Megalodonte, tubarão pré-histórico, é estrela de filme; entenda a sua vida há 20 milhões de anos


Animal tinha até 20 metros de comprimento, dentes pontiagudos do tamanho de uma mão humana e era capaz de engolir uma baleia inteira

Por Roberta Jansen

O tubarão pré-histórico megalodonte (Otodus megalodon) aterrorizou os mares de todo o planeta durante 20 milhões de anos. Com até 20 metros de comprimento (quatro vezes maior que um tubarão branco atual) e dentes pontiagudos do tamanho de uma mão humana, ele era capaz de engolir uma baleia inteira em poucas bocadas se ela desse o azar de cruzar seu caminho. Um vilão e tanto.

Não por acaso, o megalodonte é a estrela do filme Megatubarão 2, de Ben Wheatley, que estreou no Brasil na semana passada. O longa conta a história de um grupo de pesquisadores que acaba encontrando um exemplar vivo da fera pré-histórica nas Fossas Marianas, o lugar mais profundo dos oceanos, com quase 11 mil metros de profundidade.

Cientistas alertam para as inconsistências científicas e para os riscos que o filme representa para os tubarões – praticamente um terço deles ameaçados de extinção. Cerca de 100 milhões de tubarões são mortos por ano em todo o mundo, em grande parte, dizem os especialistas, por conta da recorrente “representação negativa dos tubarões na mídia”.

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Ilustração mostra o extinto tubarão megalodonte atacando uma foca Foto: Alex Boersma/PNAS//REUTERS

”O filme surfa na onda do medo, do grande monstro que persegue os homens, não ajuda em nada, muito pelo contrário”, diz o biólogo marinho Marcelo Szpilman, presidente do AquaRio e autor do livro Tubarões por que atacam o homem? (Ed. Mauad), a ser lançado em 21 de outubro.

“Como o oceano é um ambiente misterioso, o filme reforça essa crença boba de que lá pode haver monstros, como se acreditava em 1500. O ruim é mostrar o tubarão, mais uma vez, como uma fera assassina; a falsa imputação feita aos tubarões há anos. E, nesse caso específico, um monstro que não existe, que está extinto há milhões de anos. Se o tubarão branco que é muito menor já causa pânico, imagina achar que aquele existe.”

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Mas o que se sabe, de fato, sobre o monstro e o que é pura invenção do cinema?

O megalodonte é conhecido por cientistas desde 1840 graças aos seus enormes dentes triangulares que, com alguma frequência, foram fossilizados. O nome megalodonte significa, justamente, dente grande em grego antigo. E não é para menos. Alguns dos dentes já encontrados tinham até 17 centímetros. O dente de um tubarão branco, por exemplo, tem cerca de 7,5 centímetros.

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No entanto, embora já tenham sido encontrados vários dentes fossilizados em todos os continentes, não se tem muitos detalhes sobre o restante do corpo do bicho. Além dos dentes, os cientistas só dispõem de algumas vértebras.

Comparando o tamanho do dente de tubarões atuais com o de seus corpos, paleontólogos estimam que o megalodonte podia chegar a inacreditáveis 20 metros – o que significa que ele era muito maior do que qualquer outro tubarão existente atualmente; muito provavelmente o maior que já existiu. E o formato triangular dos dentes não deixa dúvida: ele era um grande predador.

Outra forma de descobrir em que local da cadeia alimentar o megalodonte se encontrava é buscar por indícios de nitrogênio. Todo o nitrogênio presente no corpo de um animal vem da proteína ingerida. Com isso, animais que estão no topo da cadeia alimentar apresentam uma proporção muito maior de nitrogênio em seus corpos, inclusive nos dentes.

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Em um estudo de 2022, Sora Kim e sua equipe da Universidade da Califórnia, nos EUA, constataram altos níveis de nitrogênio no dente de um megalodonte, indicando que ele seria, realmente, um grande predador, capaz de engolir até mesmo grandes baleias, como as atuais orcas.

Estudando as poucas vértebras de megalodonte já encontradas, pesquisadores conseguiram estimar que o tubarão nascia já com dois metros de comprimento. O tamanho sugere que ele não saia de um ovo deixado em algum lugar, como muitas criaturas marinhas, mas era gestado no útero da mãe. E mais: para alcançar tal tamanho, ele certamente comia outros ovos que eventualmente estivessem sendo gestados.

Embora chocante, esse “canibalismo intrauterino” ocorre também entre os tubarões modernos. As fêmeas produzem relativamente poucos filhotes, mas cada um dos sobreviventes é alimentado da melhor forma possível.

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Um estudo do ano passado, publicado na Science Advances pelo grupo de Catalina Pimiento, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, classificou o megalodonte como um “superpredador transoceânico”. Ou seja, ele seria capaz de se deslocar entre os diferentes oceanos. Segundo o trabalho, o bicho era capaz de nadar 1,4 metro por segundo – bem mais rápido do que qualquer tubarão atual.

“A boca era tão grande que cabia ali praticamente qualquer presa”, afirmou a pesquisadora, no trabalho, lembrando que um indivíduo adulto poderia comer um animal do tamanho de uma baleia em poucas mordidas.

Outra característica importante é que ele era um animal de sangue quente, ou seja, ele conseguia controlar sua temperatura interna, gerando calor. Com isso, ele podia nadar mais rápido e por distâncias mais longas, além de poder se aventurar em águas geladas. Os dentes fossilizados já foram encontrados em todos os continentes, indicando sua ocupação.

