Opinião|O que determina nossa flora intestinal


Nossa flora intestinal não somente é determinada pelo estado de saúde de nosso corpo, mas também deve influenciar esse estado de saúde; intervenções no microbioma podem ter, no futuro, importante papel na saúde

Por Fernando Reinach

Nosso intestino é habitado por centenas de espécies de bactérias. Algumas dessas espécies são relativamente raras e representadas por um pequeno número de indivíduos. Outras são muito frequentes. O fato é que o número total de bactérias que habitam nosso intestino é maior do que o número de células existentes no nosso corpo. Desde que o sequenciamento de DNA se tornou eficiente e barato, cientistas têm estudado essa população de bactérias para entender sua função.

Isso é feito coletando amostras de fezes de uma pessoa, extraindo o DNA presente nas fezes e sequenciando esse DNA. Como cada bactéria possui sequências distintas, é possível não somente identificar as espécies presentes no intestino da pessoa, mas calcular a frequência dos membros de cada espécie. Usando essa metodologia já foi descoberto que a composição dessa população (que antigamente chamávamos de flora intestinal) varia de pessoa para pessoa, muda dependendo de nosso estado de saúde, de nossa alimentação e de nossa herança genética.

Esses resultados sugerem que nossa flora intestinal não somente é determinada pelo estado de saúde de nosso corpo, mas também deve influenciar esse estado de saúde. Além disso, como é muito fácil alterar a flora intestinal, transplantando bactérias do intestino de uma pessoa para outra, existe a possibilidade de, alterando a flora, curar ou aliviar doenças.

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Resultados desse estudo parecem indicar que, no futuro, intervenções no microbioma de um indivíduoterão um papel importante na administração de nossa saúde Foto: Pixabay

O problema é que para entender a relação entre a flora intestinal e as diferentes características do ambiente, da genética e da saúde dos indivíduos, é necessário estudar a flora de muitas pessoas. Foi exatamente isso que fez um grupo de cientistas holandeses. Eles coletaram fezes de 8.208 pessoas pertencentes a 2.756 famílias. Esse grupo faz parte de um enorme estudo que está sendo executado no norte da Holanda que envolve centenas de milhares de pessoas e tem como objetivo correlacionar a saúde das pessoas com sua genética e seu meio ambiente.

Nesse estudo, 241 características físicas, sociais e genéticas de cada indivíduo podem ser comparadas com a flora intestinal dos 8.208 indivíduos. Usando essa enorme quantidade de dados, os cientistas puderam identificar 7.519 associações entre a composição da flora intestinal (também chamada de microbioma) e as características socioeconômicas, vivências na infância, doenças e medicamentos utilizados.

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A quantidade de relações descoberta é enorme e impossível de descrever aqui, mas incluem as seguintes descobertas: o microbioma dos holandeses inclui mais de 600 espécies de bactérias, responsáveis por mais de 500 rotas metabólicas (que resultam na produção de compostos que podem afetar nosso corpo).

Descobriram que o microbioma reflete o estado de saúde da pessoa e os remédios que está tomando. O microbioma é definido basicamente pelo ambiente físico em que a pessoa viveu a infância (o microbioma de quem morava na mesma residência). Existem microbiomas que sinalizam o estado de saúde da pessoa. E o microbioma depende da alimentação e outros fatores externos a que a pessoa está exposta.

Essa enorme quantidade de resultados vai permitir que estudos focados em aspectos específicos da relação saúde/microbioma identifiquem possíveis intervenções no microbioma de indivíduos que possam curar doenças, melhorar o estado das pessoas ou mesmo prevenir doenças. Esse é um campo da medicina que ainda está na sua infância, mas os resultados desse estudo parecem indicar que, no futuro, intervenções no microbioma de um indivíduo ou mesmo da sociedade terão um papel importante na administração de nossa saúde.

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Mais informações: Environmental factors shaping the gut microbiome in a Dutch population. Nature

* É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS

Nosso intestino é habitado por centenas de espécies de bactérias. Algumas dessas espécies são relativamente raras e representadas por um pequeno número de indivíduos. Outras são muito frequentes. O fato é que o número total de bactérias que habitam nosso intestino é maior do que o número de células existentes no nosso corpo. Desde que o sequenciamento de DNA se tornou eficiente e barato, cientistas têm estudado essa população de bactérias para entender sua função.

Isso é feito coletando amostras de fezes de uma pessoa, extraindo o DNA presente nas fezes e sequenciando esse DNA. Como cada bactéria possui sequências distintas, é possível não somente identificar as espécies presentes no intestino da pessoa, mas calcular a frequência dos membros de cada espécie. Usando essa metodologia já foi descoberto que a composição dessa população (que antigamente chamávamos de flora intestinal) varia de pessoa para pessoa, muda dependendo de nosso estado de saúde, de nossa alimentação e de nossa herança genética.

Esses resultados sugerem que nossa flora intestinal não somente é determinada pelo estado de saúde de nosso corpo, mas também deve influenciar esse estado de saúde. Além disso, como é muito fácil alterar a flora intestinal, transplantando bactérias do intestino de uma pessoa para outra, existe a possibilidade de, alterando a flora, curar ou aliviar doenças.

Resultados desse estudo parecem indicar que, no futuro, intervenções no microbioma de um indivíduoterão um papel importante na administração de nossa saúde Foto: Pixabay

O problema é que para entender a relação entre a flora intestinal e as diferentes características do ambiente, da genética e da saúde dos indivíduos, é necessário estudar a flora de muitas pessoas. Foi exatamente isso que fez um grupo de cientistas holandeses. Eles coletaram fezes de 8.208 pessoas pertencentes a 2.756 famílias. Esse grupo faz parte de um enorme estudo que está sendo executado no norte da Holanda que envolve centenas de milhares de pessoas e tem como objetivo correlacionar a saúde das pessoas com sua genética e seu meio ambiente.

