Insetos e crustáceos têm consciência? Cientistas acham que sim


Grupo de biólogos e filósofos proeminentes afirma que há ‘uma possibilidade realista’ de que insetos, polvos, crustáceos, peixes e outros animais negligenciados tenham consciência

Por Dan Falk
Atualização:

Em 2022, pesquisadores do Bee Sensory and Behavioral Ecology Lab da Queen Mary University of London observaram abelhas fazendo algo extraordinário: as criaturas diminutas e felpudas estavam se envolvendo em uma atividade que só poderia ser descrita como brincadeira.

Com pequenas bolas de madeira, as abelhas as empurravam e giravam. O comportamento não tinha nenhuma relação óbvia com acasalamento ou sobrevivência, nem foi recompensado pelos cientistas. Aparentemente, era apenas por diversão.

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O estudo sobre as abelhas brincalhonas faz parte de um conjunto de pesquisas que um grupo de proeminentes estudiosos da mente animal citou neste mês, reforçando uma nova declaração que estende o apoio científico ao fato de que um conjunto mais amplo de animais do que o formalmente reconhecido anteriormente tem consciência.

Durante décadas, houve amplo consenso entre cientistas de que animais semelhantes a nós - os grandes macacos, por exemplo - têm experiência consciente, mesmo que sua consciência seja diferente da nossa.

Nos últimos anos, no entanto, os pesquisadores começaram a reconhecer que a consciência também pode estar disseminada entre animais muito diferentes dos humanos, incluindo invertebrados com sistemas nervosos completamente diferentes e muito mais simples.

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Estudo sobre abelhas foi citado em declaração de grupo de especialistas Foto: schankz - stock.adobe.com

A nova declaração, assinada por biólogos e filósofos, adota formalmente esse ponto de vista. Ela diz, em parte: “A evidência empírica indica pelo menos uma possibilidade realista de experiência consciente em todos os vertebrados (incluindo todos os répteis, anfíbios e peixes) e muitos invertebrados (incluindo, no mínimo, moluscos cefalópodes, crustáceos decápodes e insetos).”

Inspirado por descobertas de pesquisas recentes que descrevem comportamentos cognitivos complexos nesses e em outros animais, o documento representa um novo consenso e sugere que os pesquisadores podem ter superestimado o grau de complexidade neural necessário para a consciência.

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A Declaração de Nova York sobre Consciência Animal, de quatro parágrafos, foi revelada em 19 de abril, em uma conferência de um dia chamada “The Emerging Science of Animal Consciousness” (A Ciência Emergente da Consciência Animal), realizada na Universidade de Nova York.

Liderada pela filósofa e cientista cognitiva Kristin Andrews, da Universidade de York, em Ontário, pelo filósofo e cientista ambiental Jeff Sebo, da Universidade de Nova York, e pelo filósofo Jonathan Birch, da London School of Economics and Political Science, a declaração já foi assinada por 39 pesquisadores, incluindo os psicólogos Nicola Clayton e Irene Pepperberg, os neurocientistas Anil Seth e Christof Koch, o zoólogo Lars Chittka e os filósofos David Chalmers e Peter Godfrey-Smith.

A declaração se concentra no tipo mais básico de consciência, conhecido como consciência fenomenal. Em termos gerais, se uma criatura tem consciência fenomenal, então é “como algo” ser essa criatura - uma ideia enunciada pelo filósofo Thomas Nagel em seu influente ensaio de 1974, “What is it like to be a bat?” (Como é ser um morcego?).

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Mesmo que uma criatura seja muito diferente de nós, Nagel escreveu: “fundamentalmente, um organismo tem estados mentais conscientes se e somente se houver algo que seja como ser esse organismo. (...) Podemos chamar isso de caráter subjetivo da experiência”.

Se uma criatura é fenomenalmente consciente, ela tem a capacidade de experimentar sentimentos como dor, prazer ou fome, mas não necessariamente estados mentais mais complexos, como a autoconsciência.

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“Espero que a declaração (chame) mais atenção para as questões da consciência não humana e para os desafios éticos que acompanham a possibilidade de experiências conscientes muito além do humano”, escreveu Seth, neurocientista da Universidade de Sussex.

“Espero que isso estimule a discussão, informe a política e a prática do bem estar animal e estimule a compreensão e o reconhecimento de que temos muito mais em comum com outros animais do que com coisas como o ChatGPT.”

Uma conscientização crescente

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A declaração começou a tomar forma no ano passado, após conversas entre Sebo, Andrews e Birch. “Nós três estávamos conversando sobre o quanto aconteceu nos últimos 10, 15 anos, na ciência da consciência animal”, lembra Sebo. Agora sabemos, por exemplo, que os polvos sentem dor.

