Opinião|É possível corrigir defeitos do nosso genoma? Primeiro tratamento usando edição genômica é aprovado


Órgão dos EUA considerou método eficaz e seguro e recomendou sua liberação

Por Fernando Reinach

As primeiras pessoas curadas de uma doença genética através da modificação por edição do seu genoma já estão entre nós. E agora o FDA (Food and Drug Administration) dos EUA deu um passo histórico, aprovando o uso da edição genômica em seres humanos para curar a anemia falciforme.

A anemia falciforme é causada por uma mutação no gene da hemoglobina, a proteína que carrega oxigênio e dá a cor vermelha ao sangue. Pessoas que possuem somente uma cópia do gene defeituoso não têm sintomas, mas transmitem a doença, pois são portadoras do gene alterado.

Quando um portador do gene defeituoso se casa com outro portador, um em cada quatro filhos vai ter dois genes mutados e apresentará a doença. No mundo existem aproximadamente 5 milhões de pessoas com a doença, das quais aproximadamente 110 mil morrem todos os anos. O número de portadores sadios é muito maior.

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São as células vermelhas (hemácias) que contêm a hemoglobina e que transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo. Nos pacientes, ao invés das hemácias serem redondas, elas têm a forma de vírgulas. Devido a essa forma alterada, elas formam pequenos aglomerados de células que entopem os capilares mais finos em todos os órgãos do corpo. Esses pequenos entupimentos causam muitas dores, dificultam a passagem do sangue e a nutrição dos órgãos. A pessoa passa a vida de crise em crise e acaba morrendo mais cedo.

Células vermelhas contêm hemoglobina e transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo Foto: Herton Escobar/Estadão

A anemia falciforme aparece na primeira infância. Ela não ocorre enquanto a pessoa está no útero ou logo que nasce, pois nessa fase da vida o gene que produz a proteína defeituosa está desligado e o grosso da hemoglobina que circula no sangue é a hemoglobina fetal, produzida por outro gene. Logo que a criança nasce, a produção da hemoglobina fetal é inibida e o sangue passa a ser composto principalmente pela hemoglobina adulta. Nesse momento a doença aparece. Para aliviar os problemas, a solução é fazer transfusões frequentes de sangue, o que dilui a hemoglobina defeituosa e faz com que os sintomas desapareçam por um tempo.

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A ideia que os cientistas tiveram para tentar curar a doença foi baseada na observação de que basta diminuir a quantidade relativa de hemoglobina defeituosa usando hemoglobina normal. É o que ocorre com as transfusões e também em pessoas que possuem um gene normal e um defeituoso. Mas como alterar o genoma dos pacientes para que isso ocorra? Uma solução seria reativar a produção da hemoglobina fetal que foi desligada na infância.

Como sabemos que a produção da hemoglobina fetal é inibida nos adultos porque existe um gene (chamado BCL11A) que impede sua produção, os médicos e cientistas decidiram modificar esse gene imaginando que, destruindo o inibidor, os genes da hemoglobina fetal seriam ativados, a hemoglobina fetal seria produzida, diluiria no sangue a hemoglobina adulta defeituosa, e a pessoa ficaria curada. Para modificar o gene inibidor, decidiram utilizar a tecnologia CRISPR e modificar a sequência de DNA desse gene nos pacientes.

Os experimentos foram primeiro feitos em animais e depois repetidos em seres humanos. Os testes já envolveram mais de 40 pacientes. Funciona assim: primeiro as células que vão se transformar em hemácias, e produzir hemoglobina no seu interior, são retiradas do paciente. Essas células são então levadas ao laboratório e usando a técnica de edição genômica (CRISPR), o gene inibidor (BCL11A) é alterado e deixa de funcionar. Em seguida o paciente recebe uma espécie de quimioterapia para destruir ou reduzir as células no seu corpo que produzem hemácias e então as células modificadas no laboratório são injetadas de volta.

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O que os cientistas descobriram é que, assim que se recupera, o paciente começa a produzir hemoglobina fetal em grande quantidade e a hemoglobina fetal em circulação faz com que a doença desapareça. A pessoa fica curada. Ou seja, a estratégia de destruir o inibidor e permitir a produção de hemoglobina fetal funciona e cura o paciente.

