Opinião|Pessoas com depressão têm alterações no cérebro; veja o que revela novo estudo


Cientistas descobriram aumento de quase duas vezes em um circuito do córtex cerebral em pessoas que sofrem com a doença

Por Fernando Reinach

Uma das maiores dificuldades da psiquiatria é a ausência de indicadores físicos de doenças como a depressão ou a esquizofrenia. Agora, em um trabalho que vai alterar a compreensão, diagnóstico, e tratamento da depressão, um grupo de cientistas descobriu um aumento de quase duas vezes em um circuito do córtex cerebral em pessoas que sofrem de depressão.

A grande maioria das doenças se manifesta através de mudanças físicas no nosso corpo. Infecções geralmente provocam febre e alteram a quantidade dos glóbulos brancos. Doenças cardíacas podem ser detectadas com um estetoscópio, exames de laboratório ou exames de imagem.

Doenças psiquiátricas geralmente se manifestam como alterações no humor ou comportamento dos pacientes e os diagnósticos geralmente são feitos conversando com o paciente ou observando seu comportamento. Não existem testes de laboratório capazes de detectar ou medir correlatos físicos dessas doenças. Isso dificulta o diagnóstico e a compreensão das doenças.

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Estudo é um passo muito importante na psiquiatria e abre a possibilidade de que correlatos físicos de outras doenças sejam descobertos. Foto: ARAMYAN/adobe.stock

Faz décadas que os cientistas examinam o cérebro de pessoas com doenças psiquiátricas e os comparam com pessoas saudáveis sem encontrar mudanças significativas. Isso ocorre porque existem muitas diferenças entre os cérebros de pessoas saudáveis, a atividade cerebral muda dependendo do que estamos fazendo, e os métodos para medir padrões de atividade cerebral demoraram para ser aperfeiçoados.

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Nos últimos anos foram desenvolvidos métodos mais precisos capazes de mapear a anatomia de circuitos cerebrais e sua atividade. Um deles é a análise funcional de precisão usando ressonância magnética. Esse método exige que a pessoa seja submetida a longas e repetidas coletas de dados em um equipamento de ressonância magnética funcional. Até agora esse método havia sido usado para estudar o funcionamento do cérebro de pessoas normais. Agora os cientistas compararam o cérebro de pessoas normais com o de pessoas que sofrem de depressão.

No experimento principal foram comparadas 6 pessoas com depressão severa com 37 pessoas normais. As pessoas com depressão foram submetidas a 22 sessões ao longo de meses no tomógrafo, totalizando mais 10 horas de análise por pessoa. As pessoas normais foram submetidas ao mesmo tipo de análise.

Esse método permite determinar o tamanho e a localização de circuitos específicos no cérebro. Comparando pessoas normais com as que sofrem de depressão, os cientistas observaram, com uma simples inspeção visual, que uma área denominada de rede da saliência frontoestriatal, era quase duas vezes maior (73% em média) nas pessoas com depressão. Essa observação foi subsequentemente confirmada em outras 135 pessoas com depressão.

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Essa rede de neurônios, os circuitos frontoestriatais, ocupam aproximadamente 3% da área do córtex cerebral e estão envolvidos no processamento de estímulos relacionados ao prazer. Eles integram, ao nível consciente, respostas do sistema autônomo com desejos e demandas ambientais.

Os cientistas também descobriram que o aumento dessa área ocorre tomando áreas dos circuitos neuronais que a rodeiam, que diminuem de tamanho. Além disso, esse aumento está presente ao longo da vida dessas pessoas independentemente de elas estarem ou não vivendo uma crise depressiva.

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Outra descoberta importante é que esse aumento foi observado em crianças sem depressão, mas que desenvolveram depressão na adolescência ou quando jovens adultos.

Todos esses resultados demonstram que esse aumento é um correlato físico (pode ser a causa ou a consequência) da depressão. O aumento parece estar presente em pessoas que mais tarde vão apresentar depressão e está presente nas pessoas mesmo nos períodos em que a pessoa não está deprimida. Esse aumento pode ser usado para confirmar o diagnóstico, determinar o prognóstico e talvez prevenir episódios de depressão antes que eles ocorram. Isso sem falar no estudo das causas da depressão e na compreensão do mecanismo de ação dos medicamentos já existentes e no desenvolvimento de novos medicamentos.

O principal obstáculo do uso disseminado desta tecnologia é o alto custo do equipamento, a necessidade de exames muito longos, e a complexidade da interpretação. Tudo isso sugere que vai levar algum tempo para esse exame ser incorporado em larga escala no diagnóstico e tratamento da depressão. Mas, sem dúvida, é um passo muito importante na psiquiatria e abre a possibilidade de que correlatos físicos de outras doenças sejam descobertos.

