Imagine só!

Mosquitos transgênicos poderiam combater dengue e zika em São Paulo


Tecnologia que está sendo testada em Piracicaba poderia servir também para combater infestações do Aedes aegypti e reduzir o risco de epidemias na capital paulista, segundo especialistas. Resultados ainda são preliminares.

Por Herton Escobar
Pupas de mosquito transgênico na fábrica da Oxitec em Campinas. Foto: Alexandre Carvalho/Oxitec

O uso de mosquitos transgênicos poderia ajudar a combater infestações de Aedes aegypti também na cidade de São Paulo, segundo especialistas ouvidos pelo Estado ontem, após a divulgação de resultados preliminares de um experimento em Piracicaba, no interior paulista.

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"Em teoria, não haveria porque não funcionar numa grande metrópole", disse o pesquisador Jayme Souza-Neto, do Instituto de Biotecnologia da Unesp de Botucatu, esclarecendo que a tecnologia seria usada para suprimir populações de mosquitos em áreas críticas, e não necessariamente espalhados pela cidade inteira -- o que exigiria uma quantidade absurdamente grande de mosquitos. "Esse planejamento das áreas seria muito importante, pois trata-se de um ambiente muito mais complexo."

A pesquisadora Margareth Capurro, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, também acredita que a tecnologia pode ajudar no combate ao Aedes aegypti na capital paulista -- não como a "salvação da pátria", mas como uma ferramenta adicional, associada a outros métodos de controle. "O mosquito é bom, funciona. Dá para escalonar", diz a cientista, que coordenou os primeiros testes de campo com o mosquito transgênico da empresa Oxitec em Juazeiro, na Bahia, em 2011, e que desenvolve pesquisas próprias com mosquitos geneticamente modificados na USP.

Sua maior preocupação, diz Margareth, não é com a eficiência, mas com o custo da tecnologia, que ainda não foi determinado pela empresa.

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"Não temos um preço definido ainda. Estamos otimizando nossos processo de produção para reduzir cada vez mais os custos", disse ao Estado o diretor da Oxitec no Brasil, Glen Slade. "Tenho 100% de confiança que nossa solução vai representar um ótimo custo-benefício."

Segundo Slade, os mosquitos transgênicos podem ser usados em qualquer cidade, de qualquer tamanho, até mesmo numa megalópole como São Paulo. "Não há limite de escala", disse ele -- ressaltando, também, que a estratégia seria liberar os mosquitos em pontos estrategicamente selecionados, para reduzir a população dos insetos em áreas críticas da cidade e, dessa forma, suprimir o surgimento de epidemias. "Não precisaria soltar mosquitos transgênicos na cidade inteira."

Como alternativas não comerciais, Margareth está tentando trazer para o Brasil linhagens de mosquitos estéreis, que funcionariam pela mesma lógica dos transgênicos: inibindo a reprodução dos mosquitos selvagens (só que a esterilidade é induzida por irradiação, não por engenharia genética). E a Fiocruz está desenvolvendo estudos de campo com mosquitos infectados com wolbachia, uma bactéria que inibe o desenvolvimento do vírus da dengue dentro do inseto, bloqueando assim a transmissão da doença.

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Experimento modelo

Dados preliminares sugerem que a liberação de mosquitos transgênicos está suprimindo com sucesso a proliferação do Aedes aegypti num bairro de Piracicaba. A quantidade de larvas do mosquito comum -- com potencial para transmitir dengue, zika e chikungunya -- encontradas no local é 82% inferior à de um bairro próximo equivalente, que não foi "tratado" com a tecnologia, segundo informações divulgadas ontem pela prefeitura do município e a Oxitec.

O experimento, que começou em abril de 2015, envolve a liberação de 800 mil mosquitos transgênicos por semana no bairro Cecap/Eldorado, com cerca de 5 mil habitantes. Os insetos geneticamente modificados, chamados pela empresa de "Aedes aegypti do bem", não picam pessoas nem transmitem doenças, porque são todos machos. Eles carregam um gene especial em seu DNA que faz com que seus filhotes morram antes de chegar à idade adulta. Ou seja: ao copularem com as fêmeas selvagens na cidade, eles tornam sua prole inviável. É como se fossem estéreis: a fêmea põe ovos, que dão origem a larvas, mas essas larvas não viram mosquitos adultos. E assim, a população de mosquitos é gradativamente reduzida.