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Sua extinção está provavelmente relacionada ao seu tamanho gigantesco. Para manter o corpanzil e o mecanismo de geração de calor, ele precisava comer muito. Uma queda no nível do mar e a consequente extinção de muitos outros animais marinhos que eram alimento do megalodonte selaram o seu destino há pelo menos 2,5 milhões de anos.

“Tem sido cansativo explicar para as pessoas que o megalodonte é uma espécie extinta, representada apenas pelo registro fóssil”, afirmou o paleobiólogo Kenshu Shimada, da Universidade DePaul, em Chicago, em entrevista à BBC, por conta do lançamento do filme.

Os cientistas garantem que, ao contrário do que sugere o filme, um tubarão tão grande, capaz de comer animais do tamanho de baleias, não passaria despercebido no mundo atual hiperconectado. Também diferentemente do que sugere o filme, os megalodontes não conviveram com os dinossauros. Quando os tubarões gigantes surgiram, os dinos já haviam sido extintos há milhões de anos.

Cena de Megatubarão 2, da Warner Bros. Foto: Cortesia Warner Bros. Pictures

”O filme é cheio de imprecisões científicas”, admitiu o paleontólogo Jack Cooper, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, em artigo escrito para a revista The Conversation sobre o novo filme. “Mas eu não consigo não gostar de Megatubarão. Um filme ridículo? Sim. Mas todos os envolvidos parecem estar muito cientes disso, tornando-o um entretenimento divertido.”

Para Cooper, se um jovem se inspirar no filme para, no futuro, vir a se tornar um especialista em megalodontes, o longa já justificou a sua existência. ”Digo isso porque foi o que aconteceu comigo”, escreveu.

“A razão de eu ter descoberto um megalodonte foi porque eu assisti a uma série da BBC chamada Monstros Marinhos, quando eu tinha seis anos. Agora, 20 anos depois, sou um paleobiólogo especializado em fósseis de tubarão e meu trabalho mais conhecido é sobre um megalodonte.”

Szpilman discorda. E lembra que resolveu se tornar biólogo marinho depois de assistir a 007, o Espião que me Amava.

”Tudo sempre pode ter algum lado bom; mas, nesse caso, é 99% ruim”, disse. “Se o intuito é fazer divulgação científica, melhor levar a criança num museu, num zoológico, num aquário.”

A péssima fama dos tubarões junto ao público data dos anos 1970, quando Steven Spielberg lançou Tubarão, um grande sucesso de crítica e público que aterrorizou uma geração inteira de jovens. O próprio Spielberg já disse que “lamenta verdadeiramente” ter feito o filme, que é acusado de ter deturpado o comportamento do animal, desencadeando uma onda de caça ao tubarão branco.

”Sabemos que os ataques de tubarões a homens são relativamente raros quando comparados a outros animais selvagens com os quais interagimos e que cerca de 80% dos ataques são causados por erro de identificação visual”, explica Szpilman, que se dedica a desmitificar a imagem sensacionalista imputada ao bicho.

“Em situações de pouca visibilidade, como água turva ou visāo contra o sol, o tubarão pode confundir sua presa habitual com um banhista ou surfista e dar uma mordida investigatória. Se nós, seres humanos, realmente representássemos uma presa apetitosa aos olhos de um tubarão, haveria muito poucas praias seguras ao redor do mundo e os ataques seriam diários e contados aos milhares.”

O tubarão pré-histórico megalodonte (Otodus megalodon) aterrorizou os mares de todo o planeta durante 20 milhões de anos. Com até 20 metros de comprimento (quatro vezes maior que um tubarão branco atual) e dentes pontiagudos do tamanho de uma mão humana, ele era capaz de engolir uma baleia inteira em poucas bocadas se ela desse o azar de cruzar seu caminho. Um vilão e tanto.

Não por acaso, o megalodonte é a estrela do filme Megatubarão 2, de Ben Wheatley, que estreou no Brasil na semana passada. O longa conta a história de um grupo de pesquisadores que acaba encontrando um exemplar vivo da fera pré-histórica nas Fossas Marianas, o lugar mais profundo dos oceanos, com quase 11 mil metros de profundidade.

Cientistas alertam para as inconsistências científicas e para os riscos que o filme representa para os tubarões – praticamente um terço deles ameaçados de extinção. Cerca de 100 milhões de tubarões são mortos por ano em todo o mundo, em grande parte, dizem os especialistas, por conta da recorrente “representação negativa dos tubarões na mídia”.

Ilustração mostra o extinto tubarão megalodonte atacando uma foca Foto: Alex Boersma/PNAS//REUTERS

”O filme surfa na onda do medo, do grande monstro que persegue os homens, não ajuda em nada, muito pelo contrário”, diz o biólogo marinho Marcelo Szpilman, presidente do AquaRio e autor do livro Tubarões por que atacam o homem? (Ed. Mauad), a ser lançado em 21 de outubro.

“Como o oceano é um ambiente misterioso, o filme reforça essa crença boba de que lá pode haver monstros, como se acreditava em 1500. O ruim é mostrar o tubarão, mais uma vez, como uma fera assassina; a falsa imputação feita aos tubarões há anos. E, nesse caso específico, um monstro que não existe, que está extinto há milhões de anos. Se o tubarão branco que é muito menor já causa pânico, imagina achar que aquele existe.”

