Nobel de Medicina: pesquisador sueco esteve no Brasil e tentou analisar o fóssil Luzia


Svante Pääbo, premiado nesta segunda-feira, fundou um novo campo da ciência com as suas descobertas: a paleogenética. Considerado obstinado, ele dedicou três décadas à tentativa de extrair DNA de fósseis

Por Roberta Jansen
Atualização:

Em uma época em que a maioria dos geneticistas voltava-se para entender o genoma humano, um especialista sueco teve uma ideia ainda mais ousada. E se conseguíssemos extrair material genético de fósseis dos ancestrais do homem moderno? Para surpresa de muita gente, a ideia funcionou.

O reconhecimento maior chegou ao autor dessa ideia nesta segunda-feira, 3. O Prêmio Nobel de Medicina deste ano foi concedido a Svante Pääbo. Ele dedicou pelo menos três décadas à tentativa de extrair material genético de fósseis de mais de 40 mil anos. Sua obstinação revelou o até então inédito genoma dos neandertais (Homo neanderthalensis). E fundou um novo campo da ciência: a paleogenética. Ele esteve no Brasil em 1992.

Svante Pääbo dedicou pelo menos três décadas à tentativa de extrair material genético de fósseis de mais de 40 mil anos Foto: Hendrik Schmidt/dpa via AP
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A publicação do genoma dos neandertais, em 2010, abriu caminho para responder a questões que atormentavam os cientistas desde que os primeiros fósseis da espécie foram descobertos na Alemanha, em 1856. Por exemplo: como esses hominídeos se relacionaram com os humanos modernos (Homo sapiens) e o que os tornava diferentes de nós.

Até as primeiras pesquisas de Pääbo serem divulgadas, acreditava-se que o DNA jamais poderia ser extraído de fósseis milenares – nem muito menos sequenciado. Acreditava-se que o material genético tende a se degradar com o passar do tempo.

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Além disso, as amostras pesquisadas podem facilmente ser contaminadas por DNA dos cientistas responsáveis pela pesquisa. Isso tornaria difícil distinguir o que seria novo do que seria mais antigo. Bactérias também podem deixar material genético em fósseis, aumentando a confusão.

“Me lembro bem dele, há 25 anos, tentando sequenciar o DNA de fósseis e das pessoas dizendo que aquilo era completamente impossível, que ele não ia conseguir nada, que o DNA não tinha estabilidade”, contou o geneticista francês Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do Instituto Serrapilheira.

“Além de desenvolver técnicas de preservação, ele conseguiu fazer um sequenciamento mais refinado, inferindo os trechos que faltavam. Juntando tudo isso, conseguiu fazer o sequenciamento genético com um grau de eficácia muito bom. Hoje, ele é uma referência da paleogenética. Atualmente, ninguém concebe um estudo paleológico sem análise genética.”

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Até as primeiras pesquisas de Pääbo serem divulgadas, acreditava-se que o DNA jamais poderia ser extraído de fósseis milenares Foto: Hendrik Schmidt/dpa via AP

O prêmio Nobel foi concedido ao cientista por ele ter conseguido driblar todos os problemas técnicos e decifrar o código genético de nossos parentes extintos mais famosos, a partir de uma amostra de 40 mil anos. O trabalho revelou que os neandertais eram diferentes dos humanos modernos, mas se relacionaram com eles.

Humanos modernos e neandertais compartilharam um ancestral comum que viveu há cerca de 600 mil anos. Pääbo e sua equipe também descobriram evidências genéticas de que, durante períodos de coexistência, humanos modernos e neandertais tiveram filhos juntos.

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“Pääbo começou esse trabalho de arqueologia genética e foi evoluindo nessa área até criar o Instituto Max Plank, de biologia evolucionária”, lembrou o geneticista Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

“Ele conseguiu demonstrar, por exemplo, que, atualmente, os seres humanos da Europa ainda carregam de 3% a 4% do DNA neandertal, comprovando a miscigenação. É uma pessoa espetacular e o prêmio é muito merecido.”

Brasil

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Pääbo esteve no Brasil em 1992, a convite de Sérgio Penna. O geneticista brasileiro chegou a enviar ao laboratório do cientista sueco amostras de Luzia – o fóssil mais antigo de hominídeo achado no Brasil, de 11 mil anos. A ideia era tentar sequenciar seu DNA.