Com base no tratamento desses 40 pacientes, os médicos pediram ao FDA que aprove esse tratamento para uso na população. O que ocorreu na semana passada é que o grupo de cientistas e médicos do FDA que avalia esses pedidos considerou o tratamento eficaz e seguro e recomendaram sua liberação. Muito provavelmente o tratamento será liberado nas próximas semanas e deve ficar disponível.

É bom lembrar que esse ainda é um tratamento caro e difícil, pois envolve a retirada de células, sua modificação e sua reintrodução. Por esse motivo, deve levar tempo para ser aprovado e estar disponível no Brasil. Por aqui, temos quase 100 mil pessoas que sofrem com a doença, e mil pessoas nascem por ano com a doença.

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O importante é que esse é o primeiro tratamento para uma doença genética que utiliza edição genômica (CRISPR) que é considerado seguro e eficaz. É uma enorme porta que se abre para corrigir defeitos presentes no nosso genoma.

Mais informações: Is CRISPR safe? Genome editing gets its first FDA scrutiny. Nature

As primeiras pessoas curadas de uma doença genética através da modificação por edição do seu genoma já estão entre nós. E agora o FDA (Food and Drug Administration) dos EUA deu um passo histórico, aprovando o uso da edição genômica em seres humanos para curar a anemia falciforme.

A anemia falciforme é causada por uma mutação no gene da hemoglobina, a proteína que carrega oxigênio e dá a cor vermelha ao sangue. Pessoas que possuem somente uma cópia do gene defeituoso não têm sintomas, mas transmitem a doença, pois são portadoras do gene alterado.

Quando um portador do gene defeituoso se casa com outro portador, um em cada quatro filhos vai ter dois genes mutados e apresentará a doença. No mundo existem aproximadamente 5 milhões de pessoas com a doença, das quais aproximadamente 110 mil morrem todos os anos. O número de portadores sadios é muito maior.

São as células vermelhas (hemácias) que contêm a hemoglobina e que transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo. Nos pacientes, ao invés das hemácias serem redondas, elas têm a forma de vírgulas. Devido a essa forma alterada, elas formam pequenos aglomerados de células que entopem os capilares mais finos em todos os órgãos do corpo. Esses pequenos entupimentos causam muitas dores, dificultam a passagem do sangue e a nutrição dos órgãos. A pessoa passa a vida de crise em crise e acaba morrendo mais cedo.

Células vermelhas contêm hemoglobina e transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo Foto: Herton Escobar/Estadão

A anemia falciforme aparece na primeira infância. Ela não ocorre enquanto a pessoa está no útero ou logo que nasce, pois nessa fase da vida o gene que produz a proteína defeituosa está desligado e o grosso da hemoglobina que circula no sangue é a hemoglobina fetal, produzida por outro gene. Logo que a criança nasce, a produção da hemoglobina fetal é inibida e o sangue passa a ser composto principalmente pela hemoglobina adulta. Nesse momento a doença aparece. Para aliviar os problemas, a solução é fazer transfusões frequentes de sangue, o que dilui a hemoglobina defeituosa e faz com que os sintomas desapareçam por um tempo.

A ideia que os cientistas tiveram para tentar curar a doença foi baseada na observação de que basta diminuir a quantidade relativa de hemoglobina defeituosa usando hemoglobina normal. É o que ocorre com as transfusões e também em pessoas que possuem um gene normal e um defeituoso. Mas como alterar o genoma dos pacientes para que isso ocorra? Uma solução seria reativar a produção da hemoglobina fetal que foi desligada na infância.

Como sabemos que a produção da hemoglobina fetal é inibida nos adultos porque existe um gene (chamado BCL11A) que impede sua produção, os médicos e cientistas decidiram modificar esse gene imaginando que, destruindo o inibidor, os genes da hemoglobina fetal seriam ativados, a hemoglobina fetal seria produzida, diluiria no sangue a hemoglobina adulta defeituosa, e a pessoa ficaria curada. Para modificar o gene inibidor, decidiram utilizar a tecnologia CRISPR e modificar a sequência de DNA desse gene nos pacientes.