Mas o que se sabe, de fato, sobre o monstro e o que é pura invenção do cinema?

O megalodonte é conhecido por cientistas desde 1840 graças aos seus enormes dentes triangulares que, com alguma frequência, foram fossilizados. O nome megalodonte significa, justamente, dente grande em grego antigo. E não é para menos. Alguns dos dentes já encontrados tinham até 17 centímetros. O dente de um tubarão branco, por exemplo, tem cerca de 7,5 centímetros.

No entanto, embora já tenham sido encontrados vários dentes fossilizados em todos os continentes, não se tem muitos detalhes sobre o restante do corpo do bicho. Além dos dentes, os cientistas só dispõem de algumas vértebras.

Comparando o tamanho do dente de tubarões atuais com o de seus corpos, paleontólogos estimam que o megalodonte podia chegar a inacreditáveis 20 metros – o que significa que ele era muito maior do que qualquer outro tubarão existente atualmente; muito provavelmente o maior que já existiu. E o formato triangular dos dentes não deixa dúvida: ele era um grande predador.

Outra forma de descobrir em que local da cadeia alimentar o megalodonte se encontrava é buscar por indícios de nitrogênio. Todo o nitrogênio presente no corpo de um animal vem da proteína ingerida. Com isso, animais que estão no topo da cadeia alimentar apresentam uma proporção muito maior de nitrogênio em seus corpos, inclusive nos dentes.

Em um estudo de 2022, Sora Kim e sua equipe da Universidade da Califórnia, nos EUA, constataram altos níveis de nitrogênio no dente de um megalodonte, indicando que ele seria, realmente, um grande predador, capaz de engolir até mesmo grandes baleias, como as atuais orcas.

Estudando as poucas vértebras de megalodonte já encontradas, pesquisadores conseguiram estimar que o tubarão nascia já com dois metros de comprimento. O tamanho sugere que ele não saia de um ovo deixado em algum lugar, como muitas criaturas marinhas, mas era gestado no útero da mãe. E mais: para alcançar tal tamanho, ele certamente comia outros ovos que eventualmente estivessem sendo gestados.

Embora chocante, esse “canibalismo intrauterino” ocorre também entre os tubarões modernos. As fêmeas produzem relativamente poucos filhotes, mas cada um dos sobreviventes é alimentado da melhor forma possível.

Um estudo do ano passado, publicado na Science Advances pelo grupo de Catalina Pimiento, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, classificou o megalodonte como um “superpredador transoceânico”. Ou seja, ele seria capaz de se deslocar entre os diferentes oceanos. Segundo o trabalho, o bicho era capaz de nadar 1,4 metro por segundo – bem mais rápido do que qualquer tubarão atual.

“A boca era tão grande que cabia ali praticamente qualquer presa”, afirmou a pesquisadora, no trabalho, lembrando que um indivíduo adulto poderia comer um animal do tamanho de uma baleia em poucas mordidas.

Outra característica importante é que ele era um animal de sangue quente, ou seja, ele conseguia controlar sua temperatura interna, gerando calor. Com isso, ele podia nadar mais rápido e por distâncias mais longas, além de poder se aventurar em águas geladas. Os dentes fossilizados já foram encontrados em todos os continentes, indicando sua ocupação.

Sua extinção está provavelmente relacionada ao seu tamanho gigantesco. Para manter o corpanzil e o mecanismo de geração de calor, ele precisava comer muito. Uma queda no nível do mar e a consequente extinção de muitos outros animais marinhos que eram alimento do megalodonte selaram o seu destino há pelo menos 2,5 milhões de anos.

“Tem sido cansativo explicar para as pessoas que o megalodonte é uma espécie extinta, representada apenas pelo registro fóssil”, afirmou o paleobiólogo Kenshu Shimada, da Universidade DePaul, em Chicago, em entrevista à BBC, por conta do lançamento do filme.

Os cientistas garantem que, ao contrário do que sugere o filme, um tubarão tão grande, capaz de comer animais do tamanho de baleias, não passaria despercebido no mundo atual hiperconectado. Também diferentemente do que sugere o filme, os megalodontes não conviveram com os dinossauros. Quando os tubarões gigantes surgiram, os dinos já haviam sido extintos há milhões de anos.

Cena de Megatubarão 2, da Warner Bros. Foto: Cortesia Warner Bros. Pictures

”O filme é cheio de imprecisões científicas”, admitiu o paleontólogo Jack Cooper, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, em artigo escrito para a revista The Conversation sobre o novo filme. “Mas eu não consigo não gostar de Megatubarão. Um filme ridículo? Sim. Mas todos os envolvidos parecem estar muito cientes disso, tornando-o um entretenimento divertido.”

Para Cooper, se um jovem se inspirar no filme para, no futuro, vir a se tornar um especialista em megalodontes, o longa já justificou a sua existência. ”Digo isso porque foi o que aconteceu comigo”, escreveu.

“A razão de eu ter descoberto um megalodonte foi porque eu assisti a uma série da BBC chamada Monstros Marinhos, quando eu tinha seis anos. Agora, 20 anos depois, sou um paleobiólogo especializado em fósseis de tubarão e meu trabalho mais conhecido é sobre um megalodonte.”

Szpilman discorda. E lembra que resolveu se tornar biólogo marinho depois de assistir a 007, o Espião que me Amava.