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INFOGRÁFICO ESTADÃO: Como funciona a estratégia do mosquito transgênico  Foto: Estadão

A tecnologia já foi testada com sucesso em Juazeiro, na Bahia, e recebeu o aval da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2014, mas ainda aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para poder ser comercializada. Por isso, o trabalho em Piracicaba é feito em caráter experimental, em parceria com a Secretaria de Saúde do município.

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O bairro Cecap foi escolhido para o teste porque era o principal foco da epidemia de dengue em Piracicaba. Em 2015, segundo dados da prefeitura, foram registrados 133 casos da doença no bairro. De julho até agora, porém, houve apenas um caso, comparado a 50 no resto da cidade.*

Para o pesquisador Carlos Fernando Salgueirosa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é prematuro atribuir diretamente o menor número de mosquitos e de casos de dengue no bairro exclusivamente aos mosquitos transgênicos. Essa queda, segundo ele, pode estar relacionada a vários fatores. "São as condições do ambiente, dos criadouros, dos seres humanos, do apetite do mosquito, do vírus e outras variáveis que ajudam a entender a contaminação por dengue", afirma. "Esses números não significam nada."*

É preciso levar em conta, também, que o pico das epidemias de dengue costuma ocorrer entre março e abril, quando a quantidade de mosquitos é maior, por conta das chuvas. Segundo a empresa, os resultados finais do projeto só serão avaliados e divulgados após o fim da estação de chuvosa.

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"Está cientificamente comprovado que há supressão na população de mosquitos. A pergunta é como isso vai afetar a transmissão de dengue e outras doenças", avalia Souza-Neto, da Unesp Botucatu, que integra a força-tarefa organizada por pesquisadores paulistas contra o vírus zika, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Espera-se que tenha um efeito positivo", diz.

Leia também: Tríplice epidemia faz do Aedes aegypti alvo número 1 

A eficiência da técnica é medida por meio da comparação do número de larvas de mosquitos comuns encontrados na área tratada com mosquitos transgênicos versus numa área equivalente não tratada. É a mesma lógica usada em testes de medicamentos, em que se compara a evolução de uma doença em dois grupos de pacientes: um que recebeu a droga e outro, que não -- chamado grupo controle.

Escalonamento

A prefeitura de Piracicaba está entusiasmada com os resultados e anunciou planos de ampliar o estudo para o centro da cidade, numa região de 35 mil a 60 mil habitantes, além de manter o projeto no bairro Cecap funcionando por mais um ano. Associado a isso, a Oxitec anunciou que vai construir uma fábrica de mosquitos transgênicos no município, 30 vezes maior do que a sua fábrica atual, em Campinas, com capacidade para atender até 300 mil pessoas.

Mapa da presença de larvas do mosquito selvagem em área controle vs. área tratada com transgênicos, em Piracicaba. Fonte: Oxitec  Foto: Estadão
Fonte: Oxitec  Foto: Estadão

...............

*Informações apuradas pelo repórter Guilherme Mazieiro, em Piracicaba

Pupas de mosquito transgênico na fábrica da Oxitec em Campinas. Foto: Alexandre Carvalho/Oxitec

O uso de mosquitos transgênicos poderia ajudar a combater infestações de Aedes aegypti também na cidade de São Paulo, segundo especialistas ouvidos pelo Estado ontem, após a divulgação de resultados preliminares de um experimento em Piracicaba, no interior paulista.

"Em teoria, não haveria porque não funcionar numa grande metrópole", disse o pesquisador Jayme Souza-Neto, do Instituto de Biotecnologia da Unesp de Botucatu, esclarecendo que a tecnologia seria usada para suprimir populações de mosquitos em áreas críticas, e não necessariamente espalhados pela cidade inteira -- o que exigiria uma quantidade absurdamente grande de mosquitos. "Esse planejamento das áreas seria muito importante, pois trata-se de um ambiente muito mais complexo."

A pesquisadora Margareth Capurro, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, também acredita que a tecnologia pode ajudar no combate ao Aedes aegypti na capital paulista -- não como a "salvação da pátria", mas como uma ferramenta adicional, associada a outros métodos de controle. "O mosquito é bom, funciona. Dá para escalonar", diz a cientista, que coordenou os primeiros testes de campo com o mosquito transgênico da empresa Oxitec em Juazeiro, na Bahia, em 2011, e que desenvolve pesquisas próprias com mosquitos geneticamente modificados na USP.

