homens.

Mas um mundo habitado somente por mulheres já tem suporte científico. Cientistas retiraram células de camundongos fêmeas e, através de diversas manipulações, conseguiram que elas se transformassem em espermatozoides. Esses espermatozoides foram usados para fecundar outros camundongos fêmeas que pariram filhotes saudáveis. Ou seja, todo o ciclo reprodutivo foi feito sem a necessidade de se recorrer a um macho.

O mais interessante é que os camundongos, como os seres humanos, possuem cromossomos X e Y, sendo que as fêmeas possuem dois cromossomos X e os machos um cromossomo X e um Y. Nesse experimento, como os espermatozóides foram produzidos a partir de células de uma fêmea, eles só contêm o cromossomo X e os óvulos, que também provêm de uma das fêmeas, só contêm o cromossomo X. Desse modo, esse processo só produz fêmeas e dispensa o cromossomo Y.

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Agora imagine um mundo habitado somente por mulheres, onde casais de mulheres concebem seus filhos sem a interferência dos homens: uma mulher doa as células que são usadas para produzir espermatozoides e a outra contribui com seus óvulos e o útero onde o feto se desenvolve. Numa sociedade desse tipo, como todas as crianças concebidas serão do sexo feminino (um X vindo do óvulo, outro do espermatozoide), não nascerá nenhum homem.

Nesse mundo, os casais de mulheres podem se revezar como produtoras de espermatozoides ou de óvulos, tornando os casais absolutamente simétricos. Se esse modo reprodutivo, cientificamente possível, for adotado pelas mulheres, os homens deixarão de nascer e o cromossomo Y desaparece da face da terra quando o último dos homens, agora totalmente inútil, for enterrado. A história do último homem e sua busca por uma mulher disposta a copular daria um ótimo romance. Dadas todas as críticas à masculinidade tóxica e à agressividade e brutalidade masculina, talvez esse seja um bom caminho para a humanidade. E então todos os dias serão o dia da mulher e o feminicídio desaparecerá.

Mais informações: The mice with two dads: scientists create eggs from male cells. Nature https://www.nature.com/articles/d41586-023-00717-7 2022

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Reinach é biólogo

Os avanços da genética nos permitem imaginar mundos distópicos cientificamente plausíveis. A ficção científica está lotada de mundos distópicos, desde os inocentes, recheados de super-heróis voadores, até os bizarros, com viagens no tempo. O problema é que grande parte desses mundos distópicos não são cientificamente plausíveis. Para existirem é necessário que as leis da física ou outros conhecimentos científicos sejam violados.

O que me fascina são os mundos distópicos que se tornam possíveis devido a um desenvolvimento científico ou tecnológico. Distopias cientificamente possíveis são interessantes, pois sua existência só depende do desejo da humanidade. Novas tecnologias, como bebês de proveta que se desenvolvem em barrigas de aluguel, não tem inspirado a criação de mundos distópicos. Já a clonagem, produção de seres vivos geneticamente idênticos (lembram da ovelha Dolly?), inspirou distopias com milhares de cópias de Hitler.

Hoje quero descrever um desses mundos, uma sociedade humana de mulheres, sem pessoas do sexo masculino.

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos Foto: REUTERS/Regis Duvignau

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos, e o feto se desenvolve no útero de uma fêmea. Essa semana cientistas reportaram pela primeira vez a criação de camundongos provenientes de dois machos. Nesse experimento, células retiradas de um camundongo macho foram induzidas, através de um processo bastante complexo, a se transformarem em óvulos. E esses óvulos foram fecundados com espermatozoides provenientes de camundongos machos. Dessa maneira o embrião resultante é filho genético de dois machos.

Esses embriões foram implantados no útero de uma fêmea e geraram camundongos saudáveis. As etapas desse processo são complexas, e a taxa de sucesso é muito baixa. Foram obtidos sete filhotes em 630 tentativas. Com base nesse feito cientifico, é possível imaginarmos um mundo distópico onde todas as crianças seriam filhas de dois pais do sexo masculino. Mas nesse mundo estranho, as mulheres ainda seriam necessárias, pois os embriões precisam do útero feminino para se desenvolverem. Assim, respeitando a ciência, essa descoberta não nos permite imaginar um mundo habitado somente por homens.

Mas um mundo habitado somente por mulheres já tem suporte científico. Cientistas retiraram células de camundongos fêmeas e, através de diversas manipulações, conseguiram que elas se transformassem em espermatozoides. Esses espermatozoides foram usados para fecundar outros camundongos fêmeas que pariram filhotes saudáveis. Ou seja, todo o ciclo reprodutivo foi feito sem a necessidade de se recorrer a um macho.

