Opinião|Por que sapo-cururu virou o terror de um lagarto de 2 metros na Austrália


Os sapos se reproduzem rapidamente e foi impossível controlar sua população. Hoje eles são mais de 200 milhões que vêm se espalhando pelo norte do país

Por Fernando Reinach

No início do século 20, plantadores de cana-de-açúcar na Austrália estavam às voltas com uma infestação de insetos. Ao invés de utilizar inseticidas, decidiram introduzir nos canaviais um animal que devorasse os insetos. O escolhido foi um sapo brasileiro, chamado sapo-cururu, ou sapo-boi (Rhinella marina), que já havia sido levado para os canaviais do Havaí. É aquele da cantiga infantil:

Sapo cururu

Na beira do rio

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Quando o sapo canta, ô maninha

É porque tem frio

Em 1935, foram introduzidos no nordeste da Austrália 102 animais trazidos do Havaí. Esse sapo é grande, podendo chegar a 30 centímetros de comprimento e quase dois quilos de peso.

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É um carnívoro voraz, que se alimenta de insetos e outros pequenos animais. Ele possui glândulas nas costas que produzem um veneno poderoso, capaz de matar seus predadores. O resultado dessa importação é um desastre ecológico.

Os sapos se reproduzem rapidamente e foi impossível controlar sua população. Hoje eles são mais de 200 milhões que vêm se espalhando pelo norte do país. Como um tsunami, formam uma enorme onda que avança 30 quilômetros por ano tomando a região tropical da Austrália.

A principal vítima dessa propagação descontrolada do sapo-cururu são os lagartos nativos da Austrália, principalmente o Varanus panoptes, um lagarto que pode chegar a até dois metros de comprimento.

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Imagem mostra sapo, lagarto e área onde foi desenvolvida a pesquisa na Austrália  Foto: Conservation Letters

Esse carnívoro se alimenta de pequenas presas, como roedores, e é conhecido por ficar de pé, com a cabeça erguida, apoiado nas pernas traseiras e no rabo. Quando encontra um sapo-cururu, ele ataca e devora o sapo. O resultado é que o lagarto morre envenenado. E, assim, à medida que o sapo se espalha pela Austrália, os lagartos desaparecem.

Se parece ser impossível conter os sapos, como salvar os lagartos da extinção? Os cientistas decidiram que precisavam educar os lagartos a não comerem os sapos. Mas como?

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Estudando o efeito do veneno do sapo sobre os lagartos em cativeiro, os cientistas descobriram que pequenas doses de veneno faziam os lagartos passarem mal sem causar sua morte, e foi daí que veio a ideia de educar os lagartos dando para eles filhotes de sapos para comer. Após comer um filhote de sapo venenoso, os lagartos passavam mal e a partir daí evitavam os sapos.

Para verificar se essa observação feita com lagartos em cativeiro funcionaria na natureza, os cientistas escolheram sete riachos em um local em que a migração dos sapos chegaria em um ou dois anos.

Eles dividiram esses sete riachos em dois grupos. Em três, os cientistas soltaram aproximadamente 75.000 ovos ou filhotes minúsculos de sapos em 2018. Os outros quatro riachos serviram de controle.

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A ideia por trás do experimento era que os lagartos iriam comer os sapos filhotes, iriam passar mal, e quando os sapos adultos chegassem, os lagartos evitariam atacar os sapos. Já nas áreas controle, com a chegada dos sapos adultos, os lagartos morreriam envenenados.

Para acompanhar o desenrolar do experimento, câmeras fotográficas foram espalhadas pelos sete riachos para registrar e contar o número de lagartos. Dessa maneira os cientistas puderam acompanhar as variações no tamanho da população de lagartos.

Como predito, em março de 2019, um ano depois da soltura dos filhotes de sapos, os sapos adultos chegaram e invadiram os 7 riachos. Nos riachos controle a população de lagartos foi reduzida a zero em novembro de 2019, seis meses depois da chegada dos sapos.

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Já nos riachos onde os sapinhos pequenos haviam sido soltos, a população de lagartos se manteve constante apesar da chegada dos sapos. E ficou constante até 2021. Ou seja, os lagartos haviam aprendido a evitar os sapos.

Os sapinhos filhotes, chamados carinhosamente de sapinhos professores, haviam sacrificado suas vidas para ensinar os lagartos a evitarem sapos adultos.

