Opinião|Quanto calor pode matar um ser humano?


Estudos recentes demonstram que o limite de temperatura e umidade que suportamos é muito menor do que imaginávamos

Por Fernando Reinach

Os seres humanos morrem de calor, literalmente. Nosso corpo tem um sistema sofisticado de termorregulação capaz de manter nossa temperatura interna próxima de 37°C. Mas, basta a temperatura interna do nosso corpo subir por seis horas para 43°C e a morte é inevitável.

O incrível é quão pouco se sabe sobre a temperatura, a umidade e a insolação necessárias para nos matar. Essa questão ficou importante por causa das ondas de calor que têm assolado o planeta devido às mudanças climáticas. O calor desta semana, em pleno inverno paulista, é um exemplo. Na Europa, morrem 45 mil pessoas por ano de calor. Nos próximos anos, esse número pode chegar a 150 mil.

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A novidade é que estudos recentes, onde seres humanos são colocados em salas com temperatura, luminosidade e umidade controladas, e simulações utilizando esses dados, demonstraram que o limite de temperatura e umidade que suportamos é muito menor do que imaginávamos.

Intuitivamente imaginamos que podemos suportar um calor de 37°C, a temperatura normal do nosso corpo, mas isso não é verdade. Nosso metabolismo, ao queimar alimentos para nos manter vivos, gera calor e esse calor precisa ser dissipado, retirado do corpo para que ele não sobreaqueça. A quantidade de calor gerado pelo corpo também depende da quantidade de exercício que fazemos.

Distribuição de água gratuita durante onda de calor em São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão - 10/11/2023
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O único mecanismo que possuímos para dissipar o calor é a produção de suor. Esse líquido, que forma uma camada sobre a pele, ao evaporar retira calor do corpo diminuindo sua temperatura. Mas, a eficiência da evaporação depende da umidade do ar e diminui rapidamente com o aumento da umidade. Assim, quanto maior a umidade, menor nossa resistência ao calor. A sudorese também diminui à medida que envelhecemos.

No estudo recém-publicado, todas essas variáveis (temperatura, umidade, quantidade de exercício) foram estudadas em quatro grupos de pessoas. Metade das pessoas estava dentro de casa ou na sombra, a outra metade exposta ao Sol. Cada um desses grupos foi dividido em dois subgrupos: jovens (18 a 40 anos) e idosos (mais de 65). Cada um dos quatro grupos foi submetido a temperaturas que variavam de 25 a 60°C e umidade de 0 a 100%.

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Para cada uma dessas combinações foi determinado o ponto em que o corpo sobreaquece provocando a morte em 6 horas e o intervalo em que a pessoa pode sobreviver se ficar totalmente imóvel. Em todos os casos as pessoas eram saudáveis e estavam plenamente hidratadas.

Vamos ver o que acontece nos casos extremos: jovens na sombra e idosos no Sol, todos sem fazer exercício. Uma pessoa jovem, na sombra, quando a umidade do ar é zero consegue sobreviver até uma temperatura máxima de 55°C. É aproximadamente o ambiente no deserto do Saara. Mas, à medida que a umidade aumenta, a temperatura máxima que o jovem aguenta cai rapidamente. Com 50% de umidade, ele aguenta vivo até 41°C e se a umidade é de 100% a temperatura máxima de sobrevivência cai para 35°C. Isso pela impossibilidade de a sudorese retirar o calor gerado pelo corpo.

No caso dos idosos expostos ao Sol, a situação é muito pior. Com umidade zero, eles sobrevivem a uma temperatura máxima de 42°C e esse valor cai para 31°C quando a umidade chega a 100%. São esses idosos que morrem todos os anos durante as ondas de calor na Europa. Os outros dados podem ser consultados no trabalho original.

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Esse trabalho demonstra que nossa capacidade de sobrevivência está vários graus Celsius abaixo do que se acreditava. Essas temperaturas estão muito acima das temperaturas atuais, mas o que realmente preocupa os cientistas são as ondas intensas de calor que têm ocorrido principalmente em grandes centros urbanos pobres (sem ar-condicionado), pois a morte por hipertermia é rápida.

No final do estudo os cientistas comparam os dados obtidos no trabalho com as temperaturas esperadas nas ondas de calor que virão nos próximos anos. Eles estimam que dezenas de milhões de pessoas podem passar a morrer todos os anos nas áreas mais afetadas pelas ondas de calor, sendo as primeiras vítimas fatais do aquecimento global. E pior, algumas dessas áreas, quentes e úmidas, terão de ser abandonadas pela espécie humana devido às ondas de calor.