O mais interessante é que os camundongos, como os seres humanos, possuem cromossomos X e Y, sendo que as fêmeas possuem dois cromossomos X e os machos um cromossomo X e um Y. Nesse experimento, como os espermatozóides foram produzidos a partir de células de uma fêmea, eles só contêm o cromossomo X e os óvulos, que também provêm de uma das fêmeas, só contêm o cromossomo X. Desse modo, esse processo só produz fêmeas e dispensa o cromossomo Y.

Agora imagine um mundo habitado somente por mulheres, onde casais de mulheres concebem seus filhos sem a interferência dos homens: uma mulher doa as células que são usadas para produzir espermatozoides e a outra contribui com seus óvulos e o útero onde o feto se desenvolve. Numa sociedade desse tipo, como todas as crianças concebidas serão do sexo feminino (um X vindo do óvulo, outro do espermatozoide), não nascerá nenhum homem.

Nesse mundo, os casais de mulheres podem se revezar como produtoras de espermatozoides ou de óvulos, tornando os casais absolutamente simétricos. Se esse modo reprodutivo, cientificamente possível, for adotado pelas mulheres, os homens deixarão de nascer e o cromossomo Y desaparece da face da terra quando o último dos homens, agora totalmente inútil, for enterrado. A história do último homem e sua busca por uma mulher disposta a copular daria um ótimo romance. Dadas todas as críticas à masculinidade tóxica e à agressividade e brutalidade masculina, talvez esse seja um bom caminho para a humanidade. E então todos os dias serão o dia da mulher e o feminicídio desaparecerá.

Mais informações: The mice with two dads: scientists create eggs from male cells. Nature https://www.nature.com/articles/d41586-023-00717-7 2022

Reinach é biólogo

Os avanços da genética nos permitem imaginar mundos distópicos cientificamente plausíveis. A ficção científica está lotada de mundos distópicos, desde os inocentes, recheados de super-heróis voadores, até os bizarros, com viagens no tempo. O problema é que grande parte desses mundos distópicos não são cientificamente plausíveis. Para existirem é necessário que as leis da física ou outros conhecimentos científicos sejam violados.

O que me fascina são os mundos distópicos que se tornam possíveis devido a um desenvolvimento científico ou tecnológico. Distopias cientificamente possíveis são interessantes, pois sua existência só depende do desejo da humanidade. Novas tecnologias, como bebês de proveta que se desenvolvem em barrigas de aluguel, não tem inspirado a criação de mundos distópicos. Já a clonagem, produção de seres vivos geneticamente idênticos (lembram da ovelha Dolly?), inspirou distopias com milhares de cópias de Hitler.

Hoje quero descrever um desses mundos, uma sociedade humana de mulheres, sem pessoas do sexo masculino.

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos Foto: REUTERS/Regis Duvignau

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos, e o feto se desenvolve no útero de uma fêmea. Essa semana cientistas reportaram pela primeira vez a criação de camundongos provenientes de dois machos. Nesse experimento, células retiradas de um camundongo macho foram induzidas, através de um processo bastante complexo, a se transformarem em óvulos. E esses óvulos foram fecundados com espermatozoides provenientes de camundongos machos. Dessa maneira o embrião resultante é filho genético de dois machos.

Esses embriões foram implantados no útero de uma fêmea e geraram camundongos saudáveis. As etapas desse processo são complexas, e a taxa de sucesso é muito baixa. Foram obtidos sete filhotes em 630 tentativas. Com base nesse feito cientifico, é possível imaginarmos um mundo distópico onde todas as crianças seriam filhas de dois pais do sexo masculino. Mas nesse mundo estranho, as mulheres ainda seriam necessárias, pois os embriões precisam do útero feminino para se desenvolverem. Assim, respeitando a ciência, essa descoberta não nos permite imaginar um mundo habitado somente por homens.

Mas um mundo habitado somente por mulheres já tem suporte científico. Cientistas retiraram células de camundongos fêmeas e, através de diversas manipulações, conseguiram que elas se transformassem em espermatozoides. Esses espermatozoides foram usados para fecundar outros camundongos fêmeas que pariram filhotes saudáveis. Ou seja, todo o ciclo reprodutivo foi feito sem a necessidade de se recorrer a um macho.

O mais interessante é que os camundongos, como os seres humanos, possuem cromossomos X e Y, sendo que as fêmeas possuem dois cromossomos X e os machos um cromossomo X e um Y. Nesse experimento, como os espermatozóides foram produzidos a partir de células de uma fêmea, eles só contêm o cromossomo X e os óvulos, que também provêm de uma das fêmeas, só contêm o cromossomo X. Desse modo, esse processo só produz fêmeas e dispensa o cromossomo Y.

Agora imagine um mundo habitado somente por mulheres, onde casais de mulheres concebem seus filhos sem a interferência dos homens: uma mulher doa as células que são usadas para produzir espermatozoides e a outra contribui com seus óvulos e o útero onde o feto se desenvolve. Numa sociedade desse tipo, como todas as crianças concebidas serão do sexo feminino (um X vindo do óvulo, outro do espermatozoide), não nascerá nenhum homem.