Estudos em peixes descobriram que o bodião-limpador parece passar em uma versão do “teste do espelho”, que indica um grau de autorreconhecimento, e que o peixe-zebra mostra sinais de curiosidade.

No mundo dos insetos, as abelhas apresentam comportamento lúdico aparente, enquanto as moscas-das-frutas Drosophila têm padrões de sono distintos influenciados por seu ambiente social. Enquanto isso, os lagostins apresentam estados semelhantes aos da ansiedade - e esses estados podem ser alterados por medicamentos contra a ansiedade.

Esses e outros sinais de estados conscientes em animais que há muito tempo eram considerados menos do que conscientes entusiasmaram e desafiaram biólogos, cientistas cognitivos e filósofos da mente. “Muitas pessoas já aceitaram há algum tempo que, por exemplo, os mamíferos e as aves são conscientes ou têm grande probabilidade de serem conscientes, mas foi dada menos atenção a outros táxons de vertebrados e, principalmente, de invertebrados”, disse Sebo.

Em conversas e reuniões, os especialistas concordaram amplamente que esses animais devem ter consciência. No entanto, esse consenso recém-formado não estava sendo comunicado ao público em geral, incluindo outros cientistas e formuladores de políticas.

Assim, os três pesquisadores decidiram redigir uma declaração clara e concisa e distribuí-la entre seus colegas para aprovação. A declaração não pretende ser abrangente, mas sim “indicar onde achamos que o campo está agora e para onde o campo está indo”, disse Sebo.

A nova declaração atualiza o esforço mais recente para estabelecer um consenso científico sobre a consciência animal. Em 2012, os pesquisadores publicaram a Declaração de Cambridge sobre Consciência, que afirmava que uma série de animais não humanos, incluindo, mas não se limitando a mamíferos e aves, têm “a capacidade de exibir comportamentos intencionais” e que “os seres humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência”.

A nova declaração amplia o escopo de sua antecessora e também é redigida com mais cuidado, escreveu Seth. “Ela não tenta fazer ciência por diktat (determinação à força), mas enfatiza o que devemos levar a sério em relação à consciência animal e à ética relevante, dadas as evidências e teorias que temos.”

Ele escreveu que “não é a favor de avalanches de cartas abertas e coisas do gênero”, mas que, no final das contas, “chegou à conclusão de que valia muito a pena apoiar essa declaração”.

Godfrey-Smith, um filósofo da ciência da Universidade de Sydney que trabalhou extensivamente com polvos, acredita que os comportamentos complexos que essas criaturas exibem - incluindo resolução de problemas, uso de ferramentas e comportamento lúdico - só podem ser interpretados como indicadores de consciência.

“Eles têm esse envolvimento atento com as coisas, conosco e com objetos novos, o que torna muito difícil não pensar que há muita coisa acontecendo dentro deles”, disse.

Ele observou que trabalhos recentes que analisam a dor e os estados oníricos em polvos “apontam na mesma direção (...) no sentido de que a experiência é uma parte real de suas vidas”.

Embora muitos dos animais mencionados na declaração tenham cérebros e sistemas nervosos muito diferentes dos humanos, os pesquisadores dizem que isso não precisa ser uma barreira para a consciência. Por exemplo, o cérebro de uma abelha contém apenas cerca de um milhão de neurônios, em comparação com cerca de 86 bilhões no caso dos humanos.

Mas cada um desses neurônios de abelha pode ser tão complexo estruturalmente quanto um carvalho. A rede de conexões que eles formam também é incrivelmente densa, com cada neurônio entrando em contato com talvez 10 mil ou 100 mil outros.

O sistema nervoso de um polvo, por outro lado, é complexo em outros aspectos. Sua organização é altamente distribuída em vez de centralizada; um braço cortado pode apresentar muitos dos comportamentos do animal intacto.

O resultado, disse Andrews, é que “talvez não precisemos de tantos equipamentos quanto pensávamos” para alcançar a consciência. Ela observou, por exemplo, que mesmo um córtex cerebral - a camada externa do cérebro dos mamíferos, que se acredita desempenhar um papel na atenção, percepção, memória e outros aspectos importantes da consciência - pode não ser necessário para a consciência fenomenal mais simples visada na declaração.

“Houve grande debate sobre a consciência dos peixes, e muito disso se deveu ao fato de eles não terem as estruturas cerebrais que vemos nos mamíferos”, afirmou ela.

“Mas quando observamos os pássaros, répteis e anfíbios, eles têm estruturas cerebrais muito diferentes e pressões evolutivas diferentes e, ainda assim, estamos descobrindo que algumas dessas estruturas cerebrais fazem o mesmo tipo de trabalho que o córtex cerebral faz nos seres humanos.”