“Com a tecnologia da época, era impossível”, contou. “Embora os neandertais sejam muito mais antigos, seu DNA foi mais bem preservado do que o de Luzia.”

Neandertais viveram na Europa até desaparecerem há cerca de 30 mil anos por motivos que, até hoje, permanecem obscuros. Ancestrais dos humanos modernos surgiram na África. Depois migraram para a Europa e a Ásia. Nessas regiões, se misturaram a outros hominídeos.

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Dessas misturas surgiram alterações genéticas que permitiram as espécies sobreviver em diferentes ambientes. Essas alterações incluem, por exemplo, variantes genéticas que ampliam nossa capacidade de viver em altas altitudes. Também aprimoram a forma como nosso sistema imunológico responde à infecção.

Pääbo também descobriu outra espécie de hominídeos até então desconhecida: os denisovans. Segundo o comitê do Nobel, os trabalhos ajudaram na compreensão da história evolutiva dos humanos modernos e de como eles se espalharam por todo o planeta, enquanto as demais espécies desapareceram.

“Ele trabalhou na fronteira do conhecimento, desenvolveu tecnologia para extrair DNA de fósseis”, resumiu o paleontólogo Alex Kellner, diretor do Museu Nacional. “O desenvolvimento desse tipo de tecnologia, nos faz pensar até que ponto poderíamos adaptar essas técnicas para extrair material genético de fósseis ainda mais antigos.”

Em uma época em que a maioria dos geneticistas voltava-se para entender o genoma humano, um especialista sueco teve uma ideia ainda mais ousada. E se conseguíssemos extrair material genético de fósseis dos ancestrais do homem moderno? Para surpresa de muita gente, a ideia funcionou.

O reconhecimento maior chegou ao autor dessa ideia nesta segunda-feira, 3. O Prêmio Nobel de Medicina deste ano foi concedido a Svante Pääbo. Ele dedicou pelo menos três décadas à tentativa de extrair material genético de fósseis de mais de 40 mil anos. Sua obstinação revelou o até então inédito genoma dos neandertais (Homo neanderthalensis). E fundou um novo campo da ciência: a paleogenética. Ele esteve no Brasil em 1992.

Svante Pääbo dedicou pelo menos três décadas à tentativa de extrair material genético de fósseis de mais de 40 mil anos Foto: Hendrik Schmidt/dpa via AP

A publicação do genoma dos neandertais, em 2010, abriu caminho para responder a questões que atormentavam os cientistas desde que os primeiros fósseis da espécie foram descobertos na Alemanha, em 1856. Por exemplo: como esses hominídeos se relacionaram com os humanos modernos (Homo sapiens) e o que os tornava diferentes de nós.

Até as primeiras pesquisas de Pääbo serem divulgadas, acreditava-se que o DNA jamais poderia ser extraído de fósseis milenares – nem muito menos sequenciado. Acreditava-se que o material genético tende a se degradar com o passar do tempo.

Além disso, as amostras pesquisadas podem facilmente ser contaminadas por DNA dos cientistas responsáveis pela pesquisa. Isso tornaria difícil distinguir o que seria novo do que seria mais antigo. Bactérias também podem deixar material genético em fósseis, aumentando a confusão.

“Me lembro bem dele, há 25 anos, tentando sequenciar o DNA de fósseis e das pessoas dizendo que aquilo era completamente impossível, que ele não ia conseguir nada, que o DNA não tinha estabilidade”, contou o geneticista francês Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do Instituto Serrapilheira.

“Além de desenvolver técnicas de preservação, ele conseguiu fazer um sequenciamento mais refinado, inferindo os trechos que faltavam. Juntando tudo isso, conseguiu fazer o sequenciamento genético com um grau de eficácia muito bom. Hoje, ele é uma referência da paleogenética. Atualmente, ninguém concebe um estudo paleológico sem análise genética.”

Até as primeiras pesquisas de Pääbo serem divulgadas, acreditava-se que o DNA jamais poderia ser extraído de fósseis milenares Foto: Hendrik Schmidt/dpa via AP

O prêmio Nobel foi concedido ao cientista por ele ter conseguido driblar todos os problemas técnicos e decifrar o código genético de nossos parentes extintos mais famosos, a partir de uma amostra de 40 mil anos. O trabalho revelou que os neandertais eram diferentes dos humanos modernos, mas se relacionaram com eles.

