Pesquisa feita pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, mostra o peso da formação acadêmica nas taxas de empregabilidade no País. Ao longo de 12 anos, o número de empregos formais de mestres cresceu em proporção cinco vezes maior que o do emprego em geral no Brasil, segundo o trabalho. No caso dos doutores, o ritmo de crescimento foi sete vezes maior do que a da população em geral.
O estudo mostra que, em 2009 havia 184.860 mestres empregados no Brasil ante 441.983 em 2021, salto de 139%. O aumento em relação à empregabilidade de doutores foi ainda maior: 73.767 empregados em 2009, ante 215.530 em 2021, crescimento de 192%.
Apesar disso, o Brasil segue com taxa de doutores empregados que representa quase um terço do que se vê na União Europeia, por exemplo. O dado leva em conta o número de doutores em postos de trabalho a cada mil pessoas empregadas.
Na área acadêmica, pesquisadores têm reclamado de salários defasados - os professores de universidades federais estão em greve por reajuste - e baixa atratividade da carreira. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou em abril um programa que prevê R$ 1 bilhão para repatriar talentos que estejam no exterior, o que motivou críticas da comunidade científica, que cobrou mais valorização dos profissionais que atuam no Brasil.
Os dados da nova pesquisa levam em conta informações da Plataforma Sucupira, mantida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE).
Coordenadora do estudo Brasil: mestres e doutores do CGEE, Sofia Daher, afirma que a pesquisa mostrou ainda que esses postos de emprego costumam ter maior estabilidade, mesmo em períodos de crise.
“Mesmo em épocas que o PIB foi negativo e houve queda de empregados, o número de mestres e doutores empregados continuou aumentando. De fato, as mais altas titulações levam a uma estabilidade maior e a uma procura por esse tipo de profissional. A gente entende que é uma mão-de-obra altamente qualificada e é mais difícil de ser substituída”, afirma Sofia.
Segundo a pesquisa, em 2021, o Brasil tinha 4,4 doutores por mil empregados, ante 12,9 na União Europeia. “Ainda tem um caminho longo pela frente. Na comparação internacional a gente nota que o Brasil, comparado com outros países da Europa e da OCDE, ainda tem participação acanhada nessa proporção”, diz ela.
“A gente deveria fazer um esforço para incorporar muito mais mestres e doutores na força de trabalho”, acrescenta Sofia.
A expansão da pós-graduação no Brasil é relativamente recente e, de acordo com especialistas, tem relação com a interiorização, sobretudo das universidades federais, ao longo dos últimos 20 anos. Os dados mostram maior distribuição dos programas de mestrado e doutorado.
Em 1996, por exemplo, 62,3% dos cursos de mestrado do País estavam no Sudeste. Já em 2021, a concentração caiu para 42,4%.
Uma das regiões com maior incremento foi o Nordeste, que saltou de 14,5% para 20,7% dos mestrados nesse período. No doutorado a concentração era ainda maior, com 79,2% dos cursos no Sudeste em 1996. Em 2021, a taxa caiu para 49,6%.
Pós-graduação ainda distante do mercado tradicional
Mesmo com o aumento da empregabilidade e mais distribuição, essa força de trabalho ainda é majoritariamente aproveitada na própria área da educação, como professores e pesquisadores. O dado evidencia certa distância do mercado de trabalho tradicional.
Conforme a pesquisa, 37,7% dos mestres empregados no Brasil ocupavam cargos na área educacional. O número de concentração dos doutores nessa área chegou a 72%. Em segundo lugar, para ambas as titulações, aparece a administração pública, e postos de defesa e seguridade social.
“É importante que a educação absorva muito porque essas pessoas formam outras pessoas. É necessário que tenha grande quantidade de doutores envolvidos na formação dos profissionais de todos os lugares. Mas, sim, a participação dos setores empresariais ainda é menor”, afirma Sofia.
A pesquisadora pondera, no entanto, que o estudo revela tendência de crescimento na contratação de mestres por empresas privadas. “Mostra interesse do setor empresarial privado na contratação desse profissional”, diz.
Cláudia Nonato, de 56 anos, é pós-doutoranda na Universidade de São Paulo (USP) e fez mestrado e doutorado na área de jornalismo. No entanto, desde 2019, ela busca uma posição no mercado de trabalho. O fechamento ou a restruturação de faculdades particulares contribuiu para reduzir as oportunidades. Nas universidades públicas, os concursos ficaram restritos por muitos anos - a exemplo da própria USP, em que os processos seletivos ficaram suspensos entre 2015 e 2022.
Segundo a pesquisadora, as instituições costumam priorizar profissionais com mestrado e recém-formados, para garantir remunerações mais baixas, o que complica a vida de quem tem doutorado./ COLABORARAM BEATRUZ VIANA E ISABELLA PUGLIESE