Godfrey-Smith concordou, observando que os comportamentos indicativos de consciência “podem existir em uma arquitetura que parece completamente estranha à arquitetura dos vertebrados ou dos seres humanos”.

Relações conscientes

Embora a declaração tenha implicações para o tratamento de animais e, principalmente, para a prevenção do sofrimento animal, Sebo observou que o foco deve ir além da dor. Não é suficiente que as pessoas evitem que os animais em cativeiro sintam dor e desconforto no corpo, disse.

“Também temos de oferecer a eles os tipos de enriquecimento e oportunidades que lhes permitam expressar seus instintos, explorar seus ambientes, envolver-se em sistemas sociais e ser os tipos de agentes complexos que são.”

Mas as consequências de atribuir o rótulo de “consciente” a uma gama maior de animais - especialmente animais cujos interesses não estamos acostumados a considerar - não são simples. Por exemplo, nosso relacionamento com os insetos pode ser “inevitavelmente um pouco antagônico”, disse Godfrey-Smith.

Algumas pragas comem plantações, e os mosquitos podem transmitir doenças. “A ideia de que poderíamos simplesmente fazer as pazes com os mosquitos é muito diferente da ideia de que poderíamos fazer as pazes com peixes e polvos”, afirmou.

Da mesma forma, pouca atenção é dada ao bem estar de insetos como a Drosophila, amplamente utilizados em pesquisas biológicas. “Pensamos no bem estar do gado e dos camundongos nas pesquisas, mas nunca pensamos no bem estar dos insetos”, disse Matilda Gibbons, que pesquisa a base neural da consciência na Universidade da Pensilvânia e assinou a declaração.

Embora os órgãos científicos tenham criado alguns padrões para o tratamento de camundongos de laboratório, não está claro se a declaração de hoje levará a novos padrões para o tratamento de insetos. Mas novas descobertas científicas às vezes geram novas políticas.

A Grã-Bretanha, por exemplo, promulgou uma legislação para aumentar a proteção de polvos, caranguejos e lagostas depois que um relatório da London School of Economics indicou que esses animais podem sentir dor, angústia ou danos.

Embora a declaração não faça menção à inteligência artificial, a questão da possível consciência da IA tem estado na mente dos pesquisadores da consciência animal.

“É muito improvável que os sistemas atuais de IA sejam conscientes”, disse Sebo. Entretanto, o que ele aprendeu sobre a mente dos animais “me faz parar e querer abordar o assunto com cautela e humildade”.

Andrews espera que a declaração estimule mais pesquisas sobre animais que muitas vezes foram ignorados, um movimento que tem o potencial de expandir ainda mais nossa consciência sobre o escopo da consciência no mundo animal.

“Todos esses vermes nematoides e moscas-das-frutas que estão em quase todas as universidades - estudem a consciência neles”, disse ela. “Vocês já os têm. Alguém em seu laboratório precisará de um projeto. Faça desse projeto um projeto de consciência. Imagine isso!”

História original republicada com permissão da Quanta Magazine, uma publicação editorialmente independente apoiada pela Simons Foundation. Leia o conteúdo original em Insects and Other Animals Have Consciousness, Experts Declare.

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

Em 2022, pesquisadores do Bee Sensory and Behavioral Ecology Lab da Queen Mary University of London observaram abelhas fazendo algo extraordinário: as criaturas diminutas e felpudas estavam se envolvendo em uma atividade que só poderia ser descrita como brincadeira.

Com pequenas bolas de madeira, as abelhas as empurravam e giravam. O comportamento não tinha nenhuma relação óbvia com acasalamento ou sobrevivência, nem foi recompensado pelos cientistas. Aparentemente, era apenas por diversão.

O estudo sobre as abelhas brincalhonas faz parte de um conjunto de pesquisas que um grupo de proeminentes estudiosos da mente animal citou neste mês, reforçando uma nova declaração que estende o apoio científico ao fato de que um conjunto mais amplo de animais do que o formalmente reconhecido anteriormente tem consciência.

Durante décadas, houve amplo consenso entre cientistas de que animais semelhantes a nós - os grandes macacos, por exemplo - têm experiência consciente, mesmo que sua consciência seja diferente da nossa.

Nos últimos anos, no entanto, os pesquisadores começaram a reconhecer que a consciência também pode estar disseminada entre animais muito diferentes dos humanos, incluindo invertebrados com sistemas nervosos completamente diferentes e muito mais simples.