”Tudo sempre pode ter algum lado bom; mas, nesse caso, é 99% ruim”, disse. “Se o intuito é fazer divulgação científica, melhor levar a criança num museu, num zoológico, num aquário.”

A péssima fama dos tubarões junto ao público data dos anos 1970, quando Steven Spielberg lançou Tubarão, um grande sucesso de crítica e público que aterrorizou uma geração inteira de jovens. O próprio Spielberg já disse que “lamenta verdadeiramente” ter feito o filme, que é acusado de ter deturpado o comportamento do animal, desencadeando uma onda de caça ao tubarão branco.

”Sabemos que os ataques de tubarões a homens são relativamente raros quando comparados a outros animais selvagens com os quais interagimos e que cerca de 80% dos ataques são causados por erro de identificação visual”, explica Szpilman, que se dedica a desmitificar a imagem sensacionalista imputada ao bicho.

“Em situações de pouca visibilidade, como água turva ou visāo contra o sol, o tubarão pode confundir sua presa habitual com um banhista ou surfista e dar uma mordida investigatória. Se nós, seres humanos, realmente representássemos uma presa apetitosa aos olhos de um tubarão, haveria muito poucas praias seguras ao redor do mundo e os ataques seriam diários e contados aos milhares.”

O tubarão pré-histórico megalodonte (Otodus megalodon) aterrorizou os mares de todo o planeta durante 20 milhões de anos. Com até 20 metros de comprimento (quatro vezes maior que um tubarão branco atual) e dentes pontiagudos do tamanho de uma mão humana, ele era capaz de engolir uma baleia inteira em poucas bocadas se ela desse o azar de cruzar seu caminho. Um vilão e tanto.

Não por acaso, o megalodonte é a estrela do filme Megatubarão 2, de Ben Wheatley, que estreou no Brasil na semana passada. O longa conta a história de um grupo de pesquisadores que acaba encontrando um exemplar vivo da fera pré-histórica nas Fossas Marianas, o lugar mais profundo dos oceanos, com quase 11 mil metros de profundidade.

Cientistas alertam para as inconsistências científicas e para os riscos que o filme representa para os tubarões – praticamente um terço deles ameaçados de extinção. Cerca de 100 milhões de tubarões são mortos por ano em todo o mundo, em grande parte, dizem os especialistas, por conta da recorrente “representação negativa dos tubarões na mídia”.

Ilustração mostra o extinto tubarão megalodonte atacando uma foca Foto: Alex Boersma/PNAS//REUTERS

”O filme surfa na onda do medo, do grande monstro que persegue os homens, não ajuda em nada, muito pelo contrário”, diz o biólogo marinho Marcelo Szpilman, presidente do AquaRio e autor do livro Tubarões por que atacam o homem? (Ed. Mauad), a ser lançado em 21 de outubro.

“Como o oceano é um ambiente misterioso, o filme reforça essa crença boba de que lá pode haver monstros, como se acreditava em 1500. O ruim é mostrar o tubarão, mais uma vez, como uma fera assassina; a falsa imputação feita aos tubarões há anos. E, nesse caso específico, um monstro que não existe, que está extinto há milhões de anos. Se o tubarão branco que é muito menor já causa pânico, imagina achar que aquele existe.”

Mas o que se sabe, de fato, sobre o monstro e o que é pura invenção do cinema?

O megalodonte é conhecido por cientistas desde 1840 graças aos seus enormes dentes triangulares que, com alguma frequência, foram fossilizados. O nome megalodonte significa, justamente, dente grande em grego antigo. E não é para menos. Alguns dos dentes já encontrados tinham até 17 centímetros. O dente de um tubarão branco, por exemplo, tem cerca de 7,5 centímetros.

No entanto, embora já tenham sido encontrados vários dentes fossilizados em todos os continentes, não se tem muitos detalhes sobre o restante do corpo do bicho. Além dos dentes, os cientistas só dispõem de algumas vértebras.

Comparando o tamanho do dente de tubarões atuais com o de seus corpos, paleontólogos estimam que o megalodonte podia chegar a inacreditáveis 20 metros – o que significa que ele era muito maior do que qualquer outro tubarão existente atualmente; muito provavelmente o maior que já existiu. E o formato triangular dos dentes não deixa dúvida: ele era um grande predador.

Outra forma de descobrir em que local da cadeia alimentar o megalodonte se encontrava é buscar por indícios de nitrogênio. Todo o nitrogênio presente no corpo de um animal vem da proteína ingerida. Com isso, animais que estão no topo da cadeia alimentar apresentam uma proporção muito maior de nitrogênio em seus corpos, inclusive nos dentes.

Em um estudo de 2022, Sora Kim e sua equipe da Universidade da Califórnia, nos EUA, constataram altos níveis de nitrogênio no dente de um megalodonte, indicando que ele seria, realmente, um grande predador, capaz de engolir até mesmo grandes baleias, como as atuais orcas.

Estudando as poucas vértebras de megalodonte já encontradas, pesquisadores conseguiram estimar que o tubarão nascia já com dois metros de comprimento. O tamanho sugere que ele não saia de um ovo deixado em algum lugar, como muitas criaturas marinhas, mas era gestado no útero da mãe. E mais: para alcançar tal tamanho, ele certamente comia outros ovos que eventualmente estivessem sendo gestados.