Nesse mundo, os casais de mulheres podem se revezar como produtoras de espermatozoides ou de óvulos, tornando os casais absolutamente simétricos. Se esse modo reprodutivo, cientificamente possível, for adotado pelas mulheres, os homens deixarão de nascer e o cromossomo Y desaparece da face da terra quando o último dos homens, agora totalmente inútil, for enterrado. A história do último homem e sua busca por uma mulher disposta a copular daria um ótimo romance. Dadas todas as críticas à masculinidade tóxica e à agressividade e brutalidade masculina, talvez esse seja um bom caminho para a humanidade. E então todos os dias serão o dia da mulher e o feminicídio desaparecerá.

Mais informações: The mice with two dads: scientists create eggs from male cells. Nature https://www.nature.com/articles/d41586-023-00717-7 2022

Reinach é biólogo

Os avanços da genética nos permitem imaginar mundos distópicos cientificamente plausíveis. A ficção científica está lotada de mundos distópicos, desde os inocentes, recheados de super-heróis voadores, até os bizarros, com viagens no tempo. O problema é que grande parte desses mundos distópicos não são cientificamente plausíveis. Para existirem é necessário que as leis da física ou outros conhecimentos científicos sejam violados.

O que me fascina são os mundos distópicos que se tornam possíveis devido a um desenvolvimento científico ou tecnológico. Distopias cientificamente possíveis são interessantes, pois sua existência só depende do desejo da humanidade. Novas tecnologias, como bebês de proveta que se desenvolvem em barrigas de aluguel, não tem inspirado a criação de mundos distópicos. Já a clonagem, produção de seres vivos geneticamente idênticos (lembram da ovelha Dolly?), inspirou distopias com milhares de cópias de Hitler.

Hoje quero descrever um desses mundos, uma sociedade humana de mulheres, sem pessoas do sexo masculino.

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos Foto: REUTERS/Regis Duvignau

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos, e o feto se desenvolve no útero de uma fêmea. Essa semana cientistas reportaram pela primeira vez a criação de camundongos provenientes de dois machos. Nesse experimento, células retiradas de um camundongo macho foram induzidas, através de um processo bastante complexo, a se transformarem em óvulos. E esses óvulos foram fecundados com espermatozoides provenientes de camundongos machos. Dessa maneira o embrião resultante é filho genético de dois machos.

Esses embriões foram implantados no útero de uma fêmea e geraram camundongos saudáveis. As etapas desse processo são complexas, e a taxa de sucesso é muito baixa. Foram obtidos sete filhotes em 630 tentativas. Com base nesse feito cientifico, é possível imaginarmos um mundo distópico onde todas as crianças seriam filhas de dois pais do sexo masculino. Mas nesse mundo estranho, as mulheres ainda seriam necessárias, pois os embriões precisam do útero feminino para se desenvolverem. Assim, respeitando a ciência, essa descoberta não nos permite imaginar um mundo habitado somente por homens.

Mas um mundo habitado somente por mulheres já tem suporte científico. Cientistas retiraram células de camundongos fêmeas e, através de diversas manipulações, conseguiram que elas se transformassem em espermatozoides. Esses espermatozoides foram usados para fecundar outros camundongos fêmeas que pariram filhotes saudáveis. Ou seja, todo o ciclo reprodutivo foi feito sem a necessidade de se recorrer a um macho.

O mais interessante é que os camundongos, como os seres humanos, possuem cromossomos X e Y, sendo que as fêmeas possuem dois cromossomos X e os machos um cromossomo X e um Y. Nesse experimento, como os espermatozóides foram produzidos a partir de células de uma fêmea, eles só contêm o cromossomo X e os óvulos, que também provêm de uma das fêmeas, só contêm o cromossomo X. Desse modo, esse processo só produz fêmeas e dispensa o cromossomo Y.

Agora imagine um mundo habitado somente por mulheres, onde casais de mulheres concebem seus filhos sem a interferência dos homens: uma mulher doa as células que são usadas para produzir espermatozoides e a outra contribui com seus óvulos e o útero onde o feto se desenvolve. Numa sociedade desse tipo, como todas as crianças concebidas serão do sexo feminino (um X vindo do óvulo, outro do espermatozoide), não nascerá nenhum homem.

Nesse mundo, os casais de mulheres podem se revezar como produtoras de espermatozoides ou de óvulos, tornando os casais absolutamente simétricos. Se esse modo reprodutivo, cientificamente possível, for adotado pelas mulheres, os homens deixarão de nascer e o cromossomo Y desaparece da face da terra quando o último dos homens, agora totalmente inútil, for enterrado. A história do último homem e sua busca por uma mulher disposta a copular daria um ótimo romance. Dadas todas as críticas à masculinidade tóxica e à agressividade e brutalidade masculina, talvez esse seja um bom caminho para a humanidade. E então todos os dias serão o dia da mulher e o feminicídio desaparecerá.