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Mais informações: Frontostriatal salience network expansion in individuals in depression. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-024-07805-2 2024

Uma das maiores dificuldades da psiquiatria é a ausência de indicadores físicos de doenças como a depressão ou a esquizofrenia. Agora, em um trabalho que vai alterar a compreensão, diagnóstico, e tratamento da depressão, um grupo de cientistas descobriu um aumento de quase duas vezes em um circuito do córtex cerebral em pessoas que sofrem de depressão.

A grande maioria das doenças se manifesta através de mudanças físicas no nosso corpo. Infecções geralmente provocam febre e alteram a quantidade dos glóbulos brancos. Doenças cardíacas podem ser detectadas com um estetoscópio, exames de laboratório ou exames de imagem.

Doenças psiquiátricas geralmente se manifestam como alterações no humor ou comportamento dos pacientes e os diagnósticos geralmente são feitos conversando com o paciente ou observando seu comportamento. Não existem testes de laboratório capazes de detectar ou medir correlatos físicos dessas doenças. Isso dificulta o diagnóstico e a compreensão das doenças.

Estudo é um passo muito importante na psiquiatria e abre a possibilidade de que correlatos físicos de outras doenças sejam descobertos. Foto: ARAMYAN/adobe.stock

Faz décadas que os cientistas examinam o cérebro de pessoas com doenças psiquiátricas e os comparam com pessoas saudáveis sem encontrar mudanças significativas. Isso ocorre porque existem muitas diferenças entre os cérebros de pessoas saudáveis, a atividade cerebral muda dependendo do que estamos fazendo, e os métodos para medir padrões de atividade cerebral demoraram para ser aperfeiçoados.

Nos últimos anos foram desenvolvidos métodos mais precisos capazes de mapear a anatomia de circuitos cerebrais e sua atividade. Um deles é a análise funcional de precisão usando ressonância magnética. Esse método exige que a pessoa seja submetida a longas e repetidas coletas de dados em um equipamento de ressonância magnética funcional. Até agora esse método havia sido usado para estudar o funcionamento do cérebro de pessoas normais. Agora os cientistas compararam o cérebro de pessoas normais com o de pessoas que sofrem de depressão.

No experimento principal foram comparadas 6 pessoas com depressão severa com 37 pessoas normais. As pessoas com depressão foram submetidas a 22 sessões ao longo de meses no tomógrafo, totalizando mais 10 horas de análise por pessoa. As pessoas normais foram submetidas ao mesmo tipo de análise.

Esse método permite determinar o tamanho e a localização de circuitos específicos no cérebro. Comparando pessoas normais com as que sofrem de depressão, os cientistas observaram, com uma simples inspeção visual, que uma área denominada de rede da saliência frontoestriatal, era quase duas vezes maior (73% em média) nas pessoas com depressão. Essa observação foi subsequentemente confirmada em outras 135 pessoas com depressão.

Essa rede de neurônios, os circuitos frontoestriatais, ocupam aproximadamente 3% da área do córtex cerebral e estão envolvidos no processamento de estímulos relacionados ao prazer. Eles integram, ao nível consciente, respostas do sistema autônomo com desejos e demandas ambientais.

Os cientistas também descobriram que o aumento dessa área ocorre tomando áreas dos circuitos neuronais que a rodeiam, que diminuem de tamanho. Além disso, esse aumento está presente ao longo da vida dessas pessoas independentemente de elas estarem ou não vivendo uma crise depressiva.

Outra descoberta importante é que esse aumento foi observado em crianças sem depressão, mas que desenvolveram depressão na adolescência ou quando jovens adultos.

Todos esses resultados demonstram que esse aumento é um correlato físico (pode ser a causa ou a consequência) da depressão. O aumento parece estar presente em pessoas que mais tarde vão apresentar depressão e está presente nas pessoas mesmo nos períodos em que a pessoa não está deprimida. Esse aumento pode ser usado para confirmar o diagnóstico, determinar o prognóstico e talvez prevenir episódios de depressão antes que eles ocorram. Isso sem falar no estudo das causas da depressão e na compreensão do mecanismo de ação dos medicamentos já existentes e no desenvolvimento de novos medicamentos.

O principal obstáculo do uso disseminado desta tecnologia é o alto custo do equipamento, a necessidade de exames muito longos, e a complexidade da interpretação. Tudo isso sugere que vai levar algum tempo para esse exame ser incorporado em larga escala no diagnóstico e tratamento da depressão. Mas, sem dúvida, é um passo muito importante na psiquiatria e abre a possibilidade de que correlatos físicos de outras doenças sejam descobertos.