Embora chocante, esse “canibalismo intrauterino” ocorre também entre os tubarões modernos. As fêmeas produzem relativamente poucos filhotes, mas cada um dos sobreviventes é alimentado da melhor forma possível.

Um estudo do ano passado, publicado na Science Advances pelo grupo de Catalina Pimiento, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, classificou o megalodonte como um “superpredador transoceânico”. Ou seja, ele seria capaz de se deslocar entre os diferentes oceanos. Segundo o trabalho, o bicho era capaz de nadar 1,4 metro por segundo – bem mais rápido do que qualquer tubarão atual.

“A boca era tão grande que cabia ali praticamente qualquer presa”, afirmou a pesquisadora, no trabalho, lembrando que um indivíduo adulto poderia comer um animal do tamanho de uma baleia em poucas mordidas.

Outra característica importante é que ele era um animal de sangue quente, ou seja, ele conseguia controlar sua temperatura interna, gerando calor. Com isso, ele podia nadar mais rápido e por distâncias mais longas, além de poder se aventurar em águas geladas. Os dentes fossilizados já foram encontrados em todos os continentes, indicando sua ocupação.

Sua extinção está provavelmente relacionada ao seu tamanho gigantesco. Para manter o corpanzil e o mecanismo de geração de calor, ele precisava comer muito. Uma queda no nível do mar e a consequente extinção de muitos outros animais marinhos que eram alimento do megalodonte selaram o seu destino há pelo menos 2,5 milhões de anos.

“Tem sido cansativo explicar para as pessoas que o megalodonte é uma espécie extinta, representada apenas pelo registro fóssil”, afirmou o paleobiólogo Kenshu Shimada, da Universidade DePaul, em Chicago, em entrevista à BBC, por conta do lançamento do filme.

Os cientistas garantem que, ao contrário do que sugere o filme, um tubarão tão grande, capaz de comer animais do tamanho de baleias, não passaria despercebido no mundo atual hiperconectado. Também diferentemente do que sugere o filme, os megalodontes não conviveram com os dinossauros. Quando os tubarões gigantes surgiram, os dinos já haviam sido extintos há milhões de anos.

Cena de Megatubarão 2, da Warner Bros. Foto: Cortesia Warner Bros. Pictures

”O filme é cheio de imprecisões científicas”, admitiu o paleontólogo Jack Cooper, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, em artigo escrito para a revista The Conversation sobre o novo filme. “Mas eu não consigo não gostar de Megatubarão. Um filme ridículo? Sim. Mas todos os envolvidos parecem estar muito cientes disso, tornando-o um entretenimento divertido.”

Para Cooper, se um jovem se inspirar no filme para, no futuro, vir a se tornar um especialista em megalodontes, o longa já justificou a sua existência. ”Digo isso porque foi o que aconteceu comigo”, escreveu.

“A razão de eu ter descoberto um megalodonte foi porque eu assisti a uma série da BBC chamada Monstros Marinhos, quando eu tinha seis anos. Agora, 20 anos depois, sou um paleobiólogo especializado em fósseis de tubarão e meu trabalho mais conhecido é sobre um megalodonte.”

Szpilman discorda. E lembra que resolveu se tornar biólogo marinho depois de assistir a 007, o Espião que me Amava.

”Tudo sempre pode ter algum lado bom; mas, nesse caso, é 99% ruim”, disse. “Se o intuito é fazer divulgação científica, melhor levar a criança num museu, num zoológico, num aquário.”

A péssima fama dos tubarões junto ao público data dos anos 1970, quando Steven Spielberg lançou Tubarão, um grande sucesso de crítica e público que aterrorizou uma geração inteira de jovens. O próprio Spielberg já disse que “lamenta verdadeiramente” ter feito o filme, que é acusado de ter deturpado o comportamento do animal, desencadeando uma onda de caça ao tubarão branco.

”Sabemos que os ataques de tubarões a homens são relativamente raros quando comparados a outros animais selvagens com os quais interagimos e que cerca de 80% dos ataques são causados por erro de identificação visual”, explica Szpilman, que se dedica a desmitificar a imagem sensacionalista imputada ao bicho.

“Em situações de pouca visibilidade, como água turva ou visāo contra o sol, o tubarão pode confundir sua presa habitual com um banhista ou surfista e dar uma mordida investigatória. Se nós, seres humanos, realmente representássemos uma presa apetitosa aos olhos de um tubarão, haveria muito poucas praias seguras ao redor do mundo e os ataques seriam diários e contados aos milhares.”

O tubarão pré-histórico megalodonte (Otodus megalodon) aterrorizou os mares de todo o planeta durante 20 milhões de anos. Com até 20 metros de comprimento (quatro vezes maior que um tubarão branco atual) e dentes pontiagudos do tamanho de uma mão humana, ele era capaz de engolir uma baleia inteira em poucas bocadas se ela desse o azar de cruzar seu caminho. Um vilão e tanto.

Não por acaso, o megalodonte é a estrela do filme Megatubarão 2, de Ben Wheatley, que estreou no Brasil na semana passada. O longa conta a história de um grupo de pesquisadores que acaba encontrando um exemplar vivo da fera pré-histórica nas Fossas Marianas, o lugar mais profundo dos oceanos, com quase 11 mil metros de profundidade.

Cientistas alertam para as inconsistências científicas e para os riscos que o filme representa para os tubarões – praticamente um terço deles ameaçados de extinção. Cerca de 100 milhões de tubarões são mortos por ano em todo o mundo, em grande parte, dizem os especialistas, por conta da recorrente “representação negativa dos tubarões na mídia”.