Humanos modernos e neandertais compartilharam um ancestral comum que viveu há cerca de 600 mil anos. Pääbo e sua equipe também descobriram evidências genéticas de que, durante períodos de coexistência, humanos modernos e neandertais tiveram filhos juntos.

“Pääbo começou esse trabalho de arqueologia genética e foi evoluindo nessa área até criar o Instituto Max Plank, de biologia evolucionária”, lembrou o geneticista Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

“Ele conseguiu demonstrar, por exemplo, que, atualmente, os seres humanos da Europa ainda carregam de 3% a 4% do DNA neandertal, comprovando a miscigenação. É uma pessoa espetacular e o prêmio é muito merecido.”

Brasil

Pääbo esteve no Brasil em 1992, a convite de Sérgio Penna. O geneticista brasileiro chegou a enviar ao laboratório do cientista sueco amostras de Luzia – o fóssil mais antigo de hominídeo achado no Brasil, de 11 mil anos. A ideia era tentar sequenciar seu DNA.

“Com a tecnologia da época, era impossível”, contou. “Embora os neandertais sejam muito mais antigos, seu DNA foi mais bem preservado do que o de Luzia.”

Neandertais viveram na Europa até desaparecerem há cerca de 30 mil anos por motivos que, até hoje, permanecem obscuros. Ancestrais dos humanos modernos surgiram na África. Depois migraram para a Europa e a Ásia. Nessas regiões, se misturaram a outros hominídeos.

Dessas misturas surgiram alterações genéticas que permitiram as espécies sobreviver em diferentes ambientes. Essas alterações incluem, por exemplo, variantes genéticas que ampliam nossa capacidade de viver em altas altitudes. Também aprimoram a forma como nosso sistema imunológico responde à infecção.

Pääbo também descobriu outra espécie de hominídeos até então desconhecida: os denisovans. Segundo o comitê do Nobel, os trabalhos ajudaram na compreensão da história evolutiva dos humanos modernos e de como eles se espalharam por todo o planeta, enquanto as demais espécies desapareceram.

“Ele trabalhou na fronteira do conhecimento, desenvolveu tecnologia para extrair DNA de fósseis”, resumiu o paleontólogo Alex Kellner, diretor do Museu Nacional. “O desenvolvimento desse tipo de tecnologia, nos faz pensar até que ponto poderíamos adaptar essas técnicas para extrair material genético de fósseis ainda mais antigos.”

Em uma época em que a maioria dos geneticistas voltava-se para entender o genoma humano, um especialista sueco teve uma ideia ainda mais ousada. E se conseguíssemos extrair material genético de fósseis dos ancestrais do homem moderno? Para surpresa de muita gente, a ideia funcionou.

O reconhecimento maior chegou ao autor dessa ideia nesta segunda-feira, 3. O Prêmio Nobel de Medicina deste ano foi concedido a Svante Pääbo. Ele dedicou pelo menos três décadas à tentativa de extrair material genético de fósseis de mais de 40 mil anos. Sua obstinação revelou o até então inédito genoma dos neandertais (Homo neanderthalensis). E fundou um novo campo da ciência: a paleogenética. Ele esteve no Brasil em 1992.

Svante Pääbo dedicou pelo menos três décadas à tentativa de extrair material genético de fósseis de mais de 40 mil anos Foto: Hendrik Schmidt/dpa via AP

A publicação do genoma dos neandertais, em 2010, abriu caminho para responder a questões que atormentavam os cientistas desde que os primeiros fósseis da espécie foram descobertos na Alemanha, em 1856. Por exemplo: como esses hominídeos se relacionaram com os humanos modernos (Homo sapiens) e o que os tornava diferentes de nós.

Até as primeiras pesquisas de Pääbo serem divulgadas, acreditava-se que o DNA jamais poderia ser extraído de fósseis milenares – nem muito menos sequenciado. Acreditava-se que o material genético tende a se degradar com o passar do tempo.

Além disso, as amostras pesquisadas podem facilmente ser contaminadas por DNA dos cientistas responsáveis pela pesquisa. Isso tornaria difícil distinguir o que seria novo do que seria mais antigo. Bactérias também podem deixar material genético em fósseis, aumentando a confusão.

“Me lembro bem dele, há 25 anos, tentando sequenciar o DNA de fósseis e das pessoas dizendo que aquilo era completamente impossível, que ele não ia conseguir nada, que o DNA não tinha estabilidade”, contou o geneticista francês Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do Instituto Serrapilheira.