Sua maior preocupação, diz Margareth, não é com a eficiência, mas com o custo da tecnologia, que ainda não foi determinado pela empresa.

"Não temos um preço definido ainda. Estamos otimizando nossos processo de produção para reduzir cada vez mais os custos", disse ao Estado o diretor da Oxitec no Brasil, Glen Slade. "Tenho 100% de confiança que nossa solução vai representar um ótimo custo-benefício."

Segundo Slade, os mosquitos transgênicos podem ser usados em qualquer cidade, de qualquer tamanho, até mesmo numa megalópole como São Paulo. "Não há limite de escala", disse ele -- ressaltando, também, que a estratégia seria liberar os mosquitos em pontos estrategicamente selecionados, para reduzir a população dos insetos em áreas críticas da cidade e, dessa forma, suprimir o surgimento de epidemias. "Não precisaria soltar mosquitos transgênicos na cidade inteira."

Como alternativas não comerciais, Margareth está tentando trazer para o Brasil linhagens de mosquitos estéreis, que funcionariam pela mesma lógica dos transgênicos: inibindo a reprodução dos mosquitos selvagens (só que a esterilidade é induzida por irradiação, não por engenharia genética). E a Fiocruz está desenvolvendo estudos de campo com mosquitos infectados com wolbachia, uma bactéria que inibe o desenvolvimento do vírus da dengue dentro do inseto, bloqueando assim a transmissão da doença.

Experimento modelo

Dados preliminares sugerem que a liberação de mosquitos transgênicos está suprimindo com sucesso a proliferação do Aedes aegypti num bairro de Piracicaba. A quantidade de larvas do mosquito comum -- com potencial para transmitir dengue, zika e chikungunya -- encontradas no local é 82% inferior à de um bairro próximo equivalente, que não foi "tratado" com a tecnologia, segundo informações divulgadas ontem pela prefeitura do município e a Oxitec.

O experimento, que começou em abril de 2015, envolve a liberação de 800 mil mosquitos transgênicos por semana no bairro Cecap/Eldorado, com cerca de 5 mil habitantes. Os insetos geneticamente modificados, chamados pela empresa de "Aedes aegypti do bem", não picam pessoas nem transmitem doenças, porque são todos machos. Eles carregam um gene especial em seu DNA que faz com que seus filhotes morram antes de chegar à idade adulta. Ou seja: ao copularem com as fêmeas selvagens na cidade, eles tornam sua prole inviável. É como se fossem estéreis: a fêmea põe ovos, que dão origem a larvas, mas essas larvas não viram mosquitos adultos. E assim, a população de mosquitos é gradativamente reduzida.

INFOGRÁFICO ESTADÃO: Como funciona a estratégia do mosquito transgênico  Foto: Estadão

A tecnologia já foi testada com sucesso em Juazeiro, na Bahia, e recebeu o aval da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2014, mas ainda aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para poder ser comercializada. Por isso, o trabalho em Piracicaba é feito em caráter experimental, em parceria com a Secretaria de Saúde do município.

O bairro Cecap foi escolhido para o teste porque era o principal foco da epidemia de dengue em Piracicaba. Em 2015, segundo dados da prefeitura, foram registrados 133 casos da doença no bairro. De julho até agora, porém, houve apenas um caso, comparado a 50 no resto da cidade.*

Para o pesquisador Carlos Fernando Salgueirosa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é prematuro atribuir diretamente o menor número de mosquitos e de casos de dengue no bairro exclusivamente aos mosquitos transgênicos. Essa queda, segundo ele, pode estar relacionada a vários fatores. "São as condições do ambiente, dos criadouros, dos seres humanos, do apetite do mosquito, do vírus e outras variáveis que ajudam a entender a contaminação por dengue", afirma. "Esses números não significam nada."*

É preciso levar em conta, também, que o pico das epidemias de dengue costuma ocorrer entre março e abril, quando a quantidade de mosquitos é maior, por conta das chuvas. Segundo a empresa, os resultados finais do projeto só serão avaliados e divulgados após o fim da estação de chuvosa.

"Está cientificamente comprovado que há supressão na população de mosquitos. A pergunta é como isso vai afetar a transmissão de dengue e outras doenças", avalia Souza-Neto, da Unesp Botucatu, que integra a força-tarefa organizada por pesquisadores paulistas contra o vírus zika, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Espera-se que tenha um efeito positivo", diz.