Ilustração mostra o extinto tubarão megalodonte atacando uma foca Foto: Alex Boersma/PNAS//REUTERS

”O filme surfa na onda do medo, do grande monstro que persegue os homens, não ajuda em nada, muito pelo contrário”, diz o biólogo marinho Marcelo Szpilman, presidente do AquaRio e autor do livro Tubarões por que atacam o homem? (Ed. Mauad), a ser lançado em 21 de outubro.

“Como o oceano é um ambiente misterioso, o filme reforça essa crença boba de que lá pode haver monstros, como se acreditava em 1500. O ruim é mostrar o tubarão, mais uma vez, como uma fera assassina; a falsa imputação feita aos tubarões há anos. E, nesse caso específico, um monstro que não existe, que está extinto há milhões de anos. Se o tubarão branco que é muito menor já causa pânico, imagina achar que aquele existe.”

Mas o que se sabe, de fato, sobre o monstro e o que é pura invenção do cinema?

O megalodonte é conhecido por cientistas desde 1840 graças aos seus enormes dentes triangulares que, com alguma frequência, foram fossilizados. O nome megalodonte significa, justamente, dente grande em grego antigo. E não é para menos. Alguns dos dentes já encontrados tinham até 17 centímetros. O dente de um tubarão branco, por exemplo, tem cerca de 7,5 centímetros.

No entanto, embora já tenham sido encontrados vários dentes fossilizados em todos os continentes, não se tem muitos detalhes sobre o restante do corpo do bicho. Além dos dentes, os cientistas só dispõem de algumas vértebras.

Comparando o tamanho do dente de tubarões atuais com o de seus corpos, paleontólogos estimam que o megalodonte podia chegar a inacreditáveis 20 metros – o que significa que ele era muito maior do que qualquer outro tubarão existente atualmente; muito provavelmente o maior que já existiu. E o formato triangular dos dentes não deixa dúvida: ele era um grande predador.

Outra forma de descobrir em que local da cadeia alimentar o megalodonte se encontrava é buscar por indícios de nitrogênio. Todo o nitrogênio presente no corpo de um animal vem da proteína ingerida. Com isso, animais que estão no topo da cadeia alimentar apresentam uma proporção muito maior de nitrogênio em seus corpos, inclusive nos dentes.

Em um estudo de 2022, Sora Kim e sua equipe da Universidade da Califórnia, nos EUA, constataram altos níveis de nitrogênio no dente de um megalodonte, indicando que ele seria, realmente, um grande predador, capaz de engolir até mesmo grandes baleias, como as atuais orcas.

Estudando as poucas vértebras de megalodonte já encontradas, pesquisadores conseguiram estimar que o tubarão nascia já com dois metros de comprimento. O tamanho sugere que ele não saia de um ovo deixado em algum lugar, como muitas criaturas marinhas, mas era gestado no útero da mãe. E mais: para alcançar tal tamanho, ele certamente comia outros ovos que eventualmente estivessem sendo gestados.

Embora chocante, esse “canibalismo intrauterino” ocorre também entre os tubarões modernos. As fêmeas produzem relativamente poucos filhotes, mas cada um dos sobreviventes é alimentado da melhor forma possível.

Um estudo do ano passado, publicado na Science Advances pelo grupo de Catalina Pimiento, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, classificou o megalodonte como um “superpredador transoceânico”. Ou seja, ele seria capaz de se deslocar entre os diferentes oceanos. Segundo o trabalho, o bicho era capaz de nadar 1,4 metro por segundo – bem mais rápido do que qualquer tubarão atual.

“A boca era tão grande que cabia ali praticamente qualquer presa”, afirmou a pesquisadora, no trabalho, lembrando que um indivíduo adulto poderia comer um animal do tamanho de uma baleia em poucas mordidas.

Outra característica importante é que ele era um animal de sangue quente, ou seja, ele conseguia controlar sua temperatura interna, gerando calor. Com isso, ele podia nadar mais rápido e por distâncias mais longas, além de poder se aventurar em águas geladas. Os dentes fossilizados já foram encontrados em todos os continentes, indicando sua ocupação.

Sua extinção está provavelmente relacionada ao seu tamanho gigantesco. Para manter o corpanzil e o mecanismo de geração de calor, ele precisava comer muito. Uma queda no nível do mar e a consequente extinção de muitos outros animais marinhos que eram alimento do megalodonte selaram o seu destino há pelo menos 2,5 milhões de anos.

“Tem sido cansativo explicar para as pessoas que o megalodonte é uma espécie extinta, representada apenas pelo registro fóssil”, afirmou o paleobiólogo Kenshu Shimada, da Universidade DePaul, em Chicago, em entrevista à BBC, por conta do lançamento do filme.

Os cientistas garantem que, ao contrário do que sugere o filme, um tubarão tão grande, capaz de comer animais do tamanho de baleias, não passaria despercebido no mundo atual hiperconectado. Também diferentemente do que sugere o filme, os megalodontes não conviveram com os dinossauros. Quando os tubarões gigantes surgiram, os dinos já haviam sido extintos há milhões de anos.