Os cientistas continuam a monitorar os dois ambientes para tentar descobrir o que vai acontecer nos próximos anos quando eclodirem os ovos e nascerem novos filhotes dos lagartos.

Como lagartos adultos abandonam os ovos e não cuidam dos filhotes, é impossível que eles ensinem diretamente os filhotes a evitar os sapos. A esperança dos cientistas é que nesses ambientes já tomados pelos sapos adultos, passem a existir uma grande quantidade de ovos e filhotes de sapos. Se tudo der certo, esses sapinhos serão devorados pelos filhotes de lagartos e os ensinarão a evitar sapos adultos.

Se isso ocorrer, sapos e lagartos passarão a conviver pacificamente nos riachos australianos. E então, nos próximos anos, os biólogos terão como missão distribuir milhões de filhotes de sapos (sapinhos professores), criados em laboratório, nas áreas que serão invadidas pelo tsunami de sapos, educando os lagartos antes da chegada dos sapos. Se tiver sucesso, esse será o maior programa de educação de lagartos do planeta.

Mais informações: Teacher toads: Buffering apex predators from toxic invaders in a remote tropical landscape. Conservation Letters https://doi.org/10.1111/conl.13012 2024

No início do século 20, plantadores de cana-de-açúcar na Austrália estavam às voltas com uma infestação de insetos. Ao invés de utilizar inseticidas, decidiram introduzir nos canaviais um animal que devorasse os insetos. O escolhido foi um sapo brasileiro, chamado sapo-cururu, ou sapo-boi (Rhinella marina), que já havia sido levado para os canaviais do Havaí. É aquele da cantiga infantil:

Sapo cururu

Na beira do rio

Quando o sapo canta, ô maninha

É porque tem frio

Em 1935, foram introduzidos no nordeste da Austrália 102 animais trazidos do Havaí. Esse sapo é grande, podendo chegar a 30 centímetros de comprimento e quase dois quilos de peso.

É um carnívoro voraz, que se alimenta de insetos e outros pequenos animais. Ele possui glândulas nas costas que produzem um veneno poderoso, capaz de matar seus predadores. O resultado dessa importação é um desastre ecológico.

Os sapos se reproduzem rapidamente e foi impossível controlar sua população. Hoje eles são mais de 200 milhões que vêm se espalhando pelo norte do país. Como um tsunami, formam uma enorme onda que avança 30 quilômetros por ano tomando a região tropical da Austrália.

A principal vítima dessa propagação descontrolada do sapo-cururu são os lagartos nativos da Austrália, principalmente o Varanus panoptes, um lagarto que pode chegar a até dois metros de comprimento.

Imagem mostra sapo, lagarto e área onde foi desenvolvida a pesquisa na Austrália  Foto: Conservation Letters

Esse carnívoro se alimenta de pequenas presas, como roedores, e é conhecido por ficar de pé, com a cabeça erguida, apoiado nas pernas traseiras e no rabo. Quando encontra um sapo-cururu, ele ataca e devora o sapo. O resultado é que o lagarto morre envenenado. E, assim, à medida que o sapo se espalha pela Austrália, os lagartos desaparecem.

Se parece ser impossível conter os sapos, como salvar os lagartos da extinção? Os cientistas decidiram que precisavam educar os lagartos a não comerem os sapos. Mas como?

Estudando o efeito do veneno do sapo sobre os lagartos em cativeiro, os cientistas descobriram que pequenas doses de veneno faziam os lagartos passarem mal sem causar sua morte, e foi daí que veio a ideia de educar os lagartos dando para eles filhotes de sapos para comer. Após comer um filhote de sapo venenoso, os lagartos passavam mal e a partir daí evitavam os sapos.

Para verificar se essa observação feita com lagartos em cativeiro funcionaria na natureza, os cientistas escolheram sete riachos em um local em que a migração dos sapos chegaria em um ou dois anos.

Eles dividiram esses sete riachos em dois grupos. Em três, os cientistas soltaram aproximadamente 75.000 ovos ou filhotes minúsculos de sapos em 2018. Os outros quatro riachos serviram de controle.

A ideia por trás do experimento era que os lagartos iriam comer os sapos filhotes, iriam passar mal, e quando os sapos adultos chegassem, os lagartos evitariam atacar os sapos. Já nas áreas controle, com a chegada dos sapos adultos, os lagartos morreriam envenenados.

Para acompanhar o desenrolar do experimento, câmeras fotográficas foram espalhadas pelos sete riachos para registrar e contar o número de lagartos. Dessa maneira os cientistas puderam acompanhar as variações no tamanho da população de lagartos.