Os experimentos foram primeiro feitos em animais e depois repetidos em seres humanos. Os testes já envolveram mais de 40 pacientes. Funciona assim: primeiro as células que vão se transformar em hemácias, e produzir hemoglobina no seu interior, são retiradas do paciente. Essas células são então levadas ao laboratório e usando a técnica de edição genômica (CRISPR), o gene inibidor (BCL11A) é alterado e deixa de funcionar. Em seguida o paciente recebe uma espécie de quimioterapia para destruir ou reduzir as células no seu corpo que produzem hemácias e então as células modificadas no laboratório são injetadas de volta.

O que os cientistas descobriram é que, assim que se recupera, o paciente começa a produzir hemoglobina fetal em grande quantidade e a hemoglobina fetal em circulação faz com que a doença desapareça. A pessoa fica curada. Ou seja, a estratégia de destruir o inibidor e permitir a produção de hemoglobina fetal funciona e cura o paciente.

Com base no tratamento desses 40 pacientes, os médicos pediram ao FDA que aprove esse tratamento para uso na população. O que ocorreu na semana passada é que o grupo de cientistas e médicos do FDA que avalia esses pedidos considerou o tratamento eficaz e seguro e recomendaram sua liberação. Muito provavelmente o tratamento será liberado nas próximas semanas e deve ficar disponível.

É bom lembrar que esse ainda é um tratamento caro e difícil, pois envolve a retirada de células, sua modificação e sua reintrodução. Por esse motivo, deve levar tempo para ser aprovado e estar disponível no Brasil. Por aqui, temos quase 100 mil pessoas que sofrem com a doença, e mil pessoas nascem por ano com a doença.

O importante é que esse é o primeiro tratamento para uma doença genética que utiliza edição genômica (CRISPR) que é considerado seguro e eficaz. É uma enorme porta que se abre para corrigir defeitos presentes no nosso genoma.

Mais informações: Is CRISPR safe? Genome editing gets its first FDA scrutiny. Nature

As primeiras pessoas curadas de uma doença genética através da modificação por edição do seu genoma já estão entre nós. E agora o FDA (Food and Drug Administration) dos EUA deu um passo histórico, aprovando o uso da edição genômica em seres humanos para curar a anemia falciforme.

A anemia falciforme é causada por uma mutação no gene da hemoglobina, a proteína que carrega oxigênio e dá a cor vermelha ao sangue. Pessoas que possuem somente uma cópia do gene defeituoso não têm sintomas, mas transmitem a doença, pois são portadoras do gene alterado.

Quando um portador do gene defeituoso se casa com outro portador, um em cada quatro filhos vai ter dois genes mutados e apresentará a doença. No mundo existem aproximadamente 5 milhões de pessoas com a doença, das quais aproximadamente 110 mil morrem todos os anos. O número de portadores sadios é muito maior.

São as células vermelhas (hemácias) que contêm a hemoglobina e que transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo. Nos pacientes, ao invés das hemácias serem redondas, elas têm a forma de vírgulas. Devido a essa forma alterada, elas formam pequenos aglomerados de células que entopem os capilares mais finos em todos os órgãos do corpo. Esses pequenos entupimentos causam muitas dores, dificultam a passagem do sangue e a nutrição dos órgãos. A pessoa passa a vida de crise em crise e acaba morrendo mais cedo.

Células vermelhas contêm hemoglobina e transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo Foto: Herton Escobar/Estadão

A anemia falciforme aparece na primeira infância. Ela não ocorre enquanto a pessoa está no útero ou logo que nasce, pois nessa fase da vida o gene que produz a proteína defeituosa está desligado e o grosso da hemoglobina que circula no sangue é a hemoglobina fetal, produzida por outro gene. Logo que a criança nasce, a produção da hemoglobina fetal é inibida e o sangue passa a ser composto principalmente pela hemoglobina adulta. Nesse momento a doença aparece. Para aliviar os problemas, a solução é fazer transfusões frequentes de sangue, o que dilui a hemoglobina defeituosa e faz com que os sintomas desapareçam por um tempo.

A ideia que os cientistas tiveram para tentar curar a doença foi baseada na observação de que basta diminuir a quantidade relativa de hemoglobina defeituosa usando hemoglobina normal. É o que ocorre com as transfusões e também em pessoas que possuem um gene normal e um defeituoso. Mas como alterar o genoma dos pacientes para que isso ocorra? Uma solução seria reativar a produção da hemoglobina fetal que foi desligada na infância.