Estudo sobre abelhas foi citado em declaração de grupo de especialistas Foto: schankz - stock.adobe.com

A nova declaração, assinada por biólogos e filósofos, adota formalmente esse ponto de vista. Ela diz, em parte: “A evidência empírica indica pelo menos uma possibilidade realista de experiência consciente em todos os vertebrados (incluindo todos os répteis, anfíbios e peixes) e muitos invertebrados (incluindo, no mínimo, moluscos cefalópodes, crustáceos decápodes e insetos).”

Inspirado por descobertas de pesquisas recentes que descrevem comportamentos cognitivos complexos nesses e em outros animais, o documento representa um novo consenso e sugere que os pesquisadores podem ter superestimado o grau de complexidade neural necessário para a consciência.

A Declaração de Nova York sobre Consciência Animal, de quatro parágrafos, foi revelada em 19 de abril, em uma conferência de um dia chamada “The Emerging Science of Animal Consciousness” (A Ciência Emergente da Consciência Animal), realizada na Universidade de Nova York.

Liderada pela filósofa e cientista cognitiva Kristin Andrews, da Universidade de York, em Ontário, pelo filósofo e cientista ambiental Jeff Sebo, da Universidade de Nova York, e pelo filósofo Jonathan Birch, da London School of Economics and Political Science, a declaração já foi assinada por 39 pesquisadores, incluindo os psicólogos Nicola Clayton e Irene Pepperberg, os neurocientistas Anil Seth e Christof Koch, o zoólogo Lars Chittka e os filósofos David Chalmers e Peter Godfrey-Smith.

A declaração se concentra no tipo mais básico de consciência, conhecido como consciência fenomenal. Em termos gerais, se uma criatura tem consciência fenomenal, então é “como algo” ser essa criatura - uma ideia enunciada pelo filósofo Thomas Nagel em seu influente ensaio de 1974, “What is it like to be a bat?” (Como é ser um morcego?).

Mesmo que uma criatura seja muito diferente de nós, Nagel escreveu: “fundamentalmente, um organismo tem estados mentais conscientes se e somente se houver algo que seja como ser esse organismo. (...) Podemos chamar isso de caráter subjetivo da experiência”.

Se uma criatura é fenomenalmente consciente, ela tem a capacidade de experimentar sentimentos como dor, prazer ou fome, mas não necessariamente estados mentais mais complexos, como a autoconsciência.

“Espero que a declaração (chame) mais atenção para as questões da consciência não humana e para os desafios éticos que acompanham a possibilidade de experiências conscientes muito além do humano”, escreveu Seth, neurocientista da Universidade de Sussex.

“Espero que isso estimule a discussão, informe a política e a prática do bem estar animal e estimule a compreensão e o reconhecimento de que temos muito mais em comum com outros animais do que com coisas como o ChatGPT.”

Uma conscientização crescente

A declaração começou a tomar forma no ano passado, após conversas entre Sebo, Andrews e Birch. “Nós três estávamos conversando sobre o quanto aconteceu nos últimos 10, 15 anos, na ciência da consciência animal”, lembra Sebo. Agora sabemos, por exemplo, que os polvos sentem dor.

Estudos em peixes descobriram que o bodião-limpador parece passar em uma versão do “teste do espelho”, que indica um grau de autorreconhecimento, e que o peixe-zebra mostra sinais de curiosidade.

No mundo dos insetos, as abelhas apresentam comportamento lúdico aparente, enquanto as moscas-das-frutas Drosophila têm padrões de sono distintos influenciados por seu ambiente social. Enquanto isso, os lagostins apresentam estados semelhantes aos da ansiedade - e esses estados podem ser alterados por medicamentos contra a ansiedade.

Esses e outros sinais de estados conscientes em animais que há muito tempo eram considerados menos do que conscientes entusiasmaram e desafiaram biólogos, cientistas cognitivos e filósofos da mente. “Muitas pessoas já aceitaram há algum tempo que, por exemplo, os mamíferos e as aves são conscientes ou têm grande probabilidade de serem conscientes, mas foi dada menos atenção a outros táxons de vertebrados e, principalmente, de invertebrados”, disse Sebo.

Em conversas e reuniões, os especialistas concordaram amplamente que esses animais devem ter consciência. No entanto, esse consenso recém-formado não estava sendo comunicado ao público em geral, incluindo outros cientistas e formuladores de políticas.

Assim, os três pesquisadores decidiram redigir uma declaração clara e concisa e distribuí-la entre seus colegas para aprovação. A declaração não pretende ser abrangente, mas sim “indicar onde achamos que o campo está agora e para onde o campo está indo”, disse Sebo.