“Além de desenvolver técnicas de preservação, ele conseguiu fazer um sequenciamento mais refinado, inferindo os trechos que faltavam. Juntando tudo isso, conseguiu fazer o sequenciamento genético com um grau de eficácia muito bom. Hoje, ele é uma referência da paleogenética. Atualmente, ninguém concebe um estudo paleológico sem análise genética.”

Até as primeiras pesquisas de Pääbo serem divulgadas, acreditava-se que o DNA jamais poderia ser extraído de fósseis milenares Foto: Hendrik Schmidt/dpa via AP

O prêmio Nobel foi concedido ao cientista por ele ter conseguido driblar todos os problemas técnicos e decifrar o código genético de nossos parentes extintos mais famosos, a partir de uma amostra de 40 mil anos. O trabalho revelou que os neandertais eram diferentes dos humanos modernos, mas se relacionaram com eles.

Humanos modernos e neandertais compartilharam um ancestral comum que viveu há cerca de 600 mil anos. Pääbo e sua equipe também descobriram evidências genéticas de que, durante períodos de coexistência, humanos modernos e neandertais tiveram filhos juntos.

“Pääbo começou esse trabalho de arqueologia genética e foi evoluindo nessa área até criar o Instituto Max Plank, de biologia evolucionária”, lembrou o geneticista Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

“Ele conseguiu demonstrar, por exemplo, que, atualmente, os seres humanos da Europa ainda carregam de 3% a 4% do DNA neandertal, comprovando a miscigenação. É uma pessoa espetacular e o prêmio é muito merecido.”

Brasil

Pääbo esteve no Brasil em 1992, a convite de Sérgio Penna. O geneticista brasileiro chegou a enviar ao laboratório do cientista sueco amostras de Luzia – o fóssil mais antigo de hominídeo achado no Brasil, de 11 mil anos. A ideia era tentar sequenciar seu DNA.

“Com a tecnologia da época, era impossível”, contou. “Embora os neandertais sejam muito mais antigos, seu DNA foi mais bem preservado do que o de Luzia.”

Neandertais viveram na Europa até desaparecerem há cerca de 30 mil anos por motivos que, até hoje, permanecem obscuros. Ancestrais dos humanos modernos surgiram na África. Depois migraram para a Europa e a Ásia. Nessas regiões, se misturaram a outros hominídeos.

Dessas misturas surgiram alterações genéticas que permitiram as espécies sobreviver em diferentes ambientes. Essas alterações incluem, por exemplo, variantes genéticas que ampliam nossa capacidade de viver em altas altitudes. Também aprimoram a forma como nosso sistema imunológico responde à infecção.

Pääbo também descobriu outra espécie de hominídeos até então desconhecida: os denisovans. Segundo o comitê do Nobel, os trabalhos ajudaram na compreensão da história evolutiva dos humanos modernos e de como eles se espalharam por todo o planeta, enquanto as demais espécies desapareceram.

“Ele trabalhou na fronteira do conhecimento, desenvolveu tecnologia para extrair DNA de fósseis”, resumiu o paleontólogo Alex Kellner, diretor do Museu Nacional. “O desenvolvimento desse tipo de tecnologia, nos faz pensar até que ponto poderíamos adaptar essas técnicas para extrair material genético de fósseis ainda mais antigos.”

Em uma época em que a maioria dos geneticistas voltava-se para entender o genoma humano, um especialista sueco teve uma ideia ainda mais ousada. E se conseguíssemos extrair material genético de fósseis dos ancestrais do homem moderno? Para surpresa de muita gente, a ideia funcionou.

O reconhecimento maior chegou ao autor dessa ideia nesta segunda-feira, 3. O Prêmio Nobel de Medicina deste ano foi concedido a Svante Pääbo. Ele dedicou pelo menos três décadas à tentativa de extrair material genético de fósseis de mais de 40 mil anos. Sua obstinação revelou o até então inédito genoma dos neandertais (Homo neanderthalensis). E fundou um novo campo da ciência: a paleogenética. Ele esteve no Brasil em 1992.

Svante Pääbo dedicou pelo menos três décadas à tentativa de extrair material genético de fósseis de mais de 40 mil anos Foto: Hendrik Schmidt/dpa via AP

A publicação do genoma dos neandertais, em 2010, abriu caminho para responder a questões que atormentavam os cientistas desde que os primeiros fósseis da espécie foram descobertos na Alemanha, em 1856. Por exemplo: como esses hominídeos se relacionaram com os humanos modernos (Homo sapiens) e o que os tornava diferentes de nós.