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Mais informações: A physiological approach for assessing human survivability and liveability to heat in a changing climate. Nature Comm. https://doi.org/10.1038/s41467-023-43121-5 2024

Os seres humanos morrem de calor, literalmente. Nosso corpo tem um sistema sofisticado de termorregulação capaz de manter nossa temperatura interna próxima de 37°C. Mas, basta a temperatura interna do nosso corpo subir por seis horas para 43°C e a morte é inevitável.

O incrível é quão pouco se sabe sobre a temperatura, a umidade e a insolação necessárias para nos matar. Essa questão ficou importante por causa das ondas de calor que têm assolado o planeta devido às mudanças climáticas. O calor desta semana, em pleno inverno paulista, é um exemplo. Na Europa, morrem 45 mil pessoas por ano de calor. Nos próximos anos, esse número pode chegar a 150 mil.

A novidade é que estudos recentes, onde seres humanos são colocados em salas com temperatura, luminosidade e umidade controladas, e simulações utilizando esses dados, demonstraram que o limite de temperatura e umidade que suportamos é muito menor do que imaginávamos.

Intuitivamente imaginamos que podemos suportar um calor de 37°C, a temperatura normal do nosso corpo, mas isso não é verdade. Nosso metabolismo, ao queimar alimentos para nos manter vivos, gera calor e esse calor precisa ser dissipado, retirado do corpo para que ele não sobreaqueça. A quantidade de calor gerado pelo corpo também depende da quantidade de exercício que fazemos.

Distribuição de água gratuita durante onda de calor em São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão - 10/11/2023

O único mecanismo que possuímos para dissipar o calor é a produção de suor. Esse líquido, que forma uma camada sobre a pele, ao evaporar retira calor do corpo diminuindo sua temperatura. Mas, a eficiência da evaporação depende da umidade do ar e diminui rapidamente com o aumento da umidade. Assim, quanto maior a umidade, menor nossa resistência ao calor. A sudorese também diminui à medida que envelhecemos.

No estudo recém-publicado, todas essas variáveis (temperatura, umidade, quantidade de exercício) foram estudadas em quatro grupos de pessoas. Metade das pessoas estava dentro de casa ou na sombra, a outra metade exposta ao Sol. Cada um desses grupos foi dividido em dois subgrupos: jovens (18 a 40 anos) e idosos (mais de 65). Cada um dos quatro grupos foi submetido a temperaturas que variavam de 25 a 60°C e umidade de 0 a 100%.

Para cada uma dessas combinações foi determinado o ponto em que o corpo sobreaquece provocando a morte em 6 horas e o intervalo em que a pessoa pode sobreviver se ficar totalmente imóvel. Em todos os casos as pessoas eram saudáveis e estavam plenamente hidratadas.

Vamos ver o que acontece nos casos extremos: jovens na sombra e idosos no Sol, todos sem fazer exercício. Uma pessoa jovem, na sombra, quando a umidade do ar é zero consegue sobreviver até uma temperatura máxima de 55°C. É aproximadamente o ambiente no deserto do Saara. Mas, à medida que a umidade aumenta, a temperatura máxima que o jovem aguenta cai rapidamente. Com 50% de umidade, ele aguenta vivo até 41°C e se a umidade é de 100% a temperatura máxima de sobrevivência cai para 35°C. Isso pela impossibilidade de a sudorese retirar o calor gerado pelo corpo.

No caso dos idosos expostos ao Sol, a situação é muito pior. Com umidade zero, eles sobrevivem a uma temperatura máxima de 42°C e esse valor cai para 31°C quando a umidade chega a 100%. São esses idosos que morrem todos os anos durante as ondas de calor na Europa. Os outros dados podem ser consultados no trabalho original.

Esse trabalho demonstra que nossa capacidade de sobrevivência está vários graus Celsius abaixo do que se acreditava. Essas temperaturas estão muito acima das temperaturas atuais, mas o que realmente preocupa os cientistas são as ondas intensas de calor que têm ocorrido principalmente em grandes centros urbanos pobres (sem ar-condicionado), pois a morte por hipertermia é rápida.

No final do estudo os cientistas comparam os dados obtidos no trabalho com as temperaturas esperadas nas ondas de calor que virão nos próximos anos. Eles estimam que dezenas de milhões de pessoas podem passar a morrer todos os anos nas áreas mais afetadas pelas ondas de calor, sendo as primeiras vítimas fatais do aquecimento global. E pior, algumas dessas áreas, quentes e úmidas, terão de ser abandonadas pela espécie humana devido às ondas de calor.