Leia também: Tríplice epidemia faz do Aedes aegypti alvo número 1 

A eficiência da técnica é medida por meio da comparação do número de larvas de mosquitos comuns encontrados na área tratada com mosquitos transgênicos versus numa área equivalente não tratada. É a mesma lógica usada em testes de medicamentos, em que se compara a evolução de uma doença em dois grupos de pacientes: um que recebeu a droga e outro, que não -- chamado grupo controle.

Escalonamento

A prefeitura de Piracicaba está entusiasmada com os resultados e anunciou planos de ampliar o estudo para o centro da cidade, numa região de 35 mil a 60 mil habitantes, além de manter o projeto no bairro Cecap funcionando por mais um ano. Associado a isso, a Oxitec anunciou que vai construir uma fábrica de mosquitos transgênicos no município, 30 vezes maior do que a sua fábrica atual, em Campinas, com capacidade para atender até 300 mil pessoas.

Mapa da presença de larvas do mosquito selvagem em área controle vs. área tratada com transgênicos, em Piracicaba. Fonte: Oxitec  Foto: Estadão
Fonte: Oxitec  Foto: Estadão

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*Informações apuradas pelo repórter Guilherme Mazieiro, em Piracicaba

Pupas de mosquito transgênico na fábrica da Oxitec em Campinas. Foto: Alexandre Carvalho/Oxitec

O uso de mosquitos transgênicos poderia ajudar a combater infestações de Aedes aegypti também na cidade de São Paulo, segundo especialistas ouvidos pelo Estado ontem, após a divulgação de resultados preliminares de um experimento em Piracicaba, no interior paulista.

"Em teoria, não haveria porque não funcionar numa grande metrópole", disse o pesquisador Jayme Souza-Neto, do Instituto de Biotecnologia da Unesp de Botucatu, esclarecendo que a tecnologia seria usada para suprimir populações de mosquitos em áreas críticas, e não necessariamente espalhados pela cidade inteira -- o que exigiria uma quantidade absurdamente grande de mosquitos. "Esse planejamento das áreas seria muito importante, pois trata-se de um ambiente muito mais complexo."

A pesquisadora Margareth Capurro, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, também acredita que a tecnologia pode ajudar no combate ao Aedes aegypti na capital paulista -- não como a "salvação da pátria", mas como uma ferramenta adicional, associada a outros métodos de controle. "O mosquito é bom, funciona. Dá para escalonar", diz a cientista, que coordenou os primeiros testes de campo com o mosquito transgênico da empresa Oxitec em Juazeiro, na Bahia, em 2011, e que desenvolve pesquisas próprias com mosquitos geneticamente modificados na USP.

Sua maior preocupação, diz Margareth, não é com a eficiência, mas com o custo da tecnologia, que ainda não foi determinado pela empresa.

"Não temos um preço definido ainda. Estamos otimizando nossos processo de produção para reduzir cada vez mais os custos", disse ao Estado o diretor da Oxitec no Brasil, Glen Slade. "Tenho 100% de confiança que nossa solução vai representar um ótimo custo-benefício."

Segundo Slade, os mosquitos transgênicos podem ser usados em qualquer cidade, de qualquer tamanho, até mesmo numa megalópole como São Paulo. "Não há limite de escala", disse ele -- ressaltando, também, que a estratégia seria liberar os mosquitos em pontos estrategicamente selecionados, para reduzir a população dos insetos em áreas críticas da cidade e, dessa forma, suprimir o surgimento de epidemias. "Não precisaria soltar mosquitos transgênicos na cidade inteira."

Como alternativas não comerciais, Margareth está tentando trazer para o Brasil linhagens de mosquitos estéreis, que funcionariam pela mesma lógica dos transgênicos: inibindo a reprodução dos mosquitos selvagens (só que a esterilidade é induzida por irradiação, não por engenharia genética). E a Fiocruz está desenvolvendo estudos de campo com mosquitos infectados com wolbachia, uma bactéria que inibe o desenvolvimento do vírus da dengue dentro do inseto, bloqueando assim a transmissão da doença.

Experimento modelo

Dados preliminares sugerem que a liberação de mosquitos transgênicos está suprimindo com sucesso a proliferação do Aedes aegypti num bairro de Piracicaba. A quantidade de larvas do mosquito comum -- com potencial para transmitir dengue, zika e chikungunya -- encontradas no local é 82% inferior à de um bairro próximo equivalente, que não foi "tratado" com a tecnologia, segundo informações divulgadas ontem pela prefeitura do município e a Oxitec.