Como sabemos que a produção da hemoglobina fetal é inibida nos adultos porque existe um gene (chamado BCL11A) que impede sua produção, os médicos e cientistas decidiram modificar esse gene imaginando que, destruindo o inibidor, os genes da hemoglobina fetal seriam ativados, a hemoglobina fetal seria produzida, diluiria no sangue a hemoglobina adulta defeituosa, e a pessoa ficaria curada. Para modificar o gene inibidor, decidiram utilizar a tecnologia CRISPR e modificar a sequência de DNA desse gene nos pacientes.

Os experimentos foram primeiro feitos em animais e depois repetidos em seres humanos. Os testes já envolveram mais de 40 pacientes. Funciona assim: primeiro as células que vão se transformar em hemácias, e produzir hemoglobina no seu interior, são retiradas do paciente. Essas células são então levadas ao laboratório e usando a técnica de edição genômica (CRISPR), o gene inibidor (BCL11A) é alterado e deixa de funcionar. Em seguida o paciente recebe uma espécie de quimioterapia para destruir ou reduzir as células no seu corpo que produzem hemácias e então as células modificadas no laboratório são injetadas de volta.

O que os cientistas descobriram é que, assim que se recupera, o paciente começa a produzir hemoglobina fetal em grande quantidade e a hemoglobina fetal em circulação faz com que a doença desapareça. A pessoa fica curada. Ou seja, a estratégia de destruir o inibidor e permitir a produção de hemoglobina fetal funciona e cura o paciente.

Com base no tratamento desses 40 pacientes, os médicos pediram ao FDA que aprove esse tratamento para uso na população. O que ocorreu na semana passada é que o grupo de cientistas e médicos do FDA que avalia esses pedidos considerou o tratamento eficaz e seguro e recomendaram sua liberação. Muito provavelmente o tratamento será liberado nas próximas semanas e deve ficar disponível.

É bom lembrar que esse ainda é um tratamento caro e difícil, pois envolve a retirada de células, sua modificação e sua reintrodução. Por esse motivo, deve levar tempo para ser aprovado e estar disponível no Brasil. Por aqui, temos quase 100 mil pessoas que sofrem com a doença, e mil pessoas nascem por ano com a doença.

O importante é que esse é o primeiro tratamento para uma doença genética que utiliza edição genômica (CRISPR) que é considerado seguro e eficaz. É uma enorme porta que se abre para corrigir defeitos presentes no nosso genoma.

Mais informações: Is CRISPR safe? Genome editing gets its first FDA scrutiny. Nature

As primeiras pessoas curadas de uma doença genética através da modificação por edição do seu genoma já estão entre nós. E agora o FDA (Food and Drug Administration) dos EUA deu um passo histórico, aprovando o uso da edição genômica em seres humanos para curar a anemia falciforme.

A anemia falciforme é causada por uma mutação no gene da hemoglobina, a proteína que carrega oxigênio e dá a cor vermelha ao sangue. Pessoas que possuem somente uma cópia do gene defeituoso não têm sintomas, mas transmitem a doença, pois são portadoras do gene alterado.

Quando um portador do gene defeituoso se casa com outro portador, um em cada quatro filhos vai ter dois genes mutados e apresentará a doença. No mundo existem aproximadamente 5 milhões de pessoas com a doença, das quais aproximadamente 110 mil morrem todos os anos. O número de portadores sadios é muito maior.

São as células vermelhas (hemácias) que contêm a hemoglobina e que transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo. Nos pacientes, ao invés das hemácias serem redondas, elas têm a forma de vírgulas. Devido a essa forma alterada, elas formam pequenos aglomerados de células que entopem os capilares mais finos em todos os órgãos do corpo. Esses pequenos entupimentos causam muitas dores, dificultam a passagem do sangue e a nutrição dos órgãos. A pessoa passa a vida de crise em crise e acaba morrendo mais cedo.

