WASHINGTON — A infestação de ratos em muitas cidades do mundo parece estar aumentando, especialmente em Washington, nos Estados Unidos, e um novo estudo culpa as mudanças climáticas, a urbanização e outras ações humanas.
Uma análise inédita das tendências e razões nas populações de ratos, difíceis de contar, usa relatórios de avistamentos de ratos em 16 cidades ao redor do mundo. Em 11 dessas cidades, as reclamações sobre ratos aumentaram, segundo estudo publicado na sexta-feira, 31, na revista Science Advances.
Com base nas tendências individuais dentro das cidades, Washington foi de longe a líder no aumento de ratos, seguida por São Francisco, Toronto, Nova York e Amsterdã. A tendência crescente de relatos de ratos na capital americana foi três vezes maior que a de Boston e 50% mais que a de Nova York, conforme a pesquisa. Oficiais da cidade de Washington não responderam aos pedidos de comentário feitos pela reportagem.
Apenas três cidades viram tendências significativas de diminuição — Nova Orleans (essa teve a maior queda), Louisville e Tóquio. Especialistas disseram que a cidade da Louisiana pode ensinar outras como combater o problema dos ratos.
Os pesquisadores fizeram uma análise estatística do aumento dos relatórios de ratos nessas cidades e concluíram que pouco mais de 40% da tendência observada é devido ao aquecimento das temperaturas pela queima de carvão, petróleo e gás natural. E isso se resume a sexo e comida, disse o autor principal do estudo, Jonathan Richardson, biólogo da Universidade de Richmond.
“Estamos vendo essas tendências crescentes de ratos em cidades que estão aquecendo mais rapidamente, provavelmente porque este é um pequeno mamífero que tem desafios fisiológicos nos meses de clima frio”, afirma Richardson.
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“Se estamos aquecendo o clima e o inverno começa uma ou duas semanas mais tarde e a primavera chega uma ou duas semanas mais cedo, isso é uma, duas, talvez até três ou quatro semanas ao longo de todo o ano onde esses ratos podem estar acima do solo perambulando, buscando mais comida e tendo um ou dois ciclos reprodutivos a mais”, continua.
Um mês extra pode não parecer muito, mas as fêmeas dos ratos podem ter uma ninhada todo mês. Cada ninhada tem de oito a 16 filhotes de ratos, de acordo com Richardson: “Isso é uma receita para o crescimento acelerado da população.”
Os pesquisadores apontaram para dois outros grandes vínculos estatísticos — que se encaixam com problemas biológicos conhecidos — por trás de mais relatórios de ratos: o aumento da urbanização e cidades mais densamente povoadas.
Os ratos gostam do ambiente construído e de estar perto das pessoas e de seus resíduos, disseram o estudo e cientistas externos. Eles basicamente comem na mesma mesa que os humanos, afirmam vários especialistas.
“O rato é o terceiro mamífero mais bem-sucedido. Ele evoluiu e se adaptou para viver ao nosso lado”, diz a “czar” dos ratos de Nova York, Kathleen Corradi, durante uma conferência em Nova Orleans sobre a melhoria do manejo de pragas. “Eles seguiram os humanos, Homo sapiens, e estão em todos os continentes exceto a Antártica”, acrescenta.
“Quando as populações de roedores são altas, as pessoas ficam doentes, veículos motorizados se tornam inutilizáveis, a saúde mental declina, incêndios começam e alimentos são contaminados”, afirma o especialista em ratos de Houston, Michael Parsons, que não fez parte do estudo. As pessoas são justamente incomodadas por ratos por causa do “medo inato causado por um organismo que pode nos deixar doentes.”
Os pesquisadores não tinham bons números sobre ratos. Devido à maneira como vivem e se escondem, eles não são tão facilmente contados como outras criaturas, então esta é uma das primeiras tentativas de quantificá-los. O estudo não é realmente uma contagem de ratos, mas de reclamações feitas por pessoas.
Como as estatísticas remontam a anos e a análise incluiu somente cidades que não mudaram seus métodos de contagem, Richardson disse que as tendências identificadas têm mérito científico. Embora Washington registre a tendência crescente mais alta, isso não significa que tenha mais ratos ou mesmo avistamentos de ratos. É apenas que os números dentro da cidade estão aumentando mais rapidamente, disse ele.
Vários especialistas externos disseram que o estudo é legítimo, sensato e necessário. “Este artigo é de longe o maior esforço orientado por dados para entender as mudanças nas populações urbanas de ratos já tentado”, disse o professor de Ecologia da Universidade Drexel, Jason Munshi-South, que não fez parte da pesquisa.
Olhar para as poucas cidades onde os relatórios de ratos estão diminuindo pode ajudar na luta contra os ratos, disseram Richardson e Corradi. A resposta não é mais veneno ou armadilhas, mas prevenção, destaca o estudo.
“Em Nova Orleans, eles fazem um grande esforço para sair pelos bairros e fazer oficinas educacionais e campanhas para falar com moradores sobre o que torna uma propriedade menos propensa a ter ratos”, diz Richardson.
A luta recentemente intensificada de Nova York contra os ratos, que inclui a substituição de lixo em sacos na rua por contêineres resistentes a ratos, ainda não apareceu nos dados de Richardson, mas Corradi disse que os resultados iniciais são encorajadores. A cidade inscreveu pessoas para o que chama de esquadrão de elite de caçadores de ratos, chamado “NYC rat pack”.
É uma batalha difícil. “À medida que nossas cidades aquecem, urbanizam e aumentam em densidade, criamos mais recursos para os ratos, o que poderia resultar em aumentos adicionais”, disse a cientista de saúde e ratos da Simon Fraser University, Kaylee Byers.
Podemos combatê-los melhor, mas no fim as pessoas “precisam coexistir com a vida selvagem em ambientes urbanos, mesmo com ratos”, disse o cientista de conservação da Universidade de Michigan, Neil Carter.
“Zero ratos é impossível”, disse Richardson. “Mas a expectativa de que precisamos viver com o número de ratos que estamos vendo em muitas dessas cidades também é uma perspectiva insalubre sobre esse problema.” /AP
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