Mais informações: Frontostriatal salience network expansion in individuals in depression. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-024-07805-2 2024

Uma das maiores dificuldades da psiquiatria é a ausência de indicadores físicos de doenças como a depressão ou a esquizofrenia. Agora, em um trabalho que vai alterar a compreensão, diagnóstico, e tratamento da depressão, um grupo de cientistas descobriu um aumento de quase duas vezes em um circuito do córtex cerebral em pessoas que sofrem de depressão.

A grande maioria das doenças se manifesta através de mudanças físicas no nosso corpo. Infecções geralmente provocam febre e alteram a quantidade dos glóbulos brancos. Doenças cardíacas podem ser detectadas com um estetoscópio, exames de laboratório ou exames de imagem.

Doenças psiquiátricas geralmente se manifestam como alterações no humor ou comportamento dos pacientes e os diagnósticos geralmente são feitos conversando com o paciente ou observando seu comportamento. Não existem testes de laboratório capazes de detectar ou medir correlatos físicos dessas doenças. Isso dificulta o diagnóstico e a compreensão das doenças.

Estudo é um passo muito importante na psiquiatria e abre a possibilidade de que correlatos físicos de outras doenças sejam descobertos. Foto: ARAMYAN/adobe.stock

Faz décadas que os cientistas examinam o cérebro de pessoas com doenças psiquiátricas e os comparam com pessoas saudáveis sem encontrar mudanças significativas. Isso ocorre porque existem muitas diferenças entre os cérebros de pessoas saudáveis, a atividade cerebral muda dependendo do que estamos fazendo, e os métodos para medir padrões de atividade cerebral demoraram para ser aperfeiçoados.

Nos últimos anos foram desenvolvidos métodos mais precisos capazes de mapear a anatomia de circuitos cerebrais e sua atividade. Um deles é a análise funcional de precisão usando ressonância magnética. Esse método exige que a pessoa seja submetida a longas e repetidas coletas de dados em um equipamento de ressonância magnética funcional. Até agora esse método havia sido usado para estudar o funcionamento do cérebro de pessoas normais. Agora os cientistas compararam o cérebro de pessoas normais com o de pessoas que sofrem de depressão.

No experimento principal foram comparadas 6 pessoas com depressão severa com 37 pessoas normais. As pessoas com depressão foram submetidas a 22 sessões ao longo de meses no tomógrafo, totalizando mais 10 horas de análise por pessoa. As pessoas normais foram submetidas ao mesmo tipo de análise.

Esse método permite determinar o tamanho e a localização de circuitos específicos no cérebro. Comparando pessoas normais com as que sofrem de depressão, os cientistas observaram, com uma simples inspeção visual, que uma área denominada de rede da saliência frontoestriatal, era quase duas vezes maior (73% em média) nas pessoas com depressão. Essa observação foi subsequentemente confirmada em outras 135 pessoas com depressão.

Essa rede de neurônios, os circuitos frontoestriatais, ocupam aproximadamente 3% da área do córtex cerebral e estão envolvidos no processamento de estímulos relacionados ao prazer. Eles integram, ao nível consciente, respostas do sistema autônomo com desejos e demandas ambientais.

Os cientistas também descobriram que o aumento dessa área ocorre tomando áreas dos circuitos neuronais que a rodeiam, que diminuem de tamanho. Além disso, esse aumento está presente ao longo da vida dessas pessoas independentemente de elas estarem ou não vivendo uma crise depressiva.

Outra descoberta importante é que esse aumento foi observado em crianças sem depressão, mas que desenvolveram depressão na adolescência ou quando jovens adultos.

Todos esses resultados demonstram que esse aumento é um correlato físico (pode ser a causa ou a consequência) da depressão. O aumento parece estar presente em pessoas que mais tarde vão apresentar depressão e está presente nas pessoas mesmo nos períodos em que a pessoa não está deprimida. Esse aumento pode ser usado para confirmar o diagnóstico, determinar o prognóstico e talvez prevenir episódios de depressão antes que eles ocorram. Isso sem falar no estudo das causas da depressão e na compreensão do mecanismo de ação dos medicamentos já existentes e no desenvolvimento de novos medicamentos.

O principal obstáculo do uso disseminado desta tecnologia é o alto custo do equipamento, a necessidade de exames muito longos, e a complexidade da interpretação. Tudo isso sugere que vai levar algum tempo para esse exame ser incorporado em larga escala no diagnóstico e tratamento da depressão. Mas, sem dúvida, é um passo muito importante na psiquiatria e abre a possibilidade de que correlatos físicos de outras doenças sejam descobertos.

Mais informações: Frontostriatal salience network expansion in individuals in depression. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-024-07805-2 2024

Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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