O experimento, que começou em abril de 2015, envolve a liberação de 800 mil mosquitos transgênicos por semana no bairro Cecap/Eldorado, com cerca de 5 mil habitantes. Os insetos geneticamente modificados, chamados pela empresa de "Aedes aegypti do bem", não picam pessoas nem transmitem doenças, porque são todos machos. Eles carregam um gene especial em seu DNA que faz com que seus filhotes morram antes de chegar à idade adulta. Ou seja: ao copularem com as fêmeas selvagens na cidade, eles tornam sua prole inviável. É como se fossem estéreis: a fêmea põe ovos, que dão origem a larvas, mas essas larvas não viram mosquitos adultos. E assim, a população de mosquitos é gradativamente reduzida.

INFOGRÁFICO ESTADÃO: Como funciona a estratégia do mosquito transgênico  Foto: Estadão

A tecnologia já foi testada com sucesso em Juazeiro, na Bahia, e recebeu o aval da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2014, mas ainda aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para poder ser comercializada. Por isso, o trabalho em Piracicaba é feito em caráter experimental, em parceria com a Secretaria de Saúde do município.

O bairro Cecap foi escolhido para o teste porque era o principal foco da epidemia de dengue em Piracicaba. Em 2015, segundo dados da prefeitura, foram registrados 133 casos da doença no bairro. De julho até agora, porém, houve apenas um caso, comparado a 50 no resto da cidade.*

Para o pesquisador Carlos Fernando Salgueirosa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é prematuro atribuir diretamente o menor número de mosquitos e de casos de dengue no bairro exclusivamente aos mosquitos transgênicos. Essa queda, segundo ele, pode estar relacionada a vários fatores. "São as condições do ambiente, dos criadouros, dos seres humanos, do apetite do mosquito, do vírus e outras variáveis que ajudam a entender a contaminação por dengue", afirma. "Esses números não significam nada."*

É preciso levar em conta, também, que o pico das epidemias de dengue costuma ocorrer entre março e abril, quando a quantidade de mosquitos é maior, por conta das chuvas. Segundo a empresa, os resultados finais do projeto só serão avaliados e divulgados após o fim da estação de chuvosa.

"Está cientificamente comprovado que há supressão na população de mosquitos. A pergunta é como isso vai afetar a transmissão de dengue e outras doenças", avalia Souza-Neto, da Unesp Botucatu, que integra a força-tarefa organizada por pesquisadores paulistas contra o vírus zika, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Espera-se que tenha um efeito positivo", diz.

Leia também: Tríplice epidemia faz do Aedes aegypti alvo número 1 

A eficiência da técnica é medida por meio da comparação do número de larvas de mosquitos comuns encontrados na área tratada com mosquitos transgênicos versus numa área equivalente não tratada. É a mesma lógica usada em testes de medicamentos, em que se compara a evolução de uma doença em dois grupos de pacientes: um que recebeu a droga e outro, que não -- chamado grupo controle.

Escalonamento

A prefeitura de Piracicaba está entusiasmada com os resultados e anunciou planos de ampliar o estudo para o centro da cidade, numa região de 35 mil a 60 mil habitantes, além de manter o projeto no bairro Cecap funcionando por mais um ano. Associado a isso, a Oxitec anunciou que vai construir uma fábrica de mosquitos transgênicos no município, 30 vezes maior do que a sua fábrica atual, em Campinas, com capacidade para atender até 300 mil pessoas.

Mapa da presença de larvas do mosquito selvagem em área controle vs. área tratada com transgênicos, em Piracicaba. Fonte: Oxitec  Foto: Estadão
Fonte: Oxitec  Foto: Estadão

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*Informações apuradas pelo repórter Guilherme Mazieiro, em Piracicaba

Pupas de mosquito transgênico na fábrica da Oxitec em Campinas. Foto: Alexandre Carvalho/Oxitec

O uso de mosquitos transgênicos poderia ajudar a combater infestações de Aedes aegypti também na cidade de São Paulo, segundo especialistas ouvidos pelo Estado ontem, após a divulgação de resultados preliminares de um experimento em Piracicaba, no interior paulista.

"Em teoria, não haveria porque não funcionar numa grande metrópole", disse o pesquisador Jayme Souza-Neto, do Instituto de Biotecnologia da Unesp de Botucatu, esclarecendo que a tecnologia seria usada para suprimir populações de mosquitos em áreas críticas, e não necessariamente espalhados pela cidade inteira -- o que exigiria uma quantidade absurdamente grande de mosquitos. "Esse planejamento das áreas seria muito importante, pois trata-se de um ambiente muito mais complexo."