Como predito, em março de 2019, um ano depois da soltura dos filhotes de sapos, os sapos adultos chegaram e invadiram os 7 riachos. Nos riachos controle a população de lagartos foi reduzida a zero em novembro de 2019, seis meses depois da chegada dos sapos.

Já nos riachos onde os sapinhos pequenos haviam sido soltos, a população de lagartos se manteve constante apesar da chegada dos sapos. E ficou constante até 2021. Ou seja, os lagartos haviam aprendido a evitar os sapos.

Os sapinhos filhotes, chamados carinhosamente de sapinhos professores, haviam sacrificado suas vidas para ensinar os lagartos a evitarem sapos adultos.

Os cientistas continuam a monitorar os dois ambientes para tentar descobrir o que vai acontecer nos próximos anos quando eclodirem os ovos e nascerem novos filhotes dos lagartos.

Como lagartos adultos abandonam os ovos e não cuidam dos filhotes, é impossível que eles ensinem diretamente os filhotes a evitar os sapos. A esperança dos cientistas é que nesses ambientes já tomados pelos sapos adultos, passem a existir uma grande quantidade de ovos e filhotes de sapos. Se tudo der certo, esses sapinhos serão devorados pelos filhotes de lagartos e os ensinarão a evitar sapos adultos.

Se isso ocorrer, sapos e lagartos passarão a conviver pacificamente nos riachos australianos. E então, nos próximos anos, os biólogos terão como missão distribuir milhões de filhotes de sapos (sapinhos professores), criados em laboratório, nas áreas que serão invadidas pelo tsunami de sapos, educando os lagartos antes da chegada dos sapos. Se tiver sucesso, esse será o maior programa de educação de lagartos do planeta.

Mais informações: Teacher toads: Buffering apex predators from toxic invaders in a remote tropical landscape. Conservation Letters https://doi.org/10.1111/conl.13012 2024

No início do século 20, plantadores de cana-de-açúcar na Austrália estavam às voltas com uma infestação de insetos. Ao invés de utilizar inseticidas, decidiram introduzir nos canaviais um animal que devorasse os insetos. O escolhido foi um sapo brasileiro, chamado sapo-cururu, ou sapo-boi (Rhinella marina), que já havia sido levado para os canaviais do Havaí. É aquele da cantiga infantil:

Sapo cururu

Na beira do rio

Quando o sapo canta, ô maninha

É porque tem frio

Em 1935, foram introduzidos no nordeste da Austrália 102 animais trazidos do Havaí. Esse sapo é grande, podendo chegar a 30 centímetros de comprimento e quase dois quilos de peso.

É um carnívoro voraz, que se alimenta de insetos e outros pequenos animais. Ele possui glândulas nas costas que produzem um veneno poderoso, capaz de matar seus predadores. O resultado dessa importação é um desastre ecológico.

Os sapos se reproduzem rapidamente e foi impossível controlar sua população. Hoje eles são mais de 200 milhões que vêm se espalhando pelo norte do país. Como um tsunami, formam uma enorme onda que avança 30 quilômetros por ano tomando a região tropical da Austrália.

A principal vítima dessa propagação descontrolada do sapo-cururu são os lagartos nativos da Austrália, principalmente o Varanus panoptes, um lagarto que pode chegar a até dois metros de comprimento.

Imagem mostra sapo, lagarto e área onde foi desenvolvida a pesquisa na Austrália  Foto: Conservation Letters

Esse carnívoro se alimenta de pequenas presas, como roedores, e é conhecido por ficar de pé, com a cabeça erguida, apoiado nas pernas traseiras e no rabo. Quando encontra um sapo-cururu, ele ataca e devora o sapo. O resultado é que o lagarto morre envenenado. E, assim, à medida que o sapo se espalha pela Austrália, os lagartos desaparecem.

Se parece ser impossível conter os sapos, como salvar os lagartos da extinção? Os cientistas decidiram que precisavam educar os lagartos a não comerem os sapos. Mas como?

Estudando o efeito do veneno do sapo sobre os lagartos em cativeiro, os cientistas descobriram que pequenas doses de veneno faziam os lagartos passarem mal sem causar sua morte, e foi daí que veio a ideia de educar os lagartos dando para eles filhotes de sapos para comer. Após comer um filhote de sapo venenoso, os lagartos passavam mal e a partir daí evitavam os sapos.

