Oppenheimer é ‘pai’ da bomba atômica dos EUA. Por que Alemanha de Hitler não conseguiu?


Tema voltou à tona com estreia de filme nesta quinta-feira no Brasil; uma das principais tentativas do governo nazista de desenvolver arma completou 80 anos em 2023

Por Roberta Jansen
Atualização:

Depois de entregar a seus soldados cápsulas suicidas, o coronel do Exército da Noruega Leif Tronstad afirmou: “Não posso dizer para vocês o motivo de essa missão ser tão importante, mas se vocês forem bem sucedidos, ela vai permanecer na memória dos noruegueses por pelo menos cem anos”.

A Operação Gunnerside completou 80 anos em fevereiro e segue bastante presente na memória não só dos noruegueses. A missão de sabotagem a uma fábrica de produtos químicos alemães, em Telemark, na Noruega ocupada pelos nazistas, é considerada um dos mais dramáticos e importantes episódios militares da Segunda Guerra Mundial, segundo o professor Timothy J. Jorgensen, especialista em radiação da Universidade de Georgetown, nos EUA. Sem a produção de Telemark, era impossível fazer uma bomba atômica.

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Para alcançar a fábrica que ficava no alto de uma montanha isolada, em pleno inverno norueguês, os militares foram lançados de paraquedas. Em seguida, eles usaram esquis para se moverem mais rapidamente em meio à neve. A fábrica era cercada por uma ravina e o único acesso às instalações era por meio de uma ponte altamente policiada pelos nazistas. Para driblar os alemães, os noruegueses desceram ao fundo da ravina, cruzaram o rio congelado e escalaram a encosta de mais de 200 metros.

Em artigo publicado na revista online The Conversation em 2018, Timothy J. Jorgensen conta que a ação dos militares noruegueses atrasou por meses o programa nuclear alemão, dando uma vantagem importante aos Estados Unidos na corrida pelo desenvolvimento da primeira bomba atômica. Caso os alemães tivessem conseguido fabricar armas nucleares, o desfecho da guerra poderia ter sido bem diferente.

Adolf Hitler estava mais interessando durante a Segunda Guerra Mundial em desenvolver um míssil balístico de longo alcance do que a bomba atômica Foto: Associated Press
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Joachim Ronneberg, o líder do grupo que plantou explosivos na fábrica alemã, afirmou ao relembrar do episódio anos mais tarde em uma entrevista: “Muitas coisas foram apenas sorte e oportunidade. Não havia um plano. Estávamos apenas torcendo pelo melhor”. No entanto, ele continuou, se a missão tivesse fracassado, Londres “teria terminado como Hiroshima”.

Embora a Operação Gunnerside tenha sido, de longe, a mais cinematográfica, especialistas concordam que ela não foi a única responsável pelo crucial atraso dos alemães na fabricação da bomba atômica. A fuga em massa de cientistas no início da guerra, a falta de laboratórios apropriados e de investimentos, além do corpo mole dos próprios cientistas alemães teriam contribuído igualmente para o fracasso dos nazistas, que até largaram na frente na corrida pelas armas nucleares, mas depois ficaram para trás.

Depois da invasão da Polônia pela Alemanha nazista, em 1939, os físicos Albert Einstein, Leo Szilard e Eugene Wigner alertaram o governo americano do perigo que seria para a humanidade se os nazistas fossem os primeiros a desenvolver uma bomba nuclear.

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O alerta foi crucial para a decisão do governo americano de criar, em 1942, o Projeto Manhattan, uma iniciativa desenvolvida em conjunto com o Canadá e o Reino Unido. O físico teórico Robert Oppenheimer foi encarregado de estabelecer e dirigir o Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, onde foi testada com sucesso a primeira bomba atômica, em 1945. A história é contada no filme Oppenheimer, de Christopher Nolan, que estreia nesta quinta-feira, 20, no Brasil.