A nova declaração atualiza o esforço mais recente para estabelecer um consenso científico sobre a consciência animal. Em 2012, os pesquisadores publicaram a Declaração de Cambridge sobre Consciência, que afirmava que uma série de animais não humanos, incluindo, mas não se limitando a mamíferos e aves, têm “a capacidade de exibir comportamentos intencionais” e que “os seres humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência”.

A nova declaração amplia o escopo de sua antecessora e também é redigida com mais cuidado, escreveu Seth. “Ela não tenta fazer ciência por diktat (determinação à força), mas enfatiza o que devemos levar a sério em relação à consciência animal e à ética relevante, dadas as evidências e teorias que temos.”

Ele escreveu que “não é a favor de avalanches de cartas abertas e coisas do gênero”, mas que, no final das contas, “chegou à conclusão de que valia muito a pena apoiar essa declaração”.

Godfrey-Smith, um filósofo da ciência da Universidade de Sydney que trabalhou extensivamente com polvos, acredita que os comportamentos complexos que essas criaturas exibem - incluindo resolução de problemas, uso de ferramentas e comportamento lúdico - só podem ser interpretados como indicadores de consciência.

“Eles têm esse envolvimento atento com as coisas, conosco e com objetos novos, o que torna muito difícil não pensar que há muita coisa acontecendo dentro deles”, disse.

Ele observou que trabalhos recentes que analisam a dor e os estados oníricos em polvos “apontam na mesma direção (...) no sentido de que a experiência é uma parte real de suas vidas”.

Embora muitos dos animais mencionados na declaração tenham cérebros e sistemas nervosos muito diferentes dos humanos, os pesquisadores dizem que isso não precisa ser uma barreira para a consciência. Por exemplo, o cérebro de uma abelha contém apenas cerca de um milhão de neurônios, em comparação com cerca de 86 bilhões no caso dos humanos.

Mas cada um desses neurônios de abelha pode ser tão complexo estruturalmente quanto um carvalho. A rede de conexões que eles formam também é incrivelmente densa, com cada neurônio entrando em contato com talvez 10 mil ou 100 mil outros.

O sistema nervoso de um polvo, por outro lado, é complexo em outros aspectos. Sua organização é altamente distribuída em vez de centralizada; um braço cortado pode apresentar muitos dos comportamentos do animal intacto.

O resultado, disse Andrews, é que “talvez não precisemos de tantos equipamentos quanto pensávamos” para alcançar a consciência. Ela observou, por exemplo, que mesmo um córtex cerebral - a camada externa do cérebro dos mamíferos, que se acredita desempenhar um papel na atenção, percepção, memória e outros aspectos importantes da consciência - pode não ser necessário para a consciência fenomenal mais simples visada na declaração.

“Houve grande debate sobre a consciência dos peixes, e muito disso se deveu ao fato de eles não terem as estruturas cerebrais que vemos nos mamíferos”, afirmou ela.

“Mas quando observamos os pássaros, répteis e anfíbios, eles têm estruturas cerebrais muito diferentes e pressões evolutivas diferentes e, ainda assim, estamos descobrindo que algumas dessas estruturas cerebrais fazem o mesmo tipo de trabalho que o córtex cerebral faz nos seres humanos.”

Godfrey-Smith concordou, observando que os comportamentos indicativos de consciência “podem existir em uma arquitetura que parece completamente estranha à arquitetura dos vertebrados ou dos seres humanos”.

Relações conscientes

Embora a declaração tenha implicações para o tratamento de animais e, principalmente, para a prevenção do sofrimento animal, Sebo observou que o foco deve ir além da dor. Não é suficiente que as pessoas evitem que os animais em cativeiro sintam dor e desconforto no corpo, disse.

“Também temos de oferecer a eles os tipos de enriquecimento e oportunidades que lhes permitam expressar seus instintos, explorar seus ambientes, envolver-se em sistemas sociais e ser os tipos de agentes complexos que são.”

Mas as consequências de atribuir o rótulo de “consciente” a uma gama maior de animais - especialmente animais cujos interesses não estamos acostumados a considerar - não são simples. Por exemplo, nosso relacionamento com os insetos pode ser “inevitavelmente um pouco antagônico”, disse Godfrey-Smith.

Algumas pragas comem plantações, e os mosquitos podem transmitir doenças. “A ideia de que poderíamos simplesmente fazer as pazes com os mosquitos é muito diferente da ideia de que poderíamos fazer as pazes com peixes e polvos”, afirmou.

Da mesma forma, pouca atenção é dada ao bem estar de insetos como a Drosophila, amplamente utilizados em pesquisas biológicas. “Pensamos no bem estar do gado e dos camundongos nas pesquisas, mas nunca pensamos no bem estar dos insetos”, disse Matilda Gibbons, que pesquisa a base neural da consciência na Universidade da Pensilvânia e assinou a declaração.