Até as primeiras pesquisas de Pääbo serem divulgadas, acreditava-se que o DNA jamais poderia ser extraído de fósseis milenares – nem muito menos sequenciado. Acreditava-se que o material genético tende a se degradar com o passar do tempo.

Além disso, as amostras pesquisadas podem facilmente ser contaminadas por DNA dos cientistas responsáveis pela pesquisa. Isso tornaria difícil distinguir o que seria novo do que seria mais antigo. Bactérias também podem deixar material genético em fósseis, aumentando a confusão.

“Me lembro bem dele, há 25 anos, tentando sequenciar o DNA de fósseis e das pessoas dizendo que aquilo era completamente impossível, que ele não ia conseguir nada, que o DNA não tinha estabilidade”, contou o geneticista francês Hugo Aguilaniu, diretor-presidente do Instituto Serrapilheira.

“Além de desenvolver técnicas de preservação, ele conseguiu fazer um sequenciamento mais refinado, inferindo os trechos que faltavam. Juntando tudo isso, conseguiu fazer o sequenciamento genético com um grau de eficácia muito bom. Hoje, ele é uma referência da paleogenética. Atualmente, ninguém concebe um estudo paleológico sem análise genética.”

Até as primeiras pesquisas de Pääbo serem divulgadas, acreditava-se que o DNA jamais poderia ser extraído de fósseis milenares Foto: Hendrik Schmidt/dpa via AP

O prêmio Nobel foi concedido ao cientista por ele ter conseguido driblar todos os problemas técnicos e decifrar o código genético de nossos parentes extintos mais famosos, a partir de uma amostra de 40 mil anos. O trabalho revelou que os neandertais eram diferentes dos humanos modernos, mas se relacionaram com eles.

Humanos modernos e neandertais compartilharam um ancestral comum que viveu há cerca de 600 mil anos. Pääbo e sua equipe também descobriram evidências genéticas de que, durante períodos de coexistência, humanos modernos e neandertais tiveram filhos juntos.

“Pääbo começou esse trabalho de arqueologia genética e foi evoluindo nessa área até criar o Instituto Max Plank, de biologia evolucionária”, lembrou o geneticista Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

“Ele conseguiu demonstrar, por exemplo, que, atualmente, os seres humanos da Europa ainda carregam de 3% a 4% do DNA neandertal, comprovando a miscigenação. É uma pessoa espetacular e o prêmio é muito merecido.”

Brasil

Pääbo esteve no Brasil em 1992, a convite de Sérgio Penna. O geneticista brasileiro chegou a enviar ao laboratório do cientista sueco amostras de Luzia – o fóssil mais antigo de hominídeo achado no Brasil, de 11 mil anos. A ideia era tentar sequenciar seu DNA.

“Com a tecnologia da época, era impossível”, contou. “Embora os neandertais sejam muito mais antigos, seu DNA foi mais bem preservado do que o de Luzia.”

Neandertais viveram na Europa até desaparecerem há cerca de 30 mil anos por motivos que, até hoje, permanecem obscuros. Ancestrais dos humanos modernos surgiram na África. Depois migraram para a Europa e a Ásia. Nessas regiões, se misturaram a outros hominídeos.

Dessas misturas surgiram alterações genéticas que permitiram as espécies sobreviver em diferentes ambientes. Essas alterações incluem, por exemplo, variantes genéticas que ampliam nossa capacidade de viver em altas altitudes. Também aprimoram a forma como nosso sistema imunológico responde à infecção.

Pääbo também descobriu outra espécie de hominídeos até então desconhecida: os denisovans. Segundo o comitê do Nobel, os trabalhos ajudaram na compreensão da história evolutiva dos humanos modernos e de como eles se espalharam por todo o planeta, enquanto as demais espécies desapareceram.

“Ele trabalhou na fronteira do conhecimento, desenvolveu tecnologia para extrair DNA de fósseis”, resumiu o paleontólogo Alex Kellner, diretor do Museu Nacional. “O desenvolvimento desse tipo de tecnologia, nos faz pensar até que ponto poderíamos adaptar essas técnicas para extrair material genético de fósseis ainda mais antigos.”

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