A pesquisadora Margareth Capurro, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, também acredita que a tecnologia pode ajudar no combate ao Aedes aegypti na capital paulista -- não como a "salvação da pátria", mas como uma ferramenta adicional, associada a outros métodos de controle. "O mosquito é bom, funciona. Dá para escalonar", diz a cientista, que coordenou os primeiros testes de campo com o mosquito transgênico da empresa Oxitec em Juazeiro, na Bahia, em 2011, e que desenvolve pesquisas próprias com mosquitos geneticamente modificados na USP.

Sua maior preocupação, diz Margareth, não é com a eficiência, mas com o custo da tecnologia, que ainda não foi determinado pela empresa.

"Não temos um preço definido ainda. Estamos otimizando nossos processo de produção para reduzir cada vez mais os custos", disse ao Estado o diretor da Oxitec no Brasil, Glen Slade. "Tenho 100% de confiança que nossa solução vai representar um ótimo custo-benefício."

Segundo Slade, os mosquitos transgênicos podem ser usados em qualquer cidade, de qualquer tamanho, até mesmo numa megalópole como São Paulo. "Não há limite de escala", disse ele -- ressaltando, também, que a estratégia seria liberar os mosquitos em pontos estrategicamente selecionados, para reduzir a população dos insetos em áreas críticas da cidade e, dessa forma, suprimir o surgimento de epidemias. "Não precisaria soltar mosquitos transgênicos na cidade inteira."

Como alternativas não comerciais, Margareth está tentando trazer para o Brasil linhagens de mosquitos estéreis, que funcionariam pela mesma lógica dos transgênicos: inibindo a reprodução dos mosquitos selvagens (só que a esterilidade é induzida por irradiação, não por engenharia genética). E a Fiocruz está desenvolvendo estudos de campo com mosquitos infectados com wolbachia, uma bactéria que inibe o desenvolvimento do vírus da dengue dentro do inseto, bloqueando assim a transmissão da doença.

Experimento modelo

Dados preliminares sugerem que a liberação de mosquitos transgênicos está suprimindo com sucesso a proliferação do Aedes aegypti num bairro de Piracicaba. A quantidade de larvas do mosquito comum -- com potencial para transmitir dengue, zika e chikungunya -- encontradas no local é 82% inferior à de um bairro próximo equivalente, que não foi "tratado" com a tecnologia, segundo informações divulgadas ontem pela prefeitura do município e a Oxitec.

O experimento, que começou em abril de 2015, envolve a liberação de 800 mil mosquitos transgênicos por semana no bairro Cecap/Eldorado, com cerca de 5 mil habitantes. Os insetos geneticamente modificados, chamados pela empresa de "Aedes aegypti do bem", não picam pessoas nem transmitem doenças, porque são todos machos. Eles carregam um gene especial em seu DNA que faz com que seus filhotes morram antes de chegar à idade adulta. Ou seja: ao copularem com as fêmeas selvagens na cidade, eles tornam sua prole inviável. É como se fossem estéreis: a fêmea põe ovos, que dão origem a larvas, mas essas larvas não viram mosquitos adultos. E assim, a população de mosquitos é gradativamente reduzida.

INFOGRÁFICO ESTADÃO: Como funciona a estratégia do mosquito transgênico  Foto: Estadão

A tecnologia já foi testada com sucesso em Juazeiro, na Bahia, e recebeu o aval da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2014, mas ainda aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para poder ser comercializada. Por isso, o trabalho em Piracicaba é feito em caráter experimental, em parceria com a Secretaria de Saúde do município.

O bairro Cecap foi escolhido para o teste porque era o principal foco da epidemia de dengue em Piracicaba. Em 2015, segundo dados da prefeitura, foram registrados 133 casos da doença no bairro. De julho até agora, porém, houve apenas um caso, comparado a 50 no resto da cidade.*

Para o pesquisador Carlos Fernando Salgueirosa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é prematuro atribuir diretamente o menor número de mosquitos e de casos de dengue no bairro exclusivamente aos mosquitos transgênicos. Essa queda, segundo ele, pode estar relacionada a vários fatores. "São as condições do ambiente, dos criadouros, dos seres humanos, do apetite do mosquito, do vírus e outras variáveis que ajudam a entender a contaminação por dengue", afirma. "Esses números não significam nada."*

É preciso levar em conta, também, que o pico das epidemias de dengue costuma ocorrer entre março e abril, quando a quantidade de mosquitos é maior, por conta das chuvas. Segundo a empresa, os resultados finais do projeto só serão avaliados e divulgados após o fim da estação de chuvosa.