Embora os órgãos científicos tenham criado alguns padrões para o tratamento de camundongos de laboratório, não está claro se a declaração de hoje levará a novos padrões para o tratamento de insetos. Mas novas descobertas científicas às vezes geram novas políticas.

A Grã-Bretanha, por exemplo, promulgou uma legislação para aumentar a proteção de polvos, caranguejos e lagostas depois que um relatório da London School of Economics indicou que esses animais podem sentir dor, angústia ou danos.

Embora a declaração não faça menção à inteligência artificial, a questão da possível consciência da IA tem estado na mente dos pesquisadores da consciência animal.

“É muito improvável que os sistemas atuais de IA sejam conscientes”, disse Sebo. Entretanto, o que ele aprendeu sobre a mente dos animais “me faz parar e querer abordar o assunto com cautela e humildade”.

Andrews espera que a declaração estimule mais pesquisas sobre animais que muitas vezes foram ignorados, um movimento que tem o potencial de expandir ainda mais nossa consciência sobre o escopo da consciência no mundo animal.

“Todos esses vermes nematoides e moscas-das-frutas que estão em quase todas as universidades - estudem a consciência neles”, disse ela. “Vocês já os têm. Alguém em seu laboratório precisará de um projeto. Faça desse projeto um projeto de consciência. Imagine isso!”

História original republicada com permissão da Quanta Magazine, uma publicação editorialmente independente apoiada pela Simons Foundation. Leia o conteúdo original em Insects and Other Animals Have Consciousness, Experts Declare.

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

Em 2022, pesquisadores do Bee Sensory and Behavioral Ecology Lab da Queen Mary University of London observaram abelhas fazendo algo extraordinário: as criaturas diminutas e felpudas estavam se envolvendo em uma atividade que só poderia ser descrita como brincadeira.

Com pequenas bolas de madeira, as abelhas as empurravam e giravam. O comportamento não tinha nenhuma relação óbvia com acasalamento ou sobrevivência, nem foi recompensado pelos cientistas. Aparentemente, era apenas por diversão.

O estudo sobre as abelhas brincalhonas faz parte de um conjunto de pesquisas que um grupo de proeminentes estudiosos da mente animal citou neste mês, reforçando uma nova declaração que estende o apoio científico ao fato de que um conjunto mais amplo de animais do que o formalmente reconhecido anteriormente tem consciência.

Durante décadas, houve amplo consenso entre cientistas de que animais semelhantes a nós - os grandes macacos, por exemplo - têm experiência consciente, mesmo que sua consciência seja diferente da nossa.

Nos últimos anos, no entanto, os pesquisadores começaram a reconhecer que a consciência também pode estar disseminada entre animais muito diferentes dos humanos, incluindo invertebrados com sistemas nervosos completamente diferentes e muito mais simples.

Estudo sobre abelhas foi citado em declaração de grupo de especialistas Foto: schankz - stock.adobe.com

A nova declaração, assinada por biólogos e filósofos, adota formalmente esse ponto de vista. Ela diz, em parte: “A evidência empírica indica pelo menos uma possibilidade realista de experiência consciente em todos os vertebrados (incluindo todos os répteis, anfíbios e peixes) e muitos invertebrados (incluindo, no mínimo, moluscos cefalópodes, crustáceos decápodes e insetos).”

Inspirado por descobertas de pesquisas recentes que descrevem comportamentos cognitivos complexos nesses e em outros animais, o documento representa um novo consenso e sugere que os pesquisadores podem ter superestimado o grau de complexidade neural necessário para a consciência.

A Declaração de Nova York sobre Consciência Animal, de quatro parágrafos, foi revelada em 19 de abril, em uma conferência de um dia chamada “The Emerging Science of Animal Consciousness” (A Ciência Emergente da Consciência Animal), realizada na Universidade de Nova York.

Liderada pela filósofa e cientista cognitiva Kristin Andrews, da Universidade de York, em Ontário, pelo filósofo e cientista ambiental Jeff Sebo, da Universidade de Nova York, e pelo filósofo Jonathan Birch, da London School of Economics and Political Science, a declaração já foi assinada por 39 pesquisadores, incluindo os psicólogos Nicola Clayton e Irene Pepperberg, os neurocientistas Anil Seth e Christof Koch, o zoólogo Lars Chittka e os filósofos David Chalmers e Peter Godfrey-Smith.

A declaração se concentra no tipo mais básico de consciência, conhecido como consciência fenomenal. Em termos gerais, se uma criatura tem consciência fenomenal, então é “como algo” ser essa criatura - uma ideia enunciada pelo filósofo Thomas Nagel em seu influente ensaio de 1974, “What is it like to be a bat?” (Como é ser um morcego?).

Mesmo que uma criatura seja muito diferente de nós, Nagel escreveu: “fundamentalmente, um organismo tem estados mentais conscientes se e somente se houver algo que seja como ser esse organismo. (...) Podemos chamar isso de caráter subjetivo da experiência”.

Se uma criatura é fenomenalmente consciente, ela tem a capacidade de experimentar sentimentos como dor, prazer ou fome, mas não necessariamente estados mentais mais complexos, como a autoconsciência.

“Espero que a declaração (chame) mais atenção para as questões da consciência não humana e para os desafios éticos que acompanham a possibilidade de experiências conscientes muito além do humano”, escreveu Seth, neurocientista da Universidade de Sussex.

“Espero que isso estimule a discussão, informe a política e a prática do bem estar animal e estimule a compreensão e o reconhecimento de que temos muito mais em comum com outros animais do que com coisas como o ChatGPT.”

Uma conscientização crescente

A declaração começou a tomar forma no ano passado, após conversas entre Sebo, Andrews e Birch. “Nós três estávamos conversando sobre o quanto aconteceu nos últimos 10, 15 anos, na ciência da consciência animal”, lembra Sebo. Agora sabemos, por exemplo, que os polvos sentem dor.

Estudos em peixes descobriram que o bodião-limpador parece passar em uma versão do “teste do espelho”, que indica um grau de autorreconhecimento, e que o peixe-zebra mostra sinais de curiosidade.

No mundo dos insetos, as abelhas apresentam comportamento lúdico aparente, enquanto as moscas-das-frutas Drosophila têm padrões de sono distintos influenciados por seu ambiente social. Enquanto isso, os lagostins apresentam estados semelhantes aos da ansiedade - e esses estados podem ser alterados por medicamentos contra a ansiedade.

Esses e outros sinais de estados conscientes em animais que há muito tempo eram considerados menos do que conscientes entusiasmaram e desafiaram biólogos, cientistas cognitivos e filósofos da mente. “Muitas pessoas já aceitaram há algum tempo que, por exemplo, os mamíferos e as aves são conscientes ou têm grande probabilidade de serem conscientes, mas foi dada menos atenção a outros táxons de vertebrados e, principalmente, de invertebrados”, disse Sebo.

Em conversas e reuniões, os especialistas concordaram amplamente que esses animais devem ter consciência. No entanto, esse consenso recém-formado não estava sendo comunicado ao público em geral, incluindo outros cientistas e formuladores de políticas.

Assim, os três pesquisadores decidiram redigir uma declaração clara e concisa e distribuí-la entre seus colegas para aprovação. A declaração não pretende ser abrangente, mas sim “indicar onde achamos que o campo está agora e para onde o campo está indo”, disse Sebo.

A nova declaração atualiza o esforço mais recente para estabelecer um consenso científico sobre a consciência animal. Em 2012, os pesquisadores publicaram a Declaração de Cambridge sobre Consciência, que afirmava que uma série de animais não humanos, incluindo, mas não se limitando a mamíferos e aves, têm “a capacidade de exibir comportamentos intencionais” e que “os seres humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência”.

A nova declaração amplia o escopo de sua antecessora e também é redigida com mais cuidado, escreveu Seth. “Ela não tenta fazer ciência por diktat (determinação à força), mas enfatiza o que devemos levar a sério em relação à consciência animal e à ética relevante, dadas as evidências e teorias que temos.”

Ele escreveu que “não é a favor de avalanches de cartas abertas e coisas do gênero”, mas que, no final das contas, “chegou à conclusão de que valia muito a pena apoiar essa declaração”.

Godfrey-Smith, um filósofo da ciência da Universidade de Sydney que trabalhou extensivamente com polvos, acredita que os comportamentos complexos que essas criaturas exibem - incluindo resolução de problemas, uso de ferramentas e comportamento lúdico - só podem ser interpretados como indicadores de consciência.

“Eles têm esse envolvimento atento com as coisas, conosco e com objetos novos, o que torna muito difícil não pensar que há muita coisa acontecendo dentro deles”, disse.

Ele observou que trabalhos recentes que analisam a dor e os estados oníricos em polvos “apontam na mesma direção (...) no sentido de que a experiência é uma parte real de suas vidas”.

Embora muitos dos animais mencionados na declaração tenham cérebros e sistemas nervosos muito diferentes dos humanos, os pesquisadores dizem que isso não precisa ser uma barreira para a consciência. Por exemplo, o cérebro de uma abelha contém apenas cerca de um milhão de neurônios, em comparação com cerca de 86 bilhões no caso dos humanos.