Benny Safdie como Edward Teller, à esquerda, e Cillian Murphy como J. Robert Oppenheimer em cena do filme 'Oppenheimer' Foto: Melinda Sue Gordon/Universal Pictures via AP

Antes do início da guerra, os principais físicos teóricos do mundo eram alemães. No entanto, com a ascensão do nazismo na Alemanha e também do fascismo na Itália, muitos deles decidiram emigrar, caso dos laureados com o Nobel Albert Einstein, Niels Bohr e Enrico Fermi. Um bom número acabou indo, inclusive, para os Estados Unidos, e trabalhou no Projeto Manhattan.

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O apoio financeiro também não estava à altura do desafio. Segundo historiadores, Adolf Hitler estava mais interessando em desenvolver o V-2, um míssil balístico de longo alcance. A Alemanha teria investido algo em torno de US$ 1 milhão no desenvolvimento da bomba atômica, enquanto os EUA gastaram mais de US$ 2 bilhões.

As pesquisas alemãs eram conduzidas em laboratórios comuns, nas universidades, sem a construção de um laboratório especializado ou fábrica. O Projeto Manhattan envolveu nada menos que 250 mil pessoas trabalhando nas mais diferentes frentes, enquanto que o esforço alemão teria contado com cerca de cem pessoas.

Por fim, uma história quase tão cinematográfica quanto a operação dos militares noruegueses em meio às montanhas nevadas é a de que os próprios cientistas alemães teriam sabotado o projeto por não concordarem com ele. O próprio coordenador do projeto nuclear alemão, o físico Werner Heisenberg, ele mesmo também laureado com um Nobel, chegou a afirmar diversas vezes que os cientistas eram moralmente contra a bomba atômica.

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“A relação entre os cientistas e o Estado alemão era tal que, embora não estivéssemos 100% ansiosos para fazê-lo (a bomba atômica), por outro lado também não tínhamos a confiança do Estado”, afirmou Heisenberg, logo depois do fim da guerra. “Mesmo se tivéssemos querido fazer, não teria sido fácil levar a cabo o projeto.”

Depois de entregar a seus soldados cápsulas suicidas, o coronel do Exército da Noruega Leif Tronstad afirmou: “Não posso dizer para vocês o motivo de essa missão ser tão importante, mas se vocês forem bem sucedidos, ela vai permanecer na memória dos noruegueses por pelo menos cem anos”.

A Operação Gunnerside completou 80 anos em fevereiro e segue bastante presente na memória não só dos noruegueses. A missão de sabotagem a uma fábrica de produtos químicos alemães, em Telemark, na Noruega ocupada pelos nazistas, é considerada um dos mais dramáticos e importantes episódios militares da Segunda Guerra Mundial, segundo o professor Timothy J. Jorgensen, especialista em radiação da Universidade de Georgetown, nos EUA. Sem a produção de Telemark, era impossível fazer uma bomba atômica.

Para alcançar a fábrica que ficava no alto de uma montanha isolada, em pleno inverno norueguês, os militares foram lançados de paraquedas. Em seguida, eles usaram esquis para se moverem mais rapidamente em meio à neve. A fábrica era cercada por uma ravina e o único acesso às instalações era por meio de uma ponte altamente policiada pelos nazistas. Para driblar os alemães, os noruegueses desceram ao fundo da ravina, cruzaram o rio congelado e escalaram a encosta de mais de 200 metros.

Em artigo publicado na revista online The Conversation em 2018, Timothy J. Jorgensen conta que a ação dos militares noruegueses atrasou por meses o programa nuclear alemão, dando uma vantagem importante aos Estados Unidos na corrida pelo desenvolvimento da primeira bomba atômica. Caso os alemães tivessem conseguido fabricar armas nucleares, o desfecho da guerra poderia ter sido bem diferente.

Adolf Hitler estava mais interessando durante a Segunda Guerra Mundial em desenvolver um míssil balístico de longo alcance do que a bomba atômica Foto: Associated Press

Joachim Ronneberg, o líder do grupo que plantou explosivos na fábrica alemã, afirmou ao relembrar do episódio anos mais tarde em uma entrevista: “Muitas coisas foram apenas sorte e oportunidade. Não havia um plano. Estávamos apenas torcendo pelo melhor”. No entanto, ele continuou, se a missão tivesse fracassado, Londres “teria terminado como Hiroshima”.