Mais informações: The mice with two dads: scientists create eggs from male cells. Nature https://www.nature.com/articles/d41586-023-00717-7 2022

Reinach é biólogo

Os avanços da genética nos permitem imaginar mundos distópicos cientificamente plausíveis. A ficção científica está lotada de mundos distópicos, desde os inocentes, recheados de super-heróis voadores, até os bizarros, com viagens no tempo. O problema é que grande parte desses mundos distópicos não são cientificamente plausíveis. Para existirem é necessário que as leis da física ou outros conhecimentos científicos sejam violados.

O que me fascina são os mundos distópicos que se tornam possíveis devido a um desenvolvimento científico ou tecnológico. Distopias cientificamente possíveis são interessantes, pois sua existência só depende do desejo da humanidade. Novas tecnologias, como bebês de proveta que se desenvolvem em barrigas de aluguel, não tem inspirado a criação de mundos distópicos. Já a clonagem, produção de seres vivos geneticamente idênticos (lembram da ovelha Dolly?), inspirou distopias com milhares de cópias de Hitler.

Hoje quero descrever um desses mundos, uma sociedade humana de mulheres, sem pessoas do sexo masculino.

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos Foto: REUTERS/Regis Duvignau

Nos mamíferos, a reprodução depende da cooperação entre os sexos. As fêmeas produzem óvulos, que são fecundados por espermatozóides produzidos pelos machos, e o feto se desenvolve no útero de uma fêmea. Essa semana cientistas reportaram pela primeira vez a criação de camundongos provenientes de dois machos. Nesse experimento, células retiradas de um camundongo macho foram induzidas, através de um processo bastante complexo, a se transformarem em óvulos. E esses óvulos foram fecundados com espermatozoides provenientes de camundongos machos. Dessa maneira o embrião resultante é filho genético de dois machos.

Esses embriões foram implantados no útero de uma fêmea e geraram camundongos saudáveis. As etapas desse processo são complexas, e a taxa de sucesso é muito baixa. Foram obtidos sete filhotes em 630 tentativas. Com base nesse feito cientifico, é possível imaginarmos um mundo distópico onde todas as crianças seriam filhas de dois pais do sexo masculino. Mas nesse mundo estranho, as mulheres ainda seriam necessárias, pois os embriões precisam do útero feminino para se desenvolverem. Assim, respeitando a ciência, essa descoberta não nos permite imaginar um mundo habitado somente por homens.

Mas um mundo habitado somente por mulheres já tem suporte científico. Cientistas retiraram células de camundongos fêmeas e, através de diversas manipulações, conseguiram que elas se transformassem em espermatozoides. Esses espermatozoides foram usados para fecundar outros camundongos fêmeas que pariram filhotes saudáveis. Ou seja, todo o ciclo reprodutivo foi feito sem a necessidade de se recorrer a um macho.

O mais interessante é que os camundongos, como os seres humanos, possuem cromossomos X e Y, sendo que as fêmeas possuem dois cromossomos X e os machos um cromossomo X e um Y. Nesse experimento, como os espermatozóides foram produzidos a partir de células de uma fêmea, eles só contêm o cromossomo X e os óvulos, que também provêm de uma das fêmeas, só contêm o cromossomo X. Desse modo, esse processo só produz fêmeas e dispensa o cromossomo Y.

Agora imagine um mundo habitado somente por mulheres, onde casais de mulheres concebem seus filhos sem a interferência dos homens: uma mulher doa as células que são usadas para produzir espermatozoides e a outra contribui com seus óvulos e o útero onde o feto se desenvolve. Numa sociedade desse tipo, como todas as crianças concebidas serão do sexo feminino (um X vindo do óvulo, outro do espermatozoide), não nascerá nenhum homem.

Nesse mundo, os casais de mulheres podem se revezar como produtoras de espermatozoides ou de óvulos, tornando os casais absolutamente simétricos. Se esse modo reprodutivo, cientificamente possível, for adotado pelas mulheres, os homens deixarão de nascer e o cromossomo Y desaparece da face da terra quando o último dos homens, agora totalmente inútil, for enterrado. A história do último homem e sua busca por uma mulher disposta a copular daria um ótimo romance. Dadas todas as críticas à masculinidade tóxica e à agressividade e brutalidade masculina, talvez esse seja um bom caminho para a humanidade. E então todos os dias serão o dia da mulher e o feminicídio desaparecerá.

Mais informações: The mice with two dads: scientists create eggs from male cells. Nature https://www.nature.com/articles/d41586-023-00717-7 2022

Reinach é biólogo

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Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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