Cena de Megatubarão 2, da Warner Bros. Foto: Cortesia Warner Bros. Pictures

”O filme é cheio de imprecisões científicas”, admitiu o paleontólogo Jack Cooper, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, em artigo escrito para a revista The Conversation sobre o novo filme. “Mas eu não consigo não gostar de Megatubarão. Um filme ridículo? Sim. Mas todos os envolvidos parecem estar muito cientes disso, tornando-o um entretenimento divertido.”

Para Cooper, se um jovem se inspirar no filme para, no futuro, vir a se tornar um especialista em megalodontes, o longa já justificou a sua existência. ”Digo isso porque foi o que aconteceu comigo”, escreveu.

“A razão de eu ter descoberto um megalodonte foi porque eu assisti a uma série da BBC chamada Monstros Marinhos, quando eu tinha seis anos. Agora, 20 anos depois, sou um paleobiólogo especializado em fósseis de tubarão e meu trabalho mais conhecido é sobre um megalodonte.”

Szpilman discorda. E lembra que resolveu se tornar biólogo marinho depois de assistir a 007, o Espião que me Amava.

”Tudo sempre pode ter algum lado bom; mas, nesse caso, é 99% ruim”, disse. “Se o intuito é fazer divulgação científica, melhor levar a criança num museu, num zoológico, num aquário.”

A péssima fama dos tubarões junto ao público data dos anos 1970, quando Steven Spielberg lançou Tubarão, um grande sucesso de crítica e público que aterrorizou uma geração inteira de jovens. O próprio Spielberg já disse que “lamenta verdadeiramente” ter feito o filme, que é acusado de ter deturpado o comportamento do animal, desencadeando uma onda de caça ao tubarão branco.

”Sabemos que os ataques de tubarões a homens são relativamente raros quando comparados a outros animais selvagens com os quais interagimos e que cerca de 80% dos ataques são causados por erro de identificação visual”, explica Szpilman, que se dedica a desmitificar a imagem sensacionalista imputada ao bicho.

“Em situações de pouca visibilidade, como água turva ou visāo contra o sol, o tubarão pode confundir sua presa habitual com um banhista ou surfista e dar uma mordida investigatória. Se nós, seres humanos, realmente representássemos uma presa apetitosa aos olhos de um tubarão, haveria muito poucas praias seguras ao redor do mundo e os ataques seriam diários e contados aos milhares.”

O tubarão pré-histórico megalodonte (Otodus megalodon) aterrorizou os mares de todo o planeta durante 20 milhões de anos. Com até 20 metros de comprimento (quatro vezes maior que um tubarão branco atual) e dentes pontiagudos do tamanho de uma mão humana, ele era capaz de engolir uma baleia inteira em poucas bocadas se ela desse o azar de cruzar seu caminho. Um vilão e tanto.

Não por acaso, o megalodonte é a estrela do filme Megatubarão 2, de Ben Wheatley, que estreou no Brasil na semana passada. O longa conta a história de um grupo de pesquisadores que acaba encontrando um exemplar vivo da fera pré-histórica nas Fossas Marianas, o lugar mais profundo dos oceanos, com quase 11 mil metros de profundidade.

Cientistas alertam para as inconsistências científicas e para os riscos que o filme representa para os tubarões – praticamente um terço deles ameaçados de extinção. Cerca de 100 milhões de tubarões são mortos por ano em todo o mundo, em grande parte, dizem os especialistas, por conta da recorrente “representação negativa dos tubarões na mídia”.

Ilustração mostra o extinto tubarão megalodonte atacando uma foca Foto: Alex Boersma/PNAS//REUTERS

”O filme surfa na onda do medo, do grande monstro que persegue os homens, não ajuda em nada, muito pelo contrário”, diz o biólogo marinho Marcelo Szpilman, presidente do AquaRio e autor do livro Tubarões por que atacam o homem? (Ed. Mauad), a ser lançado em 21 de outubro.

“Como o oceano é um ambiente misterioso, o filme reforça essa crença boba de que lá pode haver monstros, como se acreditava em 1500. O ruim é mostrar o tubarão, mais uma vez, como uma fera assassina; a falsa imputação feita aos tubarões há anos. E, nesse caso específico, um monstro que não existe, que está extinto há milhões de anos. Se o tubarão branco que é muito menor já causa pânico, imagina achar que aquele existe.”

Mas o que se sabe, de fato, sobre o monstro e o que é pura invenção do cinema?

O megalodonte é conhecido por cientistas desde 1840 graças aos seus enormes dentes triangulares que, com alguma frequência, foram fossilizados. O nome megalodonte significa, justamente, dente grande em grego antigo. E não é para menos. Alguns dos dentes já encontrados tinham até 17 centímetros. O dente de um tubarão branco, por exemplo, tem cerca de 7,5 centímetros.

No entanto, embora já tenham sido encontrados vários dentes fossilizados em todos os continentes, não se tem muitos detalhes sobre o restante do corpo do bicho. Além dos dentes, os cientistas só dispõem de algumas vértebras.

Comparando o tamanho do dente de tubarões atuais com o de seus corpos, paleontólogos estimam que o megalodonte podia chegar a inacreditáveis 20 metros – o que significa que ele era muito maior do que qualquer outro tubarão existente atualmente; muito provavelmente o maior que já existiu. E o formato triangular dos dentes não deixa dúvida: ele era um grande predador.

Outra forma de descobrir em que local da cadeia alimentar o megalodonte se encontrava é buscar por indícios de nitrogênio. Todo o nitrogênio presente no corpo de um animal vem da proteína ingerida. Com isso, animais que estão no topo da cadeia alimentar apresentam uma proporção muito maior de nitrogênio em seus corpos, inclusive nos dentes.