Embora a Operação Gunnerside tenha sido, de longe, a mais cinematográfica, especialistas concordam que ela não foi a única responsável pelo crucial atraso dos alemães na fabricação da bomba atômica. A fuga em massa de cientistas no início da guerra, a falta de laboratórios apropriados e de investimentos, além do corpo mole dos próprios cientistas alemães teriam contribuído igualmente para o fracasso dos nazistas, que até largaram na frente na corrida pelas armas nucleares, mas depois ficaram para trás.

Depois da invasão da Polônia pela Alemanha nazista, em 1939, os físicos Albert Einstein, Leo Szilard e Eugene Wigner alertaram o governo americano do perigo que seria para a humanidade se os nazistas fossem os primeiros a desenvolver uma bomba nuclear.

O alerta foi crucial para a decisão do governo americano de criar, em 1942, o Projeto Manhattan, uma iniciativa desenvolvida em conjunto com o Canadá e o Reino Unido. O físico teórico Robert Oppenheimer foi encarregado de estabelecer e dirigir o Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, onde foi testada com sucesso a primeira bomba atômica, em 1945. A história é contada no filme Oppenheimer, de Christopher Nolan, que estreia nesta quinta-feira, 20, no Brasil.

Benny Safdie como Edward Teller, à esquerda, e Cillian Murphy como J. Robert Oppenheimer em cena do filme 'Oppenheimer' Foto: Melinda Sue Gordon/Universal Pictures via AP

Antes do início da guerra, os principais físicos teóricos do mundo eram alemães. No entanto, com a ascensão do nazismo na Alemanha e também do fascismo na Itália, muitos deles decidiram emigrar, caso dos laureados com o Nobel Albert Einstein, Niels Bohr e Enrico Fermi. Um bom número acabou indo, inclusive, para os Estados Unidos, e trabalhou no Projeto Manhattan.

O apoio financeiro também não estava à altura do desafio. Segundo historiadores, Adolf Hitler estava mais interessando em desenvolver o V-2, um míssil balístico de longo alcance. A Alemanha teria investido algo em torno de US$ 1 milhão no desenvolvimento da bomba atômica, enquanto os EUA gastaram mais de US$ 2 bilhões.

As pesquisas alemãs eram conduzidas em laboratórios comuns, nas universidades, sem a construção de um laboratório especializado ou fábrica. O Projeto Manhattan envolveu nada menos que 250 mil pessoas trabalhando nas mais diferentes frentes, enquanto que o esforço alemão teria contado com cerca de cem pessoas.

Por fim, uma história quase tão cinematográfica quanto a operação dos militares noruegueses em meio às montanhas nevadas é a de que os próprios cientistas alemães teriam sabotado o projeto por não concordarem com ele. O próprio coordenador do projeto nuclear alemão, o físico Werner Heisenberg, ele mesmo também laureado com um Nobel, chegou a afirmar diversas vezes que os cientistas eram moralmente contra a bomba atômica.

“A relação entre os cientistas e o Estado alemão era tal que, embora não estivéssemos 100% ansiosos para fazê-lo (a bomba atômica), por outro lado também não tínhamos a confiança do Estado”, afirmou Heisenberg, logo depois do fim da guerra. “Mesmo se tivéssemos querido fazer, não teria sido fácil levar a cabo o projeto.”

Depois de entregar a seus soldados cápsulas suicidas, o coronel do Exército da Noruega Leif Tronstad afirmou: “Não posso dizer para vocês o motivo de essa missão ser tão importante, mas se vocês forem bem sucedidos, ela vai permanecer na memória dos noruegueses por pelo menos cem anos”.

A Operação Gunnerside completou 80 anos em fevereiro e segue bastante presente na memória não só dos noruegueses. A missão de sabotagem a uma fábrica de produtos químicos alemães, em Telemark, na Noruega ocupada pelos nazistas, é considerada um dos mais dramáticos e importantes episódios militares da Segunda Guerra Mundial, segundo o professor Timothy J. Jorgensen, especialista em radiação da Universidade de Georgetown, nos EUA. Sem a produção de Telemark, era impossível fazer uma bomba atômica.