"Está cientificamente comprovado que há supressão na população de mosquitos. A pergunta é como isso vai afetar a transmissão de dengue e outras doenças", avalia Souza-Neto, da Unesp Botucatu, que integra a força-tarefa organizada por pesquisadores paulistas contra o vírus zika, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Espera-se que tenha um efeito positivo", diz.

Leia também: Tríplice epidemia faz do Aedes aegypti alvo número 1 

A eficiência da técnica é medida por meio da comparação do número de larvas de mosquitos comuns encontrados na área tratada com mosquitos transgênicos versus numa área equivalente não tratada. É a mesma lógica usada em testes de medicamentos, em que se compara a evolução de uma doença em dois grupos de pacientes: um que recebeu a droga e outro, que não -- chamado grupo controle.

Escalonamento

A prefeitura de Piracicaba está entusiasmada com os resultados e anunciou planos de ampliar o estudo para o centro da cidade, numa região de 35 mil a 60 mil habitantes, além de manter o projeto no bairro Cecap funcionando por mais um ano. Associado a isso, a Oxitec anunciou que vai construir uma fábrica de mosquitos transgênicos no município, 30 vezes maior do que a sua fábrica atual, em Campinas, com capacidade para atender até 300 mil pessoas.

Mapa da presença de larvas do mosquito selvagem em área controle vs. área tratada com transgênicos, em Piracicaba. Fonte: Oxitec  Foto: Estadão
Fonte: Oxitec  Foto: Estadão

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*Informações apuradas pelo repórter Guilherme Mazieiro, em Piracicaba

Pupas de mosquito transgênico na fábrica da Oxitec em Campinas. Foto: Alexandre Carvalho/Oxitec

O uso de mosquitos transgênicos poderia ajudar a combater infestações de Aedes aegypti também na cidade de São Paulo, segundo especialistas ouvidos pelo Estado ontem, após a divulgação de resultados preliminares de um experimento em Piracicaba, no interior paulista.

"Em teoria, não haveria porque não funcionar numa grande metrópole", disse o pesquisador Jayme Souza-Neto, do Instituto de Biotecnologia da Unesp de Botucatu, esclarecendo que a tecnologia seria usada para suprimir populações de mosquitos em áreas críticas, e não necessariamente espalhados pela cidade inteira -- o que exigiria uma quantidade absurdamente grande de mosquitos. "Esse planejamento das áreas seria muito importante, pois trata-se de um ambiente muito mais complexo."

A pesquisadora Margareth Capurro, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo, também acredita que a tecnologia pode ajudar no combate ao Aedes aegypti na capital paulista -- não como a "salvação da pátria", mas como uma ferramenta adicional, associada a outros métodos de controle. "O mosquito é bom, funciona. Dá para escalonar", diz a cientista, que coordenou os primeiros testes de campo com o mosquito transgênico da empresa Oxitec em Juazeiro, na Bahia, em 2011, e que desenvolve pesquisas próprias com mosquitos geneticamente modificados na USP.

Sua maior preocupação, diz Margareth, não é com a eficiência, mas com o custo da tecnologia, que ainda não foi determinado pela empresa.

"Não temos um preço definido ainda. Estamos otimizando nossos processo de produção para reduzir cada vez mais os custos", disse ao Estado o diretor da Oxitec no Brasil, Glen Slade. "Tenho 100% de confiança que nossa solução vai representar um ótimo custo-benefício."

Segundo Slade, os mosquitos transgênicos podem ser usados em qualquer cidade, de qualquer tamanho, até mesmo numa megalópole como São Paulo. "Não há limite de escala", disse ele -- ressaltando, também, que a estratégia seria liberar os mosquitos em pontos estrategicamente selecionados, para reduzir a população dos insetos em áreas críticas da cidade e, dessa forma, suprimir o surgimento de epidemias. "Não precisaria soltar mosquitos transgênicos na cidade inteira."

