Uma amostra recolhida do asteroide Bennu, com 4,5 mil milhões de anos, contém água e carbono em abundância, revelou a Nasa nesta quarta-feira, 11. A descoberta oferece mais apoio à teoria de que a vida na Terra partiu do espaço.
A revelação surge após uma viagem de ida e volta de sete anos ao asteroide Bennu, como parte da missão OSIRIS-REx. O desembarque da carga no deserto do Utah, nos EUA, ocorreu no mês passado e agora o material está sendo submetida a um cuidadoso exame científico.
“Esta é a maior amostra de asteroide rico em carbono já devolvida à Terra”, disse o chefe da Nasa, Bill Nelson, no Centro Espacial Johnson, em Houston, onde foram reveladas as primeiras imagens de poeira preta e seixos.
O carbono representou quase 5% do peso total da amostra e estava presente nas formas orgânica e mineral, enquanto a água estava presa na estrutura cristalina dos minerais argilosos, disse Nelson.
Os cientistas acreditam que a razão pela qual a Terra tem oceanos, lagos e rios é porque foi atingida por asteroides que transportavam água entre 4 bilhões e 4,5 bilhões de anos atrás, tornando-a um planeta habitável. A vida na Terra é baseada no carbono, que forma ligações com outros elementos para produzir proteínas e enzimas, bem como os blocos de construção do DNA e do RNA.
As descobertas sobre o material recolhido do asteroide Bennu foram feitas por meio de análises preliminares que incluíram microscopia eletrônica de varredura e tomografia computadorizada de raios X. “Este é o sonho de qualquer astrobiólogo”, afirmou o cientista Daniel Glavin, acrescentando que ainda há muito trabalho a fazer e que a amostra será partilhada com laboratórios de todo o mundo para estudos posteriores.
A maior amostra de asteroides
A OSIRIS-REx não foi a primeira sonda a encontrar um asteroide e a trazer amostras para estudo na terra: o Japão realizou o feito duas vezes, em 2010 e 2020.
Mas, a quantidade obtida agora, aproximadamente 250 gramas, supera em muito o que as missões japonesas conseguiram: a Hayabusa2 alcançou apenas 5,4 gramas.
Bennu, que tem esse nome em homenagem a uma antiga divindade egípcia, é um “artefato primordial preservado no vácuo do espaço”, segundo a Nasa, o que o torna um alvo atraente para estudo. A órbita de Bennu, que cruza a da Terra, também tornou a viagem de ida e volta mais fácil do que ir até o cinturão de asteroides, que fica entre Marte e Júpiter.
Estudos posteriores
Até agora, os investigadores não concentraram os seus esforços na amostra principal em si, mas nas “partículas extras”, descritas como poeira preta e detritos que revestem o coletor de amostras. Posteriormente, será realizada uma inspeção do restante da amostra.
Em outubro de 2020, quando a sonda OSIRIS-REx disparou gás nitrogênio em Bennu para coletar sua amostra, uma escotilha destinada a selá-la foi aberta por um pedaço de rocha, fazendo com que parte do material mais fino saísse do coletor, sem escapar completamente. No final, mais material do que o esperado chegou à Terra.
Acredita-se que Bennu tenha se formado a partir de pedaços de um asteroide maior no cinturão de asteroides, após uma colisão massiva entre 1 bilhão e 2 bilhões de anos atrás.
As análises permitirão obter um inventário dos minerais observados e talvez determinar sua proporção. Os cientistas acreditam que Bennu contém minerais hidratados.
O estudo dos asteroides deverá permitir aos cientistas compreender melhor a formação do sistema solar e como a Terra se tornou habitável. Alguns cientistas acreditam que asteroides como Bennu poderiam ter trazido para a Terra os compostos que mais tarde permitiram o nascimento da vida.
A Nasa afirma que preservará pelo menos 70% da amostra em Houston para estudos futuros, uma prática que começou na era Apollo com rochas lunares.
“As amostras estarão então disponíveis para novas questões, novas técnicas e nova instrumentação num futuro distante”, disse Eileen Stansbery, chefe da divisão de investigação de astromateriais do Centro Espacial Johnson. Peças adicionais serão enviadas para exibição pública. / AFP