Para alcançar a fábrica que ficava no alto de uma montanha isolada, em pleno inverno norueguês, os militares foram lançados de paraquedas. Em seguida, eles usaram esquis para se moverem mais rapidamente em meio à neve. A fábrica era cercada por uma ravina e o único acesso às instalações era por meio de uma ponte altamente policiada pelos nazistas. Para driblar os alemães, os noruegueses desceram ao fundo da ravina, cruzaram o rio congelado e escalaram a encosta de mais de 200 metros.

Em artigo publicado na revista online The Conversation em 2018, Timothy J. Jorgensen conta que a ação dos militares noruegueses atrasou por meses o programa nuclear alemão, dando uma vantagem importante aos Estados Unidos na corrida pelo desenvolvimento da primeira bomba atômica. Caso os alemães tivessem conseguido fabricar armas nucleares, o desfecho da guerra poderia ter sido bem diferente.

Adolf Hitler estava mais interessando durante a Segunda Guerra Mundial em desenvolver um míssil balístico de longo alcance do que a bomba atômica Foto: Associated Press

Joachim Ronneberg, o líder do grupo que plantou explosivos na fábrica alemã, afirmou ao relembrar do episódio anos mais tarde em uma entrevista: “Muitas coisas foram apenas sorte e oportunidade. Não havia um plano. Estávamos apenas torcendo pelo melhor”. No entanto, ele continuou, se a missão tivesse fracassado, Londres “teria terminado como Hiroshima”.

Embora a Operação Gunnerside tenha sido, de longe, a mais cinematográfica, especialistas concordam que ela não foi a única responsável pelo crucial atraso dos alemães na fabricação da bomba atômica. A fuga em massa de cientistas no início da guerra, a falta de laboratórios apropriados e de investimentos, além do corpo mole dos próprios cientistas alemães teriam contribuído igualmente para o fracasso dos nazistas, que até largaram na frente na corrida pelas armas nucleares, mas depois ficaram para trás.

Depois da invasão da Polônia pela Alemanha nazista, em 1939, os físicos Albert Einstein, Leo Szilard e Eugene Wigner alertaram o governo americano do perigo que seria para a humanidade se os nazistas fossem os primeiros a desenvolver uma bomba nuclear.

O alerta foi crucial para a decisão do governo americano de criar, em 1942, o Projeto Manhattan, uma iniciativa desenvolvida em conjunto com o Canadá e o Reino Unido. O físico teórico Robert Oppenheimer foi encarregado de estabelecer e dirigir o Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, onde foi testada com sucesso a primeira bomba atômica, em 1945. A história é contada no filme Oppenheimer, de Christopher Nolan, que estreia nesta quinta-feira, 20, no Brasil.

Benny Safdie como Edward Teller, à esquerda, e Cillian Murphy como J. Robert Oppenheimer em cena do filme 'Oppenheimer' Foto: Melinda Sue Gordon/Universal Pictures via AP

Antes do início da guerra, os principais físicos teóricos do mundo eram alemães. No entanto, com a ascensão do nazismo na Alemanha e também do fascismo na Itália, muitos deles decidiram emigrar, caso dos laureados com o Nobel Albert Einstein, Niels Bohr e Enrico Fermi. Um bom número acabou indo, inclusive, para os Estados Unidos, e trabalhou no Projeto Manhattan.

O apoio financeiro também não estava à altura do desafio. Segundo historiadores, Adolf Hitler estava mais interessando em desenvolver o V-2, um míssil balístico de longo alcance. A Alemanha teria investido algo em torno de US$ 1 milhão no desenvolvimento da bomba atômica, enquanto os EUA gastaram mais de US$ 2 bilhões.