Para verificar se essa observação feita com lagartos em cativeiro funcionaria na natureza, os cientistas escolheram sete riachos em um local em que a migração dos sapos chegaria em um ou dois anos.

Eles dividiram esses sete riachos em dois grupos. Em três, os cientistas soltaram aproximadamente 75.000 ovos ou filhotes minúsculos de sapos em 2018. Os outros quatro riachos serviram de controle.

A ideia por trás do experimento era que os lagartos iriam comer os sapos filhotes, iriam passar mal, e quando os sapos adultos chegassem, os lagartos evitariam atacar os sapos. Já nas áreas controle, com a chegada dos sapos adultos, os lagartos morreriam envenenados.

Para acompanhar o desenrolar do experimento, câmeras fotográficas foram espalhadas pelos sete riachos para registrar e contar o número de lagartos. Dessa maneira os cientistas puderam acompanhar as variações no tamanho da população de lagartos.

Como predito, em março de 2019, um ano depois da soltura dos filhotes de sapos, os sapos adultos chegaram e invadiram os 7 riachos. Nos riachos controle a população de lagartos foi reduzida a zero em novembro de 2019, seis meses depois da chegada dos sapos.

Já nos riachos onde os sapinhos pequenos haviam sido soltos, a população de lagartos se manteve constante apesar da chegada dos sapos. E ficou constante até 2021. Ou seja, os lagartos haviam aprendido a evitar os sapos.

Os sapinhos filhotes, chamados carinhosamente de sapinhos professores, haviam sacrificado suas vidas para ensinar os lagartos a evitarem sapos adultos.

Os cientistas continuam a monitorar os dois ambientes para tentar descobrir o que vai acontecer nos próximos anos quando eclodirem os ovos e nascerem novos filhotes dos lagartos.

Como lagartos adultos abandonam os ovos e não cuidam dos filhotes, é impossível que eles ensinem diretamente os filhotes a evitar os sapos. A esperança dos cientistas é que nesses ambientes já tomados pelos sapos adultos, passem a existir uma grande quantidade de ovos e filhotes de sapos. Se tudo der certo, esses sapinhos serão devorados pelos filhotes de lagartos e os ensinarão a evitar sapos adultos.

Se isso ocorrer, sapos e lagartos passarão a conviver pacificamente nos riachos australianos. E então, nos próximos anos, os biólogos terão como missão distribuir milhões de filhotes de sapos (sapinhos professores), criados em laboratório, nas áreas que serão invadidas pelo tsunami de sapos, educando os lagartos antes da chegada dos sapos. Se tiver sucesso, esse será o maior programa de educação de lagartos do planeta.

Mais informações: Teacher toads: Buffering apex predators from toxic invaders in a remote tropical landscape. Conservation Letters https://doi.org/10.1111/conl.13012 2024

No início do século 20, plantadores de cana-de-açúcar na Austrália estavam às voltas com uma infestação de insetos. Ao invés de utilizar inseticidas, decidiram introduzir nos canaviais um animal que devorasse os insetos. O escolhido foi um sapo brasileiro, chamado sapo-cururu, ou sapo-boi (Rhinella marina), que já havia sido levado para os canaviais do Havaí. É aquele da cantiga infantil:

Sapo cururu

Na beira do rio

Quando o sapo canta, ô maninha

É porque tem frio

Em 1935, foram introduzidos no nordeste da Austrália 102 animais trazidos do Havaí. Esse sapo é grande, podendo chegar a 30 centímetros de comprimento e quase dois quilos de peso.

É um carnívoro voraz, que se alimenta de insetos e outros pequenos animais. Ele possui glândulas nas costas que produzem um veneno poderoso, capaz de matar seus predadores. O resultado dessa importação é um desastre ecológico.

Os sapos se reproduzem rapidamente e foi impossível controlar sua população. Hoje eles são mais de 200 milhões que vêm se espalhando pelo norte do país. Como um tsunami, formam uma enorme onda que avança 30 quilômetros por ano tomando a região tropical da Austrália.

A principal vítima dessa propagação descontrolada do sapo-cururu são os lagartos nativos da Austrália, principalmente o Varanus panoptes, um lagarto que pode chegar a até dois metros de comprimento.

