A comunidade científica e grande parte dos governos de países ao redor do mundo concordam que o planeta está passando por um rápido aquecimento e que esse aquecimento está sendo provocado pela emissão de gás carbônico. Esse aumento, caso não seja revertido, pode alterar muito o ambiente em que nós e todos os seres vivos vivem.
Entretanto, muitas pessoas argumentam que no passado distante já ocorreram eventos em que a temperatura do planeta aumentou e que esse aumento depois foi revertido. Portanto, não precisaríamos nos preocupar.
É verdade que a temperatura no planeta subiu e desceu nos últimos milhões de anos, e é verdade que por volta de 24.000 anos atrás, antes que o homem tivesse construído uma única cidade ou inventado a agricultura, a Terra passou por um período glacial muito longo. Nesse período, a temperatura era 6 graus Celsius abaixo do que ela era 200 anos atrás. É fato que desta época para cá o planeta aqueceu esses ~6 graus, as geleiras que cobriam a Inglaterra e se estendiam pelo norte da Europa derreteram.
O fato é que todos concordam que em 24.000 anos o planeta aqueceu 6 graus e que nas últimas décadas ele aqueceu 1 grau. Os detratores do aquecimento global argumentam que esse aquecimento de 6 graus talvez tenha ocorrido ao longo de um período curto, de forma rápida, com uma velocidade semelhante ao aquecimento que estamos vivendo agora. Já quem acredita que o aquecimento atual é muito mais rápido argumenta que esse aquecimento foi lento, distribuído ao longo de milhares de anos.
Para resolver esse dilema é necessário descobrir, em detalhe, como o aquecimento ocorreu nos últimos 24.000 anos: será que ele foi lento e gradual ou foi rápido em um determinado momento desses 24.000 anos. A novidade é que um trabalho publicado essa semana conseguiu determinar como a temperatura subiu ao longo desse período.
Isso foi possível pois os cientistas combinaram modelos que predizem o aquecimento com milhares de medidas indiretas da temperatura em dezenas de locais ao redor do planeta, em diferentes períodos do passado. Combinando esses dados com os modelos é possível ter certeza que os modelos estão corretos por estarem ancorados em dados concretos. Além disso, essa metodologia permite que os modelos completem a curva de temperatura nos intervalos em que não temos dados.
Os resultados obtidos demonstram que o esfriamento do planeta começou 17.000 anos atrás e a partir desse momento o planeta se aqueceu muito lentamente até 9.000 anos atrás. Ou seja, o aquecimento foi muito lento, ele ocorreu de maneira gradual ao longo de 8 mil anos. De 9.000 anos até 200 anos atrás o planeta ficou com uma temperatura estável e agora nas últimas décadas a temperatura subiu 1 grau Celsius, de maneira muito rápida.
Esse resultado simples derruba a hipótese de que no passado o aquecimento ocorreu rapidamente. Ele também comprova que o aquecimento que está ocorrendo agora é muito mais rápido do que ocorreu no passado e, portanto, muito mais perigoso. Isso porque é muito mais difícil para os organismos vivos se adaptarem a mudanças rápidas.
A conclusão é simples: apertem os cintos pois se não conseguirmos estancar ou desacelerar o aquecimento global a vida no planeta vai mudar muito nas próximas décadas.
Mais informações: Globally resolved surface temperatures since the Last Glacial Maximum