Mais informações: A physiological approach for assessing human survivability and liveability to heat in a changing climate. Nature Comm. https://doi.org/10.1038/s41467-023-43121-5 2024

Os seres humanos morrem de calor, literalmente. Nosso corpo tem um sistema sofisticado de termorregulação capaz de manter nossa temperatura interna próxima de 37°C. Mas, basta a temperatura interna do nosso corpo subir por seis horas para 43°C e a morte é inevitável.

O incrível é quão pouco se sabe sobre a temperatura, a umidade e a insolação necessárias para nos matar. Essa questão ficou importante por causa das ondas de calor que têm assolado o planeta devido às mudanças climáticas. O calor desta semana, em pleno inverno paulista, é um exemplo. Na Europa, morrem 45 mil pessoas por ano de calor. Nos próximos anos, esse número pode chegar a 150 mil.

A novidade é que estudos recentes, onde seres humanos são colocados em salas com temperatura, luminosidade e umidade controladas, e simulações utilizando esses dados, demonstraram que o limite de temperatura e umidade que suportamos é muito menor do que imaginávamos.

Intuitivamente imaginamos que podemos suportar um calor de 37°C, a temperatura normal do nosso corpo, mas isso não é verdade. Nosso metabolismo, ao queimar alimentos para nos manter vivos, gera calor e esse calor precisa ser dissipado, retirado do corpo para que ele não sobreaqueça. A quantidade de calor gerado pelo corpo também depende da quantidade de exercício que fazemos.

Distribuição de água gratuita durante onda de calor em São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão - 10/11/2023

O único mecanismo que possuímos para dissipar o calor é a produção de suor. Esse líquido, que forma uma camada sobre a pele, ao evaporar retira calor do corpo diminuindo sua temperatura. Mas, a eficiência da evaporação depende da umidade do ar e diminui rapidamente com o aumento da umidade. Assim, quanto maior a umidade, menor nossa resistência ao calor. A sudorese também diminui à medida que envelhecemos.

No estudo recém-publicado, todas essas variáveis (temperatura, umidade, quantidade de exercício) foram estudadas em quatro grupos de pessoas. Metade das pessoas estava dentro de casa ou na sombra, a outra metade exposta ao Sol. Cada um desses grupos foi dividido em dois subgrupos: jovens (18 a 40 anos) e idosos (mais de 65). Cada um dos quatro grupos foi submetido a temperaturas que variavam de 25 a 60°C e umidade de 0 a 100%.

Para cada uma dessas combinações foi determinado o ponto em que o corpo sobreaquece provocando a morte em 6 horas e o intervalo em que a pessoa pode sobreviver se ficar totalmente imóvel. Em todos os casos as pessoas eram saudáveis e estavam plenamente hidratadas.

Vamos ver o que acontece nos casos extremos: jovens na sombra e idosos no Sol, todos sem fazer exercício. Uma pessoa jovem, na sombra, quando a umidade do ar é zero consegue sobreviver até uma temperatura máxima de 55°C. É aproximadamente o ambiente no deserto do Saara. Mas, à medida que a umidade aumenta, a temperatura máxima que o jovem aguenta cai rapidamente. Com 50% de umidade, ele aguenta vivo até 41°C e se a umidade é de 100% a temperatura máxima de sobrevivência cai para 35°C. Isso pela impossibilidade de a sudorese retirar o calor gerado pelo corpo.

No caso dos idosos expostos ao Sol, a situação é muito pior. Com umidade zero, eles sobrevivem a uma temperatura máxima de 42°C e esse valor cai para 31°C quando a umidade chega a 100%. São esses idosos que morrem todos os anos durante as ondas de calor na Europa. Os outros dados podem ser consultados no trabalho original.

Esse trabalho demonstra que nossa capacidade de sobrevivência está vários graus Celsius abaixo do que se acreditava. Essas temperaturas estão muito acima das temperaturas atuais, mas o que realmente preocupa os cientistas são as ondas intensas de calor que têm ocorrido principalmente em grandes centros urbanos pobres (sem ar-condicionado), pois a morte por hipertermia é rápida.

No final do estudo os cientistas comparam os dados obtidos no trabalho com as temperaturas esperadas nas ondas de calor que virão nos próximos anos. Eles estimam que dezenas de milhões de pessoas podem passar a morrer todos os anos nas áreas mais afetadas pelas ondas de calor, sendo as primeiras vítimas fatais do aquecimento global. E pior, algumas dessas áreas, quentes e úmidas, terão de ser abandonadas pela espécie humana devido às ondas de calor.