Nesse estudo, 241 características físicas, sociais e genéticas de cada indivíduo podem ser comparadas com a flora intestinal dos 8.208 indivíduos. Usando essa enorme quantidade de dados, os cientistas puderam identificar 7.519 associações entre a composição da flora intestinal (também chamada de microbioma) e as características socioeconômicas, vivências na infância, doenças e medicamentos utilizados.

A quantidade de relações descoberta é enorme e impossível de descrever aqui, mas incluem as seguintes descobertas: o microbioma dos holandeses inclui mais de 600 espécies de bactérias, responsáveis por mais de 500 rotas metabólicas (que resultam na produção de compostos que podem afetar nosso corpo).

Descobriram que o microbioma reflete o estado de saúde da pessoa e os remédios que está tomando. O microbioma é definido basicamente pelo ambiente físico em que a pessoa viveu a infância (o microbioma de quem morava na mesma residência). Existem microbiomas que sinalizam o estado de saúde da pessoa. E o microbioma depende da alimentação e outros fatores externos a que a pessoa está exposta.

Essa enorme quantidade de resultados vai permitir que estudos focados em aspectos específicos da relação saúde/microbioma identifiquem possíveis intervenções no microbioma de indivíduos que possam curar doenças, melhorar o estado das pessoas ou mesmo prevenir doenças. Esse é um campo da medicina que ainda está na sua infância, mas os resultados desse estudo parecem indicar que, no futuro, intervenções no microbioma de um indivíduo ou mesmo da sociedade terão um papel importante na administração de nossa saúde.

Mais informações: Environmental factors shaping the gut microbiome in a Dutch population. Nature

* É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS

Nosso intestino é habitado por centenas de espécies de bactérias. Algumas dessas espécies são relativamente raras e representadas por um pequeno número de indivíduos. Outras são muito frequentes. O fato é que o número total de bactérias que habitam nosso intestino é maior do que o número de células existentes no nosso corpo. Desde que o sequenciamento de DNA se tornou eficiente e barato, cientistas têm estudado essa população de bactérias para entender sua função.

Isso é feito coletando amostras de fezes de uma pessoa, extraindo o DNA presente nas fezes e sequenciando esse DNA. Como cada bactéria possui sequências distintas, é possível não somente identificar as espécies presentes no intestino da pessoa, mas calcular a frequência dos membros de cada espécie. Usando essa metodologia já foi descoberto que a composição dessa população (que antigamente chamávamos de flora intestinal) varia de pessoa para pessoa, muda dependendo de nosso estado de saúde, de nossa alimentação e de nossa herança genética.

Esses resultados sugerem que nossa flora intestinal não somente é determinada pelo estado de saúde de nosso corpo, mas também deve influenciar esse estado de saúde. Além disso, como é muito fácil alterar a flora intestinal, transplantando bactérias do intestino de uma pessoa para outra, existe a possibilidade de, alterando a flora, curar ou aliviar doenças.

Resultados desse estudo parecem indicar que, no futuro, intervenções no microbioma de um indivíduoterão um papel importante na administração de nossa saúde Foto: Pixabay

O problema é que para entender a relação entre a flora intestinal e as diferentes características do ambiente, da genética e da saúde dos indivíduos, é necessário estudar a flora de muitas pessoas. Foi exatamente isso que fez um grupo de cientistas holandeses. Eles coletaram fezes de 8.208 pessoas pertencentes a 2.756 famílias. Esse grupo faz parte de um enorme estudo que está sendo executado no norte da Holanda que envolve centenas de milhares de pessoas e tem como objetivo correlacionar a saúde das pessoas com sua genética e seu meio ambiente.

Nesse estudo, 241 características físicas, sociais e genéticas de cada indivíduo podem ser comparadas com a flora intestinal dos 8.208 indivíduos. Usando essa enorme quantidade de dados, os cientistas puderam identificar 7.519 associações entre a composição da flora intestinal (também chamada de microbioma) e as características socioeconômicas, vivências na infância, doenças e medicamentos utilizados.

A quantidade de relações descoberta é enorme e impossível de descrever aqui, mas incluem as seguintes descobertas: o microbioma dos holandeses inclui mais de 600 espécies de bactérias, responsáveis por mais de 500 rotas metabólicas (que resultam na produção de compostos que podem afetar nosso corpo).

Descobriram que o microbioma reflete o estado de saúde da pessoa e os remédios que está tomando. O microbioma é definido basicamente pelo ambiente físico em que a pessoa viveu a infância (o microbioma de quem morava na mesma residência). Existem microbiomas que sinalizam o estado de saúde da pessoa. E o microbioma depende da alimentação e outros fatores externos a que a pessoa está exposta.

Essa enorme quantidade de resultados vai permitir que estudos focados em aspectos específicos da relação saúde/microbioma identifiquem possíveis intervenções no microbioma de indivíduos que possam curar doenças, melhorar o estado das pessoas ou mesmo prevenir doenças. Esse é um campo da medicina que ainda está na sua infância, mas os resultados desse estudo parecem indicar que, no futuro, intervenções no microbioma de um indivíduo ou mesmo da sociedade terão um papel importante na administração de nossa saúde.

Mais informações: Environmental factors shaping the gut microbiome in a Dutch population. Nature

* É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS

Opinião por Fernando Reinach

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