Como alternativas não comerciais, Margareth está tentando trazer para o Brasil linhagens de mosquitos estéreis, que funcionariam pela mesma lógica dos transgênicos: inibindo a reprodução dos mosquitos selvagens (só que a esterilidade é induzida por irradiação, não por engenharia genética). E a Fiocruz está desenvolvendo estudos de campo com mosquitos infectados com wolbachia, uma bactéria que inibe o desenvolvimento do vírus da dengue dentro do inseto, bloqueando assim a transmissão da doença.

Experimento modelo

Dados preliminares sugerem que a liberação de mosquitos transgênicos está suprimindo com sucesso a proliferação do Aedes aegypti num bairro de Piracicaba. A quantidade de larvas do mosquito comum -- com potencial para transmitir dengue, zika e chikungunya -- encontradas no local é 82% inferior à de um bairro próximo equivalente, que não foi "tratado" com a tecnologia, segundo informações divulgadas ontem pela prefeitura do município e a Oxitec.

O experimento, que começou em abril de 2015, envolve a liberação de 800 mil mosquitos transgênicos por semana no bairro Cecap/Eldorado, com cerca de 5 mil habitantes. Os insetos geneticamente modificados, chamados pela empresa de "Aedes aegypti do bem", não picam pessoas nem transmitem doenças, porque são todos machos. Eles carregam um gene especial em seu DNA que faz com que seus filhotes morram antes de chegar à idade adulta. Ou seja: ao copularem com as fêmeas selvagens na cidade, eles tornam sua prole inviável. É como se fossem estéreis: a fêmea põe ovos, que dão origem a larvas, mas essas larvas não viram mosquitos adultos. E assim, a população de mosquitos é gradativamente reduzida.

INFOGRÁFICO ESTADÃO: Como funciona a estratégia do mosquito transgênico  Foto: Estadão

A tecnologia já foi testada com sucesso em Juazeiro, na Bahia, e recebeu o aval da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2014, mas ainda aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para poder ser comercializada. Por isso, o trabalho em Piracicaba é feito em caráter experimental, em parceria com a Secretaria de Saúde do município.

O bairro Cecap foi escolhido para o teste porque era o principal foco da epidemia de dengue em Piracicaba. Em 2015, segundo dados da prefeitura, foram registrados 133 casos da doença no bairro. De julho até agora, porém, houve apenas um caso, comparado a 50 no resto da cidade.*

Para o pesquisador Carlos Fernando Salgueirosa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é prematuro atribuir diretamente o menor número de mosquitos e de casos de dengue no bairro exclusivamente aos mosquitos transgênicos. Essa queda, segundo ele, pode estar relacionada a vários fatores. "São as condições do ambiente, dos criadouros, dos seres humanos, do apetite do mosquito, do vírus e outras variáveis que ajudam a entender a contaminação por dengue", afirma. "Esses números não significam nada."*

É preciso levar em conta, também, que o pico das epidemias de dengue costuma ocorrer entre março e abril, quando a quantidade de mosquitos é maior, por conta das chuvas. Segundo a empresa, os resultados finais do projeto só serão avaliados e divulgados após o fim da estação de chuvosa.

"Está cientificamente comprovado que há supressão na população de mosquitos. A pergunta é como isso vai afetar a transmissão de dengue e outras doenças", avalia Souza-Neto, da Unesp Botucatu, que integra a força-tarefa organizada por pesquisadores paulistas contra o vírus zika, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Espera-se que tenha um efeito positivo", diz.

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A eficiência da técnica é medida por meio da comparação do número de larvas de mosquitos comuns encontrados na área tratada com mosquitos transgênicos versus numa área equivalente não tratada. É a mesma lógica usada em testes de medicamentos, em que se compara a evolução de uma doença em dois grupos de pacientes: um que recebeu a droga e outro, que não -- chamado grupo controle.

Escalonamento

A prefeitura de Piracicaba está entusiasmada com os resultados e anunciou planos de ampliar o estudo para o centro da cidade, numa região de 35 mil a 60 mil habitantes, além de manter o projeto no bairro Cecap funcionando por mais um ano. Associado a isso, a Oxitec anunciou que vai construir uma fábrica de mosquitos transgênicos no município, 30 vezes maior do que a sua fábrica atual, em Campinas, com capacidade para atender até 300 mil pessoas.

Mapa da presença de larvas do mosquito selvagem em área controle vs. área tratada com transgênicos, em Piracicaba. Fonte: Oxitec  Foto: Estadão
Fonte: Oxitec  Foto: Estadão

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*Informações apuradas pelo repórter Guilherme Mazieiro, em Piracicaba

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