Células vermelhas contêm hemoglobina e transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo Foto: Herton Escobar/Estadão

A anemia falciforme aparece na primeira infância. Ela não ocorre enquanto a pessoa está no útero ou logo que nasce, pois nessa fase da vida o gene que produz a proteína defeituosa está desligado e o grosso da hemoglobina que circula no sangue é a hemoglobina fetal, produzida por outro gene. Logo que a criança nasce, a produção da hemoglobina fetal é inibida e o sangue passa a ser composto principalmente pela hemoglobina adulta. Nesse momento a doença aparece. Para aliviar os problemas, a solução é fazer transfusões frequentes de sangue, o que dilui a hemoglobina defeituosa e faz com que os sintomas desapareçam por um tempo.

A ideia que os cientistas tiveram para tentar curar a doença foi baseada na observação de que basta diminuir a quantidade relativa de hemoglobina defeituosa usando hemoglobina normal. É o que ocorre com as transfusões e também em pessoas que possuem um gene normal e um defeituoso. Mas como alterar o genoma dos pacientes para que isso ocorra? Uma solução seria reativar a produção da hemoglobina fetal que foi desligada na infância.

Como sabemos que a produção da hemoglobina fetal é inibida nos adultos porque existe um gene (chamado BCL11A) que impede sua produção, os médicos e cientistas decidiram modificar esse gene imaginando que, destruindo o inibidor, os genes da hemoglobina fetal seriam ativados, a hemoglobina fetal seria produzida, diluiria no sangue a hemoglobina adulta defeituosa, e a pessoa ficaria curada. Para modificar o gene inibidor, decidiram utilizar a tecnologia CRISPR e modificar a sequência de DNA desse gene nos pacientes.

Os experimentos foram primeiro feitos em animais e depois repetidos em seres humanos. Os testes já envolveram mais de 40 pacientes. Funciona assim: primeiro as células que vão se transformar em hemácias, e produzir hemoglobina no seu interior, são retiradas do paciente. Essas células são então levadas ao laboratório e usando a técnica de edição genômica (CRISPR), o gene inibidor (BCL11A) é alterado e deixa de funcionar. Em seguida o paciente recebe uma espécie de quimioterapia para destruir ou reduzir as células no seu corpo que produzem hemácias e então as células modificadas no laboratório são injetadas de volta.

O que os cientistas descobriram é que, assim que se recupera, o paciente começa a produzir hemoglobina fetal em grande quantidade e a hemoglobina fetal em circulação faz com que a doença desapareça. A pessoa fica curada. Ou seja, a estratégia de destruir o inibidor e permitir a produção de hemoglobina fetal funciona e cura o paciente.

Com base no tratamento desses 40 pacientes, os médicos pediram ao FDA que aprove esse tratamento para uso na população. O que ocorreu na semana passada é que o grupo de cientistas e médicos do FDA que avalia esses pedidos considerou o tratamento eficaz e seguro e recomendaram sua liberação. Muito provavelmente o tratamento será liberado nas próximas semanas e deve ficar disponível.

É bom lembrar que esse ainda é um tratamento caro e difícil, pois envolve a retirada de células, sua modificação e sua reintrodução. Por esse motivo, deve levar tempo para ser aprovado e estar disponível no Brasil. Por aqui, temos quase 100 mil pessoas que sofrem com a doença, e mil pessoas nascem por ano com a doença.

O importante é que esse é o primeiro tratamento para uma doença genética que utiliza edição genômica (CRISPR) que é considerado seguro e eficaz. É uma enorme porta que se abre para corrigir defeitos presentes no nosso genoma.

Mais informações: Is CRISPR safe? Genome editing gets its first FDA scrutiny. Nature

As primeiras pessoas curadas de uma doença genética através da modificação por edição do seu genoma já estão entre nós. E agora o FDA (Food and Drug Administration) dos EUA deu um passo histórico, aprovando o uso da edição genômica em seres humanos para curar a anemia falciforme.

A anemia falciforme é causada por uma mutação no gene da hemoglobina, a proteína que carrega oxigênio e dá a cor vermelha ao sangue. Pessoas que possuem somente uma cópia do gene defeituoso não têm sintomas, mas transmitem a doença, pois são portadoras do gene alterado.

Quando um portador do gene defeituoso se casa com outro portador, um em cada quatro filhos vai ter dois genes mutados e apresentará a doença. No mundo existem aproximadamente 5 milhões de pessoas com a doença, das quais aproximadamente 110 mil morrem todos os anos. O número de portadores sadios é muito maior.