As pesquisas alemãs eram conduzidas em laboratórios comuns, nas universidades, sem a construção de um laboratório especializado ou fábrica. O Projeto Manhattan envolveu nada menos que 250 mil pessoas trabalhando nas mais diferentes frentes, enquanto que o esforço alemão teria contado com cerca de cem pessoas.

Por fim, uma história quase tão cinematográfica quanto a operação dos militares noruegueses em meio às montanhas nevadas é a de que os próprios cientistas alemães teriam sabotado o projeto por não concordarem com ele. O próprio coordenador do projeto nuclear alemão, o físico Werner Heisenberg, ele mesmo também laureado com um Nobel, chegou a afirmar diversas vezes que os cientistas eram moralmente contra a bomba atômica.

“A relação entre os cientistas e o Estado alemão era tal que, embora não estivéssemos 100% ansiosos para fazê-lo (a bomba atômica), por outro lado também não tínhamos a confiança do Estado”, afirmou Heisenberg, logo depois do fim da guerra. “Mesmo se tivéssemos querido fazer, não teria sido fácil levar a cabo o projeto.”

Depois de entregar a seus soldados cápsulas suicidas, o coronel do Exército da Noruega Leif Tronstad afirmou: “Não posso dizer para vocês o motivo de essa missão ser tão importante, mas se vocês forem bem sucedidos, ela vai permanecer na memória dos noruegueses por pelo menos cem anos”.

A Operação Gunnerside completou 80 anos em fevereiro e segue bastante presente na memória não só dos noruegueses. A missão de sabotagem a uma fábrica de produtos químicos alemães, em Telemark, na Noruega ocupada pelos nazistas, é considerada um dos mais dramáticos e importantes episódios militares da Segunda Guerra Mundial, segundo o professor Timothy J. Jorgensen, especialista em radiação da Universidade de Georgetown, nos EUA. Sem a produção de Telemark, era impossível fazer uma bomba atômica.

Para alcançar a fábrica que ficava no alto de uma montanha isolada, em pleno inverno norueguês, os militares foram lançados de paraquedas. Em seguida, eles usaram esquis para se moverem mais rapidamente em meio à neve. A fábrica era cercada por uma ravina e o único acesso às instalações era por meio de uma ponte altamente policiada pelos nazistas. Para driblar os alemães, os noruegueses desceram ao fundo da ravina, cruzaram o rio congelado e escalaram a encosta de mais de 200 metros.

Em artigo publicado na revista online The Conversation em 2018, Timothy J. Jorgensen conta que a ação dos militares noruegueses atrasou por meses o programa nuclear alemão, dando uma vantagem importante aos Estados Unidos na corrida pelo desenvolvimento da primeira bomba atômica. Caso os alemães tivessem conseguido fabricar armas nucleares, o desfecho da guerra poderia ter sido bem diferente.

Adolf Hitler estava mais interessando durante a Segunda Guerra Mundial em desenvolver um míssil balístico de longo alcance do que a bomba atômica Foto: Associated Press

Joachim Ronneberg, o líder do grupo que plantou explosivos na fábrica alemã, afirmou ao relembrar do episódio anos mais tarde em uma entrevista: “Muitas coisas foram apenas sorte e oportunidade. Não havia um plano. Estávamos apenas torcendo pelo melhor”. No entanto, ele continuou, se a missão tivesse fracassado, Londres “teria terminado como Hiroshima”.

Embora a Operação Gunnerside tenha sido, de longe, a mais cinematográfica, especialistas concordam que ela não foi a única responsável pelo crucial atraso dos alemães na fabricação da bomba atômica. A fuga em massa de cientistas no início da guerra, a falta de laboratórios apropriados e de investimentos, além do corpo mole dos próprios cientistas alemães teriam contribuído igualmente para o fracasso dos nazistas, que até largaram na frente na corrida pelas armas nucleares, mas depois ficaram para trás.

Depois da invasão da Polônia pela Alemanha nazista, em 1939, os físicos Albert Einstein, Leo Szilard e Eugene Wigner alertaram o governo americano do perigo que seria para a humanidade se os nazistas fossem os primeiros a desenvolver uma bomba nuclear.