Em um estudo de 2022, Sora Kim e sua equipe da Universidade da Califórnia, nos EUA, constataram altos níveis de nitrogênio no dente de um megalodonte, indicando que ele seria, realmente, um grande predador, capaz de engolir até mesmo grandes baleias, como as atuais orcas.

Estudando as poucas vértebras de megalodonte já encontradas, pesquisadores conseguiram estimar que o tubarão nascia já com dois metros de comprimento. O tamanho sugere que ele não saia de um ovo deixado em algum lugar, como muitas criaturas marinhas, mas era gestado no útero da mãe. E mais: para alcançar tal tamanho, ele certamente comia outros ovos que eventualmente estivessem sendo gestados.

Embora chocante, esse “canibalismo intrauterino” ocorre também entre os tubarões modernos. As fêmeas produzem relativamente poucos filhotes, mas cada um dos sobreviventes é alimentado da melhor forma possível.

Um estudo do ano passado, publicado na Science Advances pelo grupo de Catalina Pimiento, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, classificou o megalodonte como um “superpredador transoceânico”. Ou seja, ele seria capaz de se deslocar entre os diferentes oceanos. Segundo o trabalho, o bicho era capaz de nadar 1,4 metro por segundo – bem mais rápido do que qualquer tubarão atual.

“A boca era tão grande que cabia ali praticamente qualquer presa”, afirmou a pesquisadora, no trabalho, lembrando que um indivíduo adulto poderia comer um animal do tamanho de uma baleia em poucas mordidas.

Outra característica importante é que ele era um animal de sangue quente, ou seja, ele conseguia controlar sua temperatura interna, gerando calor. Com isso, ele podia nadar mais rápido e por distâncias mais longas, além de poder se aventurar em águas geladas. Os dentes fossilizados já foram encontrados em todos os continentes, indicando sua ocupação.

Sua extinção está provavelmente relacionada ao seu tamanho gigantesco. Para manter o corpanzil e o mecanismo de geração de calor, ele precisava comer muito. Uma queda no nível do mar e a consequente extinção de muitos outros animais marinhos que eram alimento do megalodonte selaram o seu destino há pelo menos 2,5 milhões de anos.

“Tem sido cansativo explicar para as pessoas que o megalodonte é uma espécie extinta, representada apenas pelo registro fóssil”, afirmou o paleobiólogo Kenshu Shimada, da Universidade DePaul, em Chicago, em entrevista à BBC, por conta do lançamento do filme.

Os cientistas garantem que, ao contrário do que sugere o filme, um tubarão tão grande, capaz de comer animais do tamanho de baleias, não passaria despercebido no mundo atual hiperconectado. Também diferentemente do que sugere o filme, os megalodontes não conviveram com os dinossauros. Quando os tubarões gigantes surgiram, os dinos já haviam sido extintos há milhões de anos.

Cena de Megatubarão 2, da Warner Bros. Foto: Cortesia Warner Bros. Pictures

”O filme é cheio de imprecisões científicas”, admitiu o paleontólogo Jack Cooper, da Universidade de Swansea, no Reino Unido, em artigo escrito para a revista The Conversation sobre o novo filme. “Mas eu não consigo não gostar de Megatubarão. Um filme ridículo? Sim. Mas todos os envolvidos parecem estar muito cientes disso, tornando-o um entretenimento divertido.”

Para Cooper, se um jovem se inspirar no filme para, no futuro, vir a se tornar um especialista em megalodontes, o longa já justificou a sua existência. ”Digo isso porque foi o que aconteceu comigo”, escreveu.

“A razão de eu ter descoberto um megalodonte foi porque eu assisti a uma série da BBC chamada Monstros Marinhos, quando eu tinha seis anos. Agora, 20 anos depois, sou um paleobiólogo especializado em fósseis de tubarão e meu trabalho mais conhecido é sobre um megalodonte.”

Szpilman discorda. E lembra que resolveu se tornar biólogo marinho depois de assistir a 007, o Espião que me Amava.

”Tudo sempre pode ter algum lado bom; mas, nesse caso, é 99% ruim”, disse. “Se o intuito é fazer divulgação científica, melhor levar a criança num museu, num zoológico, num aquário.”

A péssima fama dos tubarões junto ao público data dos anos 1970, quando Steven Spielberg lançou Tubarão, um grande sucesso de crítica e público que aterrorizou uma geração inteira de jovens. O próprio Spielberg já disse que “lamenta verdadeiramente” ter feito o filme, que é acusado de ter deturpado o comportamento do animal, desencadeando uma onda de caça ao tubarão branco.

”Sabemos que os ataques de tubarões a homens são relativamente raros quando comparados a outros animais selvagens com os quais interagimos e que cerca de 80% dos ataques são causados por erro de identificação visual”, explica Szpilman, que se dedica a desmitificar a imagem sensacionalista imputada ao bicho.

“Em situações de pouca visibilidade, como água turva ou visāo contra o sol, o tubarão pode confundir sua presa habitual com um banhista ou surfista e dar uma mordida investigatória. Se nós, seres humanos, realmente representássemos uma presa apetitosa aos olhos de um tubarão, haveria muito poucas praias seguras ao redor do mundo e os ataques seriam diários e contados aos milhares.”

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