São as células vermelhas (hemácias) que contêm a hemoglobina e que transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo. Nos pacientes, ao invés das hemácias serem redondas, elas têm a forma de vírgulas. Devido a essa forma alterada, elas formam pequenos aglomerados de células que entopem os capilares mais finos em todos os órgãos do corpo. Esses pequenos entupimentos causam muitas dores, dificultam a passagem do sangue e a nutrição dos órgãos. A pessoa passa a vida de crise em crise e acaba morrendo mais cedo.

Células vermelhas contêm hemoglobina e transportam o oxigênio do pulmão para o resto do corpo Foto: Herton Escobar/Estadão

A anemia falciforme aparece na primeira infância. Ela não ocorre enquanto a pessoa está no útero ou logo que nasce, pois nessa fase da vida o gene que produz a proteína defeituosa está desligado e o grosso da hemoglobina que circula no sangue é a hemoglobina fetal, produzida por outro gene. Logo que a criança nasce, a produção da hemoglobina fetal é inibida e o sangue passa a ser composto principalmente pela hemoglobina adulta. Nesse momento a doença aparece. Para aliviar os problemas, a solução é fazer transfusões frequentes de sangue, o que dilui a hemoglobina defeituosa e faz com que os sintomas desapareçam por um tempo.

A ideia que os cientistas tiveram para tentar curar a doença foi baseada na observação de que basta diminuir a quantidade relativa de hemoglobina defeituosa usando hemoglobina normal. É o que ocorre com as transfusões e também em pessoas que possuem um gene normal e um defeituoso. Mas como alterar o genoma dos pacientes para que isso ocorra? Uma solução seria reativar a produção da hemoglobina fetal que foi desligada na infância.

Como sabemos que a produção da hemoglobina fetal é inibida nos adultos porque existe um gene (chamado BCL11A) que impede sua produção, os médicos e cientistas decidiram modificar esse gene imaginando que, destruindo o inibidor, os genes da hemoglobina fetal seriam ativados, a hemoglobina fetal seria produzida, diluiria no sangue a hemoglobina adulta defeituosa, e a pessoa ficaria curada. Para modificar o gene inibidor, decidiram utilizar a tecnologia CRISPR e modificar a sequência de DNA desse gene nos pacientes.

Os experimentos foram primeiro feitos em animais e depois repetidos em seres humanos. Os testes já envolveram mais de 40 pacientes. Funciona assim: primeiro as células que vão se transformar em hemácias, e produzir hemoglobina no seu interior, são retiradas do paciente. Essas células são então levadas ao laboratório e usando a técnica de edição genômica (CRISPR), o gene inibidor (BCL11A) é alterado e deixa de funcionar. Em seguida o paciente recebe uma espécie de quimioterapia para destruir ou reduzir as células no seu corpo que produzem hemácias e então as células modificadas no laboratório são injetadas de volta.

O que os cientistas descobriram é que, assim que se recupera, o paciente começa a produzir hemoglobina fetal em grande quantidade e a hemoglobina fetal em circulação faz com que a doença desapareça. A pessoa fica curada. Ou seja, a estratégia de destruir o inibidor e permitir a produção de hemoglobina fetal funciona e cura o paciente.

Com base no tratamento desses 40 pacientes, os médicos pediram ao FDA que aprove esse tratamento para uso na população. O que ocorreu na semana passada é que o grupo de cientistas e médicos do FDA que avalia esses pedidos considerou o tratamento eficaz e seguro e recomendaram sua liberação. Muito provavelmente o tratamento será liberado nas próximas semanas e deve ficar disponível.

É bom lembrar que esse ainda é um tratamento caro e difícil, pois envolve a retirada de células, sua modificação e sua reintrodução. Por esse motivo, deve levar tempo para ser aprovado e estar disponível no Brasil. Por aqui, temos quase 100 mil pessoas que sofrem com a doença, e mil pessoas nascem por ano com a doença.

O importante é que esse é o primeiro tratamento para uma doença genética que utiliza edição genômica (CRISPR) que é considerado seguro e eficaz. É uma enorme porta que se abre para corrigir defeitos presentes no nosso genoma.

Mais informações: Is CRISPR safe? Genome editing gets its first FDA scrutiny. Nature

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Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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