Grandes quantidades de dióxido de carbono liberadas do fundo dos oceanos foram um fator decisivo para acabar com a última Era do Gelo, há cerca de 12 mil anos, de acordo com um novo estudo publicado hoje na revista Nature. De acordo com os autores, estudo abre novas perspectivas para entender como os oceanos afetam o ciclo de carbono e as mudanças climáticas.
O estudo revela que, nos oceanos do Hemisfério Sul, reservatórios de carbono que ficaram isolados da superfície por longos períodos foram de alguma reconectados com a atmosfera, provocando um aumento do CO2 atmosférico e elevando as temperaturas globais.
Os níveis de dióxido de carbono na atmosfera flutuaram de cerca de 185 partes por milhão (ppm), durante as glaciações, para 280 ppm, em períodos mais quentes, como hoje. A partir de 1850, no entanto, os níveis de CO2 atmosférico subiram para cerca de 440 ppm.
Segundo os cientistas, os oceanos contêm atualmente 60 vezes mais carbono que a atmosfera. As trocas de carbono entre oceano e atmosfera são consideradas rápidas em termos geológicos, de acordo com o autor principal do estudo, Miguel Martínez-Botí, da Universidade de Southampton (Reino Unido).
"A magnitude e a rapidez dessas oscilações no CO2 atmosférico ao longo dos ciclos de glaciações sugerem que mudanças no armazenamento de carbono dos oceanos são um importante fator das variações atmosféricas de CO2", disse.
A equipe, que também envolve cientistas da Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha) e Universidade Nacional da Austrália, encontrou, nas águas superficiais do oceano Atlântico Sul e no leste do Oceano Pacífico equatorial, altas concentrações de CO2 que coincidiam com o aumento do CO2 atmosférico no fim da última Era do Gelo. Segundo eles, isso indica que essas regiões funcionavam como fontes de dióxido de carbono para a atmosfera.
Para descobrir a concentração de dióxido de carbono no oceano há milhares de anos, os cientistas estudaram a composição do carbonato de cálcio encontrada na casca
nas cascas de microfósseis da espécie Globigerina bulloides, resgatada dos sedimentos marinhos. O nível de dióxido de carbono encontrada nos organismos foi então comparado aos níveis de CO2 atmosférico do passado, medidos anteriormente a partir de vestígios no gelo da Antártica.
Segundo os cientistas, os oceanos absorveram e armazenaram cerca de 30% de todas as emissões de combustíveis fósseis provocadas pelo ser humano nos últimos 100 anos. Os novos dados confirmam que, da mesma forma, as variações naturais do CO2 atmosférico entre as glaciações e os períodos interglaciais são provocados por mudanças na quantidade de carbono armazenadas nos oceanos.
"Nossos resultados reforçam o papel central dos processos dos oceanos do Hemisfério Sul nesses ciclos naturais. No entanto, ainda não sabemos a história toda e outros processos que operam em outras partes dos oceanos, como o norte do Pacífico, podem ter um papel complementar", afirmou Martínez-Botí.