Imagem mostra sapo, lagarto e área onde foi desenvolvida a pesquisa na Austrália  Foto: Conservation Letters

Esse carnívoro se alimenta de pequenas presas, como roedores, e é conhecido por ficar de pé, com a cabeça erguida, apoiado nas pernas traseiras e no rabo. Quando encontra um sapo-cururu, ele ataca e devora o sapo. O resultado é que o lagarto morre envenenado. E, assim, à medida que o sapo se espalha pela Austrália, os lagartos desaparecem.

Se parece ser impossível conter os sapos, como salvar os lagartos da extinção? Os cientistas decidiram que precisavam educar os lagartos a não comerem os sapos. Mas como?

Estudando o efeito do veneno do sapo sobre os lagartos em cativeiro, os cientistas descobriram que pequenas doses de veneno faziam os lagartos passarem mal sem causar sua morte, e foi daí que veio a ideia de educar os lagartos dando para eles filhotes de sapos para comer. Após comer um filhote de sapo venenoso, os lagartos passavam mal e a partir daí evitavam os sapos.

Para verificar se essa observação feita com lagartos em cativeiro funcionaria na natureza, os cientistas escolheram sete riachos em um local em que a migração dos sapos chegaria em um ou dois anos.

Eles dividiram esses sete riachos em dois grupos. Em três, os cientistas soltaram aproximadamente 75.000 ovos ou filhotes minúsculos de sapos em 2018. Os outros quatro riachos serviram de controle.

A ideia por trás do experimento era que os lagartos iriam comer os sapos filhotes, iriam passar mal, e quando os sapos adultos chegassem, os lagartos evitariam atacar os sapos. Já nas áreas controle, com a chegada dos sapos adultos, os lagartos morreriam envenenados.

Para acompanhar o desenrolar do experimento, câmeras fotográficas foram espalhadas pelos sete riachos para registrar e contar o número de lagartos. Dessa maneira os cientistas puderam acompanhar as variações no tamanho da população de lagartos.

Como predito, em março de 2019, um ano depois da soltura dos filhotes de sapos, os sapos adultos chegaram e invadiram os 7 riachos. Nos riachos controle a população de lagartos foi reduzida a zero em novembro de 2019, seis meses depois da chegada dos sapos.

Já nos riachos onde os sapinhos pequenos haviam sido soltos, a população de lagartos se manteve constante apesar da chegada dos sapos. E ficou constante até 2021. Ou seja, os lagartos haviam aprendido a evitar os sapos.

Os sapinhos filhotes, chamados carinhosamente de sapinhos professores, haviam sacrificado suas vidas para ensinar os lagartos a evitarem sapos adultos.

Os cientistas continuam a monitorar os dois ambientes para tentar descobrir o que vai acontecer nos próximos anos quando eclodirem os ovos e nascerem novos filhotes dos lagartos.

Como lagartos adultos abandonam os ovos e não cuidam dos filhotes, é impossível que eles ensinem diretamente os filhotes a evitar os sapos. A esperança dos cientistas é que nesses ambientes já tomados pelos sapos adultos, passem a existir uma grande quantidade de ovos e filhotes de sapos. Se tudo der certo, esses sapinhos serão devorados pelos filhotes de lagartos e os ensinarão a evitar sapos adultos.

Se isso ocorrer, sapos e lagartos passarão a conviver pacificamente nos riachos australianos. E então, nos próximos anos, os biólogos terão como missão distribuir milhões de filhotes de sapos (sapinhos professores), criados em laboratório, nas áreas que serão invadidas pelo tsunami de sapos, educando os lagartos antes da chegada dos sapos. Se tiver sucesso, esse será o maior programa de educação de lagartos do planeta.

Mais informações: Teacher toads: Buffering apex predators from toxic invaders in a remote tropical landscape. Conservation Letters https://doi.org/10.1111/conl.13012 2024

No início do século 20, plantadores de cana-de-açúcar na Austrália estavam às voltas com uma infestação de insetos. Ao invés de utilizar inseticidas, decidiram introduzir nos canaviais um animal que devorasse os insetos. O escolhido foi um sapo brasileiro, chamado sapo-cururu, ou sapo-boi (Rhinella marina), que já havia sido levado para os canaviais do Havaí. É aquele da cantiga infantil:

Sapo cururu

Na beira do rio

Quando o sapo canta, ô maninha

É porque tem frio

Em 1935, foram introduzidos no nordeste da Austrália 102 animais trazidos do Havaí. Esse sapo é grande, podendo chegar a 30 centímetros de comprimento e quase dois quilos de peso.