O alerta foi crucial para a decisão do governo americano de criar, em 1942, o Projeto Manhattan, uma iniciativa desenvolvida em conjunto com o Canadá e o Reino Unido. O físico teórico Robert Oppenheimer foi encarregado de estabelecer e dirigir o Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, onde foi testada com sucesso a primeira bomba atômica, em 1945. A história é contada no filme Oppenheimer, de Christopher Nolan, que estreia nesta quinta-feira, 20, no Brasil.

Benny Safdie como Edward Teller, à esquerda, e Cillian Murphy como J. Robert Oppenheimer em cena do filme 'Oppenheimer' Foto: Melinda Sue Gordon/Universal Pictures via AP

Antes do início da guerra, os principais físicos teóricos do mundo eram alemães. No entanto, com a ascensão do nazismo na Alemanha e também do fascismo na Itália, muitos deles decidiram emigrar, caso dos laureados com o Nobel Albert Einstein, Niels Bohr e Enrico Fermi. Um bom número acabou indo, inclusive, para os Estados Unidos, e trabalhou no Projeto Manhattan.

O apoio financeiro também não estava à altura do desafio. Segundo historiadores, Adolf Hitler estava mais interessando em desenvolver o V-2, um míssil balístico de longo alcance. A Alemanha teria investido algo em torno de US$ 1 milhão no desenvolvimento da bomba atômica, enquanto os EUA gastaram mais de US$ 2 bilhões.

As pesquisas alemãs eram conduzidas em laboratórios comuns, nas universidades, sem a construção de um laboratório especializado ou fábrica. O Projeto Manhattan envolveu nada menos que 250 mil pessoas trabalhando nas mais diferentes frentes, enquanto que o esforço alemão teria contado com cerca de cem pessoas.

Por fim, uma história quase tão cinematográfica quanto a operação dos militares noruegueses em meio às montanhas nevadas é a de que os próprios cientistas alemães teriam sabotado o projeto por não concordarem com ele. O próprio coordenador do projeto nuclear alemão, o físico Werner Heisenberg, ele mesmo também laureado com um Nobel, chegou a afirmar diversas vezes que os cientistas eram moralmente contra a bomba atômica.

“A relação entre os cientistas e o Estado alemão era tal que, embora não estivéssemos 100% ansiosos para fazê-lo (a bomba atômica), por outro lado também não tínhamos a confiança do Estado”, afirmou Heisenberg, logo depois do fim da guerra. “Mesmo se tivéssemos querido fazer, não teria sido fácil levar a cabo o projeto.”

Depois de entregar a seus soldados cápsulas suicidas, o coronel do Exército da Noruega Leif Tronstad afirmou: “Não posso dizer para vocês o motivo de essa missão ser tão importante, mas se vocês forem bem sucedidos, ela vai permanecer na memória dos noruegueses por pelo menos cem anos”.

A Operação Gunnerside completou 80 anos em fevereiro e segue bastante presente na memória não só dos noruegueses. A missão de sabotagem a uma fábrica de produtos químicos alemães, em Telemark, na Noruega ocupada pelos nazistas, é considerada um dos mais dramáticos e importantes episódios militares da Segunda Guerra Mundial, segundo o professor Timothy J. Jorgensen, especialista em radiação da Universidade de Georgetown, nos EUA. Sem a produção de Telemark, era impossível fazer uma bomba atômica.

Para alcançar a fábrica que ficava no alto de uma montanha isolada, em pleno inverno norueguês, os militares foram lançados de paraquedas. Em seguida, eles usaram esquis para se moverem mais rapidamente em meio à neve. A fábrica era cercada por uma ravina e o único acesso às instalações era por meio de uma ponte altamente policiada pelos nazistas. Para driblar os alemães, os noruegueses desceram ao fundo da ravina, cruzaram o rio congelado e escalaram a encosta de mais de 200 metros.

Em artigo publicado na revista online The Conversation em 2018, Timothy J. Jorgensen conta que a ação dos militares noruegueses atrasou por meses o programa nuclear alemão, dando uma vantagem importante aos Estados Unidos na corrida pelo desenvolvimento da primeira bomba atômica. Caso os alemães tivessem conseguido fabricar armas nucleares, o desfecho da guerra poderia ter sido bem diferente.