Mas cada um desses neurônios de abelha pode ser tão complexo estruturalmente quanto um carvalho. A rede de conexões que eles formam também é incrivelmente densa, com cada neurônio entrando em contato com talvez 10 mil ou 100 mil outros.

O sistema nervoso de um polvo, por outro lado, é complexo em outros aspectos. Sua organização é altamente distribuída em vez de centralizada; um braço cortado pode apresentar muitos dos comportamentos do animal intacto.

O resultado, disse Andrews, é que “talvez não precisemos de tantos equipamentos quanto pensávamos” para alcançar a consciência. Ela observou, por exemplo, que mesmo um córtex cerebral - a camada externa do cérebro dos mamíferos, que se acredita desempenhar um papel na atenção, percepção, memória e outros aspectos importantes da consciência - pode não ser necessário para a consciência fenomenal mais simples visada na declaração.

“Houve grande debate sobre a consciência dos peixes, e muito disso se deveu ao fato de eles não terem as estruturas cerebrais que vemos nos mamíferos”, afirmou ela.

“Mas quando observamos os pássaros, répteis e anfíbios, eles têm estruturas cerebrais muito diferentes e pressões evolutivas diferentes e, ainda assim, estamos descobrindo que algumas dessas estruturas cerebrais fazem o mesmo tipo de trabalho que o córtex cerebral faz nos seres humanos.”

Godfrey-Smith concordou, observando que os comportamentos indicativos de consciência “podem existir em uma arquitetura que parece completamente estranha à arquitetura dos vertebrados ou dos seres humanos”.

Relações conscientes

Embora a declaração tenha implicações para o tratamento de animais e, principalmente, para a prevenção do sofrimento animal, Sebo observou que o foco deve ir além da dor. Não é suficiente que as pessoas evitem que os animais em cativeiro sintam dor e desconforto no corpo, disse.

“Também temos de oferecer a eles os tipos de enriquecimento e oportunidades que lhes permitam expressar seus instintos, explorar seus ambientes, envolver-se em sistemas sociais e ser os tipos de agentes complexos que são.”

Mas as consequências de atribuir o rótulo de “consciente” a uma gama maior de animais - especialmente animais cujos interesses não estamos acostumados a considerar - não são simples. Por exemplo, nosso relacionamento com os insetos pode ser “inevitavelmente um pouco antagônico”, disse Godfrey-Smith.

Algumas pragas comem plantações, e os mosquitos podem transmitir doenças. “A ideia de que poderíamos simplesmente fazer as pazes com os mosquitos é muito diferente da ideia de que poderíamos fazer as pazes com peixes e polvos”, afirmou.

Da mesma forma, pouca atenção é dada ao bem estar de insetos como a Drosophila, amplamente utilizados em pesquisas biológicas. “Pensamos no bem estar do gado e dos camundongos nas pesquisas, mas nunca pensamos no bem estar dos insetos”, disse Matilda Gibbons, que pesquisa a base neural da consciência na Universidade da Pensilvânia e assinou a declaração.

Embora os órgãos científicos tenham criado alguns padrões para o tratamento de camundongos de laboratório, não está claro se a declaração de hoje levará a novos padrões para o tratamento de insetos. Mas novas descobertas científicas às vezes geram novas políticas.

A Grã-Bretanha, por exemplo, promulgou uma legislação para aumentar a proteção de polvos, caranguejos e lagostas depois que um relatório da London School of Economics indicou que esses animais podem sentir dor, angústia ou danos.

Embora a declaração não faça menção à inteligência artificial, a questão da possível consciência da IA tem estado na mente dos pesquisadores da consciência animal.

“É muito improvável que os sistemas atuais de IA sejam conscientes”, disse Sebo. Entretanto, o que ele aprendeu sobre a mente dos animais “me faz parar e querer abordar o assunto com cautela e humildade”.

Andrews espera que a declaração estimule mais pesquisas sobre animais que muitas vezes foram ignorados, um movimento que tem o potencial de expandir ainda mais nossa consciência sobre o escopo da consciência no mundo animal.

“Todos esses vermes nematoides e moscas-das-frutas que estão em quase todas as universidades - estudem a consciência neles”, disse ela. “Vocês já os têm. Alguém em seu laboratório precisará de um projeto. Faça desse projeto um projeto de consciência. Imagine isso!”

História original republicada com permissão da Quanta Magazine, uma publicação editorialmente independente apoiada pela Simons Foundation. Leia o conteúdo original em Insects and Other Animals Have Consciousness, Experts Declare.

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

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