É um carnívoro voraz, que se alimenta de insetos e outros pequenos animais. Ele possui glândulas nas costas que produzem um veneno poderoso, capaz de matar seus predadores. O resultado dessa importação é um desastre ecológico.

Os sapos se reproduzem rapidamente e foi impossível controlar sua população. Hoje eles são mais de 200 milhões que vêm se espalhando pelo norte do país. Como um tsunami, formam uma enorme onda que avança 30 quilômetros por ano tomando a região tropical da Austrália.

A principal vítima dessa propagação descontrolada do sapo-cururu são os lagartos nativos da Austrália, principalmente o Varanus panoptes, um lagarto que pode chegar a até dois metros de comprimento.

Imagem mostra sapo, lagarto e área onde foi desenvolvida a pesquisa na Austrália  Foto: Conservation Letters

Esse carnívoro se alimenta de pequenas presas, como roedores, e é conhecido por ficar de pé, com a cabeça erguida, apoiado nas pernas traseiras e no rabo. Quando encontra um sapo-cururu, ele ataca e devora o sapo. O resultado é que o lagarto morre envenenado. E, assim, à medida que o sapo se espalha pela Austrália, os lagartos desaparecem.

Se parece ser impossível conter os sapos, como salvar os lagartos da extinção? Os cientistas decidiram que precisavam educar os lagartos a não comerem os sapos. Mas como?

Estudando o efeito do veneno do sapo sobre os lagartos em cativeiro, os cientistas descobriram que pequenas doses de veneno faziam os lagartos passarem mal sem causar sua morte, e foi daí que veio a ideia de educar os lagartos dando para eles filhotes de sapos para comer. Após comer um filhote de sapo venenoso, os lagartos passavam mal e a partir daí evitavam os sapos.

Para verificar se essa observação feita com lagartos em cativeiro funcionaria na natureza, os cientistas escolheram sete riachos em um local em que a migração dos sapos chegaria em um ou dois anos.

Eles dividiram esses sete riachos em dois grupos. Em três, os cientistas soltaram aproximadamente 75.000 ovos ou filhotes minúsculos de sapos em 2018. Os outros quatro riachos serviram de controle.

A ideia por trás do experimento era que os lagartos iriam comer os sapos filhotes, iriam passar mal, e quando os sapos adultos chegassem, os lagartos evitariam atacar os sapos. Já nas áreas controle, com a chegada dos sapos adultos, os lagartos morreriam envenenados.

Para acompanhar o desenrolar do experimento, câmeras fotográficas foram espalhadas pelos sete riachos para registrar e contar o número de lagartos. Dessa maneira os cientistas puderam acompanhar as variações no tamanho da população de lagartos.

Como predito, em março de 2019, um ano depois da soltura dos filhotes de sapos, os sapos adultos chegaram e invadiram os 7 riachos. Nos riachos controle a população de lagartos foi reduzida a zero em novembro de 2019, seis meses depois da chegada dos sapos.

Já nos riachos onde os sapinhos pequenos haviam sido soltos, a população de lagartos se manteve constante apesar da chegada dos sapos. E ficou constante até 2021. Ou seja, os lagartos haviam aprendido a evitar os sapos.

Os sapinhos filhotes, chamados carinhosamente de sapinhos professores, haviam sacrificado suas vidas para ensinar os lagartos a evitarem sapos adultos.

Os cientistas continuam a monitorar os dois ambientes para tentar descobrir o que vai acontecer nos próximos anos quando eclodirem os ovos e nascerem novos filhotes dos lagartos.

Como lagartos adultos abandonam os ovos e não cuidam dos filhotes, é impossível que eles ensinem diretamente os filhotes a evitar os sapos. A esperança dos cientistas é que nesses ambientes já tomados pelos sapos adultos, passem a existir uma grande quantidade de ovos e filhotes de sapos. Se tudo der certo, esses sapinhos serão devorados pelos filhotes de lagartos e os ensinarão a evitar sapos adultos.

Se isso ocorrer, sapos e lagartos passarão a conviver pacificamente nos riachos australianos. E então, nos próximos anos, os biólogos terão como missão distribuir milhões de filhotes de sapos (sapinhos professores), criados em laboratório, nas áreas que serão invadidas pelo tsunami de sapos, educando os lagartos antes da chegada dos sapos. Se tiver sucesso, esse será o maior programa de educação de lagartos do planeta.

Mais informações: Teacher toads: Buffering apex predators from toxic invaders in a remote tropical landscape. Conservation Letters https://doi.org/10.1111/conl.13012 2024

Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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