Adolf Hitler estava mais interessando durante a Segunda Guerra Mundial em desenvolver um míssil balístico de longo alcance do que a bomba atômica Foto: Associated Press

Joachim Ronneberg, o líder do grupo que plantou explosivos na fábrica alemã, afirmou ao relembrar do episódio anos mais tarde em uma entrevista: “Muitas coisas foram apenas sorte e oportunidade. Não havia um plano. Estávamos apenas torcendo pelo melhor”. No entanto, ele continuou, se a missão tivesse fracassado, Londres “teria terminado como Hiroshima”.

Embora a Operação Gunnerside tenha sido, de longe, a mais cinematográfica, especialistas concordam que ela não foi a única responsável pelo crucial atraso dos alemães na fabricação da bomba atômica. A fuga em massa de cientistas no início da guerra, a falta de laboratórios apropriados e de investimentos, além do corpo mole dos próprios cientistas alemães teriam contribuído igualmente para o fracasso dos nazistas, que até largaram na frente na corrida pelas armas nucleares, mas depois ficaram para trás.

Depois da invasão da Polônia pela Alemanha nazista, em 1939, os físicos Albert Einstein, Leo Szilard e Eugene Wigner alertaram o governo americano do perigo que seria para a humanidade se os nazistas fossem os primeiros a desenvolver uma bomba nuclear.

O alerta foi crucial para a decisão do governo americano de criar, em 1942, o Projeto Manhattan, uma iniciativa desenvolvida em conjunto com o Canadá e o Reino Unido. O físico teórico Robert Oppenheimer foi encarregado de estabelecer e dirigir o Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, onde foi testada com sucesso a primeira bomba atômica, em 1945. A história é contada no filme Oppenheimer, de Christopher Nolan, que estreia nesta quinta-feira, 20, no Brasil.

Benny Safdie como Edward Teller, à esquerda, e Cillian Murphy como J. Robert Oppenheimer em cena do filme 'Oppenheimer' Foto: Melinda Sue Gordon/Universal Pictures via AP

Antes do início da guerra, os principais físicos teóricos do mundo eram alemães. No entanto, com a ascensão do nazismo na Alemanha e também do fascismo na Itália, muitos deles decidiram emigrar, caso dos laureados com o Nobel Albert Einstein, Niels Bohr e Enrico Fermi. Um bom número acabou indo, inclusive, para os Estados Unidos, e trabalhou no Projeto Manhattan.

O apoio financeiro também não estava à altura do desafio. Segundo historiadores, Adolf Hitler estava mais interessando em desenvolver o V-2, um míssil balístico de longo alcance. A Alemanha teria investido algo em torno de US$ 1 milhão no desenvolvimento da bomba atômica, enquanto os EUA gastaram mais de US$ 2 bilhões.

As pesquisas alemãs eram conduzidas em laboratórios comuns, nas universidades, sem a construção de um laboratório especializado ou fábrica. O Projeto Manhattan envolveu nada menos que 250 mil pessoas trabalhando nas mais diferentes frentes, enquanto que o esforço alemão teria contado com cerca de cem pessoas.

Por fim, uma história quase tão cinematográfica quanto a operação dos militares noruegueses em meio às montanhas nevadas é a de que os próprios cientistas alemães teriam sabotado o projeto por não concordarem com ele. O próprio coordenador do projeto nuclear alemão, o físico Werner Heisenberg, ele mesmo também laureado com um Nobel, chegou a afirmar diversas vezes que os cientistas eram moralmente contra a bomba atômica.

“A relação entre os cientistas e o Estado alemão era tal que, embora não estivéssemos 100% ansiosos para fazê-lo (a bomba atômica), por outro lado também não tínhamos a confiança do Estado”, afirmou Heisenberg, logo depois do fim da guerra. “Mesmo se tivéssemos querido fazer, não teria sido fácil levar a cabo o projeto.”

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