Mais informações: A physiological approach for assessing human survivability and liveability to heat in a changing climate. Nature Comm. https://doi.org/10.1038/s41467-023-43121-5 2024

Os seres humanos morrem de calor, literalmente. Nosso corpo tem um sistema sofisticado de termorregulação capaz de manter nossa temperatura interna próxima de 37°C. Mas, basta a temperatura interna do nosso corpo subir por seis horas para 43°C e a morte é inevitável.

O incrível é quão pouco se sabe sobre a temperatura, a umidade e a insolação necessárias para nos matar. Essa questão ficou importante por causa das ondas de calor que têm assolado o planeta devido às mudanças climáticas. O calor desta semana, em pleno inverno paulista, é um exemplo. Na Europa, morrem 45 mil pessoas por ano de calor. Nos próximos anos, esse número pode chegar a 150 mil.

A novidade é que estudos recentes, onde seres humanos são colocados em salas com temperatura, luminosidade e umidade controladas, e simulações utilizando esses dados, demonstraram que o limite de temperatura e umidade que suportamos é muito menor do que imaginávamos.

Intuitivamente imaginamos que podemos suportar um calor de 37°C, a temperatura normal do nosso corpo, mas isso não é verdade. Nosso metabolismo, ao queimar alimentos para nos manter vivos, gera calor e esse calor precisa ser dissipado, retirado do corpo para que ele não sobreaqueça. A quantidade de calor gerado pelo corpo também depende da quantidade de exercício que fazemos.

Distribuição de água gratuita durante onda de calor em São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão - 10/11/2023

O único mecanismo que possuímos para dissipar o calor é a produção de suor. Esse líquido, que forma uma camada sobre a pele, ao evaporar retira calor do corpo diminuindo sua temperatura. Mas, a eficiência da evaporação depende da umidade do ar e diminui rapidamente com o aumento da umidade. Assim, quanto maior a umidade, menor nossa resistência ao calor. A sudorese também diminui à medida que envelhecemos.

No estudo recém-publicado, todas essas variáveis (temperatura, umidade, quantidade de exercício) foram estudadas em quatro grupos de pessoas. Metade das pessoas estava dentro de casa ou na sombra, a outra metade exposta ao Sol. Cada um desses grupos foi dividido em dois subgrupos: jovens (18 a 40 anos) e idosos (mais de 65). Cada um dos quatro grupos foi submetido a temperaturas que variavam de 25 a 60°C e umidade de 0 a 100%.

Para cada uma dessas combinações foi determinado o ponto em que o corpo sobreaquece provocando a morte em 6 horas e o intervalo em que a pessoa pode sobreviver se ficar totalmente imóvel. Em todos os casos as pessoas eram saudáveis e estavam plenamente hidratadas.

Vamos ver o que acontece nos casos extremos: jovens na sombra e idosos no Sol, todos sem fazer exercício. Uma pessoa jovem, na sombra, quando a umidade do ar é zero consegue sobreviver até uma temperatura máxima de 55°C. É aproximadamente o ambiente no deserto do Saara. Mas, à medida que a umidade aumenta, a temperatura máxima que o jovem aguenta cai rapidamente. Com 50% de umidade, ele aguenta vivo até 41°C e se a umidade é de 100% a temperatura máxima de sobrevivência cai para 35°C. Isso pela impossibilidade de a sudorese retirar o calor gerado pelo corpo.

No caso dos idosos expostos ao Sol, a situação é muito pior. Com umidade zero, eles sobrevivem a uma temperatura máxima de 42°C e esse valor cai para 31°C quando a umidade chega a 100%. São esses idosos que morrem todos os anos durante as ondas de calor na Europa. Os outros dados podem ser consultados no trabalho original.

Esse trabalho demonstra que nossa capacidade de sobrevivência está vários graus Celsius abaixo do que se acreditava. Essas temperaturas estão muito acima das temperaturas atuais, mas o que realmente preocupa os cientistas são as ondas intensas de calor que têm ocorrido principalmente em grandes centros urbanos pobres (sem ar-condicionado), pois a morte por hipertermia é rápida.

No final do estudo os cientistas comparam os dados obtidos no trabalho com as temperaturas esperadas nas ondas de calor que virão nos próximos anos. Eles estimam que dezenas de milhões de pessoas podem passar a morrer todos os anos nas áreas mais afetadas pelas ondas de calor, sendo as primeiras vítimas fatais do aquecimento global. E pior, algumas dessas áreas, quentes e úmidas, terão de ser abandonadas pela espécie humana devido às ondas de calor.

Mais informações: A physiological approach for assessing human survivability and liveability to heat in a changing climate. Nature Comm. https://doi.org/10.1038/s41467-